27 de Setembro
de 2023 Robert Bibeau
Em Investing.com – sobre o fim do BCE – Os Estados Unidos declaram guerra ao euro
Por Investing.com
O euro não tem sido fácil desde a sua introdução oficial como meio de
pagamento em 2001. Considerada uma alternativa ao dólar, a moeda única esteve à
beira do colapso apenas onze anos após a sua criação.
A crise da dívida resultante da crise
financeira de 2008 ameaçou colapsar o euro e a zona euro. Só a intervenção corajosa do
então presidente do BCE, Mario Draghi, impediu a destruição do Eurosistema.
Hoje, onze anos mais tarde, a
sobrevivência do euro parece estar novamente em risco. Mas, desta vez, o BCE já
não tem o poder de decidir por si próprio se o euro vai desaparecer de cena,
como explicou Tom Luongo.
O grande problema para a presidente
do BCE, Christine Lagarde, é
a credibilidade. Deve convencer o mercado de que é séria na sua luta contra a
inflação (desvalorização do euro).
O presidente da
Fed, Powell, não tem esse problema, o mercado acredita nele quando diz que as
taxas de juros, actualmente de 5,5%, permanecerão altas por muito tempo. Ele
próprio já previu que a inflação não atingirá a meta de 2% antes de 2025. Em
resultado das taxas de juro e das previsões, as taxas de rendibilidade das
obrigações dos EUA são mais elevadas do que as dos seus concorrentes europeus e
os investidores estão a transferir fundos do euro para o dólar na sua procura
de rendimento.
Os mercados não têm, portanto, confiança
no BCE, porque o anúncio do fim dos programas de QE (impressão) foi acompanhado
pela criação do famoso Instrumento de Protecção de Transmissão (TPI). Este,
como diz Luongo, nada mais é do que QE, mas de outra forma – um truque de
mão que o mercado entendeu levar a cabo.
Mas Lagarde não tem outra escolha, pois tem de evitar que o mercado
obrigacionista europeu entre em colapso. Luongo fala de um "paciente com cancro
em estágio IV". Nesta altura, a política do BCE e, consequentemente, o
euro tornam-se o joguete dos mercados.
Os dados económicos dos EUA são melhores
do que os da UE, permitindo a Powell olhar com muito mais calma para a
nova vaga de
inflação das matérias-primas que, segundo ele, nos espera.
Essa inflação só diminuiu temporariamente porque o presidente dos EUA, Joe
Biden, decidiu vender os stocks estratégicos de petróleo bruto dos EUA. Lagarde
e o euro beneficiaram mais do que o dólar, uma vez que a Europa é muito mais
dependente das importações de petróleo. Mas esse apoio está obsoleto, diz
Luongo.
As mãos de Lagarde estão atadas neste momento. Seja qual for o estado da
economia europeia, esta deve seguir a política monetária da Fed. Se isso não
acontecer, "a saída de capitais da Europa passará de um pequeno riacho no
quintal para um dilúvio bíblico", como descreve Luongo.
O resultado seria que nem os spreads das obrigações nem o euro poderiam ser
defendidos. O euro e a zona euro deixariam de existir.
Até mesmo o Banco do Japão (BoJ) está numa
posição melhor, apesar dos seus problemas de deflação de décadas. Em primeiro
lugar, os seus fundamentos parecem melhores do que os da UE e o Japão não cometeu o
erro de se libertar das entregas de petróleo russas. Pelo contrário, o
Japão importa mais petróleo russo do que alguma vez o fez.
O presidente do BoJ, Ueda, anunciou que facilitaria o controle da curva de
juros, o que aumentou a incerteza nos mercados. Luongo diz que os traders
precisam prestar mais atenção a esses desenvolvimentos da política monetária.
Porque mostram claramente uma coisa: deixará de haver acções coordenadas por
parte dos bancos centrais, como tem acontecido há 10 anos.
Com a descida da notação dos EUA pela S&P em 2011,
todos os principais bancos centrais uniram-se para vender obrigações uns aos
outros e fornecer liquidez. Essa era terminou em Junho de 2021, quando
Powell elevou a taxa de
recompra em 5 pontos-base, sem consulta, para evitar que os
rendimentos do Tesouro de 30 dias ficassem negativos.
Esta foi a primeira salva com que o Fed
lançou a guerra
cambial que acabara de ser desencadeada. Embora 5 pontos-base possam não
parecer muito, essa medida teve o efeito de retirar 1 trilião de dólares em
pouco tempo do mercado internacional de capitais, que fluiu para os Estados
Unidos e desencadeou a inflação que aí estava adormecida até então.
Os bancos centrais voltaram a ser combatentes
solitários e cada um deles aproveitará todas as oportunidades para estar um
passo à frente na guerra cambial mundial.
Uma "mudança sísmica" nos fluxos de capitais é iminente, de
acordo com Luongo. A secretária do Tesouro dos EUA, Yellen, inundará os
mercados com títulos do governo dos EUA para que o governo Biden possa
financiar os seus inúmeros programas de estímulo. Isso dá a Powell a
oportunidade de manter a sua política monetária apertada e até aumentar ainda
mais as taxas de juros.
O BCE tem de seguir, mesmo que a zona euro já esteja em recessão, porque
não há outra possibilidade de defender o euro. O euro e o dólar estão numa
guerra que o euro não pode vencer.
Lagarde só pode esperar que a economia dos EUA em breve se saia tão mal que
Powell tenha de baixar as taxas de juro. Caso contrário, o euro só aparecerá
nos livros de História, onde leremos que esta experiência estava condenada
desde o início.
Fonte: La fin de la BCE – Les États-Unis déclarent la guerre à l’euro – les 7 du quebec
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice
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