segunda-feira, 18 de setembro de 2023

Chernobyl: o pior que temos pela frente?

 


18 de Setembro de 2023  Olivier Cabanel  

OLIVIER CABANEL — À luz de uma troca de mensagens electrónicas entre um antigo responsável pela formação em matéria de protecção nuclear e um físico bielorrusso, é lógico que nos preocupemos com novos desenvolvimentos relacionados com Chernobyl.

A AIPRI é a associação internacional de protecção contra as radiações ionizantes. O objectivo desta associação é divulgar conhecimentos científicos no domínio da física nuclear e dos perigos radiológicos da contaminação interna.

Graças a esta associação, ficámos a saber, por exemplo, que 22% do peso total dos produtos radioactivos produzidos pelas centrais nucleares são constituídos por gases.

Contrariamente ao que se pensa, estes gases, que duram de alguns segundos a milhões de anos, são libertados na atmosfera e, consequentemente, nos nossos pulmões.

São eles o Bromo, o Crípton, o Iodo, o Xénon, o Trítio e o Carbono-14.

O iodo 129 é o que tem a semi-vida mais longa.

A AIPRI informa-nos que, só no ano 2000, foram libertados para a atmosfera mais de 400 kg de crípton 85 (mais de 157 milhões de Curies) e 2 300 kg de iodo 129 (408 Curies).

"Há provavelmente várias centenas de quilos de Krypton-85 e várias toneladas de Iodo-129 no ar neste momento... o que constitui um perigo radiológico terrível para as gerações actuais, mas ainda mais para as gerações futuras", afirma Paolo Scampa, vice-presidente desta associação.

Mas há muito mais grave.

Numa troca de impressões entre Vasily Nesterenko e Maurice Eugène André, levanta-se a questão de saber se estão reunidas as condições plutonogénicas para que Chernobyl expluda nuclearmente.

Maurice Eugène André é um ex-instrutor de protecção nuclear.

M.E.André sugere a Nesterenko:

"O que pode acontecer agora é uma explosão nuclear tardia. Isso adviria do facto de que o magma de plutónio (o plutónio derrete a apenas 641 °) gradualmente sedimenta no fundo do magma actual porque é praticamente o mais pesado dos metais aí presentes e que encontra gota a gota no fundo do magma um volume líquido num pedaço de apenas 6 kg de plutónio 239 "(o que é suficiente para iniciar uma explosão nuclear).

Resposta de Nesterenko:

"Concordo plenamente. A sedimentação de plutónio fundido sob o reactor pode causar uma explosão nuclear décadas após o acidente. É por isso que é essencial esvaziar o reactor de Chernobyl, em ruínas, de todo o combustível nuclear que ainda lá se encontra."

O perigo não surge mais para Vasily Nesterenko porque ele morreu em 25 de Agosto de 2008.

Este físico, antigo director do Instituto de Energia Nuclear da Academia das Ciências da Bielorrússia, foi um dos primeiros a alertar a opinião pública internacional para a catástrofe de Chernobyl.

Graças a ele, foram salvas milhares de vidas de polacos, pois permitiu a rápida distribuição de iodo e evitou os cancros da tiroide que os ameaçavam.

Agiu como liquidatário, largando contentores de azoto líquido para arrefecer o reactor.

As autoridades soviéticas ameaçaram-no com internamento psiquiátrico e ele escapou a dois atentados bombistas.

Como se pode ver, nem tudo eram rosas na antiga URSS.

Até ao fim, as autoridades tentaram minimizar a dimensão do impacto do desastre de Chernobyl.

Hoje, quer queiramos quer não, estamos confrontados com um perigo ainda maior.

Mas o manto de chumbo do lobby nuclear caiu sobre o mundo, e uma estranha espada de Dâmocles paira sobre as nossas cabeças frívolas.

Porque, como dizia um velho amigo africano:

"A vela dá mais luz quando a sopramos".

 

Fonte: Tchernobyl: le pire devant nous? – les 7 du quebec

Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice




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