Fevereiro 15, 2024 Robert Bibeau
Por Khider Mesloub.
No final do ano passado, no início de Dezembro de 2023, o eterno presidente da efémera Coreia do Norte, o ditador Kim Jong-un, implorou em lágrimas às mulheres norte-coreanas que fizessem mais bebés.
De facto, presidindo o destino de um país atormentado por uma taxa de
natalidade em declínio, Kim Jong-un havia exortado as mulheres a cumprirem o seu
dever patriótico produzindo filhos para a nação. Pedira-lhes que colocassem o
ventre ao serviço da "revolução socialista" (sic), o ventre em apoio
ao exército e às fábricas.
"Travar o
declínio da taxa de natalidade e proporcionar às crianças bons cuidados e
educação é um assunto da nossa família, que devemos resolver com as nossas
mães", disse o pai do povo coreano, Kim Jong-un, num comunicado, de acordo
com o Telegraph. Para sua informação,
diz-se que o presidente-rei norte-coreano é pai de três filhos.
Algumas semanas
depois, em 16 de Janeiro de 2024, inspirado por Kim Jong-un, o aprendiz de
ditador francês, o presidente dos ricos Emmanuel Macron, durante a sua
conferência de imprensa, com uma retórica com um tom militarista, convidou a
França para o "rearmamento
demográfico". Esta expressão "rearmamento demográfico" usada por Macron
para permitir "uma França mais forte" "pelo renascimento da taxa
de natalidade" foi percebida como reaccionária. Ou mesmo fascista.
Seja como for, esta expressão militar-pró-natalista suscitou indignação e
provocou fortes reações. Ao usar a retórica bélica usada na esfera da
extrema-direita, o "rearmamento demográfico", Macron está a
acrescentar uma "conotação bélica insuportável" aos discursos
pró-natalistas "clássicos", disse a editora feminista Isabelle
Cambourakis.
"O corpo das mulheres não é uma arma
de guerra. Associar esta terminologia marcial à política pró-natalista faz o
meu sangue gelar. Dá a impressão de que o governo quer produzir carne para
canhão. Tenho a impressão de que estou a assistir a uma vasta operação de
recrutamento de corpos e pessoas para as necessidades de uma hipotética guerra
que se avizinha", acrescentou.
Para Hervé Le Bras, director de estudos da École des Hautes Études en
Sciences Sociales (EHESS), "ao ecoar este discurso pró-natalista, Emmanuel
Macron está a reapropriar-se do discurso da extrema-direita com o qual a
direita se alinhou gradualmente. Infelizmente, isso acaba sempre por beneficiar
a extrema-direita. Como disse Jean-Marie Le Pen, preferimos sempre o original à
cópia." "Talvez ele queira colocar um delírio contra outro porque,
para lutar contra a teoria do grande substituto, basta olhar para os
números", acrescentou Le Bras.
Esta análise foi confirmada pela editora feminista Isabelle Cambourakis,
que afirmou que "O governo (macronista) defende em primeiro lugar uma abordagem
baseada na identidade. O seu plano é que mulheres brancas tenham filhos. É um
discurso racista, imperialista, autoritário."
Nas últimas décadas, a
retórica do "declínio
demográfico" do Ocidente tem sido amplamente utilizada para fins xenófobos e
racistas. Os movimentos populistas e fascistas franceses fizeram da política
pró-natalista uma resposta ao perigo da "grande substituição", nomeadamente
limitando drasticamente a imigração e controlando os úteros das mulheres para
reavivar os nascimentos dos "nacionais".
Esta política nacionalista e xenófoba pró-natalista, ilustrada pela votação
da lei da imigração que põe em causa a automaticidade do direito de estadia na
França hexagonal para as crianças nascidas de pais estrangeiros, impulsionada
por Macron, já tinha sido afirmada no seu tempo por De Gaulle: "É muito
bom que haja franceses amarelos, franceses negros, os franceses pardos [...]
mas com a condição de continuarem a ser uma pequena minoria. Caso contrário, a
França deixaria de ser França. Somos, acima de tudo, um povo europeu
branco." Decididamente, os demónios racistas de França ressurgem
frequentemente das suas cinzas!
Segundo Hervé Le Bras,
o discurso de Emmanuel Macron e o anúncio de um "plano para combater a infertilidade" revelam a total
desconexão do presidente com o resto da população. Acima de tudo, ilustra a
incapacidade deste governo macronista, composto principalmente por homens e
mulheres sem filhos, de compreender a psicologia do comportamento da população
francesa. Em particular, as mulheres, que são as primeiras vítimas da
precariedade laboral e da exclusão social.
O cúmulo do cinismo é
que este discurso
pró-natalista de incitamento emana de um chefe de Estado e de
membros do governo desacreditados e deslegitimados, que não têm filhos. Ou
seja, governantes "nulíparos", ou seja, fizeram a "escolha
sexual" de não participar do esforço de reprodução demográfica do país. A
renovação da população francesa.
Uma coisa é certa, para ser credível, esta comunicação militarista
injuntiva a favor da natalidade, estes governantes têm de a aplicar a si
próprios. Macron e os seus ministros têm de dar o exemplo. No entanto, parecem
ter optado por "não ter filhos", ou seja, não ter filhos de forma
deliberada e voluntária.
Como tuitou o colectivo
feminista NousToutes: "Um homem cisgénero
de 46 anos (Macron) sem filhos que vem nos dar lições sobre como devemos usar o
nosso útero... ». Pelo menos o viril Presidente da Coreia do Norte, Kim
Jong-un, merece crédito por ter contribuído para o esforço demográfico do seu
país ao ser pai de três filhos.
Dito isto, este plano de emergência para o rearmamento demográfico
promovido por Macron surge num contexto marcado por um declínio histórico da
taxa de natalidade. De facto, a França registou dois anos consecutivos de
declínio dos nascimentos, o mais baixo desde o final da Segunda Guerra Mundial.
No entanto, com o envelhecimento da população activa, a França enfrenta uma
degradação económica. Declínio.
De facto, em França, é a deterioração das
condições socio-económicas que explica o esgotamento dos nascimentos. Esta
deterioração torna mais caro para muitos franceses conceber e educar crianças
em França. Uma França empobrecida que, com o estabelecimento de uma economia de
guerra e de uma governação totalitária, se junta lenta mas seguramente à Coreia
do Norte.
Sem falar no obscurecimento do futuro colectivo, caracterizado pela
hiperinflação, pelo declínio do poder de compra, pelo desmantelamento dos
serviços públicos e, sobretudo, pela multiplicação de guerras, genocídios,
fomes, engendrados entre outras coisas pelas políticas liberais e belicistas do
Estado francês anti-social e imperialista.
Khider MESLOUB
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis
Júdice
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