Terça-feira, 26 de Fevereiro de 2024
“Vivemos num
planeta em que o imperialismo, estádio supremo e último do capitalismo, se
mundializou e globalizou, ou seja, se tornou dominante ao nível local e ao
nível geral.
É agora que se irão
intensificar as guerras entre as grandes potências imperialistas. Qualquer
dessas guerras tenderá a mundializar-se também, como está a suceder com a
guerra imperialista pela conquista do petróleo e matérias-primas no Próximo e
no Médio Oriente.
Essa guerra leva já
mais de quarenta anos e a tendência é mundializar-se cada vez mais(como o comprovam a Guerra na Ucrânia e, mais recentemente, a guerra de
genocídio levada a cabo pela ditadura fascista israelita na faixa de Gaza - NdT).
Dessas guerras imperialistas acabarão por nascer as revoluções proletárias
socialistas modernas, e que – essas sim – estão em condições de permitir a
destruição do modo de produção capitalista e instaurar o novo modo de produção
comunista.”
Ler aqui no jornal
Luta Popular online:
Ora, se concordamos com o que o camarada diz, isto é, que por “vivermos
num planeta em que o imperialismo, estádio supremo do capitalismo, se
mundializou e globalizou, ou seja, se tornou dominante ao nível local e ao
nível geral”, e que, neste quadro, se irão “...intensificar as guerras
entre as grandes potêncis imperialistas”, o que levará a que “...qualquer
dessas guerras tenderá a mundializar-se também...”, das quais “...acabarão
por nascer as revoluções proletárias modernas, e que – essas sim – estão em
condições de permitir a destruição do modo de produção capitalista e instaurar
o novo modo de produção capitalista”, temos de concordar com o que
afirmou na sua palestra do 1º de Maio Vermelho de 2018, isto é, de que a
nossa táctica é o estudo do marxismo e a nossa estratégia transformar essas
guerras imperialistas em guerras cívis revolucionárias, não para instituir ou
proteger a “democracia” (ou um regime “democrático”, ou “patriótico”) – ou
sequer salvá-la – mas para “...instaurar o novo modo de produção comunista”.
A estratégia do proletariado revolucionário, dos comunistas, dos marxistas,
não se deve focar, pois, em “salvar a sociedade” do fascismo ou de qualquer
outro regime ditatorial, não é procurar alianças com uma camada da burguesia
contra a outra, para evitar esse “desfecho”, mas sim preparar, educar a classe
operária, para a inevitabilidade das guerras imperialistas e prepará-la para as
transformar em guerras cívis revolucionárias. Não compreender isto é conduzir a
classe operária para a armadilha da “luta contra o fascismo”, pela luta pela
“democracia” que, em modo de producção capitalista é uma ditadura – ainda que
“democrática” – burguesa, é conduzir a classe operária para onde, uma vez mais,
servirá de carne para canhão para uma das facções da burguesia em contenda.
Para nos ajudar a compreender melhor a questão em debate, proponho-vos à
reflexão várias das teses propostas por Robert Bibeau, o Editor da webmagazine Les 7 du Quebec. Teses que propôs em
vários dos seus textos, sobretudo na excelente abordagem marxista contida no
seu livro “A democracia nos Estados Unidos – as mascaradas eleitorais “,
que passo a reproduzir.
Notas sobre a participação dos comunistas em eleições burguesas
Após a Grande Depressão dos anos trinta, várias
esquerdas burguesas uniram-se como uma frente patriótica unida, frente
democrática, frente republicana e frente popular e populista. Nesses tempos de
estado de graça, os militantes de esquerda eram numerosos e tinham peso, o que
não acontece agora, excepto para empurrar o proletariado indefeso para as urnas
fúteis.
Existem muitas esquerdas, existem esquerdistas, esquerdas oportunistas (ao
centro) e esquerdas reformistas (à direita do centro no espectro político
burguês). Nos anos trinta, elas forjaram uma frente popular única com os
partidos políticos da direita liberal democrática (sic) para impedir a ascensão
da extrema direita qualificada na época como militarista (Japão, China),
corporativista (Espanha, Portugal), fascista (Itália, Hungria) e nazi
(Alemanha, Áustria). A Terceira Internacional Comunista de George
Dimitrov e José Estaline trouxe o seu prestigioso
apoio de “esquerda” a essas frentes populistas, patrióticas e chauvinistas
unidas. Assim, o proletariado foi convidado a confraternizar com o inimigo de
classe da esquerda pequeno-burguesa liberal, a fim de permitir-lhe reter o
poder contra os seus amigos e concorrentes capitalistas "extremistas"
de direita e totalitários, aliados para conter os avanços do proletariado
revoltado.
