quarta-feira, 8 de junho de 2022

Cimeira EUA-ASEAN deixa Washington de mãos vazias

 


 8 de Junho de 2022  Robert Bibeau  

By Salman Rafi Sheikh − 23 de Maio de 2022 - Fonte New Eastern Outlook

Países da ASEAN

A Cimeira U.S.-ASEAN [Associação das Nações do Sudeste Asiático. Indonésia, Malásia, Tailândia, Vietname, Camboja, Myanmar, Filipinas, Laos, Brunei, Singapura, que se realizou recentemente em Washington, deveria responder ao que um funcionário da administração Biden chamou de necessidade de "intensificar a nossa estratégia [dos EUA] no Sudeste Asiático" contra a China. A lógica subjacente a esta política de maior envolvimento dos EUA com a ASEAN é um realinhamento mais estratégico da política externa da ASEAN com Washington, numa altura em que a procura pelos EUA de aliados contra os seus concorrentes estratégicos – Rússia e China – está no seu auge desde o final da Guerra Fria.

Ao organizar a cimeira numa altura em que está a decorrer uma guerra na Europa, Washington tem tentado fazer com que os países da ASEAN entendam que Washington continua a ser "sensível" à região como um todo e quer integrar-se nela. De facto, numa "declaração de visão" conjunta de 28 pontos, após uma reunião de dois dias, as duas partes aparentemente decidiram estender a sua relação de uma parceria estratégica a uma "parceria estratégica abrangente". Mas em que medida esta parceria será viável para os Estados Unidos, dado os esforços da ASEAN para evitar, em vez de procurar activamente, um emaranhado geo-político mundial?

Embora a própria ASEAN possa achar útil reforçar os seus laços com os Estados Unidos por várias razões económicas – que é uma das razões para o envolvimento contínuo da região com os Estados Unidos, como a última cimeira mostrou – é altamente improvável sacrificar a sua política externa para desenvolver laços apenas com os Estados Unidos. Por outro lado, a geo-política da ASEAN indica que a região explorará a necessidade de os Estados Unidos disporem de aliados na região Indo-Pacífico para atrair investimento directo estrangeiro proveniente de Washington para ajudar a impulsionar o seu próprio crescimento económico, mantendo ao mesmo tempo os seus profundos e habituais laços económicos com Pequim e até com a Rússia.

A cimeira EUA-ASEAN, apesar de realizada em Washington, revelou os limites de um realinhamento total da política externa entre os dois intervenientes. Por exemplo, apesar dos esforços consideráveis de Washington para obter a condenação da operação militar russa na Ucrânia por toda a ASEAN, a declaração conjunta não menciona de todo a Rússia, de acordo com o próprio relato do canal público Voice of America. Como a VofA noticiou, os líderes da ASEAN não mostraram vontade de se envolver desnecessariamente no jogo mundial dos EUA. Até agora, a Indonésia também resistiu aos esforços dos EUA para excluir a Rússia da próxima cimeira do G20 em Bali, na Indonésia, mostrando que um realinhamento automático entre os EUA e a ASEAN não é concebível nem possível. Como resultado, os objectivos de Washington permanecem não só ilusórios, mas também infrutíferos em muitos aspectos.

Quanto aos outros países da ASEAN, Myanmar apoia a posição russa sobre a Ucrânia, tendo-se o Laos e o Vietname abstido de votar contra a Rússia na ONU.

O mesmo se aplica à posição da ASEAN face à China. De facto, a região da ASEAN está demasiado ligada à China para que os EUA cortem esta relação. A China já é membro da Parceria Económica Regional Abrangente (RCEP) e já se candidatou para se tornar membro do Acordo Mundial e Progressista para a Parceria Trans-Pacífico (CPTPP).

Dada a extensão dos laços da China com a ASEAN, está a emergir uma mudança visível nos laços da China com vários países – especialmente aqueles com participações no Mar da China Meridional. Por exemplo, a vitória de Ferdinand Marcos Jr. nas eleições presidenciais filipinas não é nada menos que uma boa notícia para a China.

Não só Marcos é pró-China, como já deixou claro que vai pôr fim à disputa com a China no Mar do Sul da China. O plano de Marcos é fazer um novo acordo com Pequim. Durante a sua campanha eleitoral, disse aos media que "se deixarmos entrar os EUA, fazemos da China o seu inimigo", acrescentando que "acho que podemos chegar a um acordo [com a China]. Além disso, as pessoas da embaixada chinesa são minhas amigas. Já falámos sobre isso. »

Um acordo entre a China e as Filipinas seria um grande revés para os Estados Unidos, especialmente pela sua política de garantia de segurança na região. Tal acordo não só incentivará outros países da ASEAN com interesses no Mar do Sul da China a celebrarem acordos bilaterais com Pequim, como também eliminará a necessidade de transformar a parceria económica e as relações da ASEAN com os Estados Unidos numa parceria estratégica orientada para o exército.

Com efeito, este acordo mostrará os limites - se não o fracasso - dos vários esforços feitos pelos Estados Unidos para que a ASEAN adopte uma abordagem mais agressiva em relação à China. Embora os EUA neguem oficialmente forçar os países da ASEAN a adoptar uma posição "pró" ou "anti" China, a verdade é que procura adoptar tal posição. Por exemplo, quando o Secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, visitou a Indonésia no ano passado, criticou abertamente a China pelas suas "acções agressivas" no Mar da China Meridional e pelas suas práticas económicas "que distorcem os mercados abertos através de subsídios às suas empresas estatais".

A mudança das Filipinas para chegar a acordos revela que a retórica norte-americana não conseguiu trazer mudanças significativas nas Filipinas de uma forma que, em última análise, complemente a posição de Washington, tornando extremamente difícil para os EUA continuar a projectar a mesma retórica para o futuro. Não esqueçamos que as Filipinas são um país com laços militares estreitos com Washington. Em Março, os Estados Unidos realizaram o seu maior exercício militar com as Filipinas em vários anos.

Como as tendências actuais indicam, com algumas excepções (por exemplo, Singapura), é pouco provável que os EUA obtenham um apoio significativo da ASEAN contra a Rússia ou a China.

Embora nenhum país da ASEAN – incluindo as Filipinas – abandone os seus laços com os Estados Unidos na sequência de laços cada vez mais aprofundados e mais amplos com Pequim, a ASEAN não se tornará um peão dos Estados Unidos. Pelo contrário, a ASEAN continuará a utilizar os seus laços com os Estados Unidos, a China e a Rússia de acordo com os interesses colectivos da região e os interesses nacionais de cada país. Isto deixará um mínimo de espaço para Washington desenvolver uma "NATO asiática" e um máximo para a China aprofundar ainda mais o seu envolvimento económico.

Salman Rafi Sheikh

Traduzido por Wayan para o Saker Francophone.

 

Fonte: Le sommet États-Unis-ANASE laisse Washington les mains vides – les 7 du quebec

Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice




 

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