segunda-feira, 18 de setembro de 2023

Quando o patronato saqueia despudoradamente o valor acrescentado e o orçamento do Estado, para contrariar a tendência de queda da taxa de lucro



 18 de Setembro de 2023  Robert Bibeau  


Por Brigitte Bouzonnie.

 

Os grandes patrões saqueiam descaradamente o valor acrescentado e o orçamento de Estado. Como é que sabemos isso? A historiadora Madame Lacroix-Riz afirma-o num vídeo intitulado: "Les parades du patronat à la baisse tendancielle du taux de profit", 2016. Eis o relato integral das suas propostas:

" O grande patronato está a pôr em prática medidas para contrariar a tendência para a baixa da taxa de lucro, a que assistimos todos os dias. É o aumento considerável, gigantesco, da produtividade, que aumentou consideravelmente em termos absolutos. É também a intensificação do trabalho, que, como sabem, se deve à sobre-exploração do assalariado. Estes são os factores "clássicos". Mas há outros: a queda real e maciça dos salários, que está a ocorrer com uma ajuda considerável do Estado. A carga fiscal sobre a população é um meio considerável de redistribuição dos mais pobres para os mais ricos. Trata-se, muito simplesmente, de um roubo de mais-valia, de uma dedução dos salários para aumentar os lucros dos monopólios. Vejamos, por exemplo, o CICE. Os pequenos patrões aproveitaram-se disso para automatizar tudo: por exemplo, nas auto-estradas, já não há empregados, apenas máquinas.

 

A redistribuição fiscal faz com que estes grandes patrões não sejam sensíveis à tendência para a descida da taxa de lucro. Não há dúvida de que a taxa de lucro está a baixar. A concentração do capital constante (máquinas) em relação ao capital variável (salários) significa que o capitalismo é mortal, como dizia Marx. Que a tendência para a baixa da taxa de lucro é um obstáculo intransponível ao desenvolvimento das forças produtivas. Tal como o sistema feudal entrou em crise devido à sua incapacidade de desenvolver as forças produtivas. Esta situação prolongou-se durante 300 anos. Já tínhamos chegado a este ponto em 1914. Lenine acreditava que a Rússia estava madura para a revolução. Mas a gigantesca pressão sobre as massas abranda consideravelmente a perda do capital mais concentrado, que confisca uma parte gigantesca do PIB (Ver os nossos artigos https://queonossosilencionaomateinocentes.blogspot.com/2023/06/da-insurreicao-popular-revolucao.html e https://queonossosilencionaomateinocentes.blogspot.com/2023/07/da-insurreicao-popular-revolucao.html

Os estratos sociais que antes eram prósperos tornaram-se mais pobres. Por exemplo, um professor que ganhava 2 vezes o salário mínimo, agora ganha apenas 1,2 vezes. A mais-valia vai para uma pequena fracção da sociedade: o grande patronato. Por outras palavras, os desfiles com a ajuda de um Estado totalmente controlado pelo Capital. E que já não encontra a resistência maciça das organizações políticas e sindicais de esquerda. Esta é a grande diferença em relação à situação anterior (entre guerras, 1945, etc.). Os "Trinta Anos Gloriosos" são uma noção absurda, porque os aumentos salariais não caíram do céu durante 30 anos. Todas as reformas de 1945 exigiram um enorme esforço de luta. Nessa altura, havia organizações de trabalhadores e um espírito de luta que preservava os benefícios sociais das classes populares.

Toda uma parte da juventude foi deixada para trás. Os jovens não trabalham antes dos 29 anos e vivem com os pais. Ganham salários de miséria. Assistimos a uma dedução directa do valor acrescentado por parte do patronato. Depois, há a redistribuição, através do Estado, ainda mais gigantesco, que se vai concentrar nos 0,1% da sociedade. Há 20 anos, os salários representavam 5% da indústria siderúrgica. Mesmo que se ponha toda a gente a comer uma tigela de arroz, isso não resolverá a tendência para a baixa da taxa de lucro" (sic) (respostas do patronato à tendência para a baixa da taxa de lucro).

 

2°)- Brigitte Bouzonnie: naturalmente, concordamos em 5 de 5 com as análises de Annie Lacroix-Riz. Sim, a partir dos anos 80, houve uma intensificação do trabalho, mas ao mesmo tempo uma queda real dos salários. Entre 1959 e 1979, os salários aumentaram em média +2,25% por ano, contra +1% por ano entre 1980 e a actualidade. Recorde-se também que, desde os anos 80, na divisão do valor acrescentado, o factor trabalho perdeu dez pontos em relação ao factor capital: tudo números que corroboram a análise da senhora deputada Annie Lacroix-Riz.

