quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

Líbano: Prenúncio da iminente Sociedade "Multipolar" da Nova Ordem Mundial!!

 


 25 de Janeiro de 2024  Robert Bibeau  


Por Khider Mesloub e Robert Bibeau

 

Em política e geopolítica, é habitual utilizar o termo "libanização" para designar o fenómeno político dos conflitos intra-estatais (separatismo, rejeição da autoridade pública, violência inter-religiosa e/ou inter-étnica, nacionalismo chauvinista, regionalismo reaccionário), em referência à guerra civil entre diferentes comunidades de clãs que está a agitar o pequeno Líbano, dividido entre 6 comunidades domésticas (ou seis máfias vernáculas). Por outras palavras, o processo de fragmentação do Estado burguês resultante do confronto fratricida entre vários clãs ou tríades burguesas com interesses divergentes. Por extensão, este termo é utilizado para designar qualquer conflito intranacional com características institucionais e/ou constitucionais bizantinas que paralisam e dissolvem a via libanesa. Só o Hezbolah conseguiu escapar a isso, constituindo-se como um Estado dentro de um Estado, com o seu próprio exército profissional e o seu próprio governo.

A partir de agora, à escala planetária, em termos de crise económica e social que conduz a uma degradação dramática das condições de vida e ao empobrecimento absoluto da população, num contexto de desarticulação das instituições e de deslegitimação das autoridades, será mais apropriado utilizar o termo "libanização" para descrever este fenómeno de implosão socio-económica, política e institucional que se generaliza em todo o mundo.

Não há dúvida de que o Líbano é um prenúncio do futuro imediato para todos os países, particularmente para os países pobres sujeitos às pressões subversivas e às guerras por procuração das potências imperialistas (Iémen, Iraque, Sudão, Somália, Eritreia, Etiópia, Sahel, Líbia, Venezuela, Congo, Nepal, Israel, Palestina, Balcãs, Afeganistão, Ucrânia, etc.). À escala internacional, podemos ver os prelúdios apocalípticos do futuro próximo, com o exemplo do Líbano em pleno colapso económico e decadência institucional, num contexto de endurecimento autoritário... cristalizando os riscos de guerra...

Muito endividado, em Março de 2020 o Líbano anunciou o primeiro incumprimento da sua história. Desde então, as reservas de divisas do Líbano caíram a pique e a libra libanesa perdeu 90% do seu valor no mercado negro. Mergulhado numa crise económica histórica, o Líbano entrou em colapso.  Depois de terem suprimido completamente os subsídios aos combustíveis, as autoridades cortaram também os subsídios aos medicamentos e à farinha, mergulhando a maioria da população na pobreza extrema.

É a pior crise económica "nacional" do mundo desde 1850, de acordo com o Banco Mundial. "É provável que a crise económica e financeira se situe entre os 10, ou mesmo entre os três, episódios de crise mais graves a nível mundial desde meados do século XIX", afirmou o Banco Mundial num relatório recente. A sua moeda perdeu 90% do seu valor e a sua economia (PIB) registou uma contracção de mais de 20% desde 2020. "Sujeito a uma incerteza extraordinariamente elevada, o PIB real deverá contrair-se mais 9,5%", segundo o Banco Mundial, obliterando qualquer esperança de recuperação económica.

“Mais de 80% dos libaneses vivem abaixo do limiar de pobreza nacional, sem rendimentos, sem electricidade, sem aquecimento, sem água, sem gasolina, sem medicamentos, sem cuidados médicos, sem educação nacional, sem cultura e sem possibilidade de viajar por falta de visto. Por outras palavras, estão enterrados vivos num país transformado em purgatório terrestre. É este o destino apocalítico que espera a maioria da população mundial, já empobrecida pela diminuição dos rendimentos e pelo aumento dos preços da energia e das matérias-primas. Este é o resultado de "batalhas territoriais" entre clãs mafiosos religiosos, étnicos, sectários e comunitários.

Outro fenómeno observado no Líbano é a deslocação do exército libanês, que sofre uma hemorragia de pessoal. A instituição militar, atingida pela mais grave crise financeira do país, assiste à deserção de milhares de soldados, que fugiram devido às condições económicas desastrosas e à desvalorização do seu salário - que passou de 800 dólares para 20 dólares (valor real de mercado) devido à desvalorização da moeda libanesa. O governo já não pode pagar ao seu exército. O exército libanês, despojado, viu-se reduzido a viver de géneros alimentícios e de apoio médico.

Actualmente, a desvalorização da moeda fez derreter os salários dos soldados em libras libanesas, bem como o orçamento da instituição militar, ameaçando a sua capacidade operacional... (o que convém aos chefes dos clãs comunais que recrutam mercenários de guerra a baixo preço...) A última reviravolta : com receio de uma desarticulação total do exército e, correlativamente, do colapso do país, os Estados Unidos consideram a possibilidade de pagar directamente às tropas para manter esta instituição militar cada vez mais deserta e, sobretudo, para a mobilizar para atacar um ou outro clã burguês sectário e manter a agitação insurreccional no país "libanizado".