Os comunistas e socialistas insinuaram
então que o capital "liberal" é preferível ao capital "totalitário",
intransigente, vingativo e belicista. Era esquecer que o capital tem apenas uma
vocação, apenas um item na sua agenda, apenas um objectivo estratégico,
aprimorar-se –reproduzir-se - e perpetuar-se ... ou morrer. A opção de guerras
e crueldades nunca é rejeitada pela esquerda ou pela direita burguesa quando o
vento da crise ameaça o navio. A Segunda Guerra Mundial iria confirmá-lo muito
em breve.
Na verdade, para atingir este objectivo estratégico, o capital
"liberal e totalitário" sabe que deve fazer concessões e às
vezes lançar lastro e conceder algumas migalhas momentâneas aos trabalhadores
proletarizados, enquanto por vezes terá que apertar o cinto dos seus
assalariados, mostrar os dentes, fazer a guerra contra os seus concorrentes e
exterminar milhões de assalariados excedentes, choramingando (à esquerda) ou
vociferando (à direita), depende. É necessário entender bem que estas
duas tácticas - a táctica liberal democrática eleitoralista
burguesa e a táctica radical totalitária capitalista se complementam e se
sobrepõem (Bad cop, Good cop). Entre esses dois pugilistas, a grande
burguesia nunca se sente ameaçada no seu poder hegemónico, especialmente se a
esquerda defender esse logro “frentista populista”.
Frente Unida do compromisso para apoiar a burguesia reformista.
A única coisa que pode variar consoante qual a
táctica, branda, liberal, parlamentar, quer seja privilegiada ou a
táctica dura, totalitária e ditatorial, é o nível de intensidade da repressão a
que a classe proletária será submetida. A pressão exercida pela repressão é
determinada por duas variáveis: a primeira diz respeito à profundidade da crise
económica que atravessa o capitalismo, profundidade que determina a extensão
dos sacrifícios que serão impostos às classes camponesa, proletária e
pequeno-burguesa, carne para canhão e reféns das guerras imperialistas. Assim,
durante a Primeira Grande Guerra, a intensidade dos sacrifícios
impostos aos camponeses, proletários e pequeno-burgueses nas trincheiras da
Europa foi muito grande, mas todos aqueles que conseguiram escapar da frente de
guerra tiveram uma vida menos miserável e foi necessário o colapso da frente no
leste e a fome generalizada para que a população russa se sentisse globalmente
ameaçada pelos abusos da guerra. Ela reagiu então, rejeitando a guerra
imperialista, que Lenine entendeu mais rápido do que Trotsky e
os outros bolcheviques com o seu slogan "Pão, Terra, Paz"
perfeitamente adequado aos milhões de mujiques camponeses que formavam as
fileiras do exército e os povos famintos da Rússia czarista feudal e ainda não
capitalista. Por outro lado, durante a Segunda Guerra Mundial,
muito rapidamente as populações civis foram feitas reféns e postas à prova
nesta guerra total, tanto quanto os militares nas frentes de
confronto. Em 1939, no entanto, o número de camponeses declinou, compensado
pelo aumento do número de proletários da Europa Ocidental, América do Norte e
Japão, mas não chineses, onde os camponeses ainda formavam a maior parte do
contingente, daí a táctica de guerra popular prolongada dos camponeses em favor
de Mao Tsé-Tung, o herói dos “camponeses urbanos” contemporâneos (sic). Em
1939, o proletariado multiétnico e internacionalista alimentou a frente única
de guerra, enquadrada pelos esquerdistas burgueses e fascistas. Eles formaram a
base sacrificada em nome da pátria adulada e do estado fetichista em perigo. A
memória colectiva da classe proletária lembrar-se-á disso para sempre.
Esta guerra total pela sua intensidade e extensão das suas
atrocidades exigiu uma intendência muito maior do que as guerras anteriores. Os
soldados dos exércitos foram, portanto, recrutados desde a década de 1930 nas
milícias comunistas ou fascistas, a fim de aprender desde cedo a suportar
tamanha intensidade de destruição na frente e atrás da frente para a salvação
da Nação (sic). Na verdade, com os bombardeamentos alemães, japoneses,
britânicos e americanos atrás das linhas, a frente estava em toda a parte, os
crimes de guerra permanentes e os sacrifícios constantes para os soldados, para
os guerrilheiros e para as populações civis de ambos os lados. As terríveis
guerras no Médio Oriente e em África (1990-2020) são "remakes" dessas
populares carnificinas genocidas e um treino para os massacres virais em massa
anunciados pela pandemia de Covid-19. Estamos a viver em tempo real os
preparativos para a Terceira Guerra Mundial e Joe Biden terá pouco controle
sobre a evolução desse drama corneliano.
A reacção da classe operária a uma próxima guerra bacteriológica e nuclear.
O capital internacional sabe perfeitamente que a próxima guerra mundial com
os seus vectores bacteriológicos, virais, nucleares, os seus drones, os seus
mísseis, as suas bombas de neutrões e as suas radiações será mil vezes mais
intensa, total, global, mortal e devastadora que as anteriores. Nessas condições,
é impossível para ele prever qual será a reacção das populações e,
especialmente, impossível prever a reacção dos combatentes na frente - estando
a frente em todos os lugares ao mesmo tempo, nas cidades para começar:
megalópoles urbanas incontroláveis e perigosas para o poder do estado
burguês. Compreendam que as guerras localizadas que estamos a testemunhar no
Médio Oriente e em África, bem como essa pandemia falsa em que os governos
causadores de problemas estão emaranhados são preparações - exercícios
práticos - do que atingirá o mundo inteiro no próximo conflito generalizado. O
que nos leva à segunda variável que mencionámos anteriormente
e que diz respeito à reacção apreendida da classe operária e do proletariado
internacional sacrificado.
Um revolucionário escreveu certa vez que a guerra imperialista levará à
revolução proletária ou então a revolução proletária afastará a guerra
imperialista. Na verdade, sabemos hoje que é a guerra imperialista que levará à
revolução proletária. Façamos uma comparação entre a classe proletária
internacional nas duas guerras mundiais anteriores e a classe proletária hoje,
na véspera deste terceiro conflito generalizado. Vamos estudar esta classe sob
três variáveis fundamentais: os seus efectivos, a sua organização e
a sua consciência de classe.
Os efectivos da classe proletária.
Do ponto de vista dos seus efectivos - um reflexo da sua força - a situação
actual é diferente daquela que prevalecia no século XX. Se durante as duas
primeiras guerras mundiais o proletariado formou um pequeno contingente de
soldados (Primeira Guerra), depois um grande contingente de soldados (Segunda
guerra), o campesinato dos países ocidentais e o dos países da África, Ásia e
África e da Oceania constituiu uma força militar muito importante. Daí, as
temáticas da posse da terra e dos recursos alimentares, do espaço de vida, da
demografia galopante, da raça e etnia, da comunidade de pertença, tantos temas
camponeses e feudais preponderantes para apoiar a chama patriótica dos
combatentes. Já sabemos que esses temas arcaicos, chauvinistas, xenófobos e
retrógrados terão pouca influência sobre os soldados-proletários das potências
ocidentais e carne para canhão das potências orientais. O proletariado
industrial e o sector terciário formam hoje um enorme contingente de milhares
de milhões de indivíduos (incluindo as
suas famílias), multiétnicos, amplamente
urbanizados, socializados, treinados, educados, "conectados" e
conscientes, amargurados com a sua miséria e que desesperam. Além disso, com o
agravamento da crise económica, este proletariado está num processo de
empobrecimento e precariedade e a raiva está a rugir nas suas fileiras. A
grande burguesia não tem ideia de como esses milhares de milhões de proletários
irão reagir numa situação de pandemia e apocalipse nuclear e apressa-se em
lançar as suas hordas de pequenos burgueses de extrema direita e extrema
esquerda para tentar enquadrar esses desesperados.
A organização das classes burguesa e proletária.