-Sobre a queda real maciça dos salários, através da redistribuição dos impostos, infelizmente não há apenas o exemplo dos 50 mil milhões de euros da CICE. Damos-lhe outro número. Todos os anos, 157 mil milhões de euros (valor da ELUCID) são atribuídos a partir do orçamento de Estado (522 mil milhões de euros) em "ajudas às empresas", naturalmente, sobretudo ao grande capital. Estas ajudas às empresas não são um dado adquirido: é preciso saber que, durante o governo de Giscard, que não era bolchevique, as ajudas às empresas atribuídas a partir do orçamento de Estado não ultrapassavam 2% do PIB. Atualmente, são 13% do PIB. Assim, todos os envelopes sociais foram esvaziados até ao osso, para serem dados como "ajudas às empresas" que não criam um único emprego.

Outro número político, como dizia Jacques Duclos: 498 mil milhões de euros foram dados aos patrões em isenções das contribuições patronais para a segurança social, entre 1922 e 2016. Este roubo salarial foi efectuado não a partir do orçamento de Estado, mas do orçamento da segurança social, o que dá no mesmo.

-A pequena burguesia, unida à grande burguesia contra as "classes populares", regista, por sua vez, uma diminuição do poder de compra. Problemas de emprego e de inserção profissional para os seus filhos. Como escreve o economista marxista Vincent Gouysse no Réseau International: por ocasião do Covid e do primeiro confinamento, Macron quer liquidar a classe média. A análise de Annie Lacroix-Riz sobre a desvalorização da pequena burguesia é, portanto, bem fundamentada e lúcida.

Igualmente estimulante é a sua ideia de que, no pós-guerra, o povo francês tinha organizações políticas e sindicais sólidas. Eram "firmes nos preços". Defenderam verdadeiramente a classe operária, como era chamada na altura. Assim, os "Trinta Anos Gloriosos" não devem nada a uma "partilha anual da mais-valia", como escrevem falsamente os intelectuais social-democratas. O aumento dos salários deveu-se exclusivamente ao espírito de luta. Organização, cuja ausência se faz sentir hoje.

Só podemos subscrever tal análise, quando sabemos como os líderes da France insoumise são comprados por Macron, através do dinheiro do esquema de financiamento da vida política: 22 milhões de euros entre 2017 e 2022, quando havia apenas 17 deputados da LFI. Muito mais hoje (2022 a 2026) com 49 deputados da LFI. Não esquecemos a frase de Corbière: "é preciso criticar Macron, mas não demasiado" (sic) (BFMTV, Dezembro de 2017).

Quando ouvimos Mélenchon a troçar dos "perdedores de 3000 euros" (sic), que são o seu alvo oficial, uma vez que 90% da população activa ganha menos ou igual a 3000 euros por mês. Com uma "defesa" destas, Macron tem um longo dia pela frente no Eliseu!

Quando virmos os deputados da FI a defenderem propositadamente mal os assalariados, durante o movimento social contra as pensões no primeiro semestre de 2023. O mesmo se passa com os dirigentes da CGT: Martinez e Sophie Binet recebem 13.000 euros por mês, pelo que não podem defender devidamente os trabalhadores nas ruas. Um exemplo entre mil: a 17 de Outubro de 2017, houve uma belíssima manifestação contra o desmantelamento do código do trabalho pretendido por Macron. Durante todo o dia, a CGT anunciou 1 milhão de pessoas na rua. Seguindo a manifestação no Facebook com FJ Bigotière, Sr. Manifestação da FI, pudemos ver, de facto, que a manifestação "infundiu-se" em cidades muito pequenas como Saintes ou Tulle. No entanto, à noite, a CGT anunciou que 400.000 pessoas tinham participado - uma grande mentira da sua parte!

É óbvio que a população assalariada não tem as organizações políticas e sindicais que merece.

Milhões de mulheres e homens estão confusos com a mentira macroniana, a verdadeira pedra angular do sistema. Um jornal na Internet como "Les 7 du Québec" (Ver: Resultados da pesquisa por "reforma" – les 7 du quebec) produz contra-informação de qualidade para aumentar a consciencialização. Temos de os sensibilizar para a sociedade podre em que vivemos, onde o grande capital tem todos os direitos e todos os poderes: nomeadamente o de recuperar em seu benefício todos os envelopes de crédito, que ainda ontem eram envelopes sociais, como os contratos subsidiados, ao serviço exclusivo do Povo sofredor.

 

Fonte: Quand le patronat pille sans vergogne la valeur ajoutée et le budget de l’État, afin de contrer la baisse tendancielle du taux de profit – les 7 du quebec

Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice




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