11 de Setembro
de 2023 Olivier Cabanel
OLIVIER CABANEL — Claro que já não é
novidade que a Terra é redonda e não plana.
E que o Sol não gira à volta do nosso
planeta, antes pelo contrário.
Só que, durante muito tempo, estes
factos óbvios foram alvo das piores críticas.
Hoje, outros acontecimentos ofuscam
aqueles que sabem tudo desde o início dos tempos, mesmo quando estão errados.
Talvez seja porque essas pessoas devem
ser mais movidas por dúvidas do que por certezas?
Galileu, na verdade, não foi o primeiro a declarar que a Terra era redonda, mas pagou
por outros.
Num artigo recente, sobre Velikovsky,
cuja teoria foi virulentamente atacada há meio século e que está de novo a ser
posta em causa por muita gente, fui por minha vez atacado por alguns
"racionalistas" (atrasados?).
Stanley Meyer, o inventor (também desacreditado) do
motor a água, pagou-o com a sua vida.
Hoje, a racionalidade
está a tornar-se efémera e surgem novas incertezas.
Terá Gauguin cortado a
orelha do seu amigo com um sabre?
Mas a história há
muito que decidiu que Van Gogh se tinha mutilado deliberadamente.Num livro (Van Gogh's
Ear, Paul Gauguin and the Pact of Silence/Osburg Verlag) que acaba de ser
publicado, Hans Kaufman e Rita Wildegans explicam que aconteceu mesmo o
contrário.
Ou que o busto de
Nefertiti é apenas uma cópia vulgar?
É o que afirma Henri Stierlin num livro
recente.
Inicialmente, Borschart, escultor e
restaurador, foi encarregado de reconstruir um busto com base nos dados
disponíveis na altura.
Na sequência de uma confusão
involuntária, o trabalho foi parar à Alemanha e, em 1923, o restaurador redigiu
um relatório para tranquilizar toda a gente.
Hoje, é evidente que o busto é falso.
O que a racionalidade tem de
reconfortante é o facto de confirmar aquilo em que queremos acreditar, de
acordo com a nossa lógica, só porque queremos acreditar.
Isto é tanto mais verdade quanto muitas
descobertas foram feitas apenas por acaso e muitos inventores não têm qualquer
qualificação formal.
Como o cartão inteligente, por exemplo.
É hoje mundialmente famoso, mas o seu
inventor provavelmente nunca ganhará um Prémio Nobel.
Quem conhece hoje o inventor da rolha de
porcelana e metal, com o seu selo de borracha que veda as garrafas de cerveja
ou de limonada?
Mas ele tem um nome.
Lembra-te dele:Alphonse Belmont.
Viveu numa pequena aldeia no Isère
Norte: Chimilin.
Morreu na pobreza porque não conseguiu
proteger a sua invenção.
Os seus herdeiros tiveram mesmo de pagar
as dívidas que se tinham acumulado...
E, no entanto, esta não foi a sua
primeira invenção: foi ele que desenvolveu o primeiro sistema de vaporização de
gás para carburadores de automóveis.
De certa forma, é o inventor pouco
conhecido do motor de combustão interna.
E nem sequer consta do catálogo de
inventores.
Mais perto de casa, conheci o inventor
do "Hydrostop".
Tornou-se muito rico.
Era um trabalhador simples, mas
inventivo e curioso.
O princípio da sua invenção é
relativamente simples:
Existem milhares de produtores de
"betão pré-fabricado" em todo o mundo que fabricam peças de betão
para utilização nos nossos edifícios, entre outras coisas.
E o mercado é enorme.
O problema é que, para produzir betão de
qualidade, a higrometria do betão tem de ser perfeita.
Esta é uma tarefa complicada, uma vez
que a areia necessária para o betão pode estar mais ou menos encharcada.
Se o teor de humidade da areia for
incorretamente calculado, milhares de peças são desperdiçadas e perdem-se
milhares de euros.
Por isso, concebeu um aparelho capaz de
medir continuamente o teor de humidade da mistura.
E ficou muito rico.
Não tinha quaisquer qualificações.
O seu nome era Hubert Hérault.
Por isso, quando alguns cartesianos
esforçados, imbuídos das suas certezas, tentam irritar o modesto colunista que
sou, sorrio discretamente para aqueles que se mantêm fiéis às suas certezas
"iluminadas".
Porque como disse um velho amigo
africano:
"Quem não tem medo não tem
coragem."
Fonte: Galilée avait donc raison! – les 7 du quebec
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis
Júdice
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