3 de Junho de 2022 Robert Bibeau
Por Brigitte Bouzonnie.
Estudo do Observatório das Desigualdades + artigo do Point escrito por Marc Vignaud em 01/06/2022 + comentários Brigitte Bouzonnie. Leia no mural do Facebook da minha amiga Jilles Lazardeux.
1º)- Brigitte
Bouzonnie: O
Observatório das Desigualdades fixa o limiar da "riqueza" em 3.700
euros após impostos. Isto preocuparia cerca de 10% da população francesa, ou
seja, 4,5 milhões de franceses. Este estudo foi amplamente
divulgado, como mostra este artigo em Le Point. O longo relatório a que deu
origem ontem às 18h das notícias da France Inter, depois durante o programa
"O telefone toca". O artigo que lhe foi dedicado pela plataforma
Edge.
Por que se concentrar exclusivamente nos "ricos", para quem tudo rola bem. Pessoas ricas que têm a oportunidade de poupar até 22% do seu rendimento mensal, quando os pobres consomem o total do seu salário, poupando zero tostões, zero cêntimos. Porquê falar exclusivamente dos ricos, quando estamos a assistir a uma pobreza desenfreada: entre os 15 milhões de mulheres e homens do nosso belo país que vivem abaixo do limiar da pobreza, segundo os nossos cálculos, 80% dos franceses lutam para pagar as despesas. Já para não falar das desigualdades que passaram de um fosso de 1 para 20 nos anos 60 para um fosso de 1 a 400 hoje (números de Martine Orange): tantas cifras-chave cuidadosamente escondidas no debate político de 2022, a favor deste debate no ecrã que consiste em saber se uma minoria de 10% é "rica" ou não, com as quais não nos importamos.
O observador das desigualdades sociais é um think thank privado dirigido por Louis Maurin. Não tem fibra social, nem empatia pelos mais pobres. A sua única "obsessão" durante dez anos, – conheço-o intelectualmente, porque dirige um blogue da Médiapart, como eu, entre 2013 e 2020 – é denunciar ritualmente os "ricos" a 3000 euros. Depois, a inflacção obriga, os ricos a 3700 euros. Operação da baixa polícia ideológica, permitindo "afogar-se", para esconder os milionários ultra-ricos, sob os ricos "necessitados".
Em sentido inverso, em
momento algum o seu observatório destacou o empobrecimento das classes
trabalhadoras e das pequenas classes médias, infelizmente bem avançado. Leia ou ouça isto: https://queonossosilencionaomateinocentes.blogspot.com/2022/05/a-pequena-burguesia-nao-e-uma-classe.html
O observatório das desigualdades sociais
sempre foi uma máquina para desorientar consciências. Se a sua criação
respondeu à necessidade urgente de conhecer melhor os pobres e a extensão da
pobreza em massa em França, então, este sítio não deixou de falar repetidamente
sobre os "ricos": não para criticar a política macroniana que visa empaturrá-los
com dinheiro, especialmente desde 2017: mas para nos fazer desejar fazer parte
deste grupo dourado!
Este site transmite
falsa consciência no sentido marxista da palavra. Longe de nos esclarecer,ilude-nos, impedindo-nos de nos apercebermos da vaga
de pobreza que infelizmente cobre o nosso país, como disse o falecido Julien
Lauprêtre, Presidente da Secours Populaire. Segundo os dados do Secours
populaire,
30% da população francesa com crianças está, infelizmente, numa situação de
pobreza.
2º)- Artigo Le Point: No seu segundo relatório sobre os ricos em França, o
Observatório das Desigualdades propõe fixar o limiar da riqueza em 3.700 euros
após impostos.
É um dos cavalos de
batalha de Louis
Maurin, o director do Observatório das Desigualdades. Este órgão
independente, mas não desprovido de ideologia, quer ajudar a esclarecer os
"ricos" de
França, revelando o seu segundo relatório dedicado a este tema,
depois de 2020. Lamenta que o INSEE não defina um limiar, enquanto na Alemanha este
nível "é publicado há 20 anos".
Não existe uma definição
única de pessoa "rica". Tudo é muitas vezes uma questão de opinião.
"Em França", lamenta Louis Maurin, "ninguém gosta de ser chamado
de 'rico'. Todos fazem o seu julgamento e descobrem que os ricos são aqueles
cujo nível de vida é maior do que o seu. É verdade: para além de Bernard Arnault e
de um punhado de ultra-ricos, somos sempre o pobre de um outro", lamenta
no seu editorial que acompanha o relatório.
LEIA
TAMBÉM Os 20% dos ricos franceses? "Pessoas privilegiadas
que nunca estão satisfeitos o suficiente"
Ser rico a
partir de 3.700 euros por mês após impostos
Por isso, temos de nos entender sobre do que estamos a falar. O
Observatório das Desigualdades propõe fixar o limiar da riqueza, expresso em
termos de rendimento, em 3.700 euros (3.673 euros exctamente) por mês após
impostos e prestações sociais para uma única pessoa. Isto é o dobro do nível de
vida mediano, ou seja, o limiar que divide a população em dois, um ganha mais,
o outro menos.
