quinta-feira, 2 de novembro de 2023

Um crime se prepara perante os nossos olhos, vamos evitá-lo? (T. Meyssan)

 


 2 de Novembro de 2023  Robert Bibeau  


Por Thierry Meyssan.

 

O exército israelita prepara-se para limpar etnicamente a Faixa de Gaza, de acordo com o velho sonho dos supremacistas judeus. No entanto, em Israel e nos Estados Unidos, muitos cidadãos opõem-se a este crime. E, no Médio Oriente, muitos voluntários preparam-se para os salvar, atacando o Estado judaico.  Contrariamente à nossa percepção deste conflito, o facto de ser impossível resolvê-lo há 76 anos não se deve à má fé dos seus protagonistas. Deve-se à ausência de escolha entre dois sistemas: um mundo "baseado em regras" ou "baseado no direito internacional".


Este artigo é uma continuação de:
• "Mudança de paradigma na Palestina", 10 de Outubro. 
https://queonossosilencionaomateinocentes.blogspot.com/2023/10/mudanca-de-paradigma-na-palestina.html

• "A censura militar israelita está a esconder-lhe a verdade ", 17 de Outubro.   https://queonossosilencionaomateinocentes.blogspot.com/2023/10/o-chamado-direito-nacional-de-defender.html

A PREPARAÇÃO DO CRIME

Os acontecimentos estão a acelerar em Israel/Palestina. Todos podem ver o exército israelita a preparar-se para iniciar a limpeza étnica da Faixa de Gaza. Segundo o balanço das Nações Unidas, na sexta-feira à noite, um terço da cidade de Gaza já estava reduzido a cinzas, enquanto a quase totalidade dos habitantes da cidade tinha fugido para sul, não tendo outra alternativa senão acampar nos campos.

Depois de ter considerado a possibilidade de lançar uma guerra de contra-insurreição, como a Batalha de Argel ou a Operação Fénix no Vietname, o Estado-Maior israelita planeia agora arrasar completamente a cidade de Gaza e depois enviar o seu exército terrestre para eliminar os sobreviventes. Segundo o ministro da Defesa israelita, este plano deverá demorar três meses e, segundo o seu homólogo americano, nove meses.

O chefe do Estado-Maior do exército, o general Herzl Halevi, declarou a 21 de Outubro: "Entraremos na Faixa de Gaza para uma missão operacional e profissional: destruir os agentes e as infra-estruturas do Hamas (...) Gaza é complexa e densa, o inimigo está a preparar muitas coisas, mas nós também nos preparamos para ele".

A 14 de Outubro, a Organização Mundial de Saúde (OMS) protestou contra a ordem de evacuação dada pelos israelitas aos hospitais de Gaza. Salientou que a deslocação de doentes em cuidados intensivos os condenaria à morte [1]. Três dias mais tarde, o hospital Al Ahli foi destruído. Israelitas e palestinianos culpam-se mutuamente por este massacre. Além disso, nenhum dos aliados de Israel procurou vir em auxílio dos habitantes de Gaza. No entanto, os Estados Unidos, a Alemanha e o Reino Unido dispõem de hospitais de campanha, de medicamentos e de géneros alimentícios que podem ser lançados por via aérea em Gaza. Na verdade, os três estavam a preparar-se para ajudar o exército israelita e não uma população em dificuldades.

Os Estados Unidos enviaram ao Tsahal milhares de obuses de 155 milímetros e um número desconhecido de bombas penetrantes Joint Direct Attack Munition (JDAM), capazes de destruir tudo a uma profundidade de 30 ou 40 metros e num raio de 400 metros.

ISRAEL DIVIDIDO

Durante meses, manifestações monstruosas denunciaram os aliados supremacistas judeus de Benjamin Netanyahu e a reforma das leis fundamentais que colocam o poder judicial sob o controlo do Executivo. Mas, em vão, o "golpe de Estado" teve lugar este Verão.


Por "supremacistas judeus", refiro-me ao partido Força Judaica (Otzma Yehudit), herdeiro do movimento da Liga de Defesa Judaica do rabino Meir Kahane nos Estados Unidos. Esta organização opôs-se a todos os contactos com a União Soviética e, actualmente, com a Rússia. Apelou ao assassinato de neo-nazis e assassinou o director do American-Arab Anti-Discrimination Committee. É explicitamente racista e opõe-se a todos os casamentos entre judeus e goyim (não judeus). Está classificado como organização terrorista nos Estados Unidos desde 2001. Foi secretamente financiado por Yitzhak Shamir com fundos do Estado de Israel [2].

