segunda-feira, 3 de abril de 2023

Para memória futura!

 


Após a morte do dirigente comunista Arnaldo Matos – fundador do Partido Comunista dos Trabalhadores Portugueses/MRPP – assistimos a um branquear total de tudo aquilo que propôs aos comunistas, aos operários e aos escravos assalariados em geral.

Após a realização do I Congresso Extraordinário do PCTP/MRPP, que ocorreu nos dias 18 e 19 de Setembro de 2020 - isto é, mais de um ano após o seu falecimento – assistimos a um agravamento desse branqueamento da história.

Branqueamento que foi consequência e motivo de sucessivos golpes no seio daquele que deveria ser o Partido do Proletariado Revolucionário, tendo uma clique revisionista, social-fascista, carreirista e burocrata, reaccionária, tomado de assalto a direcção do mesmo – o seu Comité central e Comité Permanente do CC, bem como o seu Órgão Central, o Luta Popular online – e tratado de assegurar que aquilo que o comunista Arnaldo Matos sempre defendera não mais seria fruto de análise, estudo, discussão e aplicação.

Veja-se o aborto que dá pelo nome de “Sindicato do Proletariado”, cozinhado por um Comité Sindical onde pontifica um notório neo-revisionista – que dá pelo nome de Castro – de braço dado com um chapado revisionista – que dá pelo nome de João Pinto (que acumula com o cargo de director do Luta Popular online).

 


Do programa de acção deste aborto sindical – para além do leilão de quotas e da oferta falaciosa de assistência jurídica – a primeira coisa com que se preocuparam estas “cabecinhas pensadoras” foi arredar do seu programa qualquer referência à Luta pela semