quarta-feira, 1 de novembro de 2023

Quando Macron se inspira em Netanyahu para punir os "Gazaouis" (1) de França

 


 1 de novembro de 2023  Robert Bibeau  


Por Khider Mesloub.

Quatro meses após a revolta dos "gazaouis de França", estes jovens proletários, na sua maioria de origem imigrante, concentrados em guetos onde são vítimas de uma segregação social e espacial sistémica, de controlos faciais sistemáticos, de detenções arbitrárias e de violência policial, o governo Macron acaba de apresentar um novo plano, não para prestar ajuda social a estes jovens anómicos em dificuldades, mas para poder reprimi-los de forma ainda mais brutal. E, sobretudo, a família, os pais dos delinquentes, agora visados pela polícia e pelos tribunais.

Um plano inspirado nos métodos vingativos da repressão israelita. De facto, seguindo o exemplo das punições colectivas infligidas aos habitantes de Gaza pelo Estado israelita, o governo Macron está a aplicar de igual modo uma política de punição colectiva a todos os membros da família de qualquer jovem delinquente.

Para recordar, Gaza está sob um cerco genocida desde 9 de Outubro. As autoridades israelitas cortaram o abastecimento de água, electricidade e gás, bem como de alimentos e medicamentos, num contexto de bombardeamento indiscriminado em massa da população civil.


Apresentado por Élisabeth Borne na Sorbonne, o templo do saber transformado nesta ocasião numa montra da resposta vingativa do Estado à juventude indisciplinada e inquieta, o "plano punitivo" limita-se a enumerar as múltiplas medidas repressivas mobilizadas para preservar a ordem estabelecida. O plano centra-se, portanto, essencialmente no aspecto repressivo e punitivo. O seu objectivo é dar mais poderes às forças de repressão, aumentar as sanções penais a que estão sujeitos os jovens delinquentes dos bairros populares e os seus pais. Por outras palavras, abrir uma nova frente de guerra. Mas uma guerra de classes que a burguesia belicista francesa está a travar ferozmente contra os proletários, especialmente os mais pobres.

Para o Governo Macron, a raiz dos problemas dos bairros populares não é a pobreza, mas a mãe ou o pai, ou seja, a família (os pais) do jovem que abandonou a escola e está desempregado, uma família considerada culpada de negligência parental e de falta de educação.

E como pretende o governo Macron remediar a ociosidade e a dessocialização dos jovens dos bairros operários, precipitados na espiral de delinquência por uma sociedade em plena desintegração social e naufrágio económico?

Mais uma vez, o governo propõe um plano baseado não na supervisão socio-educativa dos jovens, mas na supervisão de todas as suas famílias por policias e soldados. Para o regime policial macronista, a França nos subúrbios não está a sofrer de uma crise económica, mas de uma crise de autoridade.


Arregimentar os delinquentes no exército, submeter os seus pais a penas de serviço comunitário, banir as suas famílias pobres das habitações sociais: são estas as novas medidas punitivas adoptadas pelo governo fascista de Macron.

Determinado a "alargar" o "leque de sanções" para os jovens delinquentes, o governo mafioso de Macron anunciou a sua decisão de introduzir uma série de medidas repressivas, incluindo a colocação, "de forma obrigatória, em unidades educativas geridas pelo serviço judiciário de protecção da juventude", anunciou Elisabeth Borne. "Em certos casos, podemos prever o acompanhamento dos jovens delinquentes por militares, que poderão transmitir os valores da disciplina e da superação", acrescentou.

No menu das sanções mais severas, o governo Macron prevê aumentar a multa por incumprimento do recolher obrigatório por um factor de cinco, de 150 para 750 euros.

O governo de Macron quer também introduzir outras medidas coercivas dirigidas à família do infractor. Pretende fazer com que as famílias paguem por qualquer condenação de um menor. Mas também quer impor penas de serviço comunitário aos "pais que não cumpram os seus deveres educativos" e impor "uma contribuição financeira dos cidadãos e das famílias que os menores terão de pagar às associações de vítimas".

Esta é a resposta vingativa e punitiva que o governo mafioso e belicista macronista está a dar aos jovens desordeiros e desviantes, ou seja, aos delinquentes: bombardear as suas famílias com punições financeiras e privação de benefícios sociais, e bater-lhes com uma barragem de sanções, humilhações, estigmatização e intimidação.

