segunda-feira, 27 de novembro de 2023

Caricaturar tudo, excepto os símbolos judaicos e os representantes sionistas!

 


 27 de Novembro de 2023  Robert Bibeau  


Por Khider Mesloub.

"Não desistiremos das caricaturas e dos desenhos, mesmo que outros recuem", declarou Macron a 21 de Outubro de 2020, durante uma homenagem nacional ao professor de história e geografia Samuel Paty, decapitado depois de ter mostrado aos seus alunos caricaturas do profeta Maomé.

As caricaturas mostradas por Samuel Paty aos seus alunos como material didático foram publicadas em 2012 pelo jornal satírico Charlie Hebdo. Uma das caricaturas retratava o profeta Maomé de quatro, nu, com os testículos pendurados, e tinha como título "Mahomet, une étoile est née" ("Maomé, nasceu uma estrela").

As caricaturas foram consideradas "desprezíveis" pelo antigo ministro da Educação Luc Ferry. "Para ensinar a liberdade de expressão, não somos obrigados a mostrar caricaturas que beiram a pornografia", disse o filósofo à France-info.

Em 2020, o Presidente Macron defendeu a liberdade de caricaturar, "custe o que custar". Mas esta liberdade de expressão sob a forma de caricatura parece aplicar-se apenas ao mundo cultural e religioso muçulmano. Com efeito, tente caricaturar a fé judaica ou o Holocausto, e arrisca-se a ser processado e a sofrer pesadas sanções penais e financeiras.

Embora o judeu apareça por vezes nas caricaturas de Charlie Hebdo, nunca está sozinho, mas discretamente configurado ao lado do imã e do padre, para dar crédito à propaganda segundo a qual as três religiões monoteístas são imparcialmente atacadas, esmagadas e caricaturadas em França.

Sem dúvida, em França, a liberdade de expressão pára no limiar das instituições do Estado e dos organismos judaicos. Qualquer caricatura de organismos oficiais franceses ou europeus parece ser severamente reprovada e condenada. A prova. Em 25 de Março de 2021, no início da guerra russo-ucraniana, o embaixador russo em Paris foi chamado ao Ministério dos Negócios Estrangeiros na sequência da publicação no seu Twitter de duas caricaturas consideradas "inaceitáveis" pelas autoridades francesas.

O primeiro cartoon mostrava europeus de joelhos a lamber o rabo do Tio Sam, sob o título "A solidariedade europeia em acção". O segundo desenho mostrava uma alegoria de uma Europa doente e moribunda sob injecções de seringas tóxicas gigantes ("russofobia", "neonazismo", "sanções", "Covid-19″, "Nato", "cultura do cancelamento") administradas pelo Tio Sam americano e por um representante da União Europeia.

"Estas publicações são inaceitáveis e o Ministério dos Negócios Estrangeiros deixou isso bem claro ao embaixador russo", declarou, furibundo, o Presidente Macron.


Para que conste, a embaixada russa em França apagou educadamente o tweet perante o clamor e a avalanche de comentários indignados.

Apesar dos protestos dos líderes de vários países muçulmanos e das numerosas manifestações violentas organizadas no Paquistão, Bangladesh, Indonésia, Índia e Afeganistão, o governo francês, nomeadamente os seus estabelecimentos de ensino (professores) e os seus órgãos de propaganda mediática (jornalistas), continuaram a publicar e a distribuir as caricaturas. As caricaturas do Charlie Hebdo continuam a ser frequentemente republicadas pelas publicações periódicas francesas. Actualmente, os cartoons são também utilizados como material didático nas escolas. Paradoxalmente, no país da liberdade de expressão, se os alunos se considerarem ofendidos pelas caricaturas e exprimirem reservas ou críticas pedagógicas sobre as mesmas, correm o risco de serem detidos por apologia do terrorismo e inscritos na lista S.

