quarta-feira, 12 de abril de 2023

França: os antecedentes do estudo sobre as creches "abusivas”

 


 12 de Abril de 2023  Robert Bibeau 


Por Khider Mesloub.

 

"A filosofia ensina-nos a duvidar do que nos parece óbvio. A propaganda, ao contrário, ensina-nos a aceitar como certo o que seria razoável duvidar. Aldous Huxley.

Há um ano, em Fevereiro de 2022, publiquei um artigo intitulado "Os antecedentes do escândalo das casas de repouso em França". No início de 2023, escrevi um segundo artigo intitulado "Governo Macron: Coveiro dos Lares de Idosos".

(Veja: Resultados da pesquisa por "casa de repouso" – Le 7 du Quebec )


Em ambos os textos, desmistificei a campanha de denúncia contra os lares de idosos, que são acusados de abuso. Escrevi: "Sem dúvida, a publicação do livro "Les Fossoyeurs" é suspeita porque se assemelha a uma operação de descrédito profissional orquestrada pelo governo Macron, e sobretudo uma operação de torpedeio económico lançada contra a multinacional Orpea, líder mundial em lares de idosos - já a acção da Orpea na bolsa de Paris caíu cerca de 60%".

Mais adiante, especifiquei: "De facto, através de uma operação de descrédito e desqualificação levada a cabo com grande habilidade pelos meios de comunicação social, o objectivo era duplo. Primeiro, depois de arruinar a reputação (através de acusações de abuso) e finanças (através do colapso dos valores das acções) dos lares de idosos dependentes, o governo esperava apropriar-se deles a um preço irrisório a fim de os transformar em estruturas medicalizadas reservadas aos idosos dependentes, de acordo com a sua política de restricção orçamental. Depois, ao denegrir os lares de idosos acusados de abuso, para dissuadir "crianças" de colocar os seus pais nestes supostos "estabelecimentos de tortura", uma forma indirecta de os forçar a tomar directamente a seu cargo, de acordo com a agenda do governo, que é institucionalizar a política de cuidados domiciliários, planeada há vários anos por razões de economia financeira e não de humanitarismo, como insistem o governo e os meios de comunicação social.

Bis repetita placent! O governo Macron parece pensar que uma operação de manipulação bem sucedida no sector da dependência também poderia ser bem sucedida no campo da primeira infância.

Desta vez, o governo Macron não contratou um jornalista vulgar para escrever um livro de acusações contra lares de idosos. A missão foi confiada à Inspecção-Geral dos Assuntos Sociais (IGAS).


Com a mesma táctica de criar um clima de psicose, amplamente utilizada pelos meios de comunicação social para assustar (e assim dissuadir) os "filhos" dos idosos que querem colocar os seus pais num lar de idosos, a imprensa está hoje a repetir a operação de manipulação psicológica contra os pais que devem registar os seus filhos numa creche.

Na edição de terça-feira 11 de Abril de 2023, todos os jornais estão a competir entre si na sua ingenuidade perversa para assustar o leitor com manchetes alarmistas concebidas para despertar emoção e, acima de tudo, medo. Aqui estão algumas das manchetes e comentários arrepiantes: "O que esperar quando se inscreve o seu filho numa creche". "Muitos dos adultos entrevistados descreveram situações que equivalem a abusos. Os autores do relatório salientam que "a qualidade das instalações é muito pobre, o que pode levar a deficiências na segurança emocional e no desenvolvimento das crianças pequenas". "Crianças privadas de uma sesta, alimentadas à força". "Um relatório alerta sobre a qualidade dos cuidados e os riscos de abuso nos centros de dia". "Abuso, insultos, humilhação... Um novo relatório encomendado pelo governo critica a qualidade dos cuidados em centros de dia". "Um relatório condenatório denuncia os maus tratos em creches". "As crianças deixadas todo o dia na mesma fralda "porque não choravam e não eram uma prioridade", privadas de sestas por falta de camas, "bebés de 4 meses a gritar de fome, a dormir, a precisar de tranquilidade e a ter de esperar, silenciosamente se possível"...".


