27 de Outubro de
2022 Robert Bibeau
Por Brigitte Bouzonnie.
Sou muito cauteloso de carácter. Mas, por uma vez, posso escrever: todas as
condições políticas e sociais estão reunidas, para que haja um grande conflito
social em França neste Inverno. Porque, em primeiro lugar, não sou eu quem o
diz primeiro: mas o próprio Macron, durante a discussão deste Verão da lei do
poder de compra. Lembremo-nos: este vago dispositivo que dá algumas migalhas
aos ninguéns e aos nadas que somos. Esta previsão de um grande conflito social,
segundo o próprio Macron, consegui ler no Canard Enchainé, página 2, numa
edição de Julho de 2022. E caí do armário!
Francamente, na verdade, normalmente, são os grevistas que vêem o futuro a
vermelho. Pelo contrário, os nossos Presidentes acalmam as nossas exigências.
Então, não foi o Sarkosy que disse em 2008? "Em França, quando os
sindicatos fazem greve, nem se nota!" (sic).
O que acontece de repente, para que haja uma mudança de atitude na mente
daqueles que nos governam? Tenho várias explicações:
1-°)- Os governos ocidentais devem: a) ou causar uma miséria económica de
tal magnitude que testaria o tecido político democrático de qualquer país. b°)-
Ou abandonam o seu apoio a Kiev.
A explosão no preço da energia, na sequência das sanções ocidentais contra
a Rússia, como parte da guerra na Ucrânia.
Na sequência das sanções contra a Rússia e da especulação de um capitalismo
de casino sobre o preço da energia, o preço de um megawatt de electricidade
subiu de 65 para 800 euros até à data. Idem para o preço do petróleo, gás, etc.
Quando sabemos que 80% dos franceses já lutam para pagar as despesas, com o
preço antigo da electricidade: não nos atrevemos a imaginar o vertiginoso
aumento das contas, que os nossos concidadãos receberão, no final do Inverno.
Especialmente porque o Inverno promete ser frio, explica estudo europeu:
"o mais frio dos últimos dez anos. Especialmente durante os meses de
Dezembro de 2022, Janeiro e Fevereiro de 2023" (sic) (ver artigo LCI de 22
de Outubro de 2022).
1-1°)-Na verdade, esta escassez de aquecimento é desejada tanto pelos
americanos (implementação do Great Reset). Somente pelo "Presidente
Putin", - analisa BATIUSHKA, num artigo de 23 de Outubro da Rede
Internacional. Também publicada ontem na carta política independente. Por isso,
Putin aguarda o inverno para dar ao povo da Europa Ocidental oportunidades para
reflectir e, em seguida, forçar os seus líderes a rejeitar a tirania
americana", lê-se no artigo.
Isto pressupõe inevitavelmente que o povo francês irá para as ruas, como os
alemães, os checos, os austríacos, os húngaros já estão a fazer com sucesso....
1-2°)-Esta análise não é isolada. Recomendo também a leitura do artigo
escrito por Alastair Crooke, um antigo diplomata britânico radicado em Beirute,
num artigo publicado na revista: Strategic Culture, um jornal alternativo em
língua inglesa, proibido de permanecer no Facebook. Postado em carta de
política independente.
Escreve em particular:
"Os governos ocidentais devem: 1) ou causar miséria económica a uma
escala tal que testaria o tecido político democrático de qualquer país. 2º)- Ou
limitam a sua defesa à Ucrânia".
E em conclusão: "Putin precisa de manter alguma pressão sobre a
Ucrânia para que a pressão continue. Provavelmente não está disposto a
comprometer-se. O Inverno na UE será ainda mais difícil, com a escassez de
energia e de alimentos susceptível de causar agitação social."
Por outras palavras, ou a classe política europeia salva a sua pele e a
economia do seu país, recuando no gás russo "barato". Ou permanece
alinhada com Washington, expõe o seu povo à miséria e à revolta, só para
sobreviver. Depois, o povo francês irá inevitavelmente para as ruas. E lá, a
Macron, vai exigir explicações...!
2°)- OS FRANCESES ESTÃO A SURFAR NUM CICLO "ALTO" DE CONFLITUALIDADE.
E BENEFICIARÃO DA JANELA DE TIRO ABERTA PELA PRÓXIMA VITÓRIA DA RÚSSIA EM 2023,
CONTRA OS AMERICANOS E OS SEUS VASSALOS, INCLUINDO A FRANÇA!
2-1°)- Avaliação positiva da época social de 2022:
Com a greve das refinarias que durou mais de três semanas, vivemos um
regresso social à vida que faz jus a todas as nossas esperanças. Para além das
refinarias em greve, havia funcionários das 11 centrais nucleares.
