ACHADOS |
29 de Junho de 2022 Equipa editorial
Os
acontecimentos no Próximo Oriente
Avetis Sultan-Zade
Número 4 do Boletim
Comunista (segundo ano), 27 de Janeiro de 1921.
A Revolução Arménia e o aparecimento do Poder Soviético às portas da quase
Pérsia e da Turquia esbateram definitivamente as cartas dos banqueiros
franceses. Em breve, a Entente será forçada a suavizar a sua política de pilhagem.
O Tratado de Sèvres, que consagrou o desmembramento e o saque da Turquia pelos
capitalistas ocidentais, será, sem dúvida, revisto. Esta suposição é ainda
reforçada pelos acontecimentos na Grécia, onde a queda de Venizelos e o
resultado das eleições testemunham a hostilidade das massas populares contra a
política da Entente que arrastou o seu país para a guerra com os kemalistas.
Assim, os bandidos do Ocidente perderam os seus dois cães de guarda mais
leais, Venizelos e os Dashnaks1. São obrigados pela marcha dos acontecimentos a
procurar um acordo com os nacionalistas turcos, esforçando-se não só por os
afastar da Rússia soviética, mas também para virar as suas armas contra nós. Se
antes da guerra a existência da Turquia garantiu o equilíbrio entre as duas
coligações imperialistas, ainda hoje é necessário manter o mesmo equilíbrio
entre o crescente comunismo e o capitalismo em agonia. É por isso que o Acordo
fará grandes concessões. Além disso, as exigências dos nacionalistas turcos não
são excessivas. Apresentaram ao Governo instalado pela Entente em
Constantinopla as seguintes condições: evacuação de Adrianople2 e Esmyrna3,
alteração dos artigos financeiros e económicos do tratado, abolição das
capitulações, amnistia geral e constituição de um gabinete com a confiança do
povo. O sultão da Turquia é deixado são e salvo, e é isso que interessa
sobretudo à Entente.
Quanto aos outros artigos, os capitalistas franceses sabem bem que a
maioria continuará a ser uma carta morta. Quaisquer que sejam as concessões que
os kemalistas obtenham nesta área, permanecerão, no entanto, nas garras dos correctores
das bolsas de Paris e Londres. Este é o destino de todos os povos atrasados que
afirmam viver em amizade com os poderes imperialistas.
Escusado será dizer que esta situação não pode satisfazer todos os círculos
turcos. A ala esquerda da Assembleia Nacional de Angorá declarou-se
categoricamente contra qualquer acordo com a Entente. A composição social desta
ala esquerda é composta por camponeses e pequena burguesia. Esta última sofreu
mais do que todas as outras classes da guerra, porque era ela quem tinha que
fornecer os cavalos, os carros e o gado para o exército sem contar todas as tarefas.
Nas cidades, graças ao bloqueio, a pequena burguesia foi inteiramente arruinada
pela supressão quase total do comércio. Então ela tem uma mentalidade mais
revolucionária.
É certo que os capitalistas franceses dificilmente conseguirão lançar os
nacionalistas turcos numa guerra contra a Rússia soviética. A memória ainda
está muito fresca dos roubos e saques que o povo turco teve de sofrer nas suas
mãos. Em todo o caso, trata-se de uma hipótese absolutamente excluída por
enquanto. A Turquia, devastada por guerras intermináveis, ainda mais do que a
Rússia, hesitará antes de arriscar tal aventura. O desenvolvimento lógico da
revolução mundial é tal que o movimento libertador dos países coloniais e
semi-coloniais no primeiro período da sua luta contra o imperialismo deve
inevitavelmente marchar de acordo com a Rússia Soviética, o único defensor dos
povos oprimidos contra as políticas violentas dos capitalistas ocidentais.
Mas no futuro deve haver uma mudança total. As classes proprietárias que
hoje estão à frente da Revolução Nacional, depois de terem obtido relativa
independência, logo serão obrigadas, como resultado da exacerbação dos
antagonismos de classe, a aliar-se às potências imperialistas, precisamente as
mesmas contra quem mais violentamente combateram. Além disso, é extremamente
difícil para um estado atrasado passar sem a ajuda dos estados capitalistas.
Agora, tão logo esta aliança esteja concluída, eles caem inteiramente sob a influência
dos imperialistas e tornam-se um instrumento cego nas suas mãos.
Além disso, na época da amarga luta de classes, até a falsa independência
pode satisfazer plenamente a burguesia nacional dos países coloniais e semi-coloniais.
Por outro lado, quanto maior forem os antagonismos de classe dentro da
metrópole, mais concessões a burguesia imperialista concede às suas colónias,
especialmente aquelas que se limitam a uma revolução colonial incapaz de
prejudicar profundamente os interesses económicos e as transferências de
matérias-primas de que a metrópole necessita. É por isso que acreditamos que a
Entente fará grandes concessões e que as exigências dos kemalistas, com poucas
excepções, serão satisfeitas. O fantasma da Revolução Mundial assusta os
imperialistas de tal forma que estão prontos a fazer qualquer coisa para manter
os quadros da sociedade burguesa. Mas este fantasma não só assusta os
imperialistas, como também faz tremer todo o mundo capitalista. Quanto mais o
movimento comunista se desenvolve, mais o antagonismo de classe aumenta, e mais
reaccionária se torna a burguesia mundial. Isto explica o desejo das classes
privilegiadas de muitos países atrasados (Pérsia, Geórgia, Arménia, etc.) de
manter relações amigáveis com a Entente, na qual vêem o apoio da sociedade
capitalista.
A evolução da luta de classes em breve forçará a burguesia, mesmo nos
países coloniais, a abandonar todo o tipo de ideias revolucionárias. Em muitos
destes países, talvez, o proletariado ocidental vitorioso encontrará uma Vendée
(referência a um departamento francês que na antiguidade combateu as tropas de
Júlio César- NdT) na pessoa da burguesia local e a sua própria burguesia
escapou da revolução social.
O capitalismo moribundo toma todas as suas medidas para atrasar a sua
morte. A humanidade atravessa o período mais interessante da sua história: na
arena da luta de classes estão duas forças gigantescas, cada uma das quais
retém a simpatia e as esperanças de toda uma classe do universo. Os banqueiros
de Paris, ao quererem rever o Tratado de Sèvres no interesse da Turquia, estão
apenas a descobrir a impotência total dos antigos mestres do mundo. O
imperialismo ocidental, para lutar com esperança contra o crescente comunismo,
é forçado a renunciar gradualmente aos frutos das suas vitórias conquistadas
com tanta dificuldade.
A.
SULTAN-ZADE.
Notas
1 corrente nacionalista arménia, pertencente à Segunda Internacional, que tinha
proclamado uma república arménia independente em 1918.
2 Hoje Edirne.
3 Esmirna.
Os direitos de autor deste texto pertencem aos organismos em causa. É
publicada aqui, num espaço de cidadão sem rendimentos e sem conteúdos
publicitários, para fins estritamente documentais e em total solidariedade com
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Fonte: Les événements au Proche Orient (Sultan-Zade) – les 7 du quebec
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis
Júdice
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