Todos estes jornais fazem referência a um estudo realizado pelo IGAS. No entanto, na realidade, o estudo foi simplesmente a distribuição de um questionário ao qual responderam 5.275 directores, 12.545 empregados de creches e 27.671 pais. É verdade que os inspectores do IGAS visitaram efectivamente alguns estabelecimentos. Na realidade, visitaram 36 creches das 16.000 estruturas existentes (creches públicas, micro-créditos, creches, centros de dia). Isto representa apenas 0,2%.

Quanto ao questionário distribuído aos profissionais, é difícil imaginar directores ou funcionários a descrever as condições em que as crianças são cuidadas nos seus estabelecimentos como sendo deploráveis, tal como analisado no chamado estudo (seria suicida: seriam passíveis de ser processados por abuso). Do mesmo modo, é difícil imaginar um progenitor que seja informado de casos de abuso na creche onde o seu filho está inscrito, continuando a manter o seu filho neste estabelecimento de horror. Ou permanecer em silêncio. No mínimo, eles apresentariam uma queixa.

Sem surpresas, a Secretária de Estado da Criança, Charlotte Caubel, reagiu comparando as conclusões do relatório à crise que abalou o sector da dependência após a publicação do livro "Les fossoyeurs": "Não se trata de uma crise no EHPAD 2.0", declarou ela.

Há um ditado que diz: "Aquele que quer afogar o seu cão acusa-o de raiva". O governo Macron, radicalizado e enfurecido, de uma forma maquiavélica, exibe todas as semanas um novo estudo catastrófico sobre um estabelecimento público ou privado de utilidade social para justificar o seu encerramento. (No sector da saúde, 69 hospitais estão ameaçados com encerramentos parciais, devido a uma falta orquestrada de médicos)

O Wall Street Journal escreveu recentemente: "As despesas necessárias para enfrentar as ameaças serão impossíveis sem reformas que tornem as pensões e os ganhos sociais mais sustentáveis. Este é um debate necessário na Europa e nos Estados Unidos. O fim da Guerra Fria criou a ilusão de que os Estados-Providência poderiam ficar satisfeitos com benefícios cada vez mais generosos. Mas não podem se as democracias quiserem defender-se contra as ameaças autoritárias...! Por outras palavras, os preparativos para a guerra mundial, juntamente com a crise económica, são utilizados como justificação para a supressão dos direitos sociais e para o desmantelamento dos serviços públicos. (CQFD).

Tal como com os lares de idosos, que são deliberadamente estigmatizados a fim de justificar a reorientação da política de dependência para os cuidados domiciliários, que é considerada mais económica para o Estado, as instalações para a primeira infância são estigmatizadas a fim de motivar, se não o seu encerramento, pelo menos a sua redução.

A prová-lo. Este estudo espúrio tira esta conclusão perniciosa destinada a assustar os pais de crianças ou futuros pais, dissuadindo-os assim de confiarem o seu filho a uma creche. Argumenta que "para um bebé com menos de um ano de idade, passar 40 horas por semana numa creche, com tudo o que isto "implica em termos de ruído, agitação, riscos de sobre-estimulação", não é necessariamente a resposta mais adequada às suas necessidades. Assim, apela a uma "revisão das regras de duração e remuneração das licenças maternas, paternais e parentais" para "aumentar a possibilidade de presença parental com a criança durante o primeiro ano de vida". Por outras palavras, de agora em diante, as novas mães terão de manter os seus bebés em casa, pelo menos durante os primeiros três anos, se não por mais tempo. Esta é a política do regresso da mulher ao lar defendida sob o regime de Vichy... uma política de Estado exigida pela economia de guerra em que todo o Ocidente está atolado.

Para concluir. No que diz respeito aos maus tratos, se existe actualmente um organismo oficial que maltrata abertamente os seus milhões de cidadãos à vista de todo o mundo, é o governo Macron, o estado-policial - o estado-militarista - o estado de guerra. Tanto em termos de repressão como em termos económicos. Os franceses assalariados estão reduzidos a comer o seu pão preto, a alimentar-se da bílis negra, e a sofrer novos "anos negros".

Khider MESLOUB

 

Fonte: France: les dessous de l’étude sur les crèches «maltraitantes» – les 7 du quebec

Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice




Sem comentários:

Enviar um comentário