http://mai68.org/spip2/spip.php?article16271
É certo que houve um terramoto terrível em Marrocos. E os jornalistas estão a ter um dia em cheio. É de esperar. Não, não vou dizer-vos que os jornalistas que estão no local, em vez de ajudarem as pessoas, se contentam em filmar, como na história de Armero. Não só as condições sociais em França, que se agravam de dia para dia, são ignoradas sob o pretexto de que há mais pobres do que nós; mas, sobretudo, as condições de vida habituais dos marroquinos são-nos conscientemente ocultadas.
Afinal de contas, já estive em Marrocos.
Com amigos, não numa viagem organizada. E vi...
No norte de Marrocos, metade das aldeias
estão cheias de crianças com grandes barrigas. Como os pequenos Biafranos
esfomeados que nos mostraram na televisão. Têm barrigas grandes não porque
estão cheias, mas porque estão vazias. É um sintoma inconfundível. Mas nunca os
vemos na televisão. Talvez porque não são negros, mas brancos?
Em Marraquexe, saí dos locais
turísticos. Não é preciso ir muito longe para o fazer. Basicamente, basta sair
da grande praça central onde se amontoam os turistas. E eu vi...
Estava a passear com a minha namorada,
com um saco de fruta na mão. Passado algum tempo, uma mãe atreveu-se finalmente
a perguntar-me se eu podia dar uma peça de fruta ao seu filho. Entreguei-lhe o
saco para que ela se servisse. De repente, vi um enxame de crianças vindas de
todo o lado, correndo o mais depressa que podiam em direcção ao saco de fruta,
porque não havia fruta suficiente para todos. Não tinham pedido autorização.
Mas eu não me preocupei com isso. Larguei o saco de fruta e ele começou a
levantar-se "sozinho", porque as mãozinhas das crianças tinham tanta
pressa em servir-se.
São imagens que nunca se esquecem!
Mas já vi pior. Uma noite, comi uma
refeição "barata" num restaurante ao ar livre, apenas tábuas sobre
cavaletes e cadeiras. Sem paredes e sem tecto. Estava a comer quando uma mãe
(com a filha pequena) se aproximou de mim e perguntou se podia comer um pouco.
Claro", disse eu. Pedi outro cuscuz. Ela sentou-se mesmo ao meu lado para
o comer. Comeu tudo sem dar nada à filha. Nada mesmo!
Mas isso não é tudo. A pior parte da
história foi quando acabei de comer. Virei-me e apercebi-me de que havia vários
guarda-costas a proteger-me de uma multidão de pessoas - dezenas e dezenas, não
estou a exagerar - que também queriam que eu lhes oferecesse algo para comer.
Mas os jornalistas
nunca falam sobre isso na televisão. Não é suficientemente comercial? Ou será
que não conhecem a cidade e se limitam a passear pelos locais turísticos
típicos?
Enquanto tomava chá numa rua comercial, vi como se comportava uma manada de turistas: Visitam, por assim dizer, tentando sobretudo não perder o grupo. Assim que um deles se apercebe que está a mais de 3 metros do grupo, assusta-se e junta-se à manada o mais rapidamente possível. É pouco provável que estas pessoas vejam muito. Os jornalistas são como eles ou escondem deliberadamente a verdade sobre Marrocos?
Só se interessam por um acontecimento especial, como um terramoto. Claro que há milhares de vítimas. Por isso, organizam pedidos de ajuda: "À votre bon coeur monsieur dame" (“Pelo seu bom coração senhor, senhora”). Uma boa consciência. Mas quantas vítimas morreram de fome em Marrocos, e todos os dias, não apenas durante três semanas? Infinitamente mais. Mas... silêncio.
Tudo de bom para vós,
do
12 de Setembro de 2023
http://mai68.org/spip2
15 dias de gastos militares mundiais
http://mai68.org/spip2/spip.php?art...
Já que quinze dias de gastos militares
mundiais são suficientes para alimentar, abrigar, vestir e aquecer todos os
habitantes da Terra durante um ano, por que deixar todas essas pessoas na
miséria?
Fonte: Maroc : la bonne conscience des journalistes – les 7 du quebec
Este artigo foi traduzido para
Língua Portuguesa por Luis Júdice
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