sexta-feira, 17 de novembro de 2023

G.Bad- Greve maciça dos trabalhadores têxteis no Bangladesh.

 


 17 de Novembro de 2023  Oeil de faucon 

 


Protesto dos trabalhadores do vestuário em Daca, Bangladesh, 1 de Novembro de 2023. (abed Hasnain Chowdhury/NurPhoto. AFP)

O Bangladesh é o segundo maior exportador mundial de têxteis e, como sempre, é o baixo custo da sua mão de obra que o torna um concorrente formidável na cena mundial. As suas 3.500 fábricas de vestuário respondem por 85% das exportações do país1 e empregam 4 milhões de pessoas. A maioria destas fábricas fornece empresas como H&M, Levi's, Zara, Asos, Primark, Uniqlo e Gap. Ao fazê-lo, os operários confrontam-se com o capital nacional e internacional das empresas acima referidas.

Esta greve segue-se a um poderoso movimento que desde 28 de Outubro de 2023 colocou 100.000 pessoas nas ruas da capital  para exigir a demissão de Sheikh Hasina, o primeiro-ministro. Mais uma vez, houve uma repressão muito dura contra os manifestantes.

Daca (AFP) - Violentos confrontos com as forças de segurança eclodiram neste sábado no Bangladesh durante um protesto em massa de opositores da primeira-ministra Sheikh Hasina, matando um policia e um manifestante e ferindo muitos outros. 1

Foi, portanto, num contexto de tumulto que eclodiu a greve de 600 fábricas de vestuário.

Os sindicatos exigem um salário mínimo mensal. Oitenta por cento dos operários deste sector são mulheres, que exigem que os seus salários sejam triplicados para 23.000 takas (195 euros), para fazer face à inflação galopante. Apesar da oferta do primeiro-ministro de um aumento de 56%, as mulheres rejeitaram a proposta e continuaram a greve,

Segundo a AFP, a polícia disparou contra cerca de 400 operários que se manifestavam por melhores salários numa auto-estrada da cidade industrial de Gazipur, perto da capital Daca. "Seis a sete pessoas foram atingidas e feridas.

A cidade industrial de Ashulia, a oeste de Daca, foi palco de confrontos quando 10.000 operários tentaram impedir os seus colegas de regressarem aos seus postos de trabalho.

"Atiraram pedras e tijolos aos agentes da polícia e às fábricas e tentaram bloquear as estradas", disse à AFP o chefe da polícia de Ashulia, Mohammad Sarowar Alam. "Dispersámo-los com gás lacrimogéneo" 

A raiva dos operários vai subir um degrau

Uma situação tragicamente ilustrada pelos incêndios na fábrica têxtil Tazreen, que causaram 110 mortos em 2012, e pelo infame colapso do Rana Plaza em 2013, que matou mais de 1.135 pessoas. 


Colapso do Rana Plaza em 2013. Foto: Rijans/Flickr

Foi no rescaldo deste desastre que foi criado um "conselho do salário mínimo" para canalizar a raiva que se seguiu. O governo havia-se comprometido a aumentar as receitas a cada cinco anos. E foi precisamente em 2023 que os salários deveriam ser aumentados, o que não aconteceu. Isso significa que eles estão bloqueados desde 2018, mesmo tendo a inflação corroído os salários em 10% este ano, enquanto o taka sofreu uma depreciação de cerca de 30% em relação ao dólar americano desde o início de 2022.

"Os operários nunca foram tão pobres e com um poder de compra tão baixo", disse Salma Lamqaddam para L'Ob, especialista na condição dos operários da indústria têxtil do Bangladesh.

A raiva está a aumentar e já cerca de cinquenta empresas foram saqueadas, quatro incendiadas e muitas estradas bloqueadas.

vídeo-https://twitter.com/i/status/1722677823649804694

Uma mulher foi morta a tiro nesta quarta-feira (8) quando a polícia abriu fogo contra operários do sector do vestuário que protestavam por melhores salários perto da capital Daca, informaram as autoridades e a família da vítima.

Jalal Uddin, um operário do sector do vestuário de 42 anos que ficou ferido em confrontos com a polícia no início deste mês em Gazipur, ao norte da capital Daca, morreu devido aos ferimentos. A sua morte eleva para quatro o número de operários mortos desde o início dos protestos, no mês passado. Recorde-se que, na Primavera de 2006, violentas revoltas afectaram 4000 fábricas e que os exportadores de vestuário do país (BGMEA) chamaram a polícia. Esta disparará contra a população, tendo o resultado da repressão sido de três operários mortos e centenas de feridos por balas, e outros sido presos. (ver artigo em Echanges N°119 - Inverno 2005 /2006)

REVOLTA DOS OPERÁRIOS NO BANGLADESH EM 2006

"Dezenas de milhares de operários têxteis do Bangladesh incendiaram pelo menos dezasseis fábricas e saquearam 300 outras na semana passada, durante violentos protestos em Daca e nas zonas industriais vizinhas, nomeadamente em Ashulia. Dois operários foram mortos e muitos ficaram feridos quando membros das forças de segurança dispararam contra os manifestantes.