Em termos de organização de classe, durante a Primeira Guerra Mundial, a
classe capitalista, embora seriamente dividida entre o campo imperialista
alemão-austro-húngaro e o campo da Santa Aliança liberal, de forma alguma foi
ameaçada de colapso ou de derrube revolucionário, se exceptuarmos o colapso da
Rússia que um hábil estratega político bolchevique conseguiu transformar numa
revolução social democrática burguesa. Notemos que essa revolução democrática
burguesa permitiu derrubar o feudalismo czarista e construir o capitalismo de
estado que Estaline, o “pequeno pai dos povos” levou ao auge, preparando
assim a grande vitória patriótica de 1945 e a expansão temporária do campo
imperialista soviético. Durante a Segunda Guerra Mundial, as tensões no seio da
classe capitalista mundial hegemónica chegaram a um clímax, à imagem das
tensões antagonistas que minam a economia capitalista numa crise sistémica.
Além disso, o equilíbrio das forças entre os dois campos imperialistas era
apertado e não fosse a necessidade de expansão do capital alemão para o leste -
sua área preferida de expansão – e não é seguro que o Eixo Germânico fosse
derrotado na Europa. O capital japonês não teve qualquer chance de se opor à
imensa máquina de guerra dos Estados Unidos em expansão.
Foi porque o equilíbrio de forças entre os dois campos imperialistas rivais
era tão apertado que a burguesia foi forçada a levar a cabo uma intensa
campanha de mobilização entre a pequena burguesia, sua ponta de lança e seu
cavalo de Tróia; com o campesinato, sua força de reserva; e entre o
proletariado, o seu inimigo jurado - enganado pelos "frentistas
reformistas e populistas" - que apresentava as facções da direita radical
- fascista, corporativista, salazarista, franquista, militarista e nazi - como
demónios enfurecidos contra os quais os esquerdistas de esquerda , oportunistas
e reformistas amalgamados deviam unir forças agarrando-se à carruagem
nacionalista patriótica da burguesia "moderada-liberal-democrática"
(sic), como se a democracia burguesa não abrigasse o germe do totalitarismo
fascista pedindo apenas para florescer ao sol negro da reacção.
Assim, há muitos anos, são de facto os capitalistas das nações e países
ditos "liberais - democráticos - parlamentaristas - eleitoralistas"
burgueses que conduzem guerras de extermínio e crimes de guerra genocidas sem
necessidade de chamar a cavalaria fascista populista para o resgate. Joe
Biden, só seguirá os passos dos seus antecessores, e é precisamente isso
que o reformista-frentista “go-left” (falsa esquerda) tenta mascarar ao deixar
acreditar, como nos anos 30, que haveria duas classes de capitalistas - uma
amiga e "moderada" com o qual o proletariado é convidado a fornicar,
e a outra, ditatorial, totalitária e intransigente que o proletariado é
convidado a contra-atacar para assegurar o poder da facção capitalista
"democrática moderada" mais generosa para os pequeno-burgueses, pelo
menos até à crise económica. Essas duas faces de Janus escondem a mesma classe
social antagónica, decadente, disposta a tudo para garantir a sua missão
histórica e reproduzir o capital, e com a qual o imenso proletariado
internacional nunca deve vincular o seu destino.
A agiotagem racista, étnica e religiosa, islamofóbica, reaccionária, é
apenas o último salto de um mundo semifeudal em degradação nos chamados países
"emergentes" que, se for convidado para os Campos Elísios, não
consegue despertar a histeria das multidões proletárias que compreenderam quem
são os que puxam os cordelinhos por detrás das cortinas dos serviços secretos
do Estado dos ricos. A pequena burguesia parasita, a eterna defensora da farsa
"frentista - unificadora - populista", implora a unidade. A
unidade do imenso proletariado planetário não é um ícone a ser implorado, será
o resultado que se forjará na e pela luta das classes antagónicas e não o
resultado das injunções e encantamentos dos gurus das múltiplas seitas
esquerdistas. De resto, é evidente que depois de cinquenta anos de
repetidos ataques ao movimento operário, a classe está desorganizada e
indefesa. A classe proletária terá que reconstituir as suas forças e a sua
"vanguarda" e acreditamos que o fará durante a intensificação da luta
de classe contra classe resultante do aprofundamento da crise económica
sistémica e na sequência dos inevitáveis ataques do capital que vai provocar
a insurreição popular. No entanto, será que a classe operária saberá assumir a
direcção desta insurreição popular para transformá-la numa revolução
proletária? Tudo vai depender do seu nível de consciência de classe.
