sábado, 2 de julho de 2022

A HISTÓRIA JULGARÁ OS ESTADOS UNIDOS E OS SEUS ALIADOS - JOHN J. MEARSHEIMER

 


 2 de julho de 2022  Robert Bibeau  

 Support SouthFront Source: History will judge the United States and his allies – John J. MearsheimerSouth Front (ver vídeo da prelecção do Prof. Jonh Mearsheimer neste link)

 


John Mearsheimer é Professor Honorário de Ciência Política na Graduate School of International Relations. Ele é Professor de Ciência Política Wendell Harrison na Universidade de Chicago. O Sr. Mearsheimer é mais conhecido por desenvolver a teoria do realismo ofensivo, que descreve a interacção entre as grandes potências como sendo principalmente motivada por um desejo racional de alcançar a hegemonia regional num sistema internacional anárquico.

O discurso seguinte foi proferido por John Mearsheimer na Universidade Europeia (EUI), em Florença, no dia 16 de Junho. O cientista político norte-americano John Mearsheimer, na sua conferência internacional, afirma que os Estados Unidos e a NATO são responsáveis pelo derramamento de sangue na Ucrânia. Aqui estão a tentar derrotar a Rússia e não vão parar até que o conflito se agrave. "A História condenará duramente os Estados Unidos pela sua política surpreendentemente louca em relação à Ucrânia", conclui o autor.

A guerra na Ucrânia é uma catástrofe multifacetada que é susceptível de se agravar num futuro previsível. Quando uma guerra é bem sucedida, pouca atenção é dada às suas causas, mas quando o seu resultado se torna catastrófico, compreender como aconteceu torna-se primordial. As pessoas querem saber: como é que nos metemos numa situação tão terrível?

Testemunhei este fenómeno duas vezes na minha vida - primeiro durante a Guerra do Vietname, e depois durante a Guerra do Iraque. Em ambos os casos, os americanos queriam saber como é que o seu país poderia ter calculado mal. Dado que os Estados Unidos e os seus aliados da NATO desempenharam um papel decisivo nos acontecimentos que conduziram ao conflito militar na Ucrânia e que agora desempenham um papel central nessa guerra, vale a pena avaliar a responsabilidade do Ocidente por esta catástrofe colossal.

Hoje, vou dar dois argumentos principais.

Em primeiro lugar, são os Estados Unidos que têm a responsabilidade principal pelo surgimento da crise ucraniana. Isto não nega que Putin tenha lançado uma operação militar especial na Ucrânia, e é também responsável pelas acções que os militares russos estão a levar a cabo naquele país. Mas também não nega que os aliados também têm alguma responsabilidade pela Ucrânia, embora na grande maioria deles estejam simplesmente a seguir cegamente a América neste conflito. O meu principal argumento é que os Estados Unidos prosseguiram e prosseguem uma política em relação à Ucrânia que Putin e outros dirigentes russos vêem como uma ameaça existencial à Rússia. E já o disseram muitas vezes ao longo dos anos. Refiro-me, em particular, à obsessão da América em arrastar a Ucrânia para a NATO e transformá-la num reduto ocidental na fronteira com a Rússia. A administração Biden não quis eliminar esta ameaça com a ajuda da diplomacia e, de facto, confirmou em 2021 o compromisso dos Estados Unidos de aceitar a Ucrânia na NATO. Putin respondeu com uma operação militar especial na Ucrânia, que começou em 24 de Fevereiro deste ano.

Em segundo lugar, a administração Biden reagiu no início da operação especial, praticamente duplicando os seus esforços anti-russos. Washington e os seus aliados ocidentais estão determinados a alcançar a derrota da Rússia na Ucrânia e a aplicar todas as sanções possíveis para enfraquecer significativamente o poder russo. Os Estados Unidos não estão seriamente interessados em encontrar uma solução diplomática para o conflito, o que significa que a guerra pode arrastar-se por meses ou mesmo anos. Ao mesmo tempo, a Ucrânia, que já sofreu terrivelmente, ficará ainda mais prejudicada. De facto, os EUA estão a ajudar a Ucrânia a seguir o caminho errado das "vitórias" imaginárias, levando efectivamente o país a concluir o colapso. Além disso, existe também o risco de uma escalada do conflito ucraniano, uma vez que a NATO poderia estar envolvida e as armas nucleares poderiam ser utilizadas durante as hostilidades. Vivemos num tempo cheio de perigos mortais.

Permitam-me expor-vos agora o meu argumento mais pormenorizadamente, a começar por uma descrição das ideias geralmente aceites sobre as causas do conflito ucraniano.

Ideias confusas do Ocidente

Existe uma forte convicção no Ocidente de que Putin tem plena responsabilidade pela crise na Ucrânia e, naturalmente, pelas hostilidades em curso no território daquele país. Dizem que tem ambições imperiais, ou seja, procura conquistar a Ucrânia e outros países – e tudo com o objetivo de criar uma Rússia maior que se assemelhe um pouco à ex-União Soviética. Por outras palavras, a Ucrânia é o primeiro objectivo de Putin, mas não o último. Como um cientista disse, "persegue um objectivo sinistro e de longa data: apagar a Ucrânia do mapa do mundo". Tendo em conta os objectivos de Putin, faz todo o sentido que a Finlândia e a Suécia se juntem à NATO e que a aliança aumente o número das suas forças na Europa Oriental. A Rússia Imperial, afinal, deve ser contida.