“Divina surpresa”, o ataque da Resistência Palestiniana unida (excluindo a Fatah), em 7 de Outubro, deu aos supremacistas judeus a oportunidade de atingir o seu objectivo frequentemente afirmado: limpar etnicamente a Palestina dos árabes palestinianos, quer transferindo a sua população, quer exterminando-a.

Perante a emoção da população israelita e o perigo que ameaçava o Estado judaico, o Primeiro-Ministro, Benjamin Netanyahu, formou um governo de emergência, como todos os seus antecessores nestes casos. No entanto, enquanto Golda Meir levou algumas horas durante a Guerra dos Seis Dias, ele levou 7 dias durante a Operação “Dilúvio de Al-Aqsa”. Foi criado um conselho de guerra no seio do governo para afastar os supremacistas judeus.

Mas, logo na sua primeira reunião, este pequeno gabinete foi palco de um confronto entre os partidários da destruição de Gaza e os partidários de uma operação dirigida contra a Resistência Palestiniana. A maior parte dos ministros contentou-se em falar em público de acções contra o Hamas, uma vez que a censura militar proíbe que se fale das acções de outras facções palestinianas. O ministro da Defesa, o general Yoav Gallant, atacou tanto o primeiro-ministro, que considera delirante, como o seu antecessor, o general Benny Ganz, que considera fraco.

Em junho, o Primeiro-Ministro proibiu o seu Ministro da Defesa de entrar no seu gabinete no quartel-general do exército, uma proibição que ainda está em vigor. Recusa-se a colaborar com o responsável militar pela reparação das infra-estruturas, o general Roni Numa. Nomeou um alto funcionário civil para fazer o mesmo que ele, Moshe Edri, mas este último responde perante o ministro das Finanças judeu supremacista, Bezalel Smotrich, e as relações entre militares e civis neste domínio não estão organizadas, nem sequer planeadas. O General Numa liderou manifestações contra o Primeiro-Ministro há duas semanas. Apresentou um recurso judicial contra as "reformas", que qualifica, com razão, como um "golpe de Estado". Além disso, vários ministérios importantes (Segurança Nacional, Educação, Informação, Inteligência e Cultura) ainda não têm directores-gerais. A censura militar que encobre esta confusão é tal que o Ministro da Informação, Distel Atbaryan, abandonou o cargo em plena guerra.

Antes da guerra, os reservistas em massa garantiram-nos que não obedeceriam às ordens criminosas do governo anti-democrático do seu país. Agora foram mobilizados e ninguém sabe o que vão fazer. Benjamin Netanyahu veio visitar alguns deles para garantir a sua lealdade. De momento, a infantaria e a cavalaria (tanques) israelitas estão estacionadas em frente de Gaza e da fronteira libanesa, à espera de ordens que não chegam. No entanto, a Força Aérea bombardeia a cidade de Gaza a um ritmo sem precedentes. Segundo as Nações Unidas, já reduziu a pó pelo menos um terço da cidade.

Gilad Erdan, embaixador de Israel na ONU, está a fazer tudo o que pode para que todas as agências da ONU e os Estados membros condenem o Hamas. Embora tenha sido bem recebido nos primeiros dias da guerra, está a ter cada vez mais dificuldade em fazer ouvir o ponto de vista do seu país.

A RESISITÊNCIA DIVIDIDA

Enquanto a Resistência palestiniana em Gaza conseguiu reunir-se graças às consultas organizadas no início do ano pelo Irão no Líbano, a Fatah do Presidente Mahmoud Abbas prossegue a sua política de colaboração com Israel. Não tem vergonha de dizer a todos os seus interlocutores que só ela não é cúmplice dos Irmãos Muçulmanos (ou seja, do Hamas).

Provavelmente, esperava continuar a ser a única pessoa com quem o Ocidente podia falar, mas perdeu imediatamente toda a autoridade moral sobre os palestinianos em geral e os palestinianos da Cisjordânia em particular. Assim, quando o Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, confrontado com as manifestações na Jordânia, cancelou a cimeira que tinha convocado para aquele país e na qual o Presidente Abbas deveria participar, Abbas recusou-se a atender o telefonema de Biden. A polémica causada pela destruição de um hospital em Gaza serviu convenientemente para mascarar os erros da Autoridade Palestiniana, que já não sabe como se comportar. Acaba de sancionar um membro do Comité Central da Fatah, Abbas Zaki, que elogiou a operação "Dilúvio de Al-Aqsa" e lamentou que a Fatah não tenha participado nela.