Trabalhadores ferroviários, estivadores, agentes da RATP. O Louvre... Assalariados
grevistas da Stellantis, Groupama, Armor Meca, Renault Trucks, Carrefour...
Estas greves são muitas vezes "pagas". Assim, na empresa
Arc-en-ciel, os colaboradores obtiveram um décimo terceiro mês e um bónus de
cabaz, de acordo com informações da JDD de 15 de Outubro de 2022. No Groupama,
um quarto dos funcionários deixou de trabalhar no final de Setembro. Nada visto
há dez anos, diz o delegado do CFTC.
Este regresso da militância dos trabalhadores não é um trovão num céu
sereno. Faz parte de um "ciclo" de conflitos elevados
.2°)-Os franceses estão a surfar num ciclo elevado de conflito:
a)-Apresentação do livro de Goetz-Girey: "Les mouvements de grève en
France", edição de Sirey, 1965
O economista Robert Goetz-Girey analisou as greves ao longo do tempo, num
grande livro, intitulado: "Les mouvements de grève en France", edição
de Sirey, 1965. O autor analisa o período de 1919 a 1962. Com picos de JINT
(dias individuais não trabalhados) em 1919 e 1920, com respectivamente 15, 478
milhões jint e 23,112 milhões jint. 1947 (JINT 22,673 milhões). 950: JINT
11.728 milhões; Anos de forte conflito em 1921 (7,027 milhões de JINT). 1930
(JINT 7.209 milhões), 1949 (JINT 7.129.000), 1953 (JINT 9722000).
O que é mais interessante é que mostra que um conflito nunca é um caso
isolado. Mas faz parte de um "ciclo" de conflito ascendente.
Goetz-Girey fala de "flutuação cíclica": por exemplo, entre 1934 e
1939 e os eventos da Frente Popular.
O conflito ocorre sempre durante um longo período de tempo. Seguem-se
períodos de diminuição do número de JINTs e manifestações de rua, que também
duram a longo prazo.
b°)-Os franceses surfam num ciclo de conflito alto
Relativamente ao período recente, 2009-2022, podemos falar de um ciclo
"alto" e importante devido aos seguintes picos de conflito:
*por causa do movimento social contra a reforma das pensões desejada por
Sarkosy: 2,3 milhões de manifestantes em 6 de Outubro de 2009.
*1 milhão de manifestantes em 31 de Março de 2016 contra a lei Khomri.
*2 milhões de manifestantes em 5 de Dezembro de 2019 contra a reforma das
pensões desejada por Macron.
*Entre 2,8 e 6,5 milhões de manifestantes contra o passe sanitário em 31 de
Julho de 2021.
Por conseguinte, o povo francês está muito conscientes. Muito hostil ao
capitalismo mundialista mortífero está nas ruas. Não há dúvida de que um triste
agravamento da sua situação salarial só o pode levar a contestar abertamente a
selvajaria (implementação forçada do Great Reset), que o Estado profundo
americano quer impor-lhe.
Especialmente porque o mundo unipolar liderado apenas pelos Estados Unidos está
como o Império Austro-Húngaro de 1914, a morrer. Caminhamos cada vez mais para
um mundo multipolar, onde os BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China...)... estas
nações terão uma palavra a dizer.
Continuamos a nossa análise da "elevada" conflitualidade do povo
francês observada para este Outono e Inverno 2022-2023. E sobre as
consequências internas da guerra na Ucrânia: análise que começámos ontem, como
parte de um primeiro artigo.
3°)-O povo francês beneficiará da próxima vitória da Rússia em 2023, contra
os americanos e os seus vassalos, incluindo a França. Isto vai desestabilizar a
macronia!
3-1°)-Deve ser considerada uma vitória da Rússia:
O povo francês beneficiará da vitória da Rússia em 2023, contra os
americanos e, claro, os seus vassalos, incluindo a França. Não sou eu quem o
diz, mas o historiador militar Sylvain Ferreira numa entrevista de 22 de
Outubro de 2022 ao canal Télé-Libertés, intitulada: "O verdadeiro plano de
Putin".
Recomendo-lhe que veja este vídeo de coleccionador, especialmente o final,
desde o minuto 40 até ao fim: esta é a parte mais interessante!
O que é que ele está a dizer? Em primeiro lugar, que as operações russas
para destruir as infraestruturas ucranianas são apenas um pré-requisito para um
ataque terrestre russo em território ucraniano. Ataque que irá tão para oeste
como o país, incluindo Kiev.
"Putin deve deixar o poder em 2024. Assim, é necessariamente em 2023
que uma paz com a Ucrânia vai ter lugar: Sobre as condições definidas
exclusivamente pela RÚSSIA" (sic) (Isto é Ferreira fala!).
