quinta-feira, 9 de junho de 2022

ANÁLISE – Estados Unidos querem quebrar influência russa em África

 


 9 de Junho de 2022  Robert Bibeau 

Fonte: França-Iraque-notícias.

Com o projecto de lei aprovado em 27 de Abril, os Estados Unidos pretendem desenvolver uma estratégia contra as actividades da Rússia no continente, que "mina os seus objectivos e interesses em África".

Por Ali Maskan (revisão de imprensa: Agência Anadolu – 2/6/22)*

Em 27 de Abril, o projecto de lei apresentado ao Congresso dos EUA pelo democrata Gregory Meeks, presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Representantes dos EUA, foi aprovado com 419 votos "sim" a 9 "não" para combater as "actividades maliciosas" da Rússia em África. [1]

EUA fazem medidas contra presença russa em África

Com a referida lei, os Estados Unidos pretendem desenvolver uma estratégia contra as actividades da Rússia no continente, que "mina os seus objectivos e interesses em África". A lei abrange também um acompanhamento aprofundado das tentativas de influência política, actividades de desinformação e operações militares por parte da Rússia. Chama-se também a atenção para o reforço das instituições democráticas em África, o acompanhamento e a avaliação nos domínios da transparência, da responsabilidade, dos direitos humanos, da luta contra a corrupção, dos recursos naturais e da mineração, bem como o desenvolvimento de princípios de boa governação.

Embora África seja a única solução para as actuais crises alimentares e energéticas, o facto de o continente estar entre os conflitos de diferentes protagonistas afectará negativamente o mundo inteiro.

Ansiosa por recuperar o seu prestígio da Guerra Fria durante muito tempo, a Rússia está a tomar medidas para alcançar este objectivo com as suas actividades políticas, militares e económicas em diferentes partes do mundo, incluindo a América Latina e África. Os Estados Unidos, por outro lado, estão a agir com uma estratégia semelhante para limitar e cercar a Rússia no seu próprio continente. Devido à recente guerra russo-ucraniana, a atitude dos Estados Unidos e da Europa em relação à Rússia levou à escalada da referida luta.

– Rússia aumenta a sua influência em África

Por outro lado, 17 países africanos abstiveram-se na votação da resolução da Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU) em 3 de Março de 2022, quando todos os outros condenaram o ataque militar da Rússia à Ucrânia, enquanto a Eritreia, outro país africano, estava entre os cinco países que votaram "não" a esta resolução. Esta imagem, que mostra o quão activa é a Rússia no continente, abriu caminho para que os Estados Unidos tomem medidas mais concretas.

As forças militares especiais russas (Wagner) estão cada vez mais activas na região subsariana que se estende do Sudão ao Burkina Faso. Por exemplo, os golpes de Estado ocorreram frequentemente em muitos países da África Ocidental, incluindo os antigos países coloniais franceses. Sabe-se que as forças militares russas desempenharam um papel nestes golpes de Estado. Portanto, esta situação preocupa muito as potências ocidentais. Assim, é possível observar nos países onde ocorreram os golpes de Estado, pessoas a entoar slogans anti-franceses com bandeiras russas.

Além disso, o papel dos empresários russos na exploração dos recursos minerais do continente, nomeadamente na República da África do Sul, tornou-se um elemento de pressão política sobre os governos. É por isso que Gregory Meeks argumenta que a Rússia "procura criar financiamento explorando os recursos naturais de África e a riqueza subterrânea".

Os Estados Unidos afirmam ainda que a Rússia está a interferir com as estruturas democráticas dos países africanos através da Associação para a Investigação Livre e Cooperação Internacional (AFRIC). [2] Rumores de corrupção durante as eleições em Madagáscar e o apoio a certos grupos no Zimbabué estão entre as acusações contra a AFRIC. Apesar disso, os Estados Unidos pretendem romper e até eliminar a influência russa no continente, defendendo a democracia e os direitos humanos.

– Rússia na mira, em todo o mundo

A este respeito, as instituições competentes dos Estados Unidos e das Nações Unidas preparam relatórios sobre os crimes russos contra a humanidade na Ucrânia e registam as suas actividades em diferentes partes do mundo. Neste contexto, é sabido que foram apresentadas em tribunal acusações de violações dos direitos humanos e crimes de guerra cometidos pelo Grupo Wagner, nomeadamente no Mali e na República Centro-Africana.

Como resultado, os Estados Unidos visam combater as acusações de violações generalizadas dos direitos humanos, nomeadamente nas frentes abertas pela Rússia não só em África, mas também em todo o mundo.

– O que querem os africanos?

Além de tudo isto, muitos países africanos, especialmente o Egipto e o Norte de África, compram o seu trigo à Rússia e à Ucrânia. Outro importante rival dos Estados Unidos, a China, está a aumentar a sua superioridade económica no continente a cada dia. Os governos e os povos africanos, por outro lado, querem preservar as suas relações económicas e políticas com os Estados Unidos e os países europeus. Num segundo passo, pretendem desenvolver as suas relações com a Rússia e a China no âmbito do princípio win-win.

Para além da presença militar e económica da Rússia, outra razão pela qual se tornou tão forte em África é que os africanos estão fartos das políticas unilaterais e egoístas do Ocidente. Uma situação semelhante foi vivida quando os países africanos ganharam a sua independência. Muitos países africanos estabeleceram laços ideológicos e militares com a Rússia contra países que os exploravam há anos. Notemos aqui que a história se repete hoje.

Os EUA poderiam tentar punir os governos de alguns países africanos como parte das políticas que desenvolve contra a Rússia. No entanto, neste caso, cabe-lhe a ele pagar o preço. O facto de África ver a China e a Rússia como parceiros alternativos revela que o Ocidente deve rever a sua política em relação ao continente. Neste contexto, os Estados Unidos deverão procurar estabelecer uma relação realista e equitativa com os países africanos, em vez de os ameaçarem.

Finalmente, embora África seja a única solução para as crises alimentares e energéticas no mundo, o facto de o continente estar entre os conflitos de diferentes protagonistas afectará negativamente não só os países africanos, mas também todo o mundo. Espera-se que a nova lei promulgada pelos EUA não seja uma fonte de problemas.

[1] https://www.congress.gov/bill/117th-congress/house-bill/7311/text

[2] https://www.epde.org/en/news/details/fake-election-observation-as-russias-tool-of-election-interference-the-case-of-afric-2599.html

Ali Maskan é o autor de "Da Pirataria ao Islão Político: Mudança Social e Societária na Argélia", escreve sobre o colonialismo e África – As ideias para artigos pertencem ao autor e podem não refletir a política editorial da Agência Anadolu.

*Fonte: Anadolu

 

Fonte: ANALYSE – Les États-Unis veulent briser l’influence russe en Afrique – les 7 du quebec

Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice




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