O Hamas também está dividido entre os apoiantes da Resistência em Gaza e os do Islão político no estrangeiro. Enquanto os seus combatentes estão envolvidos numa batalha feroz, Khaled Mechaal, presidente do Bureau Político, agradecendo ao Hezbollah libanês por ter mantido uma parte do exército israelita em alerta na fronteira libanesa, criticou-o por não ter feito o suficiente. O objectivo de Mechaal (matar os israelitas) não é de modo algum o mesmo do Hezbollah (derrotar o Estado de Israel) e dos seus próprios combatentes do Hamas.

OS ESTADOS UNIDOS DIVIDIDOS

O Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, deslocou-se a Israel para prometer o seu apoio. Não se encontrou com os ministros supremacistas judeus, mas participou num conselho de guerra. Disse estar consciente de que os israelitas têm de acabar com o Hamas. Assegura aos seus interlocutores que lhes fornecerá obuses de 155 mm e bombas penetrantes... mas pede-lhes moderação. As suas palavras ambíguas foram interpretadas como um salvo-conduto pelos partidários da limpeza étnica, mas como uma ordem de restricção pelos outros.

Nos Estados Unidos, pacifistas judeus manifestaram-se em frente ao Congresso. A polícia do Capitólio, lembrando-se da agressão de Trump, reprimiu duramente. 500 deles foram presos e podem ser processados.

Um alto funcionário do Departamento de Estado, Josh Paul, demitiu-se a 18 de Outubro com grande alarido, acusando a administração Biden de não ter uma política e, em última análise, de encobrir a limpeza étnica em curso. Depois de uma carreira brilhante no gabinete do Secretário da Defesa Robert Gates e no Congresso, Paul foi Director do Gabinete de Assuntos Políticos e Militares durante 11 anos. Era ele que aprovava todas as transferências de armas.

Na sequência disso, 441 assessores do Congresso reuniram-se num edifício adjacente ao Capitólio para denunciar a falta de consciência da administração Biden e dos membros das duas assembleias. Enquanto Josh Paul era um judeu com laços estreitos com J Street, o lóbi pró-israelita anti-Netanyahu, estes rebeldes provêm tanto das minorias judaicas como das muçulmanas. Não estão a contestar a luta contra os islamistas políticos do Hamas, estão a alertar contra a prática de genocídio. Todos eles estão perfeitamente conscientes de que a sua posição os expõe ao despedimento.

Os funcionários do Departamento de Estado, qualquer que seja a sua posição na hierarquia, têm a possibilidade de exprimir o seu desacordo num fórum específico. Trata-se geralmente de criticar os abusos de um chefe de departamento. Agora, porém, os funcionários discutem a falência moral da administração Biden, que ignora os conselhos dos seus peritos. Os e-mails mais virulentos foram assinados por numerosos colegas de gabinete, de modo que este fórum deu origem a um motim [3].

O líder da minoria republicana no Senado, Mitch McConnell, apresentou uma resolução para proibir os 14,3 mil milhões de dólares de ajuda de emergência a Israel solicitados pelo Presidente Joe Biden.

Tim Scott (Republicano, Carolina do Sul), candidato presidencial, anunciou que se recusaria a votar a favor de Israel. É o líder republicano da Comissão de Bancos, Habitação e Assuntos Urbanos do Senado.

VASSALOS DOS ESTADOS UNIDOS ADOPTAM UMA ABORDAGEM DE ESPERAR PARA VER

Os vassalos dos Estados Unidos continuam a alinhar cegamente com as posições de Washington. Uma reunião à porta fechada do Conselho de Segurança das Nações Unidas foi palco de um confronto idiota entre a representante permanente dos Estados Unidos, Linda Thomas-Greenfield, e o seu homólogo russo, Vassily Nebenzia. Embora os dois países tenham resolvido de comum acordo numerosas crises no Médio Oriente, a actual tensão entre eles levou Washington a utilizar o seu veto.

