terça-feira, 10 de maio de 2022

A desestabilização da Síria e do Líbano pelo Reino Unido 1/3

 


 10 de Maio de 2022  René  


RENÉ — Este texto é publicado em parceria com www.madaniya.info.

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A desestabilização da Síria e do Líbano pelo Reino Unido na fase da "Primavera Árabe". 1/3

1 – Revelações anónimas sobre a "Guerra" de Sua Majestade contra a Síria e o Líbano

Menos tronitroante que a França, mas mais traiçoeiro e mais eficaz, o Reino Unido assumiu um papel formidável na desestabilização da Síria e do Líbano, as duas antigas reservas francesas no leste, graças à sequência da “Primavera árabe”, sem precisar criminalizar os opositores à sua estratégia, sem ser relegado ao posto de “afinidade”, sanção do seu fracasso, como foi o caso de seu parceiro francês.

Esta é a principal revelação de "Anónimo" que tem gerido a proeza de hackear os documentos confidenciais do "Governo de Sua Majestade".

Anonymous (em português Anónimos – NdT)) é um colectivo de activistas da Internet especializados em pirataria informática (hacker) que se manifestam em particular na Internet, agindo de forma anónima e que se apresentam como defensores da liberdade de expressão.

Tendo em conta estas capacidades, a Anonymous foi apresentada pelo canal de televisão norte-americano CNN como um dos três principais sucessores da WIKILEAKS.

Os documentos foram publicados numa série de ficheiros intitulados, Op. HMG [Governo de Sua Majestade].

Extractos

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2- Domesticar a Síria

O Reino Unido elaborou uma guerra de propaganda total contra a Síria para domesticar o regime baathist, mobilizando várias empresas de relações públicas que operam sob o pretexto de organizações sem fins lucrativos para obter o apoio ocidental à oposição síria nas suas variantes políticas e militares.

Em 2014, o Ministério dos Negócios Estrangeiros, o Ministério da Defesa e o Gabinete da Commonwealth lançaram uma campanha conjunta para trazer contactos estratégicos à oposição síria, construindo uma rede de relações entre os media e os grupos sírios.
Um documento do governo de 2017 explica claramente como a Grã-Bretanha financiou a "orientação da seleção, formação, apoio e comunicação de activistas sírios que partilharam a visão do Reino Unido para uma futura Síria... e que respeitaria um conjunto de valores em consonância com a política britânica." A medida exigiu financiamento do governo do Reino Unido "para apoiar o activismo dos media de base síria nas esferas da oposição civil e armada" e visou os sírios que vivem em territórios "extremistas e moderados" da oposição.

Por outras palavras, o Ministério dos Negócios Estrangeiros britânico e os militares elaboraram planos para travar uma guerra mundial dos meios de comunicação social contra a Síria.

Revelações anónimas sobre este link para falantes árabes

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3 - ARK (Analysis Research Knowledge), The Global Strategy Network (TGSN), Albany

Para estabelecer uma infraestrutura capaz de lidar com o blitz de propaganda, a Grã-Bretanha pagou uma série de empreiteiros do governo, incluindo ARK (Analysis Research Knowledge), The Global Strategy Network (TGSN), Innovative Communication & Strategies (InCoStrat) e Albany. O trabalho destas empresas foi feito em consulta com membros da oposição síria.

Um dos principais compromissos governamentais britânicos por trás do regime de mudança de regime na Síria chama-se ARK (Analysis Research Knowledge). A KRG tocava media como um violino. A ARK está sediada no Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. Apresenta-se como UMA ONG humanitária, afirmando que "foi criada para ajudar os mais vulneráveis" através da criação de uma "empresa social, capacitando as comunidades locais através do fornecimento de intervenções flexíveis e sustentáveis para criar maior estabilidade, oportunidades e esperança para o futuro".

Na realidade, a ARK é uma agência de inteligência cujas funções estão integradas com intervenções armadas ocidentais.

