4 de Maio de 2022 Robert Bibeau
Por Khider Mesloub.
Após a reeleição de Macron, patrocinada e armada pelo capital
transnacional, duas Franças entram na corrida: a França legal, ou seja,
legalista e eleitoral, a das eleições financeiras, e a França legítima, ou
seja, popular e subversiva, a do povo amotinado. França institucional e França
insurreccional. A França dos de cima e a França dos de baixo.
A primeira, subjugada às instituições burguesas, é representada por
Mélenchon e o seu partido de esquerda inteiramente sujeito ao capital nacional,
que defende com patriotismo. Especialmente neste contexto geo-político e
económico marcado por tensões inter-imperialistas e recessão. A France
Insoumise, enquanto partido nacionalista, não defende a defesa do capital
nacional? "Promover a paz e a cooperação, encontrar uma voz independente,
assumir a independência da França no mundo", proclama o partido do qual
Mélenchon é o porta-voz, o político lacaio.
A história ensina-nos
que a retórica pacifista chauvinista limpa sempre a margem para futuros
confrontos de guerra. "Se
queres paz, prepara-te para a guerra" é o lema dos apoiantes camuflados
como colaboradores pacifistas.
Como um bom soldado a soldo
do capital nacional francês, o Sargento-Recruta Mélenchon, este aborto do
Mitterrandismo, desafia sensatamente a população: "a França pode e deve defender-se, fora
de qualquer aliança militar permanente. Para isso, a defesa (guerra) deve ser assunto
de toda a Nação" (Após a militarização da sociedade instituída pelo poder macroniano
– com a cumplicidade dos partidos oficiais da oposição – graças à
pandemia Covid-19, Mélenchon defende a
mobilização militar geral de toda a população. Para a France Insoumise,
conduzida com um punho de ferro pelo indestrutível e irascível Mélenchon, o
proletariado constitui apenas uma massa destinada a servir de carne de voto e/ou carne para canhão)... o pedestal ao
serviço da burguesia nacionalista chauvinista.
Para isso, o futuro
auto-proclamado primeiro-ministro pretende "Parar as privatizações das
indústrias de armamento e das missões de defesa nacional, reintroduzi-las no sector
público. Priorizar a aquisição de equipamento militar francês no exército.
Abrir a possibilidade de serviço militar como componente opcional do serviço de
cidadão obrigatório. Mobilizar o espaço digital e a realidade espacial para
instalar sistemas defensivos e não letais contra a agressão e pela paz (sic).
Adaptando o equipamento militar e o equipamento dos nossos soldados à nova
situação climática (o partido
de Mélenchon é um defensor de guerras limpas, conduzidas cirurgicamente sob o
rótulo ecológico) – é isso que a pequena burguesia chama de "novo pacifismo"
(sic). Lançar um plano para adaptar infra-estruturas militares
vulneráveis."
Em termos de segurança interna, o partido de Mélenchon também está a
competir na engenhosidade para modernizar as técnicas de repressão nacional. As
propostas de La France Insoumise são abundantemente pletoricas, particularmente
em termos de "defesa nacional" da inteligência (para caçar que
inimigo: externo ou popular?), anti-terrorismo (meios de instrumentalização do
Estado fascista e fachada em nome da qual são aprovadas leis liberticidas), o
aumento e melhoria da polícia comunitária, o uso de técnicas de repressão mais
"republicanas" ao serviço do Estado dos ricos.
Neste período marcado pelo debacle dos dois principais partidos históricos
da esquerda burguesa, o PCF e o PS, a France Insoumise (LFI) é agora a única "força
alternativa à esquerda". É o principal polo de oposição da esquerda
burguesa. Ou mesmo o polo principal da atracção de esquerda (de distracção
marxista para bobos urbanos e islamo-esquerdistas sub-urbanos). Afirma ser a
única organização política capaz de lutar contra o "liberalismo de
direita", a favor do "totalitarismo" de esquerda, e contra o
"poder do dinheiro estrangeiro" mas a favor do capital nacional.
Contra a política anti-social do poder macroniano. Contra a ameaça do perigo
"fascista" do Comício Agrupamento Nacional de Direita e a favor do
Nacional Socialismo de esquerda.
Como o Partido Socialista Unido (PSU) no seu tempo, erguido como um partido
de esquerda radical alternativo, mesmo "revolucionário" (sic), a
France Insoumise apresenta-se hoje como o partido da "esperança de um
futuro melhor" (no melhor dos mundos abjectos da França burguesa senil),
se não do "Grand Soir-au Petit Matin" (da noite capitalista, porque a
sua revolução cidadã através do voto e das urnas não pretende sair do baile
eleitoral do capital belicoso). Por outras palavras, a LFI afirma ser credenciada
pelo capital como a única força (farsa?) da oposição formal à sociedade
capitalista em ruínas.
Na verdade, com o seu
slogan proclamando que "outro mundo é possível", deve traduzir-se
claramente que "um
novo Estado nacional chauvinista e militarista é possível". A prova, um dia
depois de não ter chegado à segunda volta das eleições presidenciais, o
apparatchik Mélenchon, este rebelde institucional totalmente sujeito ao capital
nacional, devorado com ambição, descaradamente, apressou-se a apelar, não para
mobilização revolucionária contra o capitalismo, mas para a mobilização
eleitoral nas próximas eleições legislativas, a fim de "conter" o
apoiante Macron, este presidente das finanças odiado pela maioria da população,
para nomeá-lo Primeiro-Ministro.
Para aplicar qual programa?