Serão as caricaturas toleráveis do ponto de vista dos universos simbólicos representados?  Como interpretar a indignação manifestada pelas autoridades francesas aquando da publicação dos desenhos do embaixador russo em Paris?

E, no entanto, segundo os defensores burgueses da liberdade de expressão, quando se trata de crítica satírica, nada é sagrado. Sobretudo em matéria artística e teatral. Num teatro, na televisão ou numa estação de rádio. Tudo está sujeito ao escárnio. Não é tolerável qualquer auto-censura. Nem qualquer censura. A sátira é amoral. Ultrapassa as considerações morais, éticas e políticas. Ignora as sensibilidades pessoais, religiosas e políticas.  Para além da moral, como diria Nietzsche, é a sua razão de ser.

Mas em França, com a sua democracia hipócrita caricatural, pintada com o despotismo como pano de fundo, a liberdade de caricaturar só é valorizada para o universo cultural muçulmano.  De facto, em França, tal como a caricatura do culto muçulmano é o disfarce do racismo anti-árabe, também o anti-islamismo é a folha de parra que esconde o ódio ao Islão e aos muçulmanos.

Sem dúvida, o objectivo da sátira não é agradar, mas provocar, sobretudo os detentores do poder e da sociedade.  Mas ao centrar deliberadamente a provocação no mundo do culto islâmico, as caricaturas francesas, nomeadamente as publicadas pelo Charlie Hebdo, visam efectivamente os muçulmanos, que são escandalosamente ridicularizados, humilhados e representados em poses degradantes e desumanizadas.

Como interpretar o desenho de Riss intitulado "Le Coran c'est de la merde, ça n'arrête pas les balles" (“O Corão é uma merda, não trava as balas” – NdT), publicado na primeira página do Charlie Hebdo a 10 de Julho de 2013, que mostra um muçulmano a ser metralhado por balas que atravessam o Corão que segura contra si? Certamente que o Charlie Hebdo, durante muito tempo inimigo periódico das instituições dominantes irreverentemente caricaturadas, se tornou obsequiosamente um aliado das potências que o instalaram, em nome dos valores da República burguesa imperialista francesa e do laicismo conhecido pela sua elasticidade ideológica islamófobica, na sua cruzada contra os árabes e os muçulmanos.

Uma coisa é certa: em França, é-nos permitido caricaturar tudo, excepto os símbolos judaicos. Temos o direito de gozar com qualquer figura pública ou político, excepto com os representantes do sionismo. Caso contrário, somos acusados de anti-semitismo e passíveis de processo judicial.

Foi este o infortúnio que se abateu sobre o humorista Guillaume Maurice, após a sua coluna na France Inter, a 29 de Outubro. O comediante qualificou o primeiro-ministro israelita Benyamin Netanyahu, o carniceiro de Gaza, como "uma espécie de nazi sem prepúcio". Imediatamente, todos os grémios culturais, intelectuais e políticos subservientes ao sionismo se manifestaram. Personalidades do mundo político, cultural e religioso judaico denunciaram estas afirmações, qualificando-as de anti-semitas.

No auge do cinismo, até o director do Charlie Hebdo, esse pasquim que costuma ser um campeão da liberdade de expressão, se juntou à matilha sionista para castigar e condenar Guillaume Meurice. "Como é que alguém pode ainda usar termos tão infantis? Esta escolha de palavras parece-me particularmente inoportuna. São atalhos. Claro que se pode rir de tudo, mas há uma forma de o fazer", disse Riss, director do Charlie Hebdo.

Recorde-se que, no início do ano, na sequência da polémica suscitada pela publicação das suas 35 caricaturas do líder supremo iraniano, Ali Khamenei, Riss defendeu firmemente o direito de expressão: "Até agora, os nossos desenhos tocavam em dogmas religiosos. Fomos criticados por não enfrentarmos os poderosos. Agora estamos a atacar um líder de um regime ditatorial e isso ainda parece ser um problema, o que mostra como o argumento é desonesto. Temos o direito de caricaturar líderes políticos, sejam eles Joe Biden ou Jair Bolsonaro. Assim que o movimento de protesto começou em Setembro, perguntámo-nos como poderíamos mostrar o nosso apoio ao povo iraniano que defendia a sua liberdade face à teocracia. A nossa resposta são os desenhos, uma forma de expressão pacifista e não violenta, ao contrário do que dizem os nossos detractores".

