quarta-feira, 25 de dezembro de 2024

Os curdos sírios serão destruídos se os Estados Unidos não intervirem para salvá-los (Korybko)

 


25 de Dezembro de 2024 Robert Bibeau


  Andrew Korybko   19 de Dezembro 2024. Sobre  os curdos sírios armados serão destruídos se os EUA não intervirem para salvá-los

Resta saber se a América irá mais uma vez ajudá-los ou, pelo contrário, abandoná-los.


O  Wall Street Journal  citou altos funcionários anónimos dos EUA para informar no início desta semana que a Turquia está a preparar-se para outra intervenção militar convencional na Síria contra os curdos armados. O Departamento de Estado  revelou mais tarde  que o cessar-fogo entre a Turquia e as “Forças Democráticas Sírias” (SDF), apoiadas pelos EUA, mas lideradas pelos curdos, foi prorrogado até ao final da semana. Para contextualizar, os Estados Unidos têm bases no nordeste da Síria, controlado pelas FDS, que é rico em agricultura e energia.

No mesmo dia, o líder curdo das FDS, Mazloum Abdi, propôs uma  zona desmilitarizada (DMZ) supervisionada pelos EUA  em Ayn al-Arab/Kobane, que coincidiu com a proclamação pelo chefe militar do terrorista Hayat Tahrir al-Sham (HTS) de que rejeitam o federalismo e não o concederão aos curdos. O objectivo da primeira declaração é que os Estados Unidos salvem de novo o projecto de autonomia dos curdos sírios, enquanto a segunda deixa claro que este não será tolerado na chamada “nova Síria”.

O chefe turco do HTS considera os curdos sírios armados como terroristas, e o apoio dos EUA a eles é a principal causa das conturbadas relações turco-americanas da última década. A rejeição do federalismo por parte do HTS, associada a relatos credíveis de um reforço militar turco ao longo da fronteira síria, sugere que ambos se estão a preparar para destruir as SDF. Por isso, os EUA podem deixar que isso aconteça ou arriscar-se a uma crise de brinkmanship (diplomacia arriscada – NdT) com a Turquia, na tentativa desesperada de o impedir.

Quanto ao primeiro cenário, o objectivo de apoiar os curdos sírios armados era privar o governo de Assad dos recursos necessários para reconstruir o país e, ao mesmo tempo, cultivar sorrateiramente uma ameaça à segurança para controlar a política externa multipolar da Turquia, ambos sob um pretexto ilusório de combate ao ISIS. O primeiro imperativo já não é relevante, enquanto o segundo continua a sê-lo, mas os custos políticos e militares de se agarrar a esta política podem ser considerados inaceitáveis para os decisores, especialmente para Trump.

Desencadear uma crise grave no seio da NATO por causa dos terroristas designados pela Turquia, apenas um mês antes de Biden deixar o cargo e enquanto a Ucrânia está na defensiva, seria desvantajoso para os EUA. A administração cessante poderia, por conseguinte, decidir abandonar completamente os seus aliados armados curdos sírios ou sinalizar que este é o princípio do fim para eles, mas prolongando o processo até depois da tomada de posse de Trump. Isto poderia assumir a forma de um acordo para supervisionar a DMZ proposta enquanto os curdos se desarmam e desmobilizam.

Os membros da elite das SDF também poderiam ser autorizados a deixar a Síria em segurança, seja para o vizinho governo regional curdo no Iraque ou talvez até para os EUA ou alguns países europeus, com o argumento de que temem represálias quando o HTS, apoiado pela Turquia, estabelecer autoridade sobre a região sob o seu controlo. Esta sequência de acontecimentos seria a melhor para os interesses mundiais dos EUA, tanto estratégicos como de reputação, embora ainda não se saiba se os decisores políticos estão de acordo.

Quanto ao segundo cenário, o de arriscar uma crise com a Turquia em desespero para travar a destruição iminente das SDF, a administração cessante pode não querer que as suas últimas semanas sejam definidas por uma retirada desastrosa da Síria que faça lembrar a sua anterior retirada do Afeganistão. Para o efeito, poderá manter-se firme no confronto com as tropas turcas, em detrimento dos interesses estratégicos e de reputação dos EUA acima referidos.

Neste caso, a escalada seria uma prerrogativa da Turquia e não dos Estados Unidos. Uma linha de acção poderia ser a utilização do HTS como um proxy para incitar os Estados Unidos a retaliar militarmente contra os chamados “heróis” que a América e os seus meios de comunicação social acabaram de saudar por terem “salvado a Síria”. Isto colocaria os Estados Unidos num dilema de soft power que os desacreditaria, qualquer que fosse a resposta. No cômputo geral, seria melhor para os EUA reduzir as suas perdas para “salvar a face”, mas nem sempre se comportam de forma racional.

 

Fonte: https://les7duquebec.net/archives/296729?jetpack_skip_subscription_popup

Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice




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