10 de Novembro de 2023 Robert Bibeau
A operação militar de Israel contra Gaza tem como objectivo oculto as
reservas de gás submarinas detidas pelos palestinianos.
Para compreender uma das razões do ataque israelita a Gaza, é preciso ir ao subsolo, exactamente a 600 metros abaixo do nível do mar, a trinta quilómetros da costa. Aí, nas águas territoriais palestinianas, encontra-se uma grande jazida de gás natural, a Gaza Marine, estimada em 30 mil milhões de metros cúbicos, no valor de vários milhares de milhões de dólares. Outras jazidas de gás e de petróleo, segundo um mapa elaborado pelo U.S. Geological Survey (uma agência governamental americana), estão localizadas em terra firme em Gaza e na Cisjordânia.
Em 1999, nos termos de um acordo assinado por Yasser Arafat, a Autoridade Palestiniana confiou a exploração da Gaza Marine a um consórcio constituído pelo British Group e pela Consolidated Contractors (uma empresa privada palestiniana), com 60% e 30% das acções, respectivamente, detendo o Fundo de Investimento da Autoridade Palestiniana 10%. Foram perfurados dois poços, Gaza Marine-1 e Gaza Marine-2. Mas nunca entraram em funcionamento porque foram bloqueados por Israel, que queria todo o gás a preços reduzidos.
Por intermédio do antigo primeiro-ministro Tony Blair, enviado do "Quarteto para o Médio Oriente", foi elaborado um acordo com Israel que retirava três quartos das futuras receitas do gás aos palestinianos, que pagariam a sua parte numa conta internacional controlada por Washington e Londres.
Mas, depois de ganhar as eleições de 2006, o Hamas rejeitou o acordo, considerando-o um roubo, e exigiu a sua renegociação. Em 2007, o actual ministro da Defesa israelita, Moshe Ya'alon, declarou que "o gás não pode ser extraído sem uma operação militar para erradicar o controlo do Hamas em Gaza".
Em 2008, Israel lançou a operação "Chumbo Fundido" contra Gaza. Em setembro de 2012, a Autoridade Palestiniana anunciou que, apesar da oposição do Hamas, tinha retomado as negociações sobre o gás com Israel.
Dois meses depois, a admissão da Palestina na ONU como "Estado observador não membro" reforçou a posição da Autoridade Palestiniana nas negociações. No entanto, a Faixa de Gaza continuou bloqueada, impedindo os palestinianos de explorarem os recursos naturais de que dispunham.
Nesta altura, a Autoridade Palestiniana tomou um caminho diferente. Em 23 de Janeiro de 2014, durante uma reunião entre o Presidente palestiniano Abbas e o Presidente russo Putin, foi discutida a possibilidade de confiar à empresa russa Gazprom a exploração do campo de gás nas águas de Gaza. Este facto foi anunciado pela agência Itar-Tass, que sublinhou que a Rússia e a Palestina tencionam reforçar a cooperação no sector da energia. Para além da exploração do campo de gás, está previsto um campo de petróleo nas proximidades da cidade palestiniana de Ramallah, na Cisjordânia. Na mesma zona, a empresa russa Technopromexport está disposta a participar na construção de uma central termoeléctrica com uma capacidade de 200 megawatts.
A formação do novo governo palestiniano de unidade nacional em 2 de Junho de 2014 reforça a possibilidade de o acordo entre a Palestina e a Rússia chegar a bom porto. Dez dias depois, a 12 de Junho, ocorreu o rapto dos três jovens israelitas, que foram encontrados mortos a 30 de Junho: o casus belli único que deu início à actual operação "Barreira Protectora" contra Gaza.
Esta operação faz parte da estratégia de Telavive para se apropriar das reservas energéticas de toda a bacia do Levante, incluindo as reservas palestinianas, libanesas e sírias, e da estratégia de Washington que, apoiando Israel, pretende controlar todo o Médio Oriente, impedindo a Rússia de recuperar influência na região.
Uma mistura explosiva, cujas vítimas são, mais uma vez, os palestinianos.
Segundo este artigo
Mundo
Gaza, a vida numa jaula
Detalhes
Foto e mapa fonte: Mondialisation.ca.
Artigo publicado originalmente em 14 de Julho de 2014 no Il
Manifesto, e traduzido do italiano por Marie-Ange
Patriziodition.
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energéticos no centro dos conflitos internacionais
Este artigo
foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice
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