A consciência de classe.
Regressemos agora à consciência de classe, outra variável importante nesta
problemática. Um famoso revolucionário escreveu certa vez: "Sem teoria
revolucionária não há movimento revolucionário", isso foi um erro. A
frase materialista dialética é mais "Sem um movimento de classe
revolucionário, nenhuma consciência de classe revolucionária, nenhuma teoria
revolucionária e, portanto, nenhuma organização revolucionária",
seguindo o preceito de que a consciência procede do movimento e nunca o
precede. Por que dizemos que a variável "consciência de classe"
não é vital de momento? Porque este vector é uma variável dependente e não
independente e determinante, como o fizeram crer os comunistas,
marxistas-leninistas, maoístas, trotskistas, anarquistas e outros esquerdistas
idealistas. Digamos primeiro que a consciência de classe não pode preceder o
estado de avanço económico e político de uma classe.
Foi assim que Marx,
que foi um excelente analista económico do modo de producção capitalista -
totalmente desenvolvido na Inglaterra vitoriana –foi um pobre analista político
na Inglaterra conservadora, onde a classe operária penava para encontrar as
suas marcas de combate. Enquanto uma classe social estiver subdesenvolvida como
força produtiva - numa sociedade feudal czarista em transformação capitalista,
por exemplo - ela não pode ter uma consciência de classe muito aguda - muito
desenvolvida - muito revolucionária "para si mesma". Lenine,
por exemplo, tinha uma consciência de classe proletária mais nítida do que a
emergente classe operária russa, porque Lenine viveu parte da
sua vida entre o proletariado da Europa Ocidental. Por outro lado, numa
sociedade altamente mecanizada, robotizada, tecnicizada, digitalizada,
conectada, amplamente desenvolvida e de alta produtividade como observamos
hoje, a consciência da classe que opera essas tecnologias, esses robots, esses
meios de produção e de comunicação informatizados e digitalizados, é nítida, e
isso, independentemente das tácticas de "contenção", "formatação"
do pensamento alienado, propaganda de massa e fabrico do
"consentimento" que o capital desdobra para subverter essa
consciência de classe que inevitavelmente se desenvolve ao mesmo tempo que as
contradições que abalam o moribundo modo de producção e os confrontos de classe
que tentam conter os seus efeitos, se apenas o proletariado revolucionário
conseguir conter as divagações do "vanguardismo ”que prossegue em marcha
atrás.
Assim sendo, quais são as perspectivas económicas, políticas, ideológicas,
sociais e militares da burguesia em antecipação do próximo conflito
bacteriológico e termonuclear?
Elas são extremamente precárias. Por um lado, a esquerda
esquerdista, oportunista e reformista já não consegue cumprir a sua
missão de desorganizar a luta de classes do proletariado porque perdeu toda a
influência na classe que repudia esta "vanguarda" da qual se protege
(lucidez que a pseudo “vanguarda” interpreta como um sinal de senilidade).
Assim, se nos anos trinta os comunistas conseguiram agitar o espantalho
do fascismo - da extrema direita e do nazismo - para apoiar a ala liberal do
capital - já não o conseguem hoje, desacreditados como estão por noventa anos
de colaboração de classes e seus fúteis clamores contra a ala direita dos
predadores capitalistas.
O fim dos frentistas de « vanguarda ».
Entre a ala liberal (Churchiliana) e a ala radical (hitlariana e
estalinista) do capital, não havia diferença fundamental como Churchill,
Roosevelt, Estaline, Hitler, Hirohito, Mussolini, Mao, Tito e de Gaulle o demonstraram.
O que atrapalha os preparativos para a guerra imperialista, não é o lamento dos
pacifistas, alter globalistas, eco socialistas e outros esquerdistas,
comunistas, marxista-leninistas, trotskistas, maoístas e frentistas de serviço,
mas sim as "Primaveras" dos levantamentos espontâneos (mesmo se, até
agora, recuperados e liquidados); são esses jovens mercenários jihadistas
esfomeados que os agentes do estado recrutam e contratam, e de repente os
perdem de vista; são essas revoltas violentas e espontâneas em Ferguson,
Dallas, Oakland e nos subúrbios de Londres, Bruxelas e Paris que eles não serão
capazes de apaziguar ou conter no dia do grande tumulto descontrolado, no dia
da inssureição popular, antes da revolução proletária.
