quarta-feira, 13 de outubro de 2021

Quando o INSEE (*) anuncia sem se rir que a taxa de desemprego caiu para 8%!

 

   Robert Bibeau 


Por Brigitte Bouzonnie.

 

O Libération escreveu: "a última nota económica do Instituto de Estatística [INSEE] confirma que a economia francesa recuperou bem [do Covid-19] com a recuperação de crescimento e desemprego em menos um ponto do que antes da crise" (...) "a curva de crescimento recuperou, a criação de emprego em ascensão... A saída relativamente preservada do choque Covid-19 graças à sua infusão de ajuda pública durante mais de dezoito meses, a empresa francesa parece bem e verdadeiramente fora de perigo e o espectro de uma grande crise parece estar a afastar-se um pouco mais a favor de uma recuperação clara que faz com que a economia volte aos seus níveis no final de 2019" (sic).

 

Foi uma digressão em grupo: no mesmo dia, 6 de Outubro de 2021, a LCI, o "Le Monde" e o "Libération" anunciaram sem se rir que a taxa de desemprego francesa tinha caído para 8%. Optimismo exagerado, mentiroso, baseado na mais recente nota económica do Instituto de Estatística (INSEE): devemos escrever: a sua última mentira oficial e no limite dourada.

O que é impressionante nestas palavras, como "está tudo a correr muito bem Madame la Marquise", é o seu carácter extremamente generalista, a ausência de números precisos. Uma afirmação que se parece mais com propaganda digna dos anos sombrios da Colaboração, do que uma análise numérica, rigorosa, fundamentada e argumentada.

1º)- O INSEE esquece-se de dizer que a retirada do sistema estatal de infusão das PME desencadeará um enorme boom de falências em 2022!

 

Por outras palavras, estamos a lidar com um optimismo acima do solo, suspenso no ar, invocado, convocado, encantatório. Mas optimismo frágil, que se despedaça às primeiras informações um tanto sérias: a de Euler Hermes, anunciando um boom nas falências em 2022, quando o Estado francês retirará o seu dispositivo de infusão da economia, permitindo, em particular, que as nossas PME apenas sobrevivam.

2º)- O INSEE esquece-se de dizer como é que a sua taxa de desemprego de 8% é falsamente construída, ou seja, sem os desempregados na categoria BCDE:


Mas ainda há mais. Você deveria ter ouvido esses jornalistas mentirosos da LCI, como os vendedores de aspiradores, prontos para dizer qualquer coisa para passar o seu lixo à dona de casa crédula o suficiente para lhes abrir a porta. Neste caso, o lixo é a taxa de desemprego de 8%, que curiosamente ninguém contesta: como se este valor "fosse normal", "evidente".

No entanto, lembremo-nos: não há muito tempo: a taxa de desemprego da França ultrapassou os 10% com os Territórios Ultramarinos. Daí uma publicação "oficial" da taxa de desemprego sem o DOM-TOM, apenas para não exceder o fatídico (e político) marco dos 10% de desempregados: o que demonstra que os desempregados estrangeiros são franceses de segunda classe, de modo a não terem sequer a honra indigna de aparecer numa estatística oficial.

Contava sem os truques do INSEE, sempre pronto a lançar ao mar alguns milhões de desempregados, dificultando a reeleição de Macron.

2-1°)- Até então, os números do desemprego foram registados com base nos dados da DARES no âmbito do Ministério do Trabalho. Com a DARES, existem 5 categorias de desempregados: categoria A de desempregados sem qualquer emprego. Categoria B + C dos desempregados com um pequeno emprego, mesmo a tempo parcial. Categoria D dos desempregados em contratos subsidiados. Categoria E de desempregados em formação. Total: mais de 6 milhões de desempregados de acordo com um estudo da DARES - indicadores de Março de 2021.

2-2°)- No entanto, Macron impôs uma revolução na contabilidade dos desempregados. A partir de agora, o INSEE já não tem em conta apenas os desempregados da categoria A (sem qualquer emprego), considerando que os desempregados que fazem algumas horas de trabalho não estão desempregados, mas sim "ricos": como sarkosy já havia dito em 2012!

 

É assim que, sem rir, o desemprego "diminuiu" (estatisticamente falando) abaixo dos três milhões de candidatos a emprego. E como chegamos a uma taxa de desemprego de 8%.

Toda a astúcia é traduzir este truque estatístico numa verdadeira política de combate ao desemprego, com o objectivo de puxar puxar os mais fracos do topo. Política para o bem público, que devemos ao Sr. Macron, subitamente ansioso para ajudar os mais fracos, seis meses antes das eleições presidenciais. Presume-se, portanto, que oferece aos desempregados de longa duração uma actividade. Tirando-os da solidão, da falta de dinheiro. Mas isso não é verdade.

 

Porque, ao mesmo tempo, o envelope dos contratos assistidos está no seu nível mais baixo: 100.000 contratos assistidos em 2021, contra 2.650 milhões em 2000.

Portanto, trata-se apenas de um truque de contabilidade. Permitindo que os agentes de Bercy encaixem "o edredon dos meios na caixa de fósforos dos créditos", para usar a expressão delicada de um deles.

E há jornais charlatães a soldo, no "Libération" ou na LCI, a explodir a sua falsa alegria, alegando a existência de uma falsa política de luta contra o desemprego de longa duração, que nunca existiu, excepto no jornal do INSEE: que eu gostaria de relembrar, está sob a supervisão de Bercy para bónus e progressões na carreira. Um jornalista mentiroso, de rosa no chapéu, leva aonde quer o bando de isiotas que somos.

No LCI, houve até um jornalista que teve a audácia de falar sobre o regresso ao "pleno emprego" (sic): os meios de comunicação às ordens tomam-nos mesmo por parvos!

E ninguém nas redes sociais reclama... 

(*) o Insee francês é o correspondente ao Instituto Nacional de Estatística em Portugal

 

Fonte: Quand l’INSEE annonce sans rire que le taux de chômage est tombé à 8%! – les 7 du quebec

Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice

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