Alguns acharão este
limiar baixo, mas deve saber que a este nível de vida (um indicador que tem em
conta o tamanho do agregado familiar), uma pessoa ganha mais do que... 93% da
população. Assim definido o limiar da riqueza, a França tem 4,5 milhões de
pessoas ricas, ou 7,1% da população, uma vez que há 14,6% dos pobres em 2020.
"Este limiar deve ser discutido tendo em conta o lugar da vida, a idade ou
a combinação com o património", reconhece o Observatório das
Desigualdades. "Ser rico aos 25 anos não tem o mesmo significado que aos
45 anos, viver com 3.700 euros por mês não é o mesmo quando se vive em Paris ou em
Charleville-Mézières", admite Louis Morin. Também podemos estimar que uma
pessoa rica é um dos 10% dos franceses que ganham a melhor vida...
Obviamente, estes critérios não esgotam a definição de um homem rico,
muitas vezes equiparado aos super-ricos como Bernard Arnault, o chefe da LVMH.
Para Louis Maurin, "a riqueza monetária é composta por duas grandes
dimensões que se complementam, rendimentos e riqueza, que devem ser capazes de
associar, e não apenas estudar separadamente".
LEIA
TAMBÉMA fantasia neoliberal
€490.000 em activos
Em termos de riqueza, o Observatório das Desigualdades define o limiar da
riqueza em 490 mil euros. 16% das famílias excedem este limiar. 4% das
famílias, ou 1,2 milhões, são milionários. "Desde que excluamos as 500
maiores fortunas profissionais, é obrigado a reconhecer o Observatório das
desigualdades, não vemos nos nossos dados uma recente explosão de rendimentos e
riqueza muito elevados. Por outro lado, considera, a França é um país onde os
ricos enriquecem regularmente a longo prazo. Nem as crises nem o nível dos
impostos sobre a riqueza estão no caminho. »
Entre os muitos números interessantes contidos no seu relatório, podemos
encontrar a parte dos salários capturados pelos 1% dos trabalhadores do sector
privado mais bem pagos. Esta quota aumentou de forma constante para 8,1% em
2018, acima dos 6,8% de 1996.
Em termos sociológicos, os ricos são muitas vezes velhos. Se assumirmos
como uma definição que uma pessoa rica é um dos 10% dos franceses cujo nível de
vida é o mais elevado, então ele tem em média 57 anos, já não tem um filho
dependente, é muitas vezes (82%) o proprietário da sua casa. 73% das pessoas
com melhor nível de vida também estão entre os 20% dos franceses com maior
riqueza. Números do INSEE compilados pelo Observatório das Desigualdades.
Difícil constituir
um património com o fruto da sua obra
O Observatório das Desigualdades também se focou na tentativa de descrever
as condições de vida dos "ricos". "Partir no inverno continua a
ser o principal elemento distintivo", lê-se no relatório. Apenas 17% dos
franceses saem pelo menos uma vez de dois em dois anos neste momento (dados do
Crédoc 2010). E depois, há partidas e saídas: 8% tomam a direcção dos desportos
de inverno, e poderíamos acrescentar – mas a sua parte não é medida – aqueles
que escolhem um destino distante ao sol, a grande maioria dos quais são os mais
ricos. Ser rico é ir onde quiser, quando quiser, sem ter que se preocupar em
planeá-lo com antecedência e o orçamento para lhe dedicar. Refira-se que apenas
5% das famílias (dados do INSEE de 2013) têm uma segunda casa.
LEIA
TAMBÉM O imposto sobre heranças na Europa: onde é que paga
menos?
Para além desta tentativa de descrição, o Observatório das Desigualdades
assinala que a quota-parte da herança no património tem vindo a aumentar desde
a década de 1980, uma tendência fundamental já assinalada pelo Conselho de
Análise Económica. Isto está, em particular, ligado ao aumento dos preços dos
imóveis.
"Construir riqueza só com rendimentos do trabalho é possível",
nota o Observatório no seu relatório, "mas continua a ser tão raro hoje
como nos anos 20". Ao contrário do que se pensa, muitos franceses nunca
herdarão. Apenas uma pequena maioria (53%) das pessoas com mais de 70 anos
herdou durante a sua vida, segundo o INSEE. E entre as heranças recebidas, dois
terços são menos de 30.000 euros. 40% são ainda menos de 8.000 euros. Tantas
observações que defendem o aumento da tributação da herança e não a sua
diminuição, como prometido por Emmanuel Macron, que quer aumentar o subsídio
entre pais e filhos para 150 mil euros por herdeiro.
Fonte: Riche à partir de 3 700 euros par mois : est-ce le vrai problème du moment?!… – les 7 du quebec
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis
Júdice
Sem comentários:
Enviar um comentário