Em última análise, o nosso diagnóstico é que a consciência da classe
operária está à frente daquela da chamada “vanguarda” e que não há nenhuma
hipótese de as frentes populistas unidas e democrático-eleitoralistas do grande
capital ressurgirem nestes tempos de crise económica sistémica do capitalismo.
O trumpismo terá sido a sua última manifestação.
Igualmente importante para este debate é ainda o artigo que Robert Bibeau
publicou “A mascarada eleitoral americana, edição 2020 (Parte
7)”, no dia 11 de Novembro de 2020, a propósito das eleições americanas que
levaram ao poder um dos sectores da burguesia americana, mormente o
protagonizado por Joe Biden. Trata-se, como certamente constatarão, de um
importante desenvolvimento teórico marxista ao brilhante texto que acima
reproduzimos.
UM PRESIDENTE AMERICANO COMUM VAI PARA A GUERRA
O 46º Presidente da República dos Estados Unidos da América será
entronizado, empossado, munido dos documentos que lhe conferem a legitimidade e
lhe conferem os "plenos poderes" que lhe incumbem ... e depois?
Depois, “business as usual”. Deixámos bem claro antes da eleição
- https://les7duquebec.net/archives/259547 - e
confirmámos depois dessa farsa eleitoral, um presidente dos Estados Unidos é o
elo de uma corrente que aprisiona toda a nação multiétnica e multicultural
americana, de modo que é a classe capitalista hegemónica que está no poder através
das suas plumitivas políticas.
Um presidente é tudo menos um "self-made man", um anti-establishment ou
um oponente do estado profundo (sic), um estado que lhe dará
corda suficiente para o servir. A retórica eleitoral oposta - utópica - foi
apresentada aos perdidos para atrair aqueles que estavam prontos para a batalha
contra o poder hegemónico dos ricos. Agora que esta salada deu os votos
esperados, que foi engolida e levou um candidato ao auge do Capitólio, é hora
de o grande capital começar a trabalhar e continuar os preparativos para a
guerra já iniciada por esta pandemia viral.
Terminada a comédia eleitoral, passemos aos assuntos
sérios.
Os assuntos sérios são, por exemplo, todas estas promessas feitas durante a
eleição que só envolvem quem nelas acreditou, não quem as promoveu na sua caminhada
eleitoral ao sabor do vento do oportunismo que sempre varre este tipo de
exercício "Prometo-vos o que vocês querem ouvir e no dia seguinte farei
o que agrada aos meus generosos doadores" (o custo da edição das
eleições americanas de 2020 foi de 14 mil milhões de dólares). Assim, o
proteccionismo, o isolacionismo e o mundialismo nada mais serão do que
slogans de campanha para justificar a imposição de tratados de livre comércio.
Deixem de lado o vosso boné "America First" e o vosso
boné de livre-comércio, que é bom apenas para excitar os
parvos e os pequeninos.
Essas intermináveis negociações comerciais dizem respeito a potências
imperialistas mais poderosas do que a América e que não serão impostas por um
pugilista à frente de um "Estado falido". Nem
Trump nem Biden são politicamente ingénuos como a
media tentou retratá-los. É por isso que o vencedor colocará falcões,
criminosos de guerra endurecidos, à frente dos exércitos ianques e serviços
secretos. Vocês gostaram dos programas de assassinato selectivo de Obama, vocês
vão adorar o programa de mortes colectivas e de guerra generalizada de Joe
Biden, os seus créditos para a guerra, os seus navios de ataque no mar
(350 no mínimo ), mais fundos para as 700 bases de agressão militar no exterior
e alvos mais rígidos dos três inimigos mais vingativos da América, o Irão do
petróleo e dos petrodólares, as etapas das novas rotas da seda, a Alemanha do
euro, e a China mecanizada, robotizada, digitalizada, tecnológica e
produtivista. As duas fábricas do mundo devem ser colocadas no seu lugar ao
serviço do imperialismo mundial. Para a Rússia, é oferecido um corredor de
saída se desejar abrigar-se ao lado dos europeus, que são convidados a
alinhar-se atrás do comandante em chefe do Pentágono.
