segunda-feira, 14 de novembro de 2022

Jornalista activista voluntário

 


 14 de Novembro de 2022  Olivier Cabanel  

OLIVIER CABANEL — Ser jornalista activista não é apenas investigar, mas sobretudo trabalhar para que as suas informações sejam conhecidas pelo maior número possível de pessoas.

 


Como todos sabem, foram feitas em vão tentativas para nos fazer crer que a poluição de Chernobil não tinha atravessado a fronteira francesa.

Pouco depois do acidente, Michele Rivasi, com cerca de trinta outros cientistas, tinha angariado uma grande soma de dinheiro para criar um laboratório analítico independente capaz de medir a radioactividade contida nos alimentos.

Este grupo, sob o nome de CRIIRAD tinha começado a especialização em 1986 e, tal como na altura, a sua sede era em Montélimar, os produtos analisados provinham principalmente do Drôme.

As análises que mostram que o césio-134 e o 137 de Chernobil tinham alimentos contaminados foram enviados à imprensa, que, naturalmente, as ecoou.

Só que do que os jornalistas se lembravam era que o Drôme estava poluído, para não falar de todos os outros departamentos.

Conheci Michelle Rivasi pouco depois do acidente de Chernobil, convidando-a a comentar um filme, O Chernobyl Tocsin, que tínhamos apresentado em Isère.

Ela perguntou-me se eu podia ajudá-la a provar que esta radioactividade não se tinha limitado ao Drôme.

Fui recolher cogumelos, deliberadamente escolhendo trompetes da morte, uma vez que a palavra morte estava nele, e o cogumelo também evocava o das bombas nucleares.

Estes fungos eram conhecidos pela sua capacidade de concentrar a radioactividade.

Enviei estes cogumelos ao CRIIRAD para análise e, pouco depois, recebi o veredicto:

Tinham 1.841 bequerels por quilo, enquanto a norma recomendava não ultrapassar os 600 bcq para adultos e 340 para crianças.

Contactei então a agência local do Dauphiné Libéré, e informei o editor-chefe desta informação, reservando-lhes o furo durante 48 horas.

À tarde, um jornalista ligou-me de Lyon para marcar uma encontro.

Logo que esteve na posse de todas as provas, arquivo laboratorial na mão, tirou uma foto dos cogumelos e publicou a informação na primeira página de todas as edições Rhône-Alpes deste jornal.

O título do artigo era: "Trompetes da morte, cautela."

A única condição que eu tinha definido foi a de que o nome e o telefone do laboratório CRIIRAD fossem indicados no final do artigo.

O resultado superou todas as minhas expectativas, uma vez que uma equipa regional de televisão chegou mesmo a filmar estas famosas trombetas.

Foi a bola de neve, e toda a imprensa fez eco.

Pedidos de especialização entregues ao CRIIRAD.

Logo foram fornecidas provas de contaminação de todos os departamentos Rhône-Alpes.

Pouco depois, fui contactado por Que Choisir que me pediu para o ajudar a fazer uma edição especial sobre as consequências de Chernobyl nos nossos produtos alimentares.

Por conseguinte, esta revista encomendou múltiplas competências em alimentos de todas as regiões francesas e, quando a questão saiu, todos poderiam finalmente saber a verdade completa.

É verdade que tive sorte, porque o Le Dauphiné  podia muito bem não ter publicado a informação que eu tinha dado, e não há nada a garantias de que outros jornais o teriam feito.

Hoje, graças à internet, este tipo de acção é mais fácil, mesmo que por vezes, como é o caso do óleo contaminado (ver o meu artigo "Ponha óleo? Definitivamente não! "), há dificuldades em sensibilizar o público.

Porque, como dizia um velho amigo africano:

"Qualquer um que provoque um ninho de vespas deve saber correr."

 


Fonte: Journaliste militant bénévole – les 7 du quebec

Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice




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