9 de Maio de 2022 Olivier Cabanel
Viemos de lá, de acordo com a Bíblia, e vamos voltar para lá, e isso é uma
certeza.
Mas a Terra tem outras propriedades, como nos contar a nossa história, uma
vez que mantém dentro dela todas as fases das nossas civilizações.
Recentemente, foram encontradas placas de terra de argila que explicam as
razões da decadência do povo da Grécia (as primeiras tábuas de argila datam de
3.500 a.C., e os especialistas estão convencidos de que a escrita nasceu nessa
altura) e tem até 24 de Setembro para ir a Caen para descobrir uma pequena
parte do exército do primeiro imperador chinês, enterrado com ele há 2.200 anos
e descoberto em 1974.
Há lá 80 guerreiros de terracota, exumados da terra onde guardavam o túmulo
do seu imperador.
Estima-se que vários milhares destes soldados, às vezes com os seus
cavalos, estão ansiosos para poder ler em breve aquilo que nos poderiam
ensinar, porque a Terra é um diccionário aberto sobre a história da humanidade.
As escavações iniciadas já descobriram mais de 6.000 guerreiros no solo.
Não há dúvida de que esta descoberta é uma das maiores do século XX e os
irmãos Yang, ao cavar um poço para lutar contra a seca deste ano de 1974, não
suspeitavam por um segundo da importância da sua descoberta.
O exército de terracota do Imperador Qin pode ser apenas a ponta de um
monumental icebergue arqueológico.
Assim, amanhã pode ser possível ir mais longe na leitura da nossa história.
Autores de ficção científica enchem os sulcos das suas páginas com ela.
Teoricamente, nada impede, por exemplo, de imaginar que uma memória sonora
poderia ter sido gravada em argila, como os sons impressos na cera das nossas
antigas 78 torres, e que podem ser restaurados.
Se houvesse vestígios num material que pudesse ter levado a impressão,
bastaria encontrar "o leitor", para voltar a ouvir o som gravado.
Imagine um oleiro, virando, na roda, em frente à sua loja, há 2.000 anos.
Passam pessoas que discutem, ou fazem música. O oleiro vira o seu barro, e seus
dedos deixam marcas nele, e literalmente gravam o som ao redor no material.
Mas a Terra tem outras propriedades, como ser capaz de nos abrigar durante
a nossa vida.
Tenho a sorte de viver numa casa de barro.
Na nossa região, chama-se Pisé. A origem vem da palavra pesar, no sentido
de tamponamento. Então procuramos um pedaço de terra que continha terra a uma
mistura de argila, xisto e seixos, extraímo-la na Primavera e colocámo-la entre
tábuas, cortando-a.*
Estas construcções foram feitas com alegria e bom humor, colectivamente,
num sistema de entreajuda, sob a liderança de um carpinteiro.
Estas casas de barro são muito confortáveis, frescas no Verão, quentes no Inverno
e quebram recordes de desempenho quando se trata de conforto térmico e
acústico.
Para ter a mesma qualidade de isolamento que uma parede de 60 cm de Adobe,
leva pelo menos 1,40 m de pedra.
Quanto aos materiais actuais, seria necessário gastar fortunas no
isolamento, quando as paredes são feitas de blocos de betão, para esperar
alcançar o desempenho oferecido pela terra.
Tanto que os milionários do outro lado do Atlântico estão agora a construir
casas de barro, cuja forma é moldada por um artista.
Amanhã ou talvez depois de amanhã, haverá uma técnica para ler os sons que
foram gravados na terra.
Se ainda houver alguém para contar.
Fonte: Nés de la terre – les 7 du quebec
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa
por Luis
Júdice
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