Sob Biden, a era Bush está de volta "Vocês estão connosco ou estão
contra nós!", os truques do período Obama já duraram bastante, esse é
o motivo da eliminação dos pretendentes que prometeram mais oito anos
suplementares de tergiversação enquanto o Palácio Imperial arde, e que o fogo
está latente em Ferguson, Chicago, Milwaukee e Charlottesville. Joe manterá um
olhar atento e a aplicação da lei erradicará a desordem com metralhadoras e
canhões devastadores mesmo no seio da nação.
Os imigrantes ilegais serão ameaçados - mas não devolvidos – trata-se
simplesmente de os aterrorizar para fazê-los aceitar piores
condições de sujeição. A América não pode prescindir desta força de trabalho
barata que mantém uma pressão salutar sobre os salários dos proletários americanos
e sobre os trabalhadores pobres (60 horas de trabalho por semana por salários
insuficientes para garantir a sua sobrevivência). A falsa esquerda tem orgulho
de ter direccionado a atenção para o racismo, a imigração, a pandemia, as
minorias, excepto sobre as questões de sobrevivência da maioria proletária. A
extrema esquerda sempre fez o papel de imbecil útil. Enquanto gesticula para
reformar e salvaguardar o moribundo modo de producção capitalista, enquanto a
crise se alastra, à medida que a miséria se espalha por todo o proletariado
negro, latino e branco, feminino e masculino, a esquerda atira-se contra uma
parede, sobre o casamento gay, os direitos dos animais, os escândalos
Hollywood-Me Too e outras questões secundárias.
Défice – dívida – dólar americano – o declínio da Aliança atlântica.
Para financiar esses défices astronómicos recorrentes, haverá impressão de
dinheiro. É aqui que vocês podem entender por que é que a China, o
Irão, a Alemanha, a Rússia, o Canadá, a Europa estão sob ameaça, embora cada um
desses pretendentes seja tratado de forma diferente pelo grande Timoneiro do
Capitólio. Essa profusão de dinheiro de crédito - petrodólar - "dinheiro
de fantasia" levará os Estados Unidos directamente para a falência, mais
rápido do que o desempenho de Obama, o primeiro presidente negro será
desclassificado para o terceiro lugar da dívida, logo após Donald
Trump e Joe Biden, os campeões. Nos próximos anos,
os aliados roubados e os concorrentes prejudicados tentarão escapar - para se
livrar dos seus dólares de chumbo - é aqui que a cavalaria aerotransportada, os
drones, as sete frotas de agressão, os onze porta-aviões e os 540.000 soldados
estacionados nas centenas de bases espalhadas, do Mediterrâneo ao Mar da China,
servirão para chamar à ordem os recalcitrantes aliados e pretendentes ao posto
de comandante dos exércitos da Aliança Atlântica. Para comandar, é preciso
mesmo pagar com "dinheiro de fantasia". Infelizmente, tudo isso nada
mais são do que divagações desesperadas por parte de uma potência que mal tem
meio milhão de soldados aerotransportados treinados para o combate e uma
economia estilhaçada, alinhando cerca de 100 milhões de proletários mal pagos,
produtores de mais-valia desvalorizada, contra 800 milhões de proletários
chineses que são produtivistas e geradores de mais-valia. A América não é mais
do que uma sombra de si mesma e não pode esperar impor-se ao mundo inteiro sob
Donald ou sob a gestão de Joe ... da mesma forma.
Portanto, é fácil prever que o jogo está perdido de antemão para a aliança
imperialista americana, que está a murchar perante os ventos de sucessivas
derrotas militares que alguns classificam como estratégias ponderadas do
"caos" (sic). No entanto, teme-se que o leão ferido se aventure numa
saga desesperada. Não é a esquerda americana ou a esquerda "de
vanguarda" mundial que nos salvará, mas o proletariado americano e
internacional. No entanto, ao contrário de Lenine, não
acreditamos que a Revolução impedirá a guerra, mas sim que a guerra levará ao
levantamento popular e depois à Revolução Proletária.
Fonte: https://les7duquebec.net/archives/259648
En français sur le site web de l’Harmattan
(13 euros en PDF)
HARMATTAN : http://www.editions-harmattan.fr/index.asp?navig=catalogue&obj=livre&no=59199
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