Do comunista revolucionário Pedro Pacheco, da Ilha de S. Miguel,
nos Açores, recebi o documento abaixo transcrito, cuja leitura, quando decorre
a denúncia de mais um episódio de corrupção política – desta feita na Região
Autónoma da Madeira – é fundamental para que se compreenda qual a visão dos
marxistas, dos comunistas, dos proletários internacionalistas, sobre este
fenómeno e quais as saídas para o mesmo.
Luis Júdice
(A quem ler o que se segue)
Entrego o que resolvi escrever a propósito da corrupção.
E espero que não leve a mal falar também do que talvez seja a
questão mais candente e também a mais confundida dos dias de hoje.
É muito curioso observar que para uns o dinheiro é a coisa
melhor que existe. No entanto para outros o dinheiro é a fonte de todos os
males deste mundo.
Mas o que é o dinheiro?
O dinheiro é aquela coisa que troca com qualquer coisa. O
dinheiro durante a sua longa história já tomou as mais diversas formas. No
Egipto antigo, há mais de três mil anos, o cobre era essa coisa que com tudo
trocava. Era ao peso que essa moeda funcionava e tinha de se andar com balança
para proceder à compra e à venda. O sal também foi em muitas circunstâncias
históricas a moeda de troca. Daí, aliás, vem a palavra salário. A dada altura
começou-se a cunhar os metais com figurações representando mercadorias de
referência, o retrato do rei ou do imperador e a identificação do valor da
moeda.
O dinheiro só se tornou capital com as revoluções burguesas.
Houve a chamada acumulação primitiva de que Portugal foi nos séculos quinze e
dezasseis pioneiro da mundialização que o conhecimento geográfico mútuo entre
continentes originou. Mas é só no século dezassete, em Inglaterra, finais do
século dezoito em França, em Portugal no século dezanove e concomitante ou
sucessivamente nos restantes países do mundo que a classe burguesa se impôs
económica, militar e politicamente tal como é observável hoje.
O que distingue capital de dinheiro é o facto do capital indexar
ao sobre-produto ou mais-valia originado pela relação assalariada
característica do modo de produção burguês. Isto é, a força de trabalho como
mercadoria que se compra e que se vende criadora não só de produtos
transacionáveis mas também, e muito especialmente, de riqueza legalmente
apropriada pelo comprador da força de trabalho através de horas trabalhadas não
pagas pelo salário e das quais o assalariado geralmente ignora o quantitativo
alienado.
Mais-valia é sempre horas de trabalho realizado não pago pelo
salário estabelecido. O dinheiro em modo de produção burguês é, tal como o
lucro, o juro e a renda, uma categoria económica determinada e imposta para
servir quem com essa imposição económica beneficia. E o Estado é, enquanto
forma suprema de organização da classe no poder, destacadamente a entidade
máxima burguesa no saque da mais-valia.
O dinheiro é assim uma espada sempre à mão para cair sobre a
cabeça do incauto servidor da acção de saque que lhe está associada. Tal como
Pilatos, o capital lava as mãos, e, para esconder a sua função, não tem pejo em
lançar à feras aqueles que lhe dão corpo, tirando o suporte sempre que
necessário a quem o serve para tentar escapar à maneira do ladrão que grita agarra
que é ladrão enquanto foge.
É o dinheiro como capital o que elevou às alturas o Albuquerque
da Madeira, o Bolieiro dos Açores e o Costa da República, e é o mesmo dinheiro
como capital que agora os responsabiliza e põe em xeque para ver se não fica
mal perante a perplexa contestação popular que a sua exponencial pretensão
predadora e espoliadora de crescimento cria. A corrupção está no dinheiro como
capital, no dinheiro como criador de sobre-produto, no dinheiro como instrumento
de exploração do homem pelo homem. Se para o capital são as bombas o mais capaz
produto criador de sobre-produto ou mais-valia, é para as bombas que o capital
direcciona o dinheiro. Ao indexar o dinheiro à força já morta do trabalho
passado e à força viva do trabalho presente o capital progride sobre o corpo de
todos aqueles de que se serve para crescer, isto é, proletarizando
aceleradamente e aceleradamente empobrecendo o proletarizado com simultânea
acelerada redução do número daqueles cada vez mais ricos que o acumulam e
detêm!
O capital para progredir corrompe. Para não ficar como corruptor
o capital acusa os que corrompe de corruptos de maneira a perpetuar a acção
corruptora que lhe é própria.
Estamos hoje a viver este fenómeno.
Não é corrompendo que a corrupção acaba. A corrupção acaba logo
que se recuse esconder o que permite ao corrupto ganhar com a corrupção! É no
desvelo das coisas que está a pedra de toque que distingue os falsos dos
verdadeiros inimigos da corrupção!
Com os meus cumprimentos,
Pedro Pacheco
Região Autónoma dos Açores, Janeiro 2024
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