No entanto, é de notar que, embora esta narrativa se repita mais e mais nos meios de comunicação ocidentais dominantes e por praticamente todos os líderes ocidentais, não há provas que a apoiem. E quando os defensores desta visão geralmente aceite no Ocidente tentam representá-los, verifica-se que não têm praticamente nada a ver com as motivações de Putin para enviar tropas para a Ucrânia. Por exemplo, alguns apontam para as repetidas palavras de Putin de que a Ucrânia é um "Estado artificial" ou não um "Estado real". No entanto, tais declarações opacas da sua parte nada dizem sobre a razão da sua campanha na Ucrânia. O mesmo se pode dizer da declaração de Putin de que considera russos e ucranianos "um só povo" com uma história comum. Outros notam que chamou ao colapso da União Soviética "a maior catástrofe geo-política do século". E que Putin também disse: "Aquele que não se lembra da União Soviética não tem coração. Quem quiser que ela volte não tem cérebro. Outros citam ainda um discurso no qual declarou que "a Ucrânia moderna foi inteiramente criada pela Rússia ou, mais precisamente, pela Rússia bolchevique e comunista". Mas no mesmo discurso, falando hoje da independência da Ucrânia, Putin disse: "Claro que não podemos mudar os acontecimentos passados, mas devemos pelo menos reconhecê-los aberta e honestamente."

Para provar que Putin procura conquistar toda a Ucrânia e anexá-la à Rússia, é necessário fornecer provas de que, em primeiro lugar, considera um objectivo desejável, em segundo lugar, que considera um objectivo exequível, e terceiro, que pretende prosseguir esse objectivo. No entanto, não há provas, em fontes públicas, de que Putin o fizesse, e ainda mais pretendesse acabar com a Ucrânia como um Estado independente e integrá-la na Grande Rússia quando lançou uma operação especial na Ucrânia em 24 de Fevereiro.

Na verdade, tudo é bem o oposto. Há fortes evidências de que Putin reconhece a Ucrânia como um país independente. No seu artigo sobre as relações russo-ucranianas, datado de 12 de Julho de 2021, que os defensores da opinião popular no Ocidente muitas vezes chamam de prova das suas ambições imperiais, disse ao povo ucraniano: "Quereis criar o vosso próprio Estado? Estamos apenas a dar-lhe as boas-vindas! ». E quanto à forma como a Rússia deve tratar a Ucrânia, escreve: "Só há uma resposta: com respeito." E Putin termina este longo artigo com as seguintes palavras: "E o que a Ucrânia vai ser é o que os seus cidadãos decidirem." É difícil conciliar estas declarações com as declarações do Ocidente de que quer incluir a Ucrânia na "grande Rússia".

No mesmo artigo, datado de 12 de Julho de 2021, e novamente num importante discurso proferido por ele em 21 de Fevereiro deste ano, Putin sublinhou que a Rússia aceita "a nova realidade geo-política que se desenvolveu após o colapso da URSS". Repetiu-o pela terceira vez em 24 de Fevereiro, quando anunciou que a Rússia ia lançar a sua operação militar especial na Ucrânia. Em particular, declarou que "a ocupação do território ucraniano não faz parte dos nossos planos" e deixou claro que respeita a soberania da Ucrânia, mas apenas até certo ponto: "A Rússia não pode sentir-se segura, desenvolver-se e existir, sendo constantemente ameaçada pelo território da actual Ucrânia". Na verdade, sugere que Putin não está interessado em que a Ucrânia faça parte da Rússia. Está interessado em assegurar que isto não se torne um "trampolim" para a agressão ocidental contra a Rússia, sobre a qual vos falarei mais tarde.

Pode-se argumentar que Putin, dizem, está a mentir sobre os seus motivos, que está a tentar esconder as suas ambições imperiais. Por acaso escrevi um livro sobre mentiras na política internacional – "Why Leaders Lie: The Truth About Lies in International Politics" – e é claro para mim que Putin não está a mentir. Em primeiro lugar, uma das minhas principais conclusões é que os líderes não mentem para si mesmos muitas vezes, mentem mais vezes para o seu público. Quanto a Putin, não importa o que as pessoas pensem dele, não há provas na história de que tenha mentido a outros líderes. Embora alguns afirmem que ele mente e não é de confiança, há poucas provas de que mentiu a uma audiência estrangeira. Além disso, nos últimos dois anos, expressou publicamente o seu pensamento sobre a Ucrânia e tem sublinhado constantemente que a sua principal preocupação são as relações da Ucrânia com o Ocidente, especialmente com a NATO. Nunca insinuou que queria fazer da Ucrânia parte da Rússia. Se tal comportamento faz parte de uma campanha de enganos gigantescos, então não tem precedentes na história.