A reunião centrou-se na proposta russa de um cessar-fogo humanitário imediato. A embaixadora acusou a Rússia de proteger o Hamas porque o seu projecto de resolução não o condenava. No entanto, por uma questão de princípio, todas as acções humanitárias, desde Henry Dunant e a criação da Cruz Vermelha Internacional, não devem tomar partido no conflito em que intervêm. Quer fiquemos chocados com os comandos do Hamas ou com a Força Aérea israelita, não devemos condenar nem uns nem outros, nem mesmo as suas acções, mas sim ir exclusivamente em auxílio das vítimas. Mas Washington, adoptando uma posição moral unilateral em vez de uma posição humanitária ou política, condena tudo. E não condena os actos bárbaros, mas alguns dos indivíduos que os praticam.

Durante a reunião, a França, o Japão e o Reino Unido fizeram comentários semelhantes aos do seu soberano. A França utilizou o seu veto pela primeira vez desde 1976, dando assim um cheque em branco a um genocídio em curso. Como a reunião se realizou à porta fechada, as Nações Unidas não divulgam o relato integral nem sequer as actas, mas o embaixador Nicolas de Rivière reconheceu-o, enquanto o diário Le Monde o negou.

A mesma atitude foi adoptada pelo Ministro da Justiça francês, Éric Dupont-Moretti. Este recordou, perante a Assembleia Nacional, que apoiar os supremacistas muçulmanos do Hamas equivale a apoiar os actos terroristas que este comete, e que isso implica uma pena de 5 anos de prisão. É verdade, mas apoiar os supremacistas judeus que começaram a destruir a cidade de Gaza é exactamente a mesma coisa. Inicialmente, a França proibiu as manifestações pró-palestinianas até que o Conseil d'Etat revogou esta disposição, que violava o direito constitucional de expressar as suas opiniões.

Uma segunda reunião do Conselho de Segurança rejeitou um projecto de resolução idêntico do Brasil. Este repetia explicitamente a versão oficial, segundo a qual o atentado de 7 de Outubro tinha sido perpetrado exclusivamente pelo Hamas, e condenava a organização. Desta vez, foram o Reino Unido e a Rússia que o denunciaram. No final, nenhum texto foi adoptado.

Simultaneamente, o Qatar conseguiu a libertação de dois prisioneiros americano-israelitas do Hamas em troca da passagem de 20 camiões de ajuda humanitária, 7 camiões-cisterna de combustível e outros compromissos não revelados. Antes da guerra, passavam pelo menos 100 camiões por dia. A questão da troca de prisioneiros está a tornar-se mais complexa: desde o início da guerra, as forças de segurança israelitas prenderam e encarceraram mais 1070 palestinianos em prisões de alta segurança.

Abu Oubaida, porta-voz das Brigadas Izz el-Deen al-Qassam, disse que o Hamas tinha considerado a libertação de dois outros prisioneiros, mas que Israel não tinha dado seguimento à sua proposta.

O Primeiro-Ministro britânico, Rishi Sunak, visitou Israel depois do Presidente dos EUA. Também ele deu o seu apoio à resposta israelita contra o Hamas. As defesas do Reino Unido e de Israel estão ligadas por um Tratado, assinado há dois anos, cujos termos nunca foram tornados públicos.

Em Londres, 100.000 cidadãos saíram à rua para tentar dissuadir o seu governo de apoiar o crime que está a ser cometido. Em resposta, o Jewish Leadership Council organizou uma manifestação com vários milhares de pessoas em Trafalgar Square.

A primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, também fez a sua peregrinação a Telavive. Espera-se também a presença do Presidente de Chipre, Níkos Christodoulídis, do Presidente de França, Emmanuel Macron, e do Primeiro-Ministro interino dos Países Baixos, Mark Rutte.

Na celebração da Missa dominical, o Papa Francisco afirmou: "A guerra, qualquer guerra no mundo - estou a pensar também na atormentada Ucrânia - é uma derrota. A guerra é sempre uma derrota, é a destruição da fraternidade humana. Irmãos, parem! Parem".

O MÉDIO ORIENTE QUER SALVAR OS PALESTINIANOS

Por iniciativa do Presidente Abdel Fatah Al-Sissi, realizou-se no Cairo uma conferência internacional sobre a paz. Participaram na conferência o Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, o Presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, e o Alto Representante da União, Josep Borrell, o Rei da Jordânia, Abdullah II, o Presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, o Presidente dos Emirados Árabes Unidos, Mohamed Ben Zayed, o Rei do Barém, Hamad ben Issa al-Khalifa, o Príncipe Herdeiro do Kuwait, Sheikh Meshal al-Ahmad al-Sabah, o Primeiro-Ministro iraquiano, Mohammad Chia el-Soudani, o Presidente de Chipre, Nikos Christodoulidès, a Presidente do Conselho italiano, Giorgia Meloni, o Presidente do Governo espanhol, Pedro Sánchez, o Primeiro-Ministro britânico, Rishi Sunak, e o Primeiro-Ministro grego, Kyriakos Mitsotakis. No total, estavam representados trinta países. Mas nem os Estados Unidos, nem a China, nem a Rússia e muito menos Israel participaram na cimeira.

