10 de Novembro de 2022 Robert Bibeau
By Pépé Escobar − Outubro 2022 -
Source Unz Review
Os oficiais imperiais, mesmo com
conhecimentos diplomáticos, continuam a afirmar descaradamente o seu controlo
excepcionalista sobre o mundo.
Se não fosse esse o caso, os
concorrentes poderiam surgir e roubar-lhes a ribalta – monopolizada pela
oligarquia norte-americana. Seria um anátema absoluto, claro.
O modus operandi do Império contra os seus concorrentes geo-políticos e geo-económicos
continua o mesmo: avalanches de sanções, embargos, bloqueios económicos,
medidas proteccionistas, denúncia cultural, ressurgimento militar em nações
vizinhas e uma variedade de ameaças. Mas, acima de tudo, a retórica belicista –
actualmente levada a extremos febris.
O hegemon pode ser "transparente",
pelo menos no seu domínio, porque ainda controla uma rede maciça de
instituições, organismos financeiros, políticos, capitães da indústria,
agências de propaganda e a indústria da cultura pop. Daí esta insolência
confusa de suposta invulnerabilidade.
Pânico no "jardim"
A explosão dos
gasodutos Nord Stream (NS) e Nord
Stream 2 (NS2) – todos sabem quem o fez, mas o suspeito não pode ser nomeado – fez
passar ao estádio seguinte o projecto de supressão da energia russa de baixo
custo e à
destruição da economia alemã. Veja https://queonossosilencionaomateinocentes.blogspot.com/2022/09/alemanha-em-crise-um-modelo-economico.html
e isto https://queonossosilencionaomateinocentes.blogspot.com/2022/04/o-que-aconteceria-se-alemanha-cortasse.html
Do ponto de vista
imperial, o enredo ideal seria o advento de um intermarium controlado pelos EUA
– do Báltico e do Adriático ao Mar Negro – liderado pela Polónia, que exerceria
a sua hegemonia sobre a Europa, após o anúncio da Iniciativa Dos Três Mares.
Mas, ao que parece, continuará a ser um sonho húmido.
Quanto à investigação errada sobre o que realmente aconteceu com a NS1 e a
NS2, a Suécia desempenha o papel de Faxineiro, como se fosse a última parte do
thriller criminal de Quentin Tarantino, Pulp Fiction.
É por isso que os
resultados desta "investigação" não podem ser
partilhados com a Rússia. O Faxineiro estava lá para apagar todas as provas
incriminatórias.
Da mesma forma, os alemães concordaram em serem emboscados por vontade
própria. Berlim gritou sabotagem, mas não se atreveu a dizer por quem.
Torna-se tão sinistro, porque a Suécia, a Dinamarca, a Alemanha e toda a
Europa sabem que, se confrontarem publicamente o Império, o Império
contra-atacará, fabricando uma guerra em solo europeu. Trata-se de uma questão
de medo e, obviamente, não é o medo da Rússia.
O Império simplesmente
não se pode dar ao luxo de perder o "jardim". E as elites do "jardim" com QI acima da
temperatura ambiente sabem que estão a lidar com uma entidade psicopata em
série que simplesmente não pode ser apaziguada.
Entretanto, a chegada
do Inverno Geral à Europa anuncia uma descida socio-económica a um turbilhão de
trevas – inimaginável há poucos meses no suposto jardim da humanidade, tão
longe dos rumores da "selva".
Bem, a partir de
agora, a barbárie começará em casa. E por isso, os europeus terão de agradecer
ao "aliado" americano por
ter manipulado de forma delicada as elites da UE aterrorizadas e vassalizadas.
Muito mais perigoso, porém, é um espectro que poucos podem identificar: a
iminente síriação da Europa. Esta será uma consequência directa do desastre da
NATO na Ucrânia.