Talvez o melhor indicador de que Putin não procura conquistar e absorver a Ucrânia seja a estratégia militar que Moscovo tem usado desde o início da sua operação especial. O exército russo não tentou conquistar toda a Ucrânia. Isto exigiria uma estratégia clássica de blitzkrieg destinada a capturar rapidamente todo o território do país por forças blindadas com o apoio da aviação táctica. No entanto, esta estratégia não era viável porque o exército russo, que lançou a operação especial, tinha apenas 190.000 soldados, o que é demasiado pouco para ocupar a Ucrânia, que não é apenas o maior país entre o Oceano Atlântico e a Rússia, mas também tem uma população de mais de 40 milhões de pessoas. Não é de estranhar que os russos tenham prosseguido uma estratégia de objectivos limitados que se centrava na criação de uma ameaça para capturar Kiev, mas principalmente na conquista de uma parte significativa do território no leste e sul da Ucrânia. Em suma, a Rússia não teve a oportunidade de subjugar toda a Ucrânia, muito menos de outros países da Europa Oriental.

Como nota Ramzi Mardini (um conhecido cientista político americano, investigador sénior do influente Instituto Americano da Paz, professor na Universidade de Chicago – Aprox. Outro indicador dos objectivos limitados de Putin é a falta de provas de que a Rússia estava a preparar um governo fantoche para a Ucrânia, alimentando líderes pró-russos em Kiev, ou tomando medidas políticas que lhe permitissem ocupar todo o país e, eventualmente, integrá-lo na Rússia.

Se desenvolvermos este argumento, é de notar que Putin e outros dirigentes russos provavelmente compreenderam, a partir da experiência da Guerra Fria, que a ocupação de países na era do nacionalismo é invariavelmente uma receita para problemas intermináveis. A experiência soviética no Afeganistão é um exemplo notável, mas as relações de Moscovo com os seus aliados na Europa Oriental são mais relevantes para esta questão. A União Soviética manteve uma enorme presença militar na região e esteve envolvida na política de quase todos os países. No entanto, estes aliados eram muitas vezes um espinho do lado de Moscovo. A União Soviética reprimiu uma grande revolta na Alemanha Oriental em 1953, depois invadiu a Hungria em 1956 e a Checoslováquia em 1968 para mantê-los na sua órbita. Surgiram graves problemas na URSS e na Polónia: em 1956, 1970 e novamente em 1980-1981. Embora as autoridades polacas tenham resolvido estes problemas por si mesmas, serviram para lembrar que a intervenção soviética pode por vezes ser necessária. A Albânia, a Roménia e a Jugoslávia geralmente causaram problemas em Moscovo, mas os líderes soviéticos tendem a aturar o seu"mau" comportamento, porque a sua localização geográfica os tornava menos importantes para dissuadir a NATO.

E a Ucrânia moderna? A partir do artigo de 12 de Julho de 2021 de Putin, é claro que ele então entendeu que o nacionalismo ucraniano é uma força poderosa e que a guerra civil no Donbass, que tem vindo a decorrer desde 2014, envenenou em grande parte as relações entre a Rússia e a Ucrânia. Ele sabia, naturalmente, que o exército russo não seria recebido de braços abertos pelos ucranianos e que seria uma tarefa "hercúlea" para a Rússia subjugar a Ucrânia, mesmo que tivesse forças para conquistar todo o país, que Moscovo não tinha.

Por último, refira-se que quase ninguém afirmava que Putin tinha ambições imperiais desde o momento em que assumiu as rédeas do poder em 2000, até que a crise ucraniana irrompeu em 22 de Fevereiro de 2014. Além disso, recorde-se que o líder russo foi convidado para a cimeira da NATO, em Abril de 2008, em Bucareste, onde a aliança anunciou que a Ucrânia e a Geórgia acabariam por se tornar seus membros. As críticas de Putin a esta declaração quase não tiveram qualquer efeito sobre Washington, uma vez que a Rússia era vista como demasiado fraca para impedir a expansão da NATO, tal como era demasiado fraca para travar as ondas de expansão da aliança em 1999 e 2004.

A este respeito, é importante notar que o alargamento da NATO até Fevereiro de 2014 não se destinava a dissuadir a Rússia. Dado o estado deplorável do poder militar russo na altura, Moscovo não foi capaz de prosseguir uma política "imperial" na Europa Oriental. Na verdade, até o antigo embaixador dos EUA em Moscovo, Michael McFaul, nota que a apreensão de Putin da Crimeia não foi planeada até que a crise "Maidan" irrompeu em 2014. Foi a reacção de Putin ao golpe que derrubou o líder pró-russo da Ucrânia. Em suma, a expansão da NATO ainda não se destinava a conter a ameaça russa, mas fazia parte de uma política mais ampla de alargar a ordem internacional liberal à Europa Oriental e transformar todo o continente numa Europa "ocidental".

Foi só quando a crise de Maidan irrompeu em Fevereiro de 2014 que os EUA e os seus aliados começaram subitamente a rotular Putin como um líder perigoso com ambições imperiais, e a Rússia uma séria ameaça militar que deve ser contida. O que causou esta mudança? Esta nova retórica destinava-se a servir um propósito importante: permitir que o Ocidente culpasse Putin por desencadear a agitação na Ucrânia. E agora que esta crise de longa data se transformou numa guerra em larga escala, o Ocidente tem de garantir que Putin é o único culpado por esta catastrófica reviravolta dos acontecimentos. Este "jogo da culpa" explica porque é que Putin é hoje amplamente retratado no Ocidente como um "imperialista", embora não haja praticamente nenhuma evidência que apoie esta visão.