Num documento vazado que apresentou ao governo do Reino Unido, a ARK disse que o seu "objectivo desde 2012 tem sido apresentar resultados altamente eficazes, políticos e sensíveis aos conflitos. Objectivo estabelecido num documento intitulado Programação da Síria para os Governos do Reino Unido, Estados Unidos, Dinamarca, Canadá, Japão e União Europeia.

Três das referidas empresas (ARK, TGSN e Albany), cujas equipas eram compostas por empreiteiros do governo britânico, foram confiadas a esta guerra psicológica total em colaboração com os Estados Unidos, Canadá, Países Baixos e Nações Unidas. No seu site, a ARK compilou uma lista onde todos estes governos são citados como clientes, bem como as Nações Unidas. A ARK gabava-se de supervisionar contratos no valor de 66 milhões de dólares para apoiar os esforços da oposição na Síria.

A ARK treinou 150 activistas no manuseamento de câmaras, iluminação e som. Em seis meses, a ARK inundou o mundo com panfletos distribuindo quase 668.600 documentos, cartazes, folhetos, controlando 97% da produção de vídeos da oposição síria, empregando 19 treinadores locais, 23 editores, 27 fotógrafos de vídeo, 8 centros de formação, 3 gabinetes de informação e propaganda, bem como 23 gestores de programas de investigação encarregados de editar estudos destinados a validar os estudos da oposição síria.

Estas três empresas gabaram-se de manter as melhores relações com os principais vectores internacionais, incluindo: Reuters, New York Times, CNN, BBC, Financial Times, Al Jazeera, o serviço árabe da Sky News, Orient TV, bem como o canal saudita Al Arabiya, ao qual regularmente fornecem material destinado a privilegiar o ponto de vista do "Governo de Sua Majestade".

Duzentas organizações sem fins lucrativos, formadas em 130 workshops, beneficiaram dos subsídios relacionados com este programa antes de serem infiltradas no território sírio para realizarem acções agit-prop.

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4- Até a lendária BBC.

A BBC, conhecida pelo seu lendário profissionalismo, não escapou à tentação da embriaguez. A rádio britânica teve que confessar, admitindo ter produzido uma reportagem "não correspondendo aos seus critérios profissionais" sobre a Síria, num documentário da Radio 4 transmitido em Novembro de 2020.

O relatório tentou desacreditar o inspector da Organização para a Proibição das Armas Químicas (OPCW), que tinha denunciado o relatório da sua própria organização como uma falsificação, acusando-o de ter sido corrompido pelo Wikileaks. A rádio inglesa também acusou um colunista do Daily Mail, Peter Hitchens, que tinha revelado a manipulação da OPCW de ser um apoiante do "regime de Bashar".
A acusação de que a República Árabe Síria usou gás contra a sua própria população não se baseia em argumentos credíveis. No entanto, é um dos elementos de propaganda mais utilizados contra ele.

CF sobre este assunto: "Mayday: The Canister on the Bed, Radio 4, 20 November 2020", BBC Executive Complaints Unit, 2 de Setembro de 2021.

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5 - James Le Masurier e os Capacetes Brancos e o Observatório Sírio para os Direitos Humanos.

Para além deste impressionante aparelho de propaganda, o Reino Unido colocou em órbita dois projectos particularmente perniciosos: os Capacetes Brancos e o Observatório Sírio para os Direitos Humanos.

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A – Os Capacetes Brancos:
Este colectivo de emergência humanitária distinguiu-se pela sua teatralidade, mas rapidamente desacreditou-se pelas suas ligações terroristas e pelo seu fundador, que morreu em condições misteriosas em 2019 na Turquia, numa operação que equivalia à eliminação de uma testemunha de peso.

