Por Brigitte Bouzonnie.
O Libération escreveu: "a última nota económica do Instituto de Estatística [INSEE] confirma que a economia francesa recuperou bem [do Covid-19] com a recuperação de crescimento e desemprego em menos um ponto do que antes da crise" (...) "a curva de crescimento recuperou, a criação de emprego em ascensão... A saída relativamente preservada do choque Covid-19 graças à sua infusão de ajuda pública durante mais de dezoito meses, a empresa francesa parece bem e verdadeiramente fora de perigo e o espectro de uma grande crise parece estar a afastar-se um pouco mais a favor de uma recuperação clara que faz com que a economia volte aos seus níveis no final de 2019" (sic).
Foi uma digressão em grupo: no mesmo dia, 6 de Outubro de 2021, a LCI, o "Le Monde" e o "Libération" anunciaram sem se rir que a taxa de desemprego francesa tinha caído para 8%. Optimismo exagerado, mentiroso, baseado na mais recente nota económica do Instituto de Estatística (INSEE): devemos escrever: a sua última mentira oficial e no limite dourada.
O que é impressionante nestas palavras, como "está tudo a correr muito bem Madame la Marquise", é o seu carácter extremamente generalista, a ausência de números precisos. Uma afirmação que se parece mais com propaganda digna dos anos sombrios da Colaboração, do que uma análise numérica, rigorosa, fundamentada e argumentada.
1º)- O INSEE esquece-se de dizer que a retirada do sistema estatal de infusão das PME desencadeará um enorme boom de falências em 2022!
Por outras palavras, estamos a lidar com um optimismo
acima do solo, suspenso no ar, invocado, convocado, encantatório. Mas optimismo
frágil, que se despedaça às primeiras informações um tanto sérias: a de Euler
Hermes, anunciando um boom nas falências em 2022, quando o Estado francês
retirará o seu dispositivo de infusão da economia, permitindo, em particular,
que as nossas PME apenas sobrevivam.
2º)- O INSEE esquece-se de dizer como é que a sua taxa de
desemprego de 8% é falsamente construída, ou seja, sem os desempregados na
categoria BCDE:
Mas ainda há mais. Você deveria ter ouvido esses jornalistas
mentirosos da LCI, como os vendedores de aspiradores, prontos para dizer
qualquer coisa para passar o seu lixo à dona de casa crédula o suficiente para
lhes abrir a porta. Neste caso, o lixo é a taxa de desemprego de 8%, que curiosamente
ninguém contesta: como se este valor "fosse normal",
"evidente".
No entanto, lembremo-nos: não há muito tempo: a taxa de
desemprego da França ultrapassou os 10% com os Territórios Ultramarinos. Daí
uma publicação "oficial" da taxa de desemprego sem o DOM-TOM, apenas
para não exceder o fatídico (e político) marco dos 10% de desempregados: o que
demonstra que os desempregados estrangeiros são franceses de segunda classe, de
modo a não terem sequer a honra indigna de aparecer numa estatística oficial.
Contava sem os truques do INSEE, sempre pronto a lançar ao mar
alguns milhões de desempregados, dificultando a reeleição de Macron.
2-1°)- Até então, os números do desemprego foram
registados com base nos dados da DARES no âmbito do Ministério do Trabalho. Com
a DARES, existem 5 categorias de desempregados: categoria A de desempregados
sem qualquer emprego. Categoria B + C dos desempregados com um pequeno emprego,
mesmo a tempo parcial. Categoria D dos desempregados em contratos subsidiados.
Categoria E de desempregados em formação. Total: mais de 6 milhões de
desempregados de acordo com um estudo da DARES - indicadores de Março de 2021.
2-2°)- No
entanto, Macron impôs uma revolução na contabilidade dos desempregados. A partir
de agora, o INSEE já não tem em conta apenas os desempregados da categoria A
(sem qualquer emprego), considerando que os desempregados que fazem algumas
horas de trabalho não estão desempregados, mas sim "ricos": como
sarkosy já havia dito em 2012!
É assim que, sem rir, o desemprego "diminuiu" (estatisticamente falando) abaixo dos três milhões de candidatos a emprego. E como chegamos a uma taxa de desemprego de 8%.
Toda a astúcia é traduzir este truque estatístico numa verdadeira
política de combate ao desemprego, com o objectivo de puxar puxar os mais fracos
do topo. Política para o bem público, que devemos ao Sr. Macron, subitamente
ansioso para ajudar os mais fracos, seis meses antes das eleições
presidenciais. Presume-se, portanto, que oferece aos desempregados de
longa duração uma actividade. Tirando-os da solidão, da falta de dinheiro. Mas
isso não é verdade.
Porque, ao mesmo tempo, o envelope dos contratos assistidos está
no seu nível mais baixo: 100.000 contratos assistidos em 2021, contra 2.650
milhões em 2000.
Portanto, trata-se apenas de um truque de contabilidade.
Permitindo que os agentes de Bercy encaixem "o edredon dos meios na caixa
de fósforos dos créditos", para usar a expressão delicada de um deles.
E há jornais charlatães a soldo, no "Libération" ou na LCI, a explodir a sua falsa alegria, alegando a existência de uma falsa política de luta contra o desemprego de longa duração, que nunca existiu, excepto no jornal do INSEE: que eu gostaria de relembrar, está sob a supervisão de Bercy para bónus e progressões na carreira. Um jornalista mentiroso, de rosa no chapéu, leva aonde quer o bando de isiotas que somos.
No LCI, houve até um jornalista que teve a audácia de falar
sobre o regresso ao "pleno emprego" (sic): os meios de comunicação às
ordens tomam-nos mesmo por parvos!
E ninguém nas redes sociais reclama...
(*) o Insee francês é o correspondente ao Instituto
Nacional de Estatística em Portugal
Fonte: Quand l’INSEE annonce sans rire que le taux de chômage est tombé à 8%! –
les 7 du quebec
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por
Luis
Júdice
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