Permitam-me agora abordar a verdadeira causa da crise ucraniana.

A verdadeira causa dos problemas

A principal raiz da actual crise na Ucrânia são os esforços dos EUA para transformar aquele país num reduto ocidental nas fronteiras da Rússia. Esta estratégia tem três orientações: a integração da Ucrânia na UE, a transformação da Ucrânia numa democracia liberal pró-ocidental e, sobretudo, a inclusão da Ucrânia na NATO. A estratégia foi implementada na cimeira anual da NATO em Bucareste, em Abril de 2008, quando a aliança anunciou que a Ucrânia e a Geórgia "tornar-se-iam seus membros". Os líderes russos reagiram de imediato com indignação, deixando claro que viam o movimento como uma ameaça existencial e não tinham intenção de permitir a qualquer desses países aderir à NATO. De acordo com um respeitável jornalista russo, Putin "irritou-se" e avisou que "se a Ucrânia aderir à NATO, será sem a Crimeia e muitas das suas regiões orientais. Isso vai desmoronar.

William Burns, que é agora chefe da CIA e, durante a cimeira da NATO em Bucareste, foi embaixador dos EUA em Moscovo, escreveu uma nota à então Secretária de Estado Condoleezza Rice, na qual delineou sucintamente a opinião da Rússia sobre o assunto. Segundo ele: "A adesão da Ucrânia à NATO é a mais contrastante de todas as linhas vermelhas para a elite russa (e não apenas para Putin). Em mais de dois anos e meio de conversações com actores-chave russos, desde patriotas nos cantos escuros do Kremlin até aos mais duros críticos liberais de Putin, não encontrei ninguém que visse a Ucrânia na NATO como algo além de um desafio directo. Os interesses da Rússia". Segundo ele, a NATO "será considerada... Como uma estrutura militar a atirar uma luva estratégica a Moscovo. E a Rússia de hoje vai reagir. As relações russo-ucranianas vão simplesmente congelar... Isto criará terreno fértil para a interferência russa nos assuntos da Crimeia e do leste da Ucrânia. »

Burns, claro, não foi o único político que entendeu que a adesão da Ucrânia à NATO estava cheia de perigos. Com efeito, na cimeira de Bucareste, a Chanceler alemã Angela Merkel e o Presidente francês Nicolas Sarkozy opuseram-se a promover a adesão da Ucrânia à NATO, por entenderem que isso iria causar a preocupação e a raiva da Rússia. Merkel explicou recentemente o seu desacordo na altura: "Tinha a certeza absoluta... que Putin simplesmente não o permitiria. Do seu ponto de vista, seria uma declaração de guerra. »

A administração Bush, no entanto, pouco se preocupou com as "linhas vermelhas mais contrastantes" de Moscovo e pressionou os líderes da França e da Alemanha a concordarem em fazer uma declaração pública de que a Ucrânia e a Geórgia acabariam por se juntar à aliança.

Sem surpresas, os esforços liderados pelos EUA para integrar a Geórgia na NATO conduziram a uma guerra entre a Geórgia e a Rússia em Agosto de 2008 – quatro meses após a cimeira de Bucareste. No entanto, os Estados Unidos e os seus aliados continuaram a avançar os seus planos de transformar a Ucrânia num reduto ocidental nas fronteiras da Rússia. Estes esforços desencadearam finalmente uma grande crise em Fevereiro de 2014, depois de um golpe de Estado apoiado pelos EUA em Kiev ter forçado o Presidente pró-russo ucraniano Viktor Yanukovych a fugir do país. Foi substituído pelo primeiro-ministro pró-EUA, Arseniy Yatsenyuk. Em resposta, a Rússia tomou a Crimeia da Ucrânia e ajudou a desencadear uma guerra civil entre separatistas pró-russos e o governo ucraniano no Donbass, no leste da Ucrânia.

Ouve-se muitas vezes o argumento de que nos oito anos entre o início da crise, em Fevereiro de 2014, e o início da guerra, em Fevereiro de 2022, os Estados Unidos e os seus aliados pouco prestaram atenção à entrada da Ucrânia na NATO. Dizem que esta questão foi retirada da discussão e, por conseguinte, a expansão da NATO não poderia ser uma razão séria para a escalada da crise em 2021 e para o início subsequente da operação especial russa no início deste ano. Este argumento é falso. De facto, a reacção do Ocidente aos acontecimentos de 2014 tem sido redobrar os esforços na actual estratégia e aproximar ainda mais a Ucrânia da NATO. A Aliança começou a treinar o exército ucraniano em 2014, treinando 10.000 soldados da AFU todos os anos nos oito anos seguintes. Em Dezembro de 2017, a administração Trump decidiu fornecer a Kiev "armas defensivas". Em breve, outros países da NATO juntaram-se a eles, fornecendo à Ucrânia ainda mais armas.