De qualquer forma, não o dos trabalhadores e das classes populares. Será o do
capital, o da militarização da sociedade, da economia de guerra. Na verdade, para além
do mesmo anti-fonismo ideológico martelado pela La France Insoumise,
simbolizado pelos slogans "partilha mais justa da riqueza" e
"fazer os ricos pagarem", Mélenchon não terá nada a propor, excepto
"novas" receitas fiscais, incluindo a recuperação do imposto sobre as
grandes fortunas, o aumento da tributação venial sobre o imobiliário, no quadro
do capitalismo.
Na verdade, o programa
de Mélenchon-LFI não é original nem inovador. É uma divisão programática
modernizada das alternativas falaciosas socializantes propagadas, durante um
século, pelas formações reformistas da esquerda – eleitoralistas e
parlamentares... até à extinção destas formações políticas burguesas (PS-PCF).
Em todo o caso, desde que a amarga experiência mitterrandiana começou em 1981,
o proletariado francês tem sido imune a falsas alternativas de esquerda. É claro que, seja qual for o partido de
esquerda empossado no poder, ele sempre se esforçará para seguir a mesma
política anti-social do capital, para agravar a exploração e opressão dos
trabalhadores, para deteriorar as suas condições de vida, para reprimir as suas
lutas sociais. E o partido de Mélenchon-LFI não vai derrogar esse “determinismo
social do capital”. A France Insoumise,
herdeira da social-democracia europeia colaboracionista do capital, está apenas
a reciclar um velho programa reformista ultrapassado, que supostamente
constitui uma alternativa ao capitalismo. No entanto, a história ensina-nos que
os partidos de esquerda, socialistas (reformistas) e comunistas (estalinistas
e/ou trotskistas e/ou maoístas) foram sempre os melhores defensores do
capitalismo (liberal – estado libertário ou social ou não). Responsável pelos
massacres em massa dos trabalhadores, pelo surto de guerras. (Não se esqueçam
que foi sob um governo composto por ministros comunistas e socialistas que o
massacre de 8 de Maio de 1945 na Argélia foi perpetrado. Da mesma forma, mais
tarde, foi sob a governação dos ministros socialistas – o mais famoso dos quais
foi François Mitterrand – que a guerra foi travada contra o povo argelino na
luta pela independência.) Em particular, em tempos de crise, de exacerbação da
concorrência económica capitalista e de tensões de guerra imperialistas, como a
que estamos actualmente a viver. Para Mélenchon, na actual guerra na Ucrânia,
"não há outro culpado senão Vladimir Putin", noutras palavras, o
belicista Melanchon-LFI está alinhado com a posição ocidental, ou seja, do
imperialismo americano e da OTAN contra o imperialismo russo.
Se Mélenchon chegar ao
poder, aplicará o programa do capital nacional, ou seja, neste período de crise
multi-dimensional, o da economia de guerra, da guerra económica capitalista
contra o trabalho, mas também da guerra imperialista mundial travada pelo campo
atlântico (NATO). Assumirá o papel de Chefe do Estado-Maior do exército
imperialista francês para liderar a guerra de alienação e destruição
(possivelmente nuclear) da Europa Ocidental "ameaçada pela Rússia"
segundo os Estados Unidos.
Sem dúvida, hoje, a LFI, o partido da esquerda do capital, é a última força
do alistamento ideológico do proletariado da França. Tornou-se a força da
diluição da consciência de classe, da esterilização do papel revolucionário do
proletariado, pela sua política de desvio simbolizada pelo seu programa
demagógico de igualitarismo cidadão "garantido pelo Estado
Republicano" (burguês, militarista, totalitário e imperialista) francês.
Uma coisa é certa:
galvanizada pelo seu sucesso eleitoral obtido na primeira volta das eleições
presidenciais, a France Insoumise pretende afirmar-se como o pivô de uma
esquerda recompensada, reunindo, sob a mesma família reformista eleitoral,
todas as componentes da socialização e formações sociais, do PND ao PCF,
através dos Verdes e do PS. Neste caso, trata-se de uma tentativa de
reconstituir a nauseabunda "União da Esquerda", mas politicamente desacreditada
pelo seu compromisso com o "liberalismo", a sua governação exercida
ao serviço do capital.
Quanto à França legítima, a do proletariado, a da maioria politicamente silenciosa, fará claramente ouvir a sua voz e imporá o seu caminho. Nem a voz do disfarce eleitoral à la Mélenchon, nem o caminho capitalista, sempre à la Mélenchon, o político lacaio. A terceira volta social que este proletariado reserva para a França legal será muito mais triunfante do que a vitória trivial e lamentável conquistada eleitoralmente (financeiramente) por Macron, sem entusiasmo transbordante ou festividades encantadoras.
A terceira ronda ganhará o apoio de todo o povo de baixo, determinado a lutar com a França dos de cima. Para suturar a sua consciência de classe destruída pelos cães de guarda do capital, especialmente os partidos de esquerda, incluindo a La France Insoumise (LFI) e os partidos e seitas da direita, claro. Para remendar a sua combatividade política há muito desmoronada por organizações de esquerda, seguidores de lutas sectoriais e sociais, incluindo La France Insoumise (LFI).
Além disso, a terceira ronda social, aclamada pelo
proletariado, vai abalar nas suas bases o poder do capital macroniano. Lançará
milhões de proletários para a arena da luta emancipatória, determinados a
lançar nas urnas da história o regime da decadente burguesia francesa e a sua
domesticidade política, nomeadamente a La France Insoumise (LFI).
Khider MESLOUB
Fonte: France: un troisième tour électoraliste et militariste ou social et émancipateur? – les 7 du quebec
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis
Júdice
Sem comentários:
Enviar um comentário