26 de Outubro de 2022 Robert Bibeau
Na Comunia. Tradução e comentário
OS TRÊS RELÓGIOS DE BIDEN
1. O INVERNO EUROPEU E A GUERRA NA UCRÂNIA
Se a guerra na Ucrânia
– ou pelo menos o bloqueio russo ao gás – continuar até ao Inverno de 2023-24,
a escassez de energia tornar-se-á
catastrófica na Alemanha, embora este Inverno (2022-2023) também não
seja fácil, mesmo que consigam reduzir o consumo mundial entre 10 e 20%.
Especialmente se, como já acontece, surgir algum tipo de problema
no fornecimento e descarga de gás DE GNL.
Não é que os EUA se preocupem
demasiado com a saúde do capital alemão e europeu, de facto a redução definitiva do poder do imperialismo alemão no
continente é um objectivo secundário da operação da NATO na
Ucrânia (NDÉ), e não um dano colateral para Washington. Mas, como já estamos a ver na Croácia,
mesmo os países mais alinhados com os Estados Unidos podem acabar por desertar
da frente anti-russa ou rejeitar novas acusações se a situação económica
continuar a deteriorar-se por demasiado tempo ou demasiado depressa.
Por um lado, o exemplo da Grã-Bretanha –
onde a inflacção está fora
de controlo e a
fome já está no horizonte para milhões – dá para as classes
europeias dominantes reflectirem. Por outro lado, as perspectivas industriais
são catastróficas. Que o diretor da Stellantis preveja o encerramento de 11
fábricas e que a indústria em torno das energias renováveis - fabricantes de
componentes e baterias - veja uma reducção de 25% no seu mercado no horizonte
imediato não estimula a adesão à prolongada guerra que os Estados Unidos
prevêem.
Consequentemente, as
tensões internas na UE multiplicam-se novamente. A Comissão, que esperava
centralizar quase todas as compras de gás, aspira agora a gerir
um máximo de 15% porque ninguém acredita que Bruxelas não
favorecerá sistematicamente o capital alemão.
É claro que o tempo
também está a esgotar-se para o regime russo. Analistas próximos da NATO
esperam que "as coisas se tornem realmente problemáticas para Putin" a
partir de Março ou Abril se o avanço militar da Ucrânia continuar.
Assim, o Kremlin, que já
esvaziou as ruas de jovens e os empilhou em massa para uma
morte ignominiosa, está a alargar o campo de jogo: os drones
iranianos que aterrorizaram Kiev esta semana são apenas o
primeiro episódio do que está para vir.
2. A CORRIDA AOS CHIPS
Os EUA carregam
no acelerador da guerra tecnológica contra a China: a
indústria de chips e semi-condutores. Não há dia sem novas
medidas e boicotes.
A
China está a tentar recuperar e desenvolver a sua própria indústria, aceitando taxas
de erro desproporcionadas como custos temporários e aproveitando
um mercado em segunda mão em declínio.
Os Estados Unidos estão a acelerar a sua guerra tecnológica porque sabem que o tempo é contra. Pelo caminho, destrói o mercado e as capacidades produtivas da Europa, dos próprios países de producção (Taiwan e Coreia do Sul) que trata de forma cada vez mais punitiva... e a sua própria estrela da indústria, a Intel. O Economist fala mesmo do "colapso de uma indústria de 1,5 biliões de dólares". E a consequente escassez - não haverá fornecimento suficiente de chips para a indústria automóvel durante pelo menos dois anos - certamente afectará toda a capacidade industrial americana.
3. O REGRESSO DE UM PARTIDO REPUBLICANO CADA VEZ MAIS CÉPTICO SOBRE A
CONTINUAÇÃO DA GUERRA
Biden anuncia libertação de milhões de barris de petróleo
A inflacção produzida
pela guerra, agravada nas suas consequências para os trabalhadores e a pequena
burguesia pela resposta anti-inflaccionista da Fed, está a dificultar cada vez mais as
eleições de Novembro para os democratas.