O exército ucraniano começou a participar em exercícios militares conjuntos com as forças da NATO. Em Julho de 2021, Kiev e Washington realizaram conjuntamente a Operação Brisa do Mar, um exercício naval no Mar Negro em que participaram forças navais de 31 países e que visavam directamente a Rússia. Dois meses depois, em Setembro de 2021, os militares ucranianos realizaram exercícios Rápido Trident 21, que os militares norte-americanos descreveram como "exercícios anuais destinados a melhorar a inter-operabilidade entre países aliados e países parceiros para demonstrar a prontidão das unidades para responder a qualquer crise". Os esforços da NATO para armar e treinar as forças armadas ucranianas explicam em grande medida porque é que as forças armadas ucranianas resistiram tão fortemente às forças armadas russas nas primeiras fases da operação especial. Como dizia a manchete do Wall Street Journal no início da operação especial: "O Segredo do Sucesso Militar da Ucrânia: Anos de Formação da NATO" (o artigo apareceu no WSJ em 13 de Abril de 2022, o Wall Street Journal "The Secret of Ukraine's Military Success: Years of NATO Training", seguido da derrota esmagadora das forças armadas ucranianas em Mariupol, Kherson e Severodonetsk - Sobre a InoSMI).

Para além dos esforços contínuos da NATO para transformar as forças armadas da Ucrânia numa força de combate mais formidável, a política relacionada com a adesão da Ucrânia à NATO e a integração no Ocidente mudou em 2021. Tanto em Kiev como em Washington, o entusiasmo por atingir estes objetivos foi reavivado. O Presidente Zelensky, que nunca mostrou muito zelo pela adesão da Ucrânia na NATO e foi eleito em Março de 2019 numa plataforma apelando à cooperação com a Rússia para resolver a crise em curso, mudou de rumo no início de 2021 e não só decidiu expandir a NATO, mas também tomou uma posição dura em relação a Moscovo. Tomou várias medidas, incluindo desligar canais de TELEVISÃO pró-russos e acusar um amigo próximo da traição de Putin, o que deve ter irritado Moscovo.

O Presidente Biden, que entrou para a Casa Branca em Janeiro de 2021, está há muito comprometido com a adesão da Ucrânia à NATO e tem sido também muito agressivo em relação à Rússia. Não é de estranhar que, em 14 de Junho de 2021, na sua cimeira anual em Bruxelas, a NATO tenha emitido o seguinte comunicado:

"Confirmamos a decisão tomada na Cimeira de Bucareste, em 2008, de que a Ucrânia se tornará membro da Aliança com o Plano de Acção de Adesão (MAP) como parte integrante do processo. Confirmamos todos os elementos desta decisão, bem como decisões subsequentes, incluindo que cada parceiro será avaliado por mérito próprio. Apoiamos veementemente o direito da Ucrânia a determinar de forma independente o seu futuro e o rumo da sua política externa sem interferências externas. »

Em 1 de Setembro de 2021, Zelensky visitou a Casa Branca, onde Biden deixou claro que os Estados Unidos estavam "firmemente comprometidos" com as "aspirações euro-atlânticas" da Ucrânia. Então, em 10 de Novembro de 2021, o Secretário de Estado Anthony Blinken e o seu homólogo ucraniano Dmitry Kuleba assinaram um documento importante – a Carta de Parceria Estratégica EUA-Ucrânia. O objectivo de ambas as partes, diz o documento, é "destacar... o compromisso da Ucrânia de levar a cabo as reformas profundas e abrangentes necessárias para a plena integração nas instituições europeias e euro-atlânticas. Este documento baseia-se claramente não só nos "compromissos para fortalecer as relações estratégicas de parceria entre a Ucrânia e os Estados Unidos, proclamados pelos Presidentes Zelensky e Biden", mas também confirma o compromisso dos Estados Unidos com a "Declaração da Cimeira de Bucareste de 2008".

Em suma, poucas pessoas duvidam que, desde o início de 2021, a Ucrânia tenha começado a aproximar-se rapidamente da NATO. No entanto, alguns defensores desta política argumentam que Moscovo não deveria ter-se preocupado, porque "a NATO é uma aliança defensiva e não representa uma ameaça para a Rússia". Mas não é assim que Putin e outros líderes russos pensam sobre a NATO, e o que importa é exactamente o que pensam. Não há dúvida de que a adesão da Ucrânia à NATO permaneceu para Moscovo "a linha vermelha mais contrastante e perigosa".

Para combater esta ameaça crescente, Putin enviou um número crescente de tropas russas para a fronteira com a Ucrânia entre Fevereiro de 2021 e Fevereiro de 2022. O seu objectivo era forçar Biden e Zelensky a mudar de rumo e a pararem os seus esforços para integrar a Ucrânia no Ocidente. Em 17 de Dezembro de 2021, Moscovo enviou cartas separadas à administração Biden e à NATO exigindo garantias escritas de que: 1) A Ucrânia não aderirá à NATO, 2) armas ofensivas não serão lançadas perto das fronteiras da Rússia, 3) tropas da NATO e equipamento militar transferido para a Europa de Leste desde 1997 será devolvido à Europa Ocidental.

