10 de Junho de
2022 Robert Bibeau
By Dmitry Orlov – Junho 2022 –
Source Club Orlov
As últimas notícias falsas ocidentais (fake news), emanadas de um pequeno cérebro secreto localizado, provavelmente, em algum lugar nos subúrbios da Virgínia, é que Putin é responsável pela fome mundial por causa da guerra na Ucrânia. "Putin está a bloquear as exportações de cereais da Ucrânia! A fome no mundo ameaça", grita a manchete enganosa dos jornais inventada pelos especialistas. Uma análise muito simples dos números disponíveis é suficiente para provar que esta conta é falsa.
Em 2021, a Rússia e a Ucrânia abasteceram o mercado mundial com 75% de óleo de girassol, 29% de cevada, 28% de trigo e 15% de milho. Cerca de 50 países dependem da Rússia e da Ucrânia para pelo menos 30% do seu trigo, dos quais 26 mais de metade. A colheita de cereais na Ucrânia, no ano passado, foi de magnitude sem precedentes: 107 milhões de toneladas, incluindo, em números redondos, 33 milhões de trigo, 40 milhões de milho e 10 milhões de cevada, ultrapassando a colheita em 22% na tonelagem e 23% no rendimento. O consumo anual de trigo na Ucrânia é de apenas cerca de 4 milhões de toneladas. Sem surpresas, os ucranianos decidiram exportar 70 milhões de toneladas. Esta é uma decisão forçada: não há lugar para armazenar uma quantidade tão grande de cereais. Os 15 silos principais de cereais, todos de propriedade estrangeira, totalizam menos de 21 milhões de toneladas. Todos estes silos estão no centro e oeste do país e não são afectados pela operação especial da Rússia que está a decorrer no leste.
Até 1 de Julho deste ano, a Ucrânia espera exportar um máximo de 47 milhões
de toneladas de cereais. Poderia exportar mais? Não, não podia. E não tem nada
a ver com os russos maus. De acordo com a respeitada opinião da Associação
Ucraniana de Cereais e do seu director Nikolai Gorbachëv, a capacidade de
exportação de cereais dos portos ucranianos é de apenas 1,2-1,5 milhões de
toneladas por mês. Poderiam convocar todas as marinhas do mundo para garantir a
segurança, mas ainda não seriam capazes de enviar mais de 1,5 milhões de
toneladas por mês. O caminho-de-ferro também não oferece alternativa. A estrada
através da Polónia é complicada pela diferença na bitola ferroviária, enquanto
o transporte de cereais para o porto lituano de Klaipeda, agora largamente desactivado,
passa pela Bielorrússia. É claro que Alexander Lukashenko teria todo o gosto em
permitir tal trânsito; assim que o Ocidente levantar todas as sanções contra a
Bielorrússia e a compensar pelas perdas que causou. Tudo o que resta é o
transporte rodoviário para o oeste, que agora é usado de forma muito intensa,
atingindo… pouco mais de um milhão de toneladas nos últimos meses.
Resumindo, a Ucrânia não estava preparada para a colheita do ano passado.
Os recursos que tinha para preparar foram desperdiçados preparando-se para uma
operação militar horrivelmente fracassada contra as suas províncias russas no
leste e sul. E então, o país atirou em si mesmo em ambos os pés, minando as
aproximações ao porto de Odessa. Não só isso, mas incompetentemente as minou:
algumas das minas perderam as suas âncoras numa tempestade e estão agora à
deriva no Mar Negro, tendo uma delas chegado a uma rota marítima perto do
Bósforo, na Turquia.
Quer isto dizer que, devido às dificuldades associadas às exportações
ucranianas de cereais, o mundo está condenado à fome? Pelo amor de Deus! Mesmo
que a Ucrânia consiga exportar as restantes 11 milhões de toneladas de trigo,
como previsto, não salvará ninguém, uma vez que isso representaria apenas 4% da
procura mundial. O mesmo acontece com o milho: a procura mundial é de 200
milhões de toneladas, enquanto as exportações ucranianas rondam, em geral, os
30-35 milhões de toneladas. Assumamos, portanto, que a Ucrânia e a situação à
sua volta pouco têm a ver com a ameaça iminente de fome no mundo. Mas então, o
que isso tem a ver com a fome?
Passemos por um momento a estes propagandistas pró-russos na Organização
das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura. De acordo com os seus
especialistas, em Fevereiro de 2022, antes do início da operação russa no leste
da Ucrânia, os preços dos produtos agrícolas atingiram um novo máximo, 2,2%
acima do pico de Fevereiro de 2011 e mais 21% do que em 2021. Isto não
aconteceu de todo por causa da Rússia, mas sim da impressão de dinheiro
relacionada com a pandemia e os elevados preços da energia, dos fertilizantes e
de outros recursos agrícolas. Além disso, desde o início da acção militar na
Ucrânia, 23 países impuseram limites estritos às exportações agrícolas. O mais
importante é a Índia, que proibiu as exportações de cereais devido a uma seca
terrível.
A única coisa pela qual se pode dizer que a Rússia é responsável é por
restringir as suas exportações de certos fertilizantes, o que fez para proteger
o abastecimento dos seus agricultores. Em 2020, a Rússia foi o principal
exportador de fertilizantes azotados, o segundo de potássio e o terceiro de
fósforo. O mercado mundial de hoje carece de cerca de um quarto das suas
necessidades de fertilizantes, e se este problema não for resolvido, a fome é,
de facto, inevitável para muitos países. Mas, mesmo assim, a Rússia é apenas
parcialmente responsável: foram as sanções anti-russas que têm causado preços
muito elevados para o gás natural, que é a principal matéria-prima para a
produção de adubos azotados.
Em conclusão, alguns
decidiram que usar o Covid-19 como desculpa para regar o planeta com moeda
lançada por helicópteros, destruir o mercado europeu de gás natural, impor sanções infernais à Rússia e
culpar a Rússia é, de certa forma, uma estratégia vencedora. Bem, seria uma boa
definição de estupidez, certo? Ainda por cima, há uma grave escassez de farinha
de trigo nas partes da Antiga Ucrânia que ainda não foram libertadas: o que há
para venda foi importado da Turquia! Isto é contagioso?
Crédito: Rhett Butler
Dmitry Orlov
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Acaba de ser republicado pela Cultures &
Racines.
Também acaba de
publicar o seu mais recente livro, The Arctic Fox
Cometh.
Traduzido por Hervé, revisto por Wayan, para o Saker Francophone
Fonte: Qui crée la faim dans le monde ? – les 7 du quebec
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis
Júdice
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