terça-feira, 21 de novembro de 2023

– 3º campo internacionalista (1940-1952)

 


21 de Novembro de 2023  Oeil de faucon 

2 – 3º Campo internacionalista (1940-1952)

Em 2014, no âmbito do 70º aniversário dos desembarques na Normandia, reunimos uma série de textos dos vários grupos que a nossa história descreve como "3º Campo Internacionalista ", ou seja, grupos que se distinguem pela sua recusa em apoiar qualquer campo imperialista, tal como escrito num folheto italiano distribuído pelos Comunistas Revolucionários em 1943: "Não tenham esperança em Roosevelt, Churchill, Estaline ou no Papa". Numa altura em que o veneno nacionalista se espalha pelo mundo, parece-nos importante recordar que, num passado não muito distante, uma atitude de classe intransigente e internacionalista se afirmou apesar do contexto de guerra e das polarizações inter-imperialistas.

O veneno nacionalista apresenta-se sempre de duas maneiras: ou directamente na defesa de um campo estatal contra outro (Ucrânia e Rússia, por exemplo), ou mais subtilmente na defesa de uma pretensa luta de libertação nacional (na Palestina, no País Basco, no Curdistão, etc.) contra um Estado reconhecido como tal, com as suas próprias fronteiras, exército, bandeira, fábricas e prisões. Mas esses grupos denunciaram esse mesmo veneno por aquilo que ele era: um inferno para o proletariado, transformado em objecto, em alimento para o lucro e em carne para canhão.

Por isso, fazemos parte das vozes discordantes que lembram a todos os defensores do nacionalismo que a defesa de uma pátria - seja ela já estabelecida ou nos sonhos de nacionalistas sedentos de poder - implica sempre submissão, exploração, alienação e nunca libertação social, abolição do Estado ou afirmação do comunismo.

Hoje, em Maio de 2015, estamos em condições de disponibilizar ainda mais documentos, por um lado uma série de digitalizações feitas a partir de documentos originais e, por outro lado, a colocação de novos textos online. Estes documentos adicionais provêm dos arquivos que Marc Chirik conservou ao longo da sua vida militante e que são agora cuidadosamente guardados por um camarada que nos permitiu reproduzi-los e que contribui activamente para a formatação de muitos textos. 

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Depois de ter posto em linha toda uma série de textos das esquerdas comunistas francesa, italiana e germano-holandesa, continuamos com textos publicados durante a Segunda Guerra Mundial por militantes proletários que recusaram apoiar qualquer um dos dois campos imperialistas. É por isso que utilizamos o termo "terceiro campo".

Estes camaradas, afirmando a sua luta contra os dois campos opostos, recusam qualquer tipo de União Sagrada, de defesa de uma pátria, seja ela rotulada de socialista, democrata ou fascista. A sua luta está em consonância com a daqueles que, durante a guerra anterior, se opuseram a todos os campos opostos e denunciaram a ignomínia de apelar aos proletários de todos os países para que defendessem os seus próprios países, enquanto "alegremente" se dilaceravam uns aos outros para maior lucro do capital. A este respeito, é importante recordar e afirmar que a guerra nunca é outra coisa senão o esmagamento do proletariado, o triunfo do nacionalismo, a negação de qualquer projecto de abolição das classes, da propriedade e do Estado.

A guerra levou estes militantes a tomarem uma posição mais clara, nomeadamente sobre um ponto fulcral que era incontornável na época: a natureza do Estado russo. Eles chocaram principalmente com os trotskistas, que continuaram a defender a ideia de que o Estado soviético, embora degenerado, continuava a ser socialista nos seus fundamentos, e argumentaram que era necessário adoptar uma estratégia militante diferente da que devia ser adoptada contra Estados "democráticos", Estados "fascistas" abertamente descritos como burgueses. Esta análise levou certos grupos trotskistas a defender o Exército Vermelho [1]. Em contrapartida, os militantes do "terceiro campo" romperam com esta análise e afirmaram que a natureza do Estado russo era capitalista [2]. Por conseguinte, não se pode apoiar este campo mais do que os outros.

Estes militantes souberam defender, pé ante pé, as tradições internacionalistas que ainda estavam vivas alguns anos antes, defender a ideia simples de que os proletários não têm pátria, que a luta do proletariado não conhece fronteiras e que os seus interesses são os mesmos em todos os países. Numa altura em que a histeria nacionalista tomava conta do país, tendo como uma das expressões mais horríveis a palavra de ordem estalinista "A cada um o seu Boche" [3],  estes militantes ainda encontraram forças para lutar contra ela, para realizar trabalhos de propaganda e, nas circunstâncias mais difíceis, para organizar actos de confraternização dirigidos aos soldados alemães estacionados em Brest (em colaboração com militantes trotskistas) [4] Hoje, é importante recordar estes factos esquecidos, que os adoradores da Resistência e outros combatentes do anti-fascismo democrático, cujo papel central era o de credibilizar e reforçar o Estado, se esforçam mais uma vez por cobrir com um véu de silêncio, foi obrigar os proletários a renunciar a toda a esperança de uma luta autónoma que se desenhava aqui e ali, em maior ou menor grau - na Grécia, em Itália, nos Balcãs, em França... No final, tiveram de arregaçar as mangas e suportar uma exploração acrescida para reconstruir a economia nacional.