Do ponto de vista imperial, as perspectivas no campo de batalha ucraniano
são sombrias, no mínimo. A Operação Militar Especial (OMS) transformou-se numa
Operação Contra o Terrorismo (OCT): Moscovo chama agora Kiev de regime
terrorista. O mostrador táctil da dor aumenta gradualmente, através de
sucessivos ataques cirúrgicos contra a infraestrutura eléctrica de Kiev, ao
ponto de mutilar completamente a sua economia e o exército. E a partir de Dezembro,
será necessário contar com a chegada à frente e nas linhas traseiras de parte
do contingente russo, devidamente treinado e altamente motivado.
Portanto, a única questão é o momento. Moscovo está agora lentamente, mas
certamente a decapitar o representante de Kiev, e a esmagar a unidade da NATO
terminalmente.
A operação metódica de tortura da Europa é implacável. E o mundo real fora
do Ocidente Colectivo – o Sul Mundial – está com a Rússia, da África e da
América Latina à Ásia Ocidental, e até mesmo partes da UE.
É Moscovo – e,
significativamente, não Pequim – que está a destruir a hegemonia
carimbada como
"Ordem Internacional Baseada na Lei", mantida pelos
seus recursos naturais, doações alimentares e segurança fiável.
E em coordenação com a China, o Irão e todos os participantes euroasiáticos,
a Rússia está finalmente a trabalhar para desfazer todas as organizações
internacionais controladas pelos EUA – uma vez que o Sul Mundial praticamente
se imuniza da propagação das operações de guerra psicológica da NATO.
A Síriação da Europa
No campo de batalha ucraniano, a cruzada da NATO contra a Rússia está
condenada ao fracasso – embora até 80% das forças em infraestruturas
militares-chave sejam pessoal da NATO. Wunderwaffen (“super-armas” – NdT) como os
HIMARS são extremamente raras. E de acordo com os resultados da eleição
intercalar nos EUA, o fornecimento de armas vai secar em 2023.
A Ucrânia, na Primavera de 2023, será provavelmente reduzida a nada mais do
que um buraco negro numa fase de empobrecimento acelerado. O plano A do Império
continua a ser a afeganistização: liderar um exército mercenário capaz de
atingir a desestabilização e/ou incursões terroristas na Federação Russa.
Ao mesmo tempo, a Europa está repleta de bases militares norte-americanas.
Todas estas bases poderão desempenhar o papel principal do campo de terror
– tal como na Síria, com o Al-Tanf e o leste do Eufrates. Os EUA perderam a
longa guerra por procuração contra a Síria – onde instrumentalizou os jiadistas
– mas ainda não foram despedidos.
Durante o processo de síriaização da Europa, as bases militares dos EUA
podem idealmente tornar-se centros de regimentos e/ou esquadrões de formação de
imigrantes da Europa oriental cuja única oportunidade profissional, para além
do tráfico de droga e de órgãos, será – o que mais? – tornar-se mercenários
imperiais, prontos a lutar contra qualquer epicentro da desobediência civil em
toda a Europa empobrecida.
Escusado será dizer que este Novo Modelo de Exército será ratificado pela
Eurocracia de Bruxelas – quase o órgão de relações públicas da NATO.
Uma UE
desindustrializada, enredada em várias camadas de guerras internas tóxicas, com
a NATO a desempenhar o seu papel de Robocop, é um perfeito cenário Mad Max
justaposto ao que seria, pelo menos nos sonhos dos straussianos/neo-conservadores
norte-americanos, um arquipélago de prosperidade: a economia norte-americana,
que se tornou o destino ideal para o Capital Mundializado, incluindo a capital
da Europa.
O Império perderá o seu projecto favorito, a Ucrânia. Mas nunca aceitará perder o "jardim" europeu.
Pepe Escobar
Traduzido por Matilde, revisto por Hervé para o Saker Francophone
Fonte: La «guerre de la terreur» est sur le point de frapper l’Europe (P. Escobar) – les 7 du quebec
Este artigo
foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice
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