O emir do Qatar, Tamim ben Hamad Al Thani, chegou com o brilho da libertação dos "reféns americanos", mas não fez qualquer discurso, dada a posição anti-Hamas do Ocidente.

O Presidente argelino Abdelmadjid Tebboune recusou o convite. Em Outubro de 2022, a Argélia organizou uma conferência para a unidade do povo palestiniano. A Argélia alterou a resolução da Liga Árabe, referindo que se dissociava dos "dois pesos e duas medidas" que não estabelecem uma hierarquia entre os direitos dos palestinianos e as violações desses direitos por Israel.

Guterres declarou que o ataque de 7 de Outubro "nunca poderá justificar a punição colectiva do povo palestiniano".

Mahmoud Abbas declarou: "Não nos vamos embora, vamos ficar na nossa terra".

O Egipto agarra-se à posição da Liga Árabe de 1969, segundo a qual aceitar novos refugiados palestinianos equivaleria a ser cúmplice da limpeza étnica da sua pátria histórica. Uma posição intelectualmente correcta, mas que pouco faz para disfarçar o medo de uma invasão palestiniana, como aconteceu no Líbano e na Jordânia. Nessa altura, os palestinianos tentaram tomar o poder pela força das armas em Beirute (guerra do Líbano), depois em Amã (Setembro Negro) e aí estabelecer, à revelia, o Estado da Palestina.

No final, a cimeira não serviu para nada: cada um manteve-se fiel às suas armas. Por um lado, os que queriam condenar o Hamas, por outro, os que queriam apoiar a Resistência Palestiniana, da qual o Hamas é a principal componente.

No Médio Oriente, muitos grupos estão a reunir voluntários para salvar os palestinianos e atacar Israel. Os Guardas Revolucionários iranianos estão a tentar criar um estado-maior conjunto que reúna combatentes palestinianos do Hamas, da FPLP e da Jihad Islâmica, combatentes libaneses do Hezbollah, do PSNS e da Jamaa Islamiya, bem como jordanos e iraquianos.

POR QUE É QUE NÃO CONSEGUIMOS RESOLVER ESTE CONFLITO?

A divisão generalizada de todos os lados torna impossível chegar a uma decisão. Embora pareça improvável que Israel ponha o seu exército ao serviço do projecto genocida dos seus ministros supremacistas judeus, o tempo não é um aliado da paz. Enquanto cada um dos lados tenta estabelecer a sua posição, continuam a chover bombas em Gaza e as armas continuam a chegar a Israel. Já morreram 1.300 israelitas e 4.137 palestinianos.

A impossibilidade de resolver o conflito israelo-palestiniano não reside na má fé israelita. Na verdade, somos todos cúmplices: mostra a inépcia do "mundo baseado em regras" que o Presidente dos EUA, Franklin D. Roosevelt, e o Primeiro-Ministro britânico, Winston Churchill, tentaram criar em 1942-45 e que nós aceitámos quando a URSS se dissolveu.

Funciona com base em regras estabelecidas pelos anglo-saxónicos, agora tornadas públicas pelo G7. Em contrapartida, o secretário-geral do PCUS, Joseph Stalin, e o chefe do governo francês no exílio, Charles De Gaulle, exigiram um "mundo baseado no direito internacional".

Neste último, os Estados são soberanos e só estão vinculados aos tratados que assinaram. Foi nesta base que foi criada a Organização das Nações Unidas. Cabe-nos a nós regressar ao texto fundador, a Carta de São Francisco. Aplicado ao conflito actual, para Israel isso significa respeitar a sua própria assinatura no final da sua carta de adesão à ONU e, para a Autoridade Palestiniana, a sua assinatura nos Acordos de Oslo. (Os leitores encontrarão a nossa posição sobre esta alegação nos comentários abaixo. NOTA DO EDITOR).

 

Thierry Meyssan

 

Fonte: Un crime se prépare sous nos yeux, l’empêcherons nous? (T. Meyssan) – les 7 du quebec

Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice




Sem comentários:

Enviar um comentário