Durante este período, Putin fez inúmeras declarações públicas que não deixaram dúvidas de que via a expansão da NATO na Ucrânia como uma ameaça existencial. Falando perante o Conselho de Administração do Ministério da Defesa, em 21 de Dezembro de 2021, disse: "O que eles estão a fazer, tentar ou planear fazer na Ucrânia não está a acontecer a milhares de quilómetros da nossa fronteira nacional. É isso que está a acontecer à nossa porta. Eles têm de compreender que nós simplesmente não temos para onde tirar mais. Acham mesmo que não vemos estas ameaças? Ou acham que vamos ficar a olhar e a ver as ameaças crescentes à Rússia? Dois meses depois, numa conferência de imprensa em 22 de Fevereiro de 2022, poucos dias antes do início da operação especial, Putin disse: "Somos categoricamente contra a adesão da Ucrânia à NATO, porque representa uma ameaça para nós, e temos argumentos para o apoiar. Já disse isto várias vezes nesta sala. Depois, deixou claro que acreditava que a Ucrânia já se estava a tornar um membro de facto da NATO. Segundo Putin, os EUA e os seus aliados "continuam a fornecer as actuais autoridades em Kiev com tipos modernos de armas". Acrescentou que, se isso não for parado, Moscovo "vai encontrar-se sozinha com uma Anti-Rússia armada até aos dentes". Isto é completamente inaceitável.

A lógica de Putin deve ser clara para os americanos, que há muito estão comprometidos com a Doutrina Monroe de que nenhuma grande potência, mesmo distante, tem permissão para implantar as suas forças armadas no Hemisfério Ocidental.

Gostaria de salientar que, em todas as declarações públicas de Putin nos meses que antecederam a operação especial, não há provas mínimas de que ele ia tomar a Ucrânia e integrá-la na Rússia, muito menos atacar outros países da Europa Oriental. Outros líderes russos, incluindo o Ministro da Defesa, o Ministro dos Negócios Estrangeiros, o Vice-Ministro dos Negócios Estrangeiros e o Embaixador russo em Washington, também sublinharam o papel fundamental da expansão da NATO no surgimento da crise ucraniana. O Ministro dos Negócios Estrangeiros, Sergey Lavrov, colocou isto sucintamente numa conferência de imprensa em 14 de Janeiro de 2022, quando disse: "A chave para tudo é garantir que a NATO não se expanda para Leste".

No entanto, as tentativas de Lavrov e Putin de forçar os EUA e os seus aliados a abandonarem as tentativas de transformar a Ucrânia num reduto ocidental na fronteira com a Rússia falharam completamente. O Secretário de Estado Anthony Blinken respondeu aos pedidos da Rússia em meados de Dezembro, dizendo simplesmente: "Não há mudanças. Não haverá alterações. Em seguida, Putin lançou uma operação especial na Ucrânia para eliminar a ameaça que viu da NATO.

Onde estamos hoje e para onde vamos?

As operações militares na Ucrânia duram há quase quatro meses. Gostaria de fazer algumas observações sobre o que aconteceu até agora e para onde a guerra pode ir. Centrar-me-iei em três questões específicas: 1) as consequências da guerra para a Ucrânia, 2) as perspectivas de escalada - incluindo a escalada nuclear, 3) as perspectivas de pôr fim à guerra num futuro previsível.

Esta guerra é uma verdadeira catástrofe para a Ucrânia. Como já referi, Putin deixou claro em 2008 que a Rússia destruiria a Ucrânia para evitar a sua adesão à NATO. Cumpre esta promessa. As tropas russas capturaram 20% do território ucraniano e destruíram ou danificaram gravemente muitas cidades e aldeias ucranianas. Mais de 6,5 milhões de ucranianos deixaram o país e mais de 8 milhões tornaram-se deslocados internos. Vários milhares de ucranianos, incluindo civis inocentes, foram mortos ou gravemente feridos, e a economia ucraniana atravessa uma profunda crise. De acordo com as estimativas do Banco Mundial, a economia da Ucrânia contrairá cerca de 50% em 2022. De acordo com especialistas, a Ucrânia foi danificada em cerca de 100 biliões de dólares, e levará cerca de um bilião de dólares para restaurar a economia do país. Agora Kiev precisa de cerca de 5 biliões de dólares em ajuda todos os meses só para manter o governo a funcionar.

Parece que, num futuro próximo, a Ucrânia poderá restabelecer a utilização dos portos no Mar de Azov e no Mar Negro. Antes da guerra, cerca de 70% de todas as exportações e importações ucranianas e 98% das exportações de cereais passaram por estes portos. Esta é a situação actual depois de menos de 4 meses de combates. É assustador imaginar como será a Ucrânia se esta guerra se arrastar por mais alguns anos.

Quais são então as perspectivas de concluir um acordo de paz e pôr fim à guerra nos próximos meses? Infelizmente, pessoalmente, não vejo a possibilidade de esta guerra acabar num futuro próximo. E esta opinião é partilhada por políticos proeminentes como o General Mark Milley, presidente do Estado-Maior Conjunto dos EUA, e o Secretário-Geral da NATO, Jens Stoltenberg. A principal razão para o meu pessimismo é que a Rússia e os Estados Unidos estão profundamente empenhados no objectivo de vencer a guerra, e é impossível chegar a um acordo em que ambas as partes ganhem agora. Concretamente, a chave para a resolução do ponto de vista da Rússia é a transformação da Ucrânia num Estado neutro, o que porá termo à perspectiva da integração de Kiev no Ocidente. Mas tal desfecho é inaceitável para a administração Biden e uma parte significativa do establishement de política externa dos EUA, uma vez que significaria uma vitória para a Rússia.

