segunda-feira, 13 de novembro de 2023

Golpe de Estado institucional em Portugal!

 


A quem ainda tiver dúvidas sobre a natureaza de classe de um golpe de estado, aconselho vivamente a leitura de uma obra fundamental de Karl Marx – “O 18 de Brumário de Luis Bonaparte”.

Marx explicita nesta obra que, ao contrário de uma Revolução Proletária, um golpe de estado, mesmo que se reclamando de “revolucionário”, é uma forma de um sector da burguesia se tentar impor sobre outro ou outros sectores da mesma classe e, nunca por nunca, uma acção da qual a classe operária e os escravos assalariados possam esperar uma solução para a sua angústia, humilhação e miséria.

No espaço do último meio século, Portugal foi confrontado com dois golpes de estado. O primeiro, ocorrido a 25 de Abril de 1974, foi dirigido pela oficialagem miliciana do exército colonial português, sob a tutela de um general fascista e colonialista, o General Spínola, mais tarde alcandorado ao marechalato.

Este sector da burguesia – mais propriamente da pequena burguesia – serviu de tropa de choque a camadas da burguesia que se tinham unido contra a hegemonia da burguesia nacional compradora e fundiária – rural – que havia levado o país para um beco sem saída, e que levara Portugal a um isolamento internacional total, quando o imperialismo apostava nos movimentos anti-coloniais.

Ao mesmo tempo que se preparava afincadamente para impor o neo-colonialismo, onde as burguesias patrióticas e nacionalistas por si controladas e manipuladas, haveriam de substituir um sistema de apartheid, de exploração sem limites dos recursos naturais de diversas nações e continentes, que tinham levado à fome extrema, à humilhação e à morte milhões de pessoas em todo o mundo, por países independentes e, se possível, democráticos, onde essa exploração, genocídio e humilhação estão a ser exponenciados.

No passado dia 7 de Novembro de 2023, escudado atrás de uma pretensa “luta contra a corrupção, o compadrio e a influência ilegítima”, um sector da burguesia portuguesa – a mais trauliteira, reaccionária e tramontana -, respaldada pela corrente justicialista que foi fundada por Laborinho Lúcio e a sua “reforma” judicial – que levou à criação do famigerado Centro de Estudos Judiciários -, apoiada por uma grande parte do Magistério Público e pela Direcção da Procuradoria-Geral da República, levou a cabo – com sucesso – um verdadeiro coup d’état.

Golpe de Estado que, aparentemente – e nesta questões a aparência mimetiza muitas vezes a realidade –, parece ter sido apadrinhado por Marcelo Rebelo de Sousa. Um golpe de estado palaciano, ao velho estilo bonapartista, que envolveu vários palácios – desde logo o de Belém e o de S. Bento (mas, também, o da Rua da Escola Politécnica).

E, para que o teatro tivesse foros de um pretenso realismo, dramatismo quanto baste e alguma credibilidade jurídica, não poderia faltar – nas buscas a S. Bento – o Procurador da República mais profícuo em brindar o país e a jurisprudência com mais um nado morto jurídico – Rosário Teixeira... o próprio, ao vivo e a cores!!!

Se restassem dúvidas sobre o carnaval rocambolesco que se viveu nesta última semana, basta atender, por um lado, às medidas de coação pretendidas pelos magistrados público envolvidos e, por outro, à decisão do Juiz em colocar em liberdade todos os detidos da “Operação Influencer”. Pior ainda! Descredibilizando sem apelo nem agravo a investigação dos procuradores, e o modelo de investigação em que assentou, o juiz considerou não existirem, sequer, indícios de crimes de corrupção e prevaricação.

Não que nos deixemos iludir por esta decisão judicial, já que a corrupção, o compadrio, o jogo de influências, a prevaricação, são, para os marxistas, decorrências naturais do sistema capitalista, do egoismo burguês, da prossecução do lucro a todo o custo – normalmente à custa do suor e do sangue de quem trabalha.

O que é certo é que um governo da República, constituído na base de uma maioria parlamentar, caíu fragorosamente. Tão fragorosamente que os visados nem tossiram, nem mugiram. Aceitaram o karma e já se dispõem a seguir com a vida em frente, sem sequer aludirem ao golpe de que acabaram de ser vítimas. Porque será?

Porque, todos os sectores da burguesia possuiem, no seu ADN, a hipótese de, num momento que achem mais adequado para defender os seus interesses particulares, de vir a utilizar este instrumento de regulação das contradições entre os diferentes sectores da sua classe – a burguesia!

Tal como em 25 de Abril de 1974 os comunistas revolucionários, os marxistas, alertaram a classe operária e restantes escravos assalariados, também agora, na emergência deste golpe de estado burguês, aqueles que só possuiem a sua força de trabalho para vender, não deverão ter ilusões quanto ao seu futuro – a prossecução dos seus interesses de classe – em qualquer dos sectores da burguesia que presentemente se assanham para ver qual deles abocanha o maior pedaço do bolo da exploração.

Este importante aviso à navegação operária e popular faz todo o sentido quando a “solução” da burguesia para a crise que planeou, a intriga que montou, e o golpe de estado que animou, se “resolverá”, uma vez mais, com o Carnaval Eleitoral onde os eleitos já estão, à partida, definidos e se prevê que o actual empate que existe entre os diferentes sectores da burguesia capitalista e imperialista, e estes e a classe operária, se venha a manter.

E manter-se-á, enquanto a autonomia operária e popular não for o único garante para uma luta que tenha como desfecho final a destruição do Modo de Produção Capitalista, do Imperialismo e da Guerra, da exploração do homem pelo homem, pela construção de uma sociedade sem classes.

 

Luis Júdice

13 de Novembro de 2023

1 comentário:

  1. Salvo melhor opinião falta acrescentar ao artigo que o juiz que faz esse despacho será o mesmo que assina os mandados de busca e detenção fora de flagrante delito. Ou seja assinou de cruz sem qualquer juízo critico o que o MP lhe apresentou (o que é a cada vez mais frequente) e, só depois, se terá dado conta do disparate que fez.
    Não ficava nada mal ao juiz dizer que tinha feito asneira ao assinar os mandatos

    ResponderEliminar