O fracasso programado do império americano e dos seus vassalos irá
desestabilizar profundamente Macronia. Inevitavelmente, provocam movimentos
sociais em larga escala a favor do povo francês.
3-2)-O sucesso anunciado pela Rússia reabilita a possibilidade de outro
projecto alternativo:
Por conseguinte, a percepção das greves actuais deve ser absolutamente
colocada nesta dinâmica positiva a médio prazo da geo-política. O facto de os
trabalhadores em greve em três refinarias terem regressado ao trabalho não tem
qualquer impacto na duração. Em todo o caso, outros trabalhadores assalariados
grevistas de 11 centrais nucleares continuam o seu movimento, mesmo que os
meios de comunicação mentirosos nunca falem sobre isso.
Não importa! Os sucessos e fracassos de fase são abolidos. A única coisa
que conta é a vontade do povo francês de entrar em greve. Para ir para as ruas.
Vontade. Resistência. Coragem dos trabalhadores em greve: que, em qualquer caso
e requinte, serão os mais fortes.
Nesta fase, e como o filósofo Alain Badiou analisa muito bem, numa entrevista
à revista Politis em Setembro de 2016:
"No passado, os governos basicamente concordaram que, uma vez atingido
um certo grau de escala de mobilizações, tiveram de recuar. Já não pensam
assim. Acho que é principalmente porque todos (ou quase) partilham a ideia de
que outro mundo não é possível. Se não há uma possibilidade no horizonte que
assuste o adversário, ele continua convencido de que só há que esperar e que
estas pessoas que os desafiam se cansem antes dele! (sic...)
O Estado é mais paciente do que qualquer outra pessoa. Ele trava as coisas,
manda os polícias para cá e para lá, deixa as pessoas se mexerem... Acabou
mesmo por forçar a manifestação a andar em círculos." (sic). (Leia este
texto no site "Compagnie Jolie môme").
Sim, Alain Badiou tem razão: entre 2009 e 2021, temos experimentado
movimentos de greve muito bonitos: movimento social de 2009 contra o projecto
de reforma das pensões procurado por Sarkosy. 2,3 milhões de manifestantes em 6
de Outubro de 2009. Movimento social contra a lei Khomri em 2016: 1 milhão de
manifestantes em 31 de Março de 2016. Mobilizações contra a reforma das pensões
desejadas por Macron, a partir de 5 de Dezembro de 2019: 2 milhões de
manifestantes a 5 de Dezembro de 2019. Movimento social contra o passe sanitário
do Verão de 2021: entre 2,8 e 6,5 milhões de manifestantes em 31 de Julho de
2021: número da associação Antipasssanitaire, fantoche do Ministério do
Interior.
Mas estes movimentos sociais estavam a ocorrer num contexto em que o império
americano reinava sozinho no planeta. Nenhum possível concorrente, uma vez que
a URSS tinha sido dissolvida em 1989.
A situação actual é muito diferente. Putin recriou um mundo multipolar: os
BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China). A guerra na Ucrânia, onde os russos já
venceram as grandes batalhas de Mariupol, Severodonetz e Lischansk, cuja
importância é comparável à vitória de Estalinegrado. E dá à Rússia uma vantagem
definitiva, em detrimento dos Estados Unidos.
Neste novo contexto, OUTRO MUNDO É POSSÍVEL, fora do mortífero campo mundialista
ocidental, que, pela primeira vez desde 2017, realmente assusta Macron.
Forçando-o a ceder às nossas legítimas exigências salariais. Este último não
admitiu, a meio da sessão do Conselho de Ministros: "nós, minimizámos o
movimento dos grevistas" (ver tweet de Alexis Poulain)!
Se, como analisa o historiador Sylvain Ferreira: "é necessariamente em
2023 que uma paz com a Ucrânia intervirá: EM CONDIÇÕES EXCLUSIVAMENTE DEFINIDAS
PELA RÚSSIA" (sic): grevistas e manifestantes franceses beneficiam de uma
formidável janela de oportunidade, possibilitada pela vitória russa anunciada
na Ucrânia, decantando o império americano.
Parafraseando Jacques Brel, queremos dizer: "pela primeira vez em
muito tempo, a vitória dos grevistas e dos manifestantes franceses, se não for
certa, ainda pode ser"!
Cabe-nos a nós, no âmbito do agrupamento "Poder do Povo" e do seu
programa de 35 pontos, apoiar ideologicamente com toda a nossa força o
movimento social actual e todos aqueles que se seguirão ao longo do ano de
2023.
Como diziam nos anos 70:
TEMOS RAZÃO EM NOS REVOLTAR!
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis
Júdice
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