A liderança ucraniana tem, naturalmente, alguma liberdade de acção, e é de esperar que possam adoptar a neutralidade a fim de salvar o seu país de mais destruição. Na verdade, Zelensky mencionou brevemente esta possibilidade nos primeiros dias da operação especial, mas nunca desenvolveu seriamente esta ideia. No entanto, é pouco provável que Kiev possa aceitar a neutralidade, porque os ultra-nacionalistas da Ucrânia, que têm um poder político significativo, não estão interessados em ceder a pelo menos uma exigência russa, especialmente aquela que dita a orientação política da Ucrânia nas relações com o mundo exterior. A administração Biden e os países do flanco oriental da NATO, como a Polónia e os Estados bálticos, são susceptíveis de apoiar os ultra-nacionalistas ucranianos nesta questão.

A questão do que fazer com as vastas áreas do território ucraniano que a Rússia conquistou desde o início da guerra, bem como o que fazer com a Crimeia, complica muito a situação. É difícil imaginar que Moscovo abandonaria voluntariamente qualquer dos territórios ucranianos que actualmente ocupa, e ainda mais de toda a parte conquistada da Ucrânia, uma vez que os actuais objectivos territoriais de Putin são provavelmente diferentes dos que prosseguia antes do início da operação especial. Ao mesmo tempo, é igualmente difícil imaginar que um líder ucraniano aceitaria um acordo que permitisse à Rússia manter qualquer território ucraniano, com a possível excepção da Crimeia. Espero estar enganado, mas é precisamente por estas razões que não vejo o fim deste conflito militar destrutivo.

Permitam-me, agora, abordar a questão da sua possível escalada. É amplamente reconhecido entre os estudiosos internacionais que há uma forte tendência para intensificar guerras prolongadas. Com o tempo, outros países são geralmente envolvidos na luta e o nível de violência aumenta. A probabilidade de isto acontecer na guerra na Ucrânia é real. Existe o risco de os EUA e os seus aliados da NATO serem arrastados para hostilidades, que até agora conseguiram evitar, embora já estejam a travar uma guerra indirecta por procuração contra a Rússia. É também possível que sejam utilizadas armas nucleares na Ucrânia, o que poderá mesmo conduzir a uma troca de ataques nucleares entre a Rússia e os Estados Unidos. A principal razão para isso acontecer é que as apostas do conflito ucraniano na sua refracção mundial provaram ser tão elevadas para ambas as partes que nenhum deles pode dar-se ao luxo de perder.

Como já referi, Putin e os seus assessores acreditam que a adesão da Ucrânia ao Ocidente representa uma ameaça existencial à Rússia que tem de ser eliminada. Na prática, isto significa que a Rússia tem de ganhar a guerra na Ucrânia. A derrota é inaceitável para Moscovo. A administração Biden, por outro lado, sublinhou que o seu objectivo não é apenas infligir uma derrota decisiva à Rússia na Ucrânia, mas também infligir enormes danos à economia russa com a ajuda de sanções. O Secretário da Defesa, Lloyd Austin, sublinhou que o objectivo do Ocidente é enfraquecer a Rússia de tal forma que não possa regressar à Ucrânia. Na verdade, a administração Biden está a tentar eliminar a Rússia das grandes potências. O próprio Presidente Biden classificou a guerra da Rússia na Ucrânia como um "genocídio" e acusou Putin de ser um "criminoso de guerra" que, após a guerra, deveria ser julgado por "crimes de guerra". Esta retórica dificilmente se adequa às negociações sobre o fim da guerra. Afinal, como se negoceia com um Estado que comete genocídio?

A política americana tem duas consequências importantes. Em primeiro lugar, aumenta consideravelmente a ameaça existencial que Moscovo enfrenta nesta guerra e torna a sua vitória na Ucrânia mais importante do que nunca. Ao mesmo tempo, esta política dos EUA significa que os EUA estão profundamente empenhados na perda da Rússia. A administração Biden investiu tanto na sua guerra por procuração na Ucrânia - material e retoricamente - que uma vitória russa significaria uma derrota esmagadora para Washington.

Obviamente, ambos os lados não podem ganhar ao mesmo tempo. Além disso, existe uma forte possibilidade de que uma das partes comece em breve a perder fortemente. Se a política dos EUA for bem sucedida e os russos perderem para os ucranianos no campo de batalha, Putin poderá usar armas nucleares para salvar o dia. Em Maio, o director da Inteligência Nacional dos EUA, Evril Haines, disse ao Comité das Forças Armadas do Senado que esta era uma das duas situações que poderia levar Putin a usar armas nucleares na Ucrânia. Para aqueles que pensam que isto é improvável, lembrem-se que a NATO planeou utilizar armas nucleares em circunstâncias semelhantes durante a Guerra Fria. É impossível prever agora como a administração Biden reagiria se a Rússia usasse armas nucleares na Ucrânia. Mas uma coisa é certa: Washington estará sob forte pressão e tentado a retribuir a Rússia, o que aumentará a probabilidade de uma guerra nuclear entre as duas grandes potências. Há aqui um paradoxo perverso: quanto mais bem sucedidos forem os Estados Unidos e os seus aliados na consecução dos seus objetivos, maior é a probabilidade de a guerra se tornar nuclear.