Aparentemente, o seu direito à caricatura aplica-se a todos os dirigentes do mundo, excepto aos de Israel, e muito menos ao primeiro-ministro, o fascista Netanyahu.

"O Halloween está a chegar e toda a gente procura um disfarce assustador. Neste momento, o disfarce de Netanyahu está a correr bastante bem. É uma espécie de nazi, mas sem o prepúcio", afirma o colunista Guillaume Meurice.

No entanto, Guillaume Meurice, conhecido pelo seu tom irreverente, fez a sua piada sobre uma figura política de um país estrangeiro, nomeadamente Israel. Ironicamente, no seu próprio (horroroso) país, Netanyahu tem sido desafiado, vaiado, castigado, insultado, caricaturado e rotulado de fascista por centenas de milhares de manifestantes israelitas há mais de um ano, sem a menor controvérsia ou condenação.

Temos a prova de que a França é mais sionista do que o sionismo. A França tornou-se a caricatura de uma nação infectada pelos sionistas. Um país emasculado.

Seja como for, no país da liberdade de expressão de geometria variável e do apoio incondicional ao sionismo invariável, há três semanas que Guillaume Meurice, para além de ter sido castigado pelo seu patrão, é vítima de um verdadeiro linchamento colectivo desencadeado pelos sionistas.  Está a ser processado por anti-semitismo e recebe diariamente toneladas de insultos e ameaças de morte. Foi mesmo interrogado pela polícia na terça-feira, 21 de Novembro, no âmbito de um inquérito por incitamento ao ódio e injúria pública agravada. Tudo isto sem suscitar qualquer indignação ou processo judicial contra os culpados, que são provavelmente todos sionistas.

Um senador francês apelou à Autoridade de Regulação da Comunicação Audiovisual e Digital (Arcom) para que sancionasse Guillaume Meurice pelo seu sketch sobre Netanyahu. Denunciou o comediante por atentar contra o "respeito e a dignidade da pessoa humana". Se, para toda a classe dirigente e política francesa, o respeito e a dignidade humana são encarnados pelo carniceiro dos palestinianos, o chefe do governo nazi israelita, podemos compreender melhor a causa da fascização da sociedade francesa e da decadência da França.

Uma coisa é certa, com a polémica suscitada pelo esboço de Guillaume Meurice, a França revelou que a liberdade de expressão é restritiva, de geometria variável. Geograficamente israelita, ou seja, editorial e territorialmente controlada por Telavive. A prova. Estes são os mesmos que defendem a liberdade de imprensa, a liberdade de blasfemar, a liberdade de caricaturar, que proíbem as manifestações de apoio ao povo palestiniano martirizado, que gozam com os dirigentes israelitas, os seus senhores sionistas intocáveis, criminosos de guerra.

São os mesmos que, desde há dois anos, caricaturam, apostrofam e vituperam insolentemente o Presidente Putin e que exigem respeito pelo carniceiro de Gaza, Netanyahu. Não é verdade que algumas pessoas na LCI, inclinadas a criminalizar os dirigentes russos, mencionaram explicitamente a possibilidade de eliminar fisicamente o Presidente Putin, sem terem suscitado a menor indignação por parte das autoridades jornalísticas ou estatais, que são normalmente mais rápidas a denunciar a mais pequena violação da ética, ou a incorrer na mais pequena acusação das autoridades por incitamento ao assassínio?

 

Khider MESLOUB

 

Fonte: Caricaturez-les tous sauf les symboles judaïques et les représentants sionistes! – les 7 du quebec

Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice




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