15 de Janeiro de 2024 Olivier Cabanel
OLIVIER
CABANEL — Recorde-se de 2008, no Tricastin:
Após as várias fugas, a cereja no topo do bolo foi a barra de combustível
encravada...
O mesmo acidente acaba de acontecer em Gravelines.
É claro que a AREVA, como é seu hábito, tenta desdramatizar a situação e apresenta-nos o seu habitual discurso apaziguador:
"A situação está sob controlo, a população não está em risco", mas não deixa de ser verdade. link
Aconteceu no passado domingo, 9 de Agosto, às 16 horas, o que significa que
foram precisas quase 48 horas para que a informação chegasse até nós.
O que é que aconteceu?
A central nuclear de Gravelines, no norte de França, está encerrada desde 2 de Agosto para operações de manutenção.
Enquanto os técnicos da AREVA manipulavam uma vareta de combustível durante uma operação de elevação e remoção de uma parte do conjunto, todo o bloco de urânio soltou-se no coração do reactor.
Desde domingo, esta barra de urânio, que pesa várias centenas de quilos, está suspensa na piscina, correndo o risco de cair sobre as 156 barras semelhantes que se encontram no fundo da cuba do reactor, o que constitui um verdadeiro cenário de catástrofe.
O director adjunto declarou: "Não existe qualquer risco para o público.../... em caso de queda da barra presa, os cálculos efectuados pelos peritos da EDF mostram que as consequências radiológicas no exterior da central seriam muito inferiores aos valores regulamentares de 1 mSv (milisivert) por ano e por habitante para o público e o ambiente e que, por conseguinte, não requerem qualquer ação de protecção para os assalariados da central".
Portanto, tudo corre pelo melhor no melhor dos mundos possíveis.
Neste momento, a nossa prioridade é manter
o elemento de combustível suspenso e protegê-lo (como?). Por precaução, o
edifício do reactor foi encerrado e existe um controlo permanente. Não se trata
de agir rapidamente, mas de tomar as precauções máximas".
A questão que se coloca é a seguinte:
Porquê fechar o edifício do reactor se,
como afirma o director-adjunto, não existe qualquer risco para o público ou
para os trabalhadores da central?
É claro que, como de costume, o acidente é
classificado como 1 numa escala de 7...
Este acidente ocorre no pior momento
possível, tendo em conta as dificuldades financeiras da EDF e da AREVA.
Tanto mais que um novo caso de saúde
chegou a uma conclusão jurídica que não favorece a actividade da AREVA.
De facto, no Midi Libre de 11 de Agosto, ficamos a saber que
Bernard Moya, aos 52 anos, que trabalhava na Comurhex, foi morto por radioactividade.
Trabalhou na fábrica de processamento de minério de urânio na fábrica de
Malvési, em Narbonne.
Alguns meses antes, o CPAM (fundo de seguro de saúde primário) tinha
reconhecido que o seu cancro do pulmão era de origem profissional.
Para o CPAM, não há dúvida de que foi a radiação nuclear que matou Bernard
Moya.
Infelizmente, esta não é uma novidade:
Em Março de 2008, o Tribunal de Apelação de Montpellier reconheceu que a
leucemia que matou François Gambart, zelador da planta, em 2001, foi realmente
causada pela exposição à radioactividade.
É claro que a Comurhex contesta a decisão do CPAM.
O departamento jurídico da AREVA, ao qual pertence a Comurhex, pretende
contestar a decisão do CPAM:
"Precisamos provar que a doença está ligada ao urânio,
e não a outros factores", diz Grégory Degenne.
Como podemos ver, a AREVA, longe de reconhecer a sua responsabilidade,
acrescenta ao infortúnio da mulher de Bernard Moya e do seu filho, uma postura
insuportável ao contestar o que parece estar fora de dúvida.
E, para cúmulo, a Comurhex rejeitou a candidatura do filho de Bernard Moya,
que se candidatava a substituir o pai na empresa, entre outras razões porque
"o tom das suas cartas era bastante
desagradável".
A benevolência não parece estar na ordem do dia no mundo nuclear, porque como dizia um velho amigo africano:
"As condolências não ressuscitam o defunto, mas podem manter a confiança entre os que ficam".
Fonte: Nucléaire: c’est reparti comme en quarante – les 7 du quebec
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis
Júdice
Sem comentários:
Enviar um comentário