Os manifestantes exigem um salário de pelo menos 11 taka (16 cêntimos) por camisola, contra os 7 de hoje, o pagamento regular e superior de horas extraordinárias e um dia de folga semanal. » Fontes Fashion

Em 2010, o Partido Nacionalista de Bangladesh BNP convocou uma greve geral em 2 de Junho de 2010, a repressão foi novamente violenta, 1000 manifestantes feridos e muitos presos.

Para concluir,

Se o elemento espontâneo dos vários movimentos grevistas é alimentado pela exploração capitalista nacional e internacional, essa exploração é disfarçada por uma semana de trabalho oficial de 48 horas, com um dia de folga. A realidade é bem diferente: 10 a 12 horas por dia, sete dias por semana, é prática comum. A isto juntam-se as muitas horas extraordinárias não pagas e a obrigação de pagar subornos aos supervisores. Esta é a força motriz histórica por detrás de muitas das lutas e motins no Bangladesh que continuam até hoje, e não devemos subestimar a influência das diferentes facções que disputam o poder; O Partido Nacionalista do Bangladesh (BNP) e a Liga Awami, ambos apoiados por grupos mais pequenos e frequentemente mais radicais, a "esquerda" no caso da Liga e os muçulmanos no caso do BNP; diz-se também que o BNP tem o apoio do exército que, após as ditaduras militares dos primeiros tempos da independência, pontuadas por golpes de Estado, continua a desempenhar um papel importante nos bastidores.

O do BNP - Partido Nacionalista do Bangladesh - Na sua origem, o Bangladesh Jatiyatabadi Dal (BJD). Instalado no poder em 1976 como Frente Nacionalista, o partido uniu-se e mudou o seu nome em Setembro de 1978 para Partido Nacionalista do Bangladesh. No ano seguinte, este partido de centro-direita consolidou-se ao absorver várias facções que tinham abandonado outros partidos. Em 1995, foi derrubado por uma série de manifestações de desobediência civil instigadas pela Liga Awami. Segundo a Amnistia Internacional, "a Liga Awami, actualmente no poder, e o Partido Nacionalista do Bangladesh, na oposição, têm alternado no poder desde o início da década de 1990. Quando estão no governo, ambos permitem que as forças de segurança ataquem manifestações da oposição, espancam manifestantes, prendem membros da oposição, processam opositores por acusações políticas e infligem impunemente tortura e outros tratamentos ou castigos cruéis, desumanos ou degradantes".

A da Liga Awami do Bangladesh (AL) é um partido político de centro-esquerda fundado em 1949 para se opor à Liga Muçulmana. Embora originalmente formado como Liga Awami Muçulmana, o partido é essencialmente secularista. Nas eleições livres de 1970, a Liga obteve um triunfo, mas Yahya Khan, o presidente da altura, recusou-se a aceitar o veredicto das urnas e enviou tropas para reprimir os bengalis. Em 1971, com a ajuda da Índia de Indira Gandhi, o Bangladesh tornou-se independente e passou a ser dirigido pela Liga Awami, a principal força política nacional. É presidida desde 1981 por Sheikh Hasina, filha do Sheikh Mujibur Rahman.

A do Partido Comunista Marxista-Leninista

Este partido lidera as organizações de massas e é membro da FSM, a Federação Sindical Mundial, tendo certamente desempenhado um papel importante nas diversas manifestações.

G.Bad 16 de Novembro de 2023

1 Polícias disparam balas de borracha para dispersar activistas do Partido Nacionalista do Bangladesh (BNP) que tentavam bloquear uma estrada em Araihazar, perto de Daca, em 31 de Outubro de 2023, no Bangladesh (AFP - Munir UZ ZAMAN) na realidade "A polícia chegou e abriu fogo. Um activista do BNP morreu no local e outro no hospital", "mais de 100 pessoas ficaram feridas".

1 Este valor corresponde a 85% dos 55 mil milhões de dólares de exportações anuais do país.

 

Fonte: G.Bad- Imposante gréve des prolétaires du textile au Bangladesh. – les 7 du quebec

Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice




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