776-06/07/2022
A cimeira da NATO realizada em Madrid de 28 a 30 de Junho marca uma aceleração
do seu fortalecimento ofensivo, uma vez que esta aliança procura apresentar-se
como puramente defensiva.
Recordemos as intervenções nos países da ex-Jugoslávia e, em especial, na guerra do Kosovo contra a Sérvia, onde 600 aviões da NATO bombardearam a Sérvia, o Montenegro e o Kosovo, matando 10 000 pessoas. Foi nesta ocasião que os líderes da NATO cunharam o conceito de "guerra humanitária" e "ataques cirúrgicos". Depois, houve as intervenções no Afeganistão de 2001 a 2015, que resultaram em centenas de milhares de mortes e, finalmente, a agressão contra a Líbia, em 2011, mergulhou este país no caos.
Os trinta Estados membros da organização juntaram-se à Austrália, Coreia do Sul, Japão e Nova Zelândia. A União Europeia esteve representada e a Ucrânia, através do seu Presidente, interveio. A presença dos países indo-Pacífico aliados aos Estados Unidos nesta cimeira está obviamente longe de ser trivial, reflecte a importância que os Estados Unidos atribuem a esta região e a sua vontade de organizar uma aliança militar para contrariar a ascensão da China. As autoridades chinesas não se enganaram ao condenarem a vontade dos Estados Unidos de construir uma NATO asiática cujo inimigo claramente designado é precisamente a China!
O ponto central da Cimeira de Madrid é a adopção de um novo conceito estratégico para os próximos dez anos.
Após o fim da URSS e a dissolução do Pacto de Varsóvia, a NATO perdeu o seu objectivo original, nomeadamente a luta contra a URSS. A assinatura, em 1997, da Lei Fundadora das Relações de Segurança Mútua e Cooperação conduziu a uma mudança na percepção da Rússia como aliada, e a cooperação foi canalizada através do Conselho Conjunto Permanente. As relações arrefeceram após a intervenção da Aliança no Kosovo e a expansão gradual da Organização para o Leste, que a Rússia vê como uma atitude agressiva e existencial para ela. Existem altos e baixos, especialmente após a invasão da Geórgia pelas tropas russas em 2007, mas mesmo na cimeira da NATO em Lisboa, em 2010 – com a presença do Presidente russo Dmitry Medvedev –, foi assinada uma declaração conjunta, anunciando o início de uma nova era de cooperação através da criação de um espaço comum de paz, segurança e estabilidade na zona euro-atlântica. Esta fase foi de curta duração porque, após o golpe de Maidan e a expulsão de Victor Yanukovych, a Rússia lançou a sua ofensiva contra a Ucrânia – que consagrou a sua adesão à NATO na sua constituição – através da anexação da Crimeia, do apoio russo às forças separatistas no Donbass e da criação das Repúblicas Populares de Donetsk e Luhansk, e, finalmente, a invasão da Ucrânia.
A Cimeira de Madrid ficou, portanto, marcada pela guerra na Ucrânia. Assim, a NATO considera agora explicitamente a Rússia no seu oitavo Conceito Estratégico como "a ameaça mais importante e directa à segurança dos aliados, à paz e à estabilidade na zona euro-atlântica". O Ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, descreveu como um regresso à Guerra Fria.
O novo Conceito Estratégico da NATO, ao designar a Rússia como seu inimigo na Europa, deixa bem claro que o principal adversário é, de facto, a China: A novidade do conceito é a referência à China – que nem sequer foi referida no anterior conceito de Lisboa: "A China usa uma vasta gama de ferramentas políticas, económicas e militares para aumentar a sua presença mundial e projectar o seu poder, mantendo-se opaca sobre a sua estratégia militar, intenções e desenvolvimento. As suas operações híbridas e cibernéticas maliciosas e a retórica de confrontos e de desinformação visam os aliados e minam a segurança da Aliança." A NATO alerta que Pequim "procura controlar os principais sectores tecnológicos e industriais, infra-estruturas críticas, bem como materiais estratégicos e cadeias de abastecimento. Usa a sua alavanca económica para criar dependências estratégicas e aumentar a sua influência. Procura derrubar a ordem internacional baseada nas regras, nomeadamente nos campos espaciais, cibernéticos e marítimos. O aprofundamento da parceria estratégica estabelecida entre a República Popular da China e a Federação Russa, e as suas tentativas de fortalecer-se mutuamente com o objetivo de minar a ordem internacional baseada nas regras, vão contra os nossos valores e interesses."
Esta abordagem estratégica tem as consequências práticas do reforço quantitativo e qualitativo das capacidades militares da Aliança.
• Reforço duplicando a
presença permanente das forças da NATO na região de guerra da Europa Oriental.
• Extensão da acção da
aliança NATO – sozinha ou com estados que colaboraram – em todo o planeta, como
no Indo-Pacífico, que se desvia de uma região que ocupa um lugar especial na
rivalidade entre os Estados Unidos e a China.
• Promoção do
alargamento da NATO, com a adesão da Suécia e da Finlândia numa primeira fase,
com o objetivo de cercar ainda mais a Rússia.
• Modernização do
arsenal convencional e nuclear, com novos programas de armamento, para os quais
os povos serão chamados a pagar.
• Aumento dos orçamentos
militares de todos os Estados-Membros.
A
Cimeira de Madrid vê assim o reforço da aliança imperialista que é a NATO num
contexto de agudização dos confrontos no sistema capitalista mundial e da qual
a guerra na Ucrânia, que vê o imperialismo euro-atlântico dominado pelos
Estados Unidos e a Federação Russa em confronto nas costas do povo ucraniano, é
o testemunho mais actual.
Os povos nada têm nada a esperar desses confrontos que mergulham a Europa e o mundo em crises que podem ir até um abraço generalizado. O caminho da luta pelo socialismo, a cooperação das nações e povos libertados do capitalismo é, portanto, o único caminho possível para uma paz duradoura e sólida na Europa e no mundo. No futuro imediato, a guerra deve terminar e as forças da paz devem apoiar fortemente a necessidade de desarmamento, a dissolução de todos os pactos militares e a construcção de uma segurança colectiva para todas as nações.
Partido Comunista Revolucionário
Fonte: Sommet de l’OTAN à Madrid : Renforcement d’une alliance impérialiste offensive! – les 7 du quebec
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis
Júdice
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