Vamos virar a mesa e perguntar o que acontece se os EUA e os seus aliados da NATO se dirigem para a derrota, o que acontece se os russos derrotarem o exército ucraniano, e o Governo de Kiev negociar um acordo de paz destinado a salvar o mais possível a parte restante da Ucrânia. Neste caso, os Estados Unidos e os seus aliados sentir-se-ão tentados a participar ainda mais nos combates. É improvável, mas é totalmente possível que as tropas americanas ou polacas estejam envolvidas nas hostilidades, o que significa que a NATO estará em guerra com a Rússia no sentido literal da palavra. Segundo Evril Haines, este é outro cenário em que os russos podem recorrer às armas nucleares. É difícil dizer exactamente como os acontecimentos irão evoluir se este cenário for implementado, mas não há dúvida de que existe um grande potencial de escalada, incluindo a escalada nuclear. A própria possibilidade de tal resultado deve dar-nos a todos arrepios.

É provável que esta guerra tenha outras consequências desastrosas, que não posso discutir em pormenor por falta de tempo. Por exemplo, há razões para crer que a guerra conduzirá a uma crise alimentar mundial em que vários milhões de pessoas irão morrer. O presidente do Banco Mundial, David Malpass, diz que se a guerra na Ucrânia continuar, enfrentaremos uma crise alimentar mundial que se tornará uma "catástrofe humanitária".

Além disso, as relações entre a Rússia e o Ocidente estão tão severamente envenenadas que levará anos a restaurá-las. E esta profunda hostilidade alimentará a instabilidade em todo o mundo, mas especialmente na Europa. Alguém dirá que há um lado positivo: as relações entre os países ocidentais melhoraram significativamente devido ao conflito na Ucrânia. Mas isto só é verdade por enquanto. Mesmo agora há fracturas profundas sob a superfície da unidade ocidental exterior, e com o tempo elas vão declarar-se urgente e dolorosamente. Por exemplo, é provável que as relações entre os países da Europa Oriental e Ocidental se deteriorem à medida que a guerra se arrasta, uma vez que os seus interesses e pontos de vista sobre o conflito não coincidem.

Por último, o conflito já está a causar graves prejuízos à economia mundial e, com o tempo, é provável que esta situação se agrave seriamente. Jamie Diamond, CEO do JPMorgan Chase, disse que devíamos preparar-nos para um "furacão" económico. Se tiver razão, então a actual turbulência económica afectará a política de todos os países ocidentais, minará a democracia liberal e reforçará os seus opositores à esquerda e à direita. As consequências económicas do conflito ucraniano afectarão países de todo o mundo e não apenas o Ocidente. De acordo com um relatório da ONU divulgado na semana passada, "as consequências do conflito irão estender o sofrimento humano muito para além das suas fronteiras. A guerra em todos os seus aspectos agravou uma crise mundial sem precedentes, pelo menos para a actual geração, pondo em risco vidas, meios de subsistência e as nossas aspirações a um mundo melhor nos anos 2030.

Conclusão

Simplificando, o conflito em curso na Ucrânia é uma catástrofe colossal que, como fiz notar no início da minha intervenção, obrigará as pessoas de todo o mundo a procurarem as suas causas. Aqueles que acreditam em factos e lógicas descobrirão em breve que os Estados Unidos e os seus aliados são os principais responsáveis por este descarrilamento do nosso comboio comum. A decisão tomada em Abril de 2008 sobre a adesão da Ucrânia e da Geórgia à NATO pretendia conduzir a um conflito com a Rússia. A administração Bush foi o principal arquitecto desta escolha fatídica, mas as administrações de Obama, Trump e Biden intensificaram e agravaram esta política a cada momento, e os aliados americanos seguiram obedientemente Washington. Apesar de os líderes russos terem deixado claro que a adesão da Ucrânia à NATO significaria atravessar as "linhas vermelhas mais contrastantes" da Rússia, os EUA recusaram-se a abordar as profundas preocupações de segurança da Rússia e, em vez disso, agiram incansavelmente para transformar a Ucrânia num reduto ocidental na fronteira com a Rússia.

A trágica verdade é que, se o Ocidente não tivesse procurado expandir a NATO para a Ucrânia, é pouco provável que uma guerra se tivesse desenrolado hoje na Ucrânia, e a Crimeia provavelmente continuaria a fazer parte da Ucrânia. De facto, Washington desempenhou um papel central na condução da Ucrânia no caminho da destruição. A História condenará duramente os Estados Unidos e os seus aliados pela sua política surpreendentemente estúpida em relação à Ucrânia.

Obrigado.

SAIBA MAIS SOBRE O ASSUNTO:

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Fonte: L’HISTOIRE JUGERA LES ÉTATS-UNIS ET LEURS ALLIÉS – JOHN J. MEARSHEIMER – les 7 du quebec

Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice




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