O ex-oficial do exército britânico tornou-se director de uma ONG holandesa, a Mayday Rescue Foundation, James Le Masurier, o fundador dos "Capacetes Brancos" da Síria, nascido a 25 de Maio de 1971 em Singapura, morreu em 11 de Novembro de 2019, em Istambul, em condições misteriosas. Foi encontrado morto ao pé do prédio onde vivia, com múltiplas fracturas. Este ex-agente do MI6 foi visto, particularmente nos Balcãs e no Médio Oriente. As suas relações com grupos terroristas foram relatadas durante a sua missão ao Kosovo. Os "Capacetes Brancos" provaram ser, de facto, uma "estrutura de propaganda" anti-Assad que colaboraria com terroristas, segundo a jornalista britânica Vanessa Beeley, que relatou numerosos casos de estreita cooperação entre os Capacetes Brancos e grupos extremistas, como a Frente Al-Nusra e Harakat Nour al-Din al-Zenki, no leste de Alepo e noutros locais.

Para ir mais longe neste tema: Vanessa Beeley destrói o mito dos "Capacetes Brancos":

§  http://www.artistespourlapaix.org/?p=17791

§  https://www.madaniya.info/2016/10/20/casques-blancs-a-lelysee-tapage-mediatique-compensatoire-a-relegation-diplomatique/

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B – Comunicação e Estratégias Inovadoras (InCoStrat), Observatório Sírio para os Direitos Humanos

Esta estrutura supervisionou dois sub-empreiteiros do Ministério dos Negócios Estrangeiros britânico que trabalham sob a supervisão do Ministério da Defesa. Estava encarregada da comunicação de "grupos armados moderados" na Síria. A sua missão era produzir elementos de linguagem e material de propaganda: vídeos, fotos, relatórios militares, brochuras com os logótipos dos grupos de combate.

Desde o Verão de 2013, foi-lhe atribuído um orçamento de 2,4 milhões de libras (3 milhões de euros) desde o caso das armas químicas. Inicialmente destinado à empresa de gestão de crises Regester Larkin, este orçamento foi reafectado à Innovative Communications ans Stratégies (InCoStrat), uma empresa criada em 2014. Ambas as empresas, sediadas em Londres e Washington, D.C., foram fundadas pelo Coronel Paul Tilley. Empregava 50 pessoas em Istambul. Estas mesmas empresas celebraram outro contrato com o Iémen.

Esta operação é distinta da do Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH), que depende do MI6, o serviço de inteligência britânico responsável pelo teatro externo. Criado em Maio de 2006, em Coventry, no Reino Unido, o SOHR é liderado por Rami Abdel Rahmane, cujo nome verdadeiro é Oussama Ali Souleiman.

Nascido em Baniyas, na Síria, apresenta-se como muçulmano, secularista. A sua organização é a fonte mais importante usada pelos principais meios de comunicação ocidentais para a guerra civil na Síria desde a expulsão de jornalistas estrangeiros. No entanto, a neutralidade e a fiabilidade deste organismo são contestadas por alguns peritos no conflito.

Os documentos referidos pelo Guardian, que revelaram a sua existência, atestam que estas empresas forneceram comunicação ao Movimento Hazm e ao Exército do Islão. Este último é, na verdade, um nome moderado usado pelos combatentes da Al-Qaeda.
No Conselho de Segurança das Nações Unidas, o Reino Unido opôs-se à sua inscrição na lista como organização terrorista, alegando que está a participar nas negociações de paz da Síria em Genebra. (CF. a este respeito "Como a Grã-Bretanha financia a guerra de propaganda contra o ISIS na Síria", IAN Cobain, Alice Ross, Rob Evans, Mona Mahmooudht- The Guardian 3 de maio de 2006. E também: Charles Skelton: Quem produz o discurso? https://www.the guardian.com comentários livres/2012/jul/12/síria-oposição a fazer a conversa.

 

Fonte: De la déstabilisation de la Syrie et du Liban par le Royaume Uni 1/3 – les 7 du quebec

Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice




 

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