O Ministro da Justiça não se deixa ficar para trás. Tenciona fazer justiça pelas suas próprias mãos. Fazer justiça de classe punitiva. Dupond-Moretti, um ministro investigado e prestes a ser julgado por apropriação ilícita de juros, curiosamente ainda em liberdade e em funções, tenciona encarcerar os menores por todos os meios necessários, seja na prisão ou por outros meios. O Ministro da Justiça falou da criação de uma "medida de internamento diurno" com protecção judicial dos jovens, com obrigação de estágio ou trabalho, ou de uma "medida de internamento nocturno". O Ministro anunciou que iria reforçar as parcerias entre a protecção judiciária dos jovens e as forças armadas, para que estas últimas possam "supervisionar os jovens delinquentes e transmitir-lhes os valores da disciplina", ou seja, a obediência, a docilidade e a submissão à ordem dominante, encarnada e representada pela Macronie.

Outras medidas coercivas e restritivas do arsenal repressivo do governo incluem o banimento digital, ou seja, a suspensão de uma conta por seis meses. Um verdadeiro bloqueio digital.

Mas também, como castigo colectivo contra as famílias pobres, o desterro territorial, a deportação residencial. Elisabeth Borne, membro da máfia burguesa do governo, pede aos prefeitos que deixem de atribuir habitações aos mais desfavorecidos nos bairros prioritários, sob o pretexto de lutar contra a "delinquência" dos pobres. Na Palestina ocupada, sob o pretexto de lutar contra o terrorismo, o governo ultra-religioso e fascista de Netanyahu quer expulsar os habitantes de Gaza do seu território, privando-os definitivamente das suas casas. Em França, sob o pretexto de lutar contra a delinquência dos pobres, a máfia institucional burguesa francesa quer expulsar as famílias proletárias das cidades operárias com habitação prioritária.


Segundo Matignon, trata-se de famílias reconhecidas como "DALO", ou seja, "direito oponível à habitação", que deixarão de ser alojadas nos bairros prioritários da política da cidade (QPV). "Punir as famílias prioritárias DALO por causa dos motins é uma contradição abismal", declarou Manuel Domergue, Director de Estudos da Fundação Abbé Pierre, via X (antigo Twitter). "Esta decisão (ilegal!) impede-os de aceder a um terço do parque habitacional", acrescenta. Por seu lado, Jean-Baptiste Eyraud, porta-voz do Droit au logement, considera que "esta medida conduzirá automaticamente a um agravamento maciço da crise da habitação".

Numa altura em que a França nunca teve tantos requerentes de habitação social e sem-abrigo, pelo menos nos últimos 50 anos, o Governo Macron decreta que as habitações dos bairros populares deixarão de ser atribuídas a famílias com baixos rendimentos, em nome do conceito hipócrita e ideológico de "mistura social".

De acordo com as directivas do Governo Macron, os prefeitos deverão igualmente suspender a criação de novos locais de acolhimento de emergência para os sem-abrigo nesses mesmos bairros.

Como escreve o site Droit au logement: "O plano de Madame Bornes deixa ao abandono os mal alojados, os sem-abrigo e os habitantes dos bairros populares. Promete-nos um rápido agravamento da crise da habitação e uma repressão sem precedentes contra as famílias mais vulneráveis".

O Governo Macron, em nome da hipócrita política ideológica da diversidade social, coloca-se ao lado dos bairros populares para melhor os acabar. Netanyahu ordena a transferência da população de Gaza, supostamente para a poupar aos bombardeamentos maciços e indiscriminados de Gaza, enquanto Macron expulsa as famílias pobres dos bairros populares, supostamente para as poupar à delinquência. No final, estas famílias afundar-se-ão tanto na pobreza extrema, devido à falta de habitação (sem habitação não há trabalho), como na delinquência causada pela sua miséria.

Por outras palavras, graças à abordagem discriccionária e discriminatória do governo, as famílias pobres que se tornaram indesejáveis em alguns dos territórios perdidos da República vão acampar debaixo de pontes e viver de pequenos roubos.

Assistimos, assim, à gazanização da sociedade francesa, em particular da sua franja popular pobre, vítima da repressão policial, da despromoção social, do empobrecimento e da punição colectiva. Vítimas de uma guerra de classes travada contra elas pela burguesia francesa psicopata e sádica.

A França de Macron não só se alinha com a política militarista genocida do Estado nazi de Israel, como adopta a sua gestão repressiva e privativa da segurança dos palestinianos.


Khider MESLOUB


1)      Gazouis é a designação que se dá aos habitantes – sitiados – da Faixa de Gaza. “Gazanização” é a política que impõe ao habitantes de Gaza o sequestro, a humilhação e a morte.(NdT)

 

Fonte: Quand Macron s’inspire de Netanyahou pour punir les « Gazaouis » de France – les 7 du quebec

Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice




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