5 de Dezembro de 2024 Robert Bibeau
Numa das suas mais famosas análises políticas, Marx, seguindo os passos de Hegel, observou que muitas vezes na história havia um processo de repetição, mas que: “a primeira vez como tragédia, a segunda vez como uma farsa”. (K. Marx: Le 18 Brumaire de Louis Bonaparte, éditions sociales, p.15, Paris, 1969).
O que pensar então da super farsa da pseudo “insurreição”
dos apoiantes de Trump contra o Capitólio?
Não se trata certamente de um golpe de Estado, mas, no
máximo, de uma manobra. Pouco mais de um século após a extraordinária “tomada
do Palácio de Inverno” pelos operários, soldados e camponeses insurrectos de Petrogrado,
a primeira vitória revolucionária do século XX, a palhaçada de Trump vira tudo
de pernas para o ar.
São os contra-revolucionários que atacam os seus representantes eleitos para impedir a validação de uma eleição em que participaram ardentemente. Alguns tinham tentado vender-nos o inaplicável “parlamentarismo revolucionário”, e agora o espectáculo integrado apresenta-nos o “parlamentarismo contra-revolucionário”; eleitoralismo contra eleições. Na verdade, estão todos a jogar o mesmo jogo democrático, com as suas regras, truques e batota.
Ninguém se deixa enganar, o que é preciso no final é preservar o sistema para que todos os que participaram no jogo, acima de tudo, continuem a jogar. A crise do sistema democrático é tal que ele precisa de se regenerar e de se reforçar, encenando a sua própria paródia e temendo o seu próprio fim caricatural.
Se quisermos acreditar neste sistema abertamente corrupto, enganador e ineficaz, temos de o ver como a solução definitiva face ao caos e às catástrofes de todos os tipos.
A democracia já tinha tentado fazer medo desta forma, para se relegitimar como o menos mau dos regimes capitalistas possíveis. O reforço da democracia parece ser a solução, embora ela seja totalmente responsável pela situação. Os acontecimentos no Capitólio reforçam a ilusão de que uma melhor democracia permitiria neutralizar o caos inerente ao sistema capitalista. Capitalismo e democracia são a mesma coisa, só o proletariado em acção pode permitir encarar outras perspectivas.
É preciso dizer que, de momento, esta capacidade de acção está no seu ponto mais baixo ou é inexistente. Em 23 de fevereiro de 1981, o tenente-coronel Antonio Tejero irrompeu no parlamento espanhol, de arma em punho para “tentar” interromper o processo democrático que se tinha tornado obsoleto. Seria necessário um evento espectacular para tornar credível o regresso de um rei Delfim nomeado por Franco, para desempenhar o papel de salvador da democracia. O objectivo era limpar de uma vez por todas os vestígios da história de Franco e fazer passar o pacto da Monclova como a única perspectiva capitalista credível.
É evidente que, perante esta evocação de acontecimentos dramáticos, as farsas de Trump podem parecer muito mais cruas e vulgares. Mas o facto é que, hoje, continua a ser uma questão de restaurar a democracia americana, que foi colocada em causa por quatro anos de palhaçadas e por uma crise” que ainda está a decorrer. (Ver https://les7duquebec.net/archives/296136 )
O “bom povo americano” precisa, portanto, de se reconciliar o mais rapidamente possível e, uma vez passado o medo de um putsch, podemos, num espírito de unidade nacional, reconhecer que graças a estas eleições turbulentas, será finalmente encontrado um novo consenso nacional que nos permitirá regressar o mais rapidamente possível à normalidade capitalista e às suas futuras catástrofes.
Por Fj e Mm, em https://materiauxcritiques.wixsite.com/moncompte
Fonte: https://les7duquebec.net/archives/296146?jetpack_skip_subscription_popup
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis
Júdice
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