quarta-feira, 13 de setembro de 2023

Marrocos: a boa consciência dos jornalistas

 


13 de Setembro de 2023  do 

http://mai68.org/spip2/spip.php?article16271

É certo que houve um terramoto terrível em Marrocos. E os jornalistas estão a ter um dia em cheio. É de esperar. Não, não vou dizer-vos que os jornalistas que estão no local, em vez de ajudarem as pessoas, se contentam em filmar, como na história de Armero. Não só as condições sociais em França, que se agravam de dia para dia, são ignoradas sob o pretexto de que há mais pobres do que nós; mas, sobretudo, as condições de vida habituais dos marroquinos são-nos conscientemente ocultadas.

Afinal de contas, já estive em Marrocos. Com amigos, não numa viagem organizada. E vi...

No norte de Marrocos, metade das aldeias estão cheias de crianças com grandes barrigas. Como os pequenos Biafranos esfomeados que nos mostraram na televisão. Têm barrigas grandes não porque estão cheias, mas porque estão vazias. É um sintoma inconfundível. Mas nunca os vemos na televisão. Talvez porque não são negros, mas brancos?

Em Marraquexe, saí dos locais turísticos. Não é preciso ir muito longe para o fazer. Basicamente, basta sair da grande praça central onde se amontoam os turistas. E eu vi...

Estava a passear com a minha namorada, com um saco de fruta na mão. Passado algum tempo, uma mãe atreveu-se finalmente a perguntar-me se eu podia dar uma peça de fruta ao seu filho. Entreguei-lhe o saco para que ela se servisse. De repente, vi um enxame de crianças vindas de todo o lado, correndo o mais depressa que podiam em direcção ao saco de fruta, porque não havia fruta suficiente para todos. Não tinham pedido autorização. Mas eu não me preocupei com isso. Larguei o saco de fruta e ele começou a levantar-se "sozinho", porque as mãozinhas das crianças tinham tanta pressa em servir-se.

São imagens que nunca se esquecem!

Mas já vi pior. Uma noite, comi uma refeição "barata" num restaurante ao ar livre, apenas tábuas sobre cavaletes e cadeiras. Sem paredes e sem tecto. Estava a comer quando uma mãe (com a filha pequena) se aproximou de mim e perguntou se podia comer um pouco. Claro", disse eu. Pedi outro cuscuz. Ela sentou-se mesmo ao meu lado para o comer. Comeu tudo sem dar nada à filha. Nada mesmo!

Mas isso não é tudo. A pior parte da história foi quando acabei de comer. Virei-me e apercebi-me de que havia vários guarda-costas a proteger-me de uma multidão de pessoas - dezenas e dezenas, não estou a exagerar - que também queriam que eu lhes oferecesse algo para comer.

Mas os jornalistas nunca falam sobre isso na televisão. Não é suficientemente comercial? Ou será que não conhecem a cidade e se limitam a passear pelos locais turísticos típicos?

Enquanto tomava chá numa rua comercial, vi como se comportava uma manada de turistas: Visitam, por assim dizer, tentando sobretudo não perder o grupo. Assim que um deles se apercebe que está a mais de 3 metros do grupo, assusta-se e junta-se à manada o mais rapidamente possível. É pouco provável que estas pessoas vejam muito. Os jornalistas são como eles ou escondem deliberadamente a verdade sobre Marrocos?

Só se interessam por um acontecimento especial, como um terramoto. Claro que há milhares de vítimas. Por isso, organizam pedidos de ajuda: "À votre bon coeur monsieur dame" (“Pelo seu bom coração senhor, senhora”). Uma boa consciência. Mas quantas vítimas morreram de fome em Marrocos, e todos os dias, não apenas durante três semanas? Infinitamente mais. Mas... silêncio.

Tudo de bom para vós,

do
12 de Setembro de 2023
http://mai68.org/spip2


15 dias de gastos militares mundiais

http://mai68.org/spip2/spip.php?art...

Já que quinze dias de gastos militares mundiais são suficientes para alimentar, abrigar, vestir e aquecer todos os habitantes da Terra durante um ano, por que deixar todas essas pessoas na miséria?

 

Fonte: Maroc : la bonne conscience des journalistes – les 7 du quebec

Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice




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