12 de Maio de
2022 Robert Bibeau
Por Brigitte Bouzonnie.
Acabei de ouvir o cientista político Jérôme Jaffré na France Inter
(repetição: 08 de maio de 2022, 6h55) desenhar um retrato de Mélenchon.
Em particular, à
pergunta: "Mélenchon é apresentado como o chefe da esquerda radical. Mas
se o escutarmos bem: aquele a quem ele se refere constantemente é François
Mitterrand. Podemos
ser radicais e mitterrandistas ao mesmo tempo? Parece bastante
paradoxal...? (sic).
A resposta de Jérôme
Jaffré: "Sim,
é possível (ser radical e mitterrandista): porque radicais são as propostas
verbais. E o Mitterrandismo no poder é o talento de ser oportunista. Recorde-se
que Mitterrand, quando conquistou o poder dentro do PS em 1971, propôs um
programa de ruptura com o capitalismo. Basicamente, a ideia é que se queres
interessar as classes populares, e eles votarem em ti, tens de propor mudanças
radicais. Deixa o Governo a ter de ter em conta as dificuldades em mudar as
coisas. Mas se começares com acomodações, comprometidas, o eleitorado de
esquerda não se interessa. Nisto, há uma grande semelhança entre Mitterrand e
Mélenchon" (sic).
Entre linhas, compreendemos muito bem a estratégia de Mélenchon de tomar o
poder.
1°)-No início, defendemos noite e dia um
programa de reformas económicas e sociais voluntariamente muito à esquerda: por exemplo, o
programa "O Primeiro Humano" da Frente esquerda, PG + PCF. O leitor
pode ter-se esquecido, mas neste programa de 2012, houve uma excelente
proposta, elaborada pelo sindicalista Claude Debons, líder do movimento social
de 1995, propondo-se a dar direito de veto aos trabalhadores, possibilitando
contrariar os planos de despedimento dos empregadores (1).
2°)-Então, quando nos aproximamos da
apreensão real de poder, operamos um aggiornamento do programa,
como o switch feito em 2017, transformando o IF em BIS PS. O muito bom direito
de veto dado aos empregados é substituído por um ínsipido planeamento ecológico
de mau gosto, um simples pedaço de papel techno, não comendo pão. Prova (?)
Macron está pronto para implementá-lo!
Outro exemplo: a
possibilidade de sair
da zona euro, prevista no programa de 2017, que foi uma grande concessão feita aos
eurocépticos, é substituída no programa de 2022 por "desobediência
ocasional aos tratados". Ou um disparate absoluto do ponto de vista legal.
Prever em todas as cartas, como medida legal, uma desobediência aos tratados é pura garganta. E eu faço direito
desde os 18 anos.
Por seu lado, o PS prevê uma "derrogação" aos tratados europeus.
PS e FI estão a reinventar uma Europa de contos de fadas, onde seria possível
"desobedecer", "derrogar", como se compra a baguete de pão.
Onde seria possível contrariar uma ditadura de Bruxelas, uma marioneta do
Estado profundo americano. Naturalmente, isto é pura armadilha para apanhar
otários!
Isto resulta em várias observações:
1º)-Esta mudança ideológica substancial,
entre um lado, fortes propostas sociais-democratas de esquerda, susceptíveis de
dar poder ao Povo da empresa (2012). Por outro lado, medidas pouco dignas do
Partido da Esquerda Radical (2022), antecipam muito bem a gestão da direita de
Mélenchon no poder, se por acaso, se tornar primeiro-ministro de Macron
em dois meses. Será a "segunda
direita", como o camarada Jean-Pierre Garnier analisa muito bem.
2º)- Este plano estratégico A (propostas
muito à esquerda), plano B (viragem ideológica para a gestão da direita e da
direita no poder), sobre o modelo da carreira ideológica de Mitterrand desde
1971, estava à frente do Mélenchon, desde Novembro de 2008, data da criação
do PG em Asnières. Eu estava na sala, e o mínimo que podemos dizer é que não
fiquei convencido pelo tom PS dos vários oradores que se sucederam: Simonet,
Corbière... excepto Claude Debons: o único em quem encontrei luta
de classes. Naturalmente, não ficou no PG, saindo no final de 2009. Vendo isto, JLM
deixou a sua linha, mas apenas no nível verbal. Era apenas uma questão de phishing ao
eleitor com propostas simpáticas de mudança social, que atingem a mente e os
olhos.
Mas, desde o início,
ficou claro para Mélenchon que este discurso de esquerda radical era apenas uma
postura. Não quero dizer uma farsa. Era apenas uma questão de reconquistar o
eleitorado jovem e da classe operária. Missão cumprida em 2017, uma vez que 25%
dos operários e 25% dos jovens votaram em Mélenchon. E permitir que estes
senhores-senhoras da liderança do IF (o otário Corbière, o otário Lachaud, o otário Autain, o otário
Quatennens ....) tenham uma posição de deputado, vivam num grande comboio sobre
os nossos impostos.
Quando lhe expliquei
que estava activo há 10 anos no Partido da Esquerda/ France Insoumise, o
falecido Claude Karnooh, que há muito estava activo no Partido Comunista,
respondeu: "a
insoumise da França é uma piada" (sic). Tinha 300% de
razão! Nem sequer tentei defender o IF. Para salvar o dia, disse-lhe que também
tinha estado dez anos na PSU, e ele disse-me: "a PSU foi uma boa
festa"!
3°)- Mélenchon não é o primeiro filho
espiritual de Mitterrand a usar esta estratégia de duplo gatilho. Lembremo-nos
do Laurent Fabius, primeira versão. Na sua excelente biografia sobre Georges Marchais,
"L'inconnu
du Comité central", edição do Arquipélago, 1993, Gaspard Koenig fala
das longas negociações sobre o Programa Comum entre quadros socialistas e comunistas. Especialmente no número de
nacionalizações. Na delegação do Partido Socialista, há um jovem tecnocrata, um
certo Laurent Fabius. Acto 1.
Na altura, depois de se tornar Primeiro-Ministro em 1983, Fabius não deixará de fechar os feudos industriais do norte e leste da França. A pobreza, até agora desconhecida, recai sobre cidades como Lille, Valenciennes, Roubaix, Tourcoing, como me disse um amigo da esquerda do CFDT dos anos 70, Corrézienne, deixado para trabalhar numa associação em Lille. Durante a noite, muitos sem-abrigo estão nas calçadas. Acto 2.
Mas ainda há mais. Em
2006, Fabius participou nas primárias socialistas, que nomearam o candidato do
PS em 2007. Ele cinicamente declarou na televisão (LCI): "um partido, um Estado conquista-se à
esquerda. E é gerido à direita" (sic). Por outras
palavras, teoriza a estratégia de Mitterrand, que passou da ruptura com o
capitalismo em 1971 para a política de austeridade que conhecemos em 1983.
Antecipa a estratégia futura de Mélenchon, que é então seu amigo em políticas.
Para que conste, foi Mélenchon, que, em 2006-2007, desistiu do seu lugar de
líder da esquerda do PS para o dar a Fabius, um braço direito de primeira! Uma
manobra política muito mal percebida pelos militantes mesmo desta esquerda do
PS. E sobre o qual paira hoje um silêncio pesado.
(1)- Esta excelente proposta é aceite e aparece na íntegra no programa de
35 pontos do Agrupamento "Poder para o Povo" (Rassemblement “Pouvoir
au Peuple”).
Fonte: La stratégie de prise de pouvoir de Mélenchon est presque parfaite! – les 7 du quebec
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis
Júdice
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