terça-feira, 16 de janeiro de 2024

Lena Merhej: Contra o manto do secretismo, um olhar de reprovação ao pensamento politicamente correcto

 


16 de Janeiro de 2024  René Naba  

RENÉ NABA — Este texto é publicado em parceria com a www.madaniya.info.

A Shireen Abu Akleh In Memoriam


Shireen Abu Akleh, jornalista palestiniana nascida a 3 de Abril de 1971 em Jerusalém, foi assassinada pelo exército israelita a 11 de Maio de 2022, quando exercia as suas funções em Jenin (Cisjordânia ocupada). A acumulação de barbárie com rosto humano, suicida para Israel, fará um dia desaparecer o manto de silêncio que quer sufocar a Palestina.

Lena Merhej: Contra o manto do secretismo, um olhar de reprovação ao pensamento politicamente correcto

Uma artista rebelde optou por utilizar a caricatura para denunciar o pensamento politicamente correcto que se abate progressivamente sobre a França relativamente à luta do povo palestiniano contra a ocupação israelita e, no Líbano, contra o cordão sanitário estabelecido em torno da mafiocracia libanesa.

Decidiu lançar a sua revolta a partir de Marselha, um dos focos do pensamento politicamente correcto francês, onde tanto o Reitor de Aix Marselha como o presidente da câmara socialista da cidade, Benoit Payan, decidiram proibir uma conferência sobre o tema altamente explosivo de "Israel, Estado de Apartheid", enquanto, ao mesmo tempo, o bispado de Versalhes fazia o mesmo e o canal de televisão France 24 decidia expurgar dos seus quadros todos os jornalistas do serviço de língua árabe que fossem supostamente pró-palestinianos... na sequência de uma informação de um Website americano.

§  À atenção dos censores, veja este link: https://www.madaniya.info/2018/06/20/le-pillage-du-patrimoine-cinematograhique-palestinien-par-l-armee-israelienne/

A artista não é uma novata. Já se tinha tornado conhecida com um anuário sobre o seu país natal, o Líbano. Nele, denunciava o belicismo escandaloso dos seus compatriotas libaneses, com o título devastador Je pense qu'à la prochaine guerre on sera mieux préparé (2006) (penso que na próxima guerra estaremos melhor preparados).

Foi um teste que se revelou um golpe de mestre, e o seu primeiro anuário tornou-se o livro mais vendido no Líbano em 2007.

O seu nome é Lena Merhej, nascida em Beirute no início da segunda guerra civil libanesa, filha de mãe alemã e pai libanês.

Com uma licenciatura em arte e design gráfico, tornou-se ilustradora de livros infantis e bandas desenhadas. Desde então, escreveu e ilustrou mais de vinte livros infantis no mundo árabe e fez parte da equipa fundadora da Samandal, a primeira fanzine (aglutinação de fã e magazine – NdT) e editora de banda desenhada do mundo árabe.

A guerra é um tema recorrente na sua criação artística. Para além de "Je pense qu'à la prochaine guerre on sera mieux préparé" (2006), o seu filme de animação Dessiner la guerre (Desenhar a guerra) ganhou o Prémio do Júri no Festival de Nova Iorque.

Manuseando o humor com delicadeza, Lena ganhou outro prémio em 2013, atribuído pelo FIBDA pela sua obra "Laban et confiture, ou comment ma mère est devenue libanaise" (Labão e compota, ou como a minha mãe se tornou libanesa).

Depois de ter leccionado ilustração e animação na Universidade Americana de Beirute (AUB), dedicou-se à publicação da sua tese sobre "A narrativa da guerra na banda desenhada libanesa", que acaba de defender na Universidade Jacobs, na Alemanha.

Lena publicou uma banda desenhada sobre os palestinianos intitulada "Salam" (Paz). Um programa e tanto. Também organiza sessões de formação em desenho por teleconferência para jovens palestinianos em Gaza e Oum Fahoum. Uma verdadeira geradora de ondas.

Actualmente, está a trabalhar numa banda desenhada intitulada "Le génie de Beyrouth" (“O génio de Beirute”), que será publicada pelas Éditions Dargaud.

 

Fonte: Lena Merhej: Contre la chape de plomb, un pied de nez à la bienpensance – les 7 du quebec

Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice




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