O mesmo fenómeno ocorre no seio da polícia. Além disso, muitos soldados e polícias têm de exercer outras actividades para completar os seus salários de miséria.

Outro sinal sintomático da regressão social, para não dizer decadência, da sociedade libanesa é o facto de as mulheres, devido ao elevado custo de vida provocado pela hiperinflação e à perturbação das suas condições sociais causada pela hemorragia financeira e pela fuga de capitais, já não terem dinheiro para comprar pensos higiénicos (que, consoante as marcas, passaram de 2 dólares antes da crise para 20 dólares actualmente). Assim, todos os meses, durante o período menstrual, as mulheres recorrem a trapos velhos, ou mesmo, no caso das mães, às fraldas dos seus bebés.

Além disso, para sobreviver, muitos libaneses urbanos tiveram de regressar ao campo, às suas aldeias de origem, para se dedicarem à agricultura e ganharem a vida.

De facto, o Líbano, um país outrora conhecido como a Suíça do Médio Oriente, está agora mergulhado num empobrecimento absoluto, à beira de se tornar o Iémen ou a Etiópia, países devastados pela fome. O colapso do sistema educativo está iminente. Tal como o colapso do seu sistema de saúde.

Assim, a antiga "Suíça do Médio Oriente " prenuncia a queda do mundo capitalista.

Como Marx escreveu no Manifesto Comunista: "Uma epidemia que em qualquer outro momento teria parecido absurda está a varrer a sociedade - a epidemia da sobreprodução. A sociedade vê-se subitamente reduzida a um estado de barbárie momentânea; parece que uma fome ou uma guerra de extermínio lhe cortou todos os meios de subsistência; a indústria e o comércio parecem ter sido aniquilados. E por que é que isso acontece? Porque a sociedade tem demasiada civilização, demasiados meios de subsistência, demasiada indústria, demasiado comércio. As forças produtivas à sua disposição já não favorecem o regime da propriedade burguesa; pelo contrário, tornaram-se demasiado poderosas para este regime, que se interpõe no seu caminho; e sempre que as forças produtivas da sociedade triunfam sobre este obstáculo, lançam toda a sociedade burguesa na desordem e ameaçam a existência da propriedade burguesa. O sistema burguês tornou-se demasiado estreito para conter a riqueza criada no seu seio. - Como é que a burguesia ultrapassa estas crises? Por um lado, destruindo violentamente uma massa de forças produtivas; por outro, conquistando novos mercados e explorando mais profundamente os antigos. A que é que isto conduz? A preparar crises mais gerais e mais formidáveis, e a diminuir os meios de as evitar. As armas que a burguesia usou para derrubar o feudalismo estão agora a ser viradas contra a própria burguesia"... e todo este processo está a conduzir a sociedade capitalista mundializada à guerra generalizada... https://queonossosilencionaomateinocentes.blogspot.com/2024/01/capitalismo-beira-do-precipicio-so.html

A classe dominante libanesa parasitária, dividida em múltiplos clãs fratricidas e beligerantes, submete o proletariado libanês internacionalista a uma violência social levada ao extremo. O proletariado libanês sai regularmente à rua para descarregar a sua raiva contra esta classe dirigente corrupta, gritando "Esta classe dirigente mata-nos todos os dias", denunciando a degradação da situação económica e das suas condições de vida e de trabalho e exigindo a saída da classe política, considerada incompetente e corrupta. Alguns manifestantes chegaram mesmo a atacar os bancos dos parasitas ricos que expatriam as suas divisas do país.

Para acalmar o ardor subversivo do proletariado libanês e afastar a revolução social, a classe dirigente mafiosa libanesa brandiu sistemática e maquiavelicamente a ameaça de uma guerra civil de clãs, de sinistra memória, que ela própria tinha fomentado e que gostaria de repetir. Mas desta vez o proletariado libanês não está a alinhar neste esquema maquiavélico.

Uma coisa é certa, no Líbano todos os clãs dos oligarcas, do Hezbollah aos drusos, passando pelas seitas cristãs e sunitas, trabalham em conjunto para manter o poder burguês e perpetuar as classes proprietárias. A burguesia libanesa prefere uma nova guerra civil a ter de passar por uma revolução social (eventualmente proletária) que seria fatal para o seu poder ou arriscar-se a perder tudo.

Do mesmo modo, as classes dominantes das grandes potências imperialistas preferirão desencadear uma guerra mundial para afastar qualquer revolução proletária. 2024: Um ano de revolta emancipatória contra o totalitarismo capitalista? – https://queonossosilencionaomateinocentes.blogspot.com/2024/01/2024-um-ano-de-revolta-emancipatoria.html

Khider MESLOUB

 

Fonte: Liban: préfiguration de l’imminente société «multipolaire» du Nouvel Ordre Mondial !!! – les 7 du quebec

Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice




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