junho de 2014

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Apresentação dos diferentes grupos e suas publicações – (Revisto em Abril de 2016)

A história dos vários grupos revolucionários que tiveram uma posição e prática internacionalista durante a 2ª Guerra Mundial em França [5] é complexa. Podemos apresentá-los esquematicamente da seguinte forma:

1) Militantes que vieram de grupos trotskistas, como os que formaram a RKD (Revolutionäre Kommunisten Deutschlands – Comunistas-Revolucionários da Alemanha) em Setembro de 1939 e vindos da RKÖ (Revolutionäre Kommunisten Österreichs – Comunistas-Revolucionários da Áustria). Depois, em Outubro de 1944, participaram da criação da OCR (Organização Comunista Revolucionária).

2) Militantes que formaram o GRP (Grupo Revolucionário Proletário) em 1942 que foi transformado na UCI (União dos Comunistas Internacionalistas) em 1944.

3) Os militantes que vêm da esquerda italiana na emigração, organizados em torno da revista Bilan (1933-1938), depois Outubro (1938-1939) que se organizará na Fracção Italiana da Esquerda Comunista em 1944 e na sequência de divergências dividir-se-ão em 2 partes: por um lado a Fracção Francesa da Esquerda Comunista que publica o Etincelle depois o Internationaliste e por outro lado a Esquerda Comunista da França que publica Internacionalismo e A Faísca. Na Bélgica, haverá uma fracção belga da esquerda comunista internacional.

Após esta breve visão geral, oferecemos aos leitores acesso directo às várias secções que oferecem um quadro histórico, documentos digitalizados e versões de texto de artigos significativos:

§  RKD (Revolutionäre Kommunisten Deutschlands) – OCR (Organização Comunista Revolucionária)

§  GRP (Grupo Revolucionário Proletário) e UCI (União dos Comunistas Internacionalistas)

§  Esquerda Comunista Internacional


Brochuras

§  Pierre Lanneret

§  Os internacionalistas do "terceiro campo" em França durante a Segunda Guerra Mundial [6]

§  Internacionalistas em França durante a Segunda Guerra Mundial [7]

§  Homenagem a Jeannine Morel (1921-1998) [8]

§  Madeleine Bossière, memórias... [9]]

§  Memórias de Maxime Rubel antes e durante a Segunda Guerra Mundial, Roger Bossière

Observações:

[[1] Como pode ser lido nos Cadernos Leon Trotsky nº 23 na página 106, disponíveis no site da Marxist.Org. Ou no jornal La Vérité n° 58 de 10 de Fevereiro de 1944 que titulava: "As bandeiras do Exército Vermelho juntar-se-ão às nossas bandeiras vermelhas".

[[2] Ver o texto Revolução e Contra-revolução publicado por Le Proletaire n° 2-3, Março de 1946.

[[3] Em Outubro de 1942, este é a palavra de ordem central que encontramos no jornal France d'Abord: "todos de pé e para cada um o seu boche". Citado em Le Peuple Français n° 7.

[4] Ver a secção GRP/UCI onde voltamos a esta colaboração em detalhe no ponto 4. Publicámos também o jornal Arbeiter und Soldat.

[5] Se no início da abertura desta secção – 2014 – nos limitamos à actividade desses grupos em França, obviamente não é por opção política, mas por causa dos documentos em nosso poder que estavam limitados a este país. Mais tarde, pudemos colocar as mãos em material em italiano do Partido Comunista Internacionalista da Itália, que deu uma dimensão mais ampla à secção inicial. Se pudéssemos disponibilizar aos leitores documentos de grupos internacionalistas que tiveram atitudes semelhantes, como a MML (Frente Marx-Lenine-Luxemburgo) na Holanda; tal como a União dos Comunistas Internacionalistas (KDEE) na Grécia, faríamos o mesmo. Há também um grupo nos Estados Unidos que tomou a mesma posição e publicou a revista Living Marxism.

[6] Edições Acratie, 1995, esgotadas.

[[7] Primeiro a primeira versão auto-publicada sob o pseudónimo de Ernest Rayner em 1985, depois publicada pela Phoenix Press, Londres em 1994, fora de catálogo.

[8] Editado por Paolo Casciola e Claudine Pelletier-Benmansour, Quaderni Pietro Tresso n° 15, janeiro de 1999.

[9] Boletim n° 44 da CIRA-Marselha.

 

Fonte: – Internationalistes du 3e camp (1940-1952) – les 7 du quebec

Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice




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