A partir daí, a diplomacia americana fez tudo, pressionando a Arábia Saudita a aumentar as quotas de producção da OPEP+. Isto obviamente não funcionou para ele. Os gestos e ameaças subsequentes de Biden ao líder saudita apenas revelam o fracasso dos Estados Unidos em construir um bloco fora da Europa e dos países anglo-saxónicos. Pior, irritou o establishement saudita e os seus aliados regionais, como se viu ontem na resposta mordaz dos Emiratis à referência de Borrell à "selva".
E, mais impressionante, também envenenou a indústria petrolífera
norte-americana, que está agora a competir com as suas próprias reservas
nacionais, depois de Biden ter ordenado que milhões de barris fossem colocados
no mercado para forçar um corte de preços que o ajudará eleitoralmente.
Como resultado, os
lobbies de petróleo estão a atacar os democratas e a apoiar candidatos
republicanos nestas eleições, muitos dos quais são militares reformados e
oficiais veteranos não-contratados, opondo-se
abertamente a continuar a apoiar a guerra na Ucrânia. Na
verdade, Trump já está a falar em
"estabelecer negociações imediatas".
4. ACELERAR NÃO É IR MAIS RÁPIDO PARA O DESASTRE, É IR CADA VEZ MAIS RÁPIDO
Bombardeiros nucleares russos na Síria
Cada passo em frente dos Estados Unidos multiplica as possibilidades de uma
extensão da guerra a novos Estados e regiões.
Por exemplo, depois de
a Rússia se ter dirigido ao Irão para reforçar a sua aviação com drones
suicidas na guerra da Ucrânia, Israel
apressou-se a lutar contra o seu principal inimigo em solo ucraniano.
A resposta da Rússia: ameaçar o Governo de Telavive de estabelecer uma
concessão ao Irão
de um livre conduto para a Síria e para o Líbano, lembrando-o de
que, se a guerra na Síria não se espalhou para afectar directamente Israel, é
devido ao seu papel de supervisão.
OS OPERÁRIOS: ENTRE CARNE PARA CANHÃO E GADO FAMINTO
Insegurança alimentar na Grã-Bretanha
Cada aceleração também implica uma maior destruição das capacidades
produtivas e das vidas.
Após o ataque à ponte
de Kerch, a Rússia já destruiu 30% das centrais eléctricas da Ucrânia em retaliação. Enquanto
os EUA encorajam os ataques militares ucranianos a cidades russas e uma
ofensiva em Kherson está em curso, o que está a chegar na Ucrânia é
claro: assassínios
de soldados e civis de ambos os lados, fome de trabalhadores de ambos os lados
da fronteira.
Na Grã-Bretanha, em Setembro
passado, pelo
menos 18 milhões de famílias tiveram de saltar refeições porque não tinham
dinheiro para comprar comida.
Nos Estados Unidos, 180
milhões de pessoas estão a tentar sobreviver com rendimentos abaixo do mínimo
necessário para uma vida decente. E, claro, não pertencem nem às
classes dominantes nem à pequena burguesia abastada, nem se limitam a um grupo
racial ou sexual; A grande maioria deles são trabalhadores precários (os
"vulneráveis" de que falaremos em breve. NDÉ). É a
classe operária no seu conjunto que está a ser arrastada para a pobreza.
As políticas económicas com as quais a Fed e os bancos centrais, por um lado, e os governos, incluindo os da esquerda europeia, estão a tentar salvar o capital no meio da ansiedade causada pelo avanço dos conflitos imperialistas, só irão agravar a situação. As imagens da miséria, da morte e da angústia que já afectam milhões de trabalhadores.
§
As principais vítimas dos atentados e
sanções são os trabalhadores de ambos os lados da frente.
§
A guerra expressa o crescente
antagonismo entre o capitalismo e a vida humana.
§
Em todos os países, o inimigo
está dentro do próprio país, apelando ao sacrifício e subordinando as
necessidades humanas universais em benefício das empresas e do investimento.
§
Em todas as greves, em todas as
reuniões, em todas as empresas e em todos os bairros, tornemos visível o
militarismo, a guerra e as suas consequências, e organizemo-nos
enquanto trabalhadores contra eles.
Proletários
de todo o mundo, uní-vos, abulam exércitos, polícias, producção de guerra,
fronteiras, trabalho assalariado!
Fonte: Biden, entre la corde raide et le nœud coulant – les 7 du quebec
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis
Júdice
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