2 de Setembro
de 2023 Robert Bibeau
Por Khider Mesloub.
Nem tudo o que se move é vermelho. Nem tudo o que brilha é ouro. Num mundo em estagnação económica, a mais pequena reforma do Estado, decretada por cacarejantes senis condenados pela História, é descrita como um salto em frente. Um avanço histórico. Um impulso universal.
Num mundo insensível, atingido por uma apatia militante, a mais pequena sacudidela política ou militar é entendida como um assalto salvífico ao Sistema por revolucionários simpáticos e cheios de empatia pelo povo linfático.
Numa época mergulhada no obscurantismo, a mais pequena ideia infantil
luminosa ou a mais irrisória inovação é imediatamente anunciada como a aurora
de uma era radiosa. Do Iluminismo. De refundação.
Neste momento, os países de África caminham em todas as direcções. Mas não certamente
na direcção da História. Ocupados em todos os domínios. Não certamente na
emancipação dos povos oprimidos, do proletariado. Estão a ganhar as suas
faixas, mas não num estilo político galante. E muito menos nos domínios da
economia ou dos projectos académicos. Mas sim nas actividades perturbadoras das
sedições de salão.
Nesta era de impérios em implosão, o
mais pequeno consórcio de Estados (BRICS) assume, aos olhos dos observadores e
dos colaboradores sob o domínio da ideologia dominante, as características de
um império em construção, de um hegemon embrionário a salvar o dia.
Hoje em dia, num sistema capitalista dominado pelo caos e pela desordem, o mais pequeno agrupamento de algumas entidades oficiais assume imediatamente, aos olhos (cegos) dos lambe botas do capital, os traços e os trunfos de uma nova ordem, conduzida no entanto por dirigentes afectados por perturbações bipolares.
Neste mundo capitalista dirigido por governantes ao serviço da aliança hegemónica ocidental ou oriental, a mais pequena alteração das regras do jogo de dominação conduz automaticamente a uma mudança de alianças. Seja por táctica, seja por pusilanimidade, os governos mudam de patrocinador. Exigem que as suas populações adorem os seus novos senhores e que os seus meios de comunicação social aceitem a mudança de bando capitalista. E a África não é excepção a este impulso geopolítico de realinhamento de alianças e de repúdios diplomáticos caprichosos e capciosos.
De um modo geral, no continente africano, económica e politicamente desorganizado, o mais pequeno levantamento militar é descrito como uma revolução pelos terceiro-mundistas. O mais pequeno assalto populista a uma embaixada ocidental é saudado como o início de uma conflagração revolucionária, de uma explosão anti-capitalista. A Primavera das revoltas anti-imperialistas.
Uma
coisa é certa: em África, como em todos os outros continentes, sob governação
democrática ou junta militar, os países continuam sob a mesma ditadura
capitalista. Em África, tal como o capital se impôs pela força, o exército está
actualmente a fazer valer os seus interesses pela força. Dito isto, em períodos de crise económica e
de instabilidade institucional marcados por divisões e confrontos internos, é
frequentemente o exército que, como último recurso, assegura a coesão nacional
e a defesa dos interesses burgueses. Em particular, os seus interesses
capilares, gerais e do capital.
É
evidente que a recente série de golpes de Estado em África, nomeadamente no
Níger e no Gabão, não anuncia uma era de transformação revolucionária em
benefício dos povos e dos proletários africanos famintos e oprimidos, mas sim o
início de um processo de caos e decomposição, de confrontos armados, de
violência criminosa, de limpeza étnica e de barbárie. Uma coisa é certa: os
novos donos do poder não hesitarão em reprimir com sangue qualquer revolta.
De facto, o seu golpe de Estado inscreve-se na nova recomposição das
alianças imperialistas rivais. Corresponde ao realinhamento geo-político dos
Estados fantoches africanos atirados entre as duas hegemonias actualmente em
conflito (G7-NATO versus BRICS-OCS).
Nada de progressivo, e muito menos de revolucionário, pode emergir destes
"golpes de Estado" de oportunidades geo-políticas. Porque as
revoluções são obra dos povos, dos proletários. Não dos militares ou de um
líder carismático.
O modo de produção capitalista é regido por leis inexoráveis impulsionadas
por classes sociais antagónicas. Militares e líderes não forjam classes
sociais. São as classes sociais que levam este ou aquele líder (ou partido) ao
poder político, atribuindo-lhe a missão de fazer funcionar a máquina do Estado
no interesse exclusivo do proletariado, no caso de uma revolução proletária, ou
da burguesia, no caso de uma revolução palaciana.
Além disso, não podemos perder de vista o facto de os últimos golpes de
Estado terem sido perpetrados pela guarda próxima dos presidentes depostos. Por
outras palavras, o pessoal do exército que, no dia anterior, ainda partilhava a
vida dourada do poder com esses chefes de Estado militares depostos. Estes golpes
de força militares (farsas) não são obra de soldados proletários sem recursos,
decididos a fazer pagar o preço às potências locais e estrangeiras.
Na era do imperialismo, quando as potências conspiram umas contra as
outras, os detentores do poder não defendem os interesses do povo ou da nação.
O desenvolvimento "natural" do modo de produção capitalista empurra
inexoravelmente cada Estado para o imperialismo (mundialista) e para a guerra
de partilha das riquezas. Não para o "nacionalismo económico". Tanto
mais nos países sub-desenvolvidos, governados por neo-colonialistas totalmente
subservientes às potências imperialistas.
Não há dúvida de que os novos governantes africanos não aplicarão uma
política de defesa dos interesses económicos do país, nem um programa de
melhoria das condições de vida das populações. Estes Estados são totalmente
dependentes das potências imperialistas e subservientes às instituições
financeiras internacionais.
Na era da mundialização, cada Estado (rico), grande ou pequeno, é parte integrante
do governo capitalista mundial. Cada decisão económica é a emanação directa da
liderança colegial do capital financeiro internacional. Por outras palavras, a
burguesia mundializada. Além disso, nesta fase de dominação despótica do
imperialismo, a independência económica e política é uma ilusão, uma farsa.
Tanto mais nos países do Terceiro Mundo subservientes a um campo imperialista
(ocidental ou oriental: G7-NATO ou BRICS-OCS).
No sistema capitalista mundializado e interdependente de hoje, a margem de
manobra em termos de desenvolvimento económico é severamente limitada e
restrita. A independência política de cada Estado está comprometida.
Inseridos numa economia capitalista mundializada, todos os Estados se vêem
confrontados com os mesmos desafios de oferta e procura, de mudança de
orientações geo-estratégicas internacionais e até de realinhamento de alianças,
que se manifestam em todos os países abalados por tensões políticas internas,
devastados por uma crise económica sistémica e por uma instabilidade
institucional crónica, esmagados por revoltas sociais da sua população faminta
ou por revoluções palacianas.
Sem dúvida, o número de golpes de Estado acelerou dramaticamente. Um sinal
da decomposição destes países africanos. Da implosão destes Estados fantoches.
Não um sinal do reencantamento do mundo africano. O renascimento de África. A
regeneração económica e social do continente africano.
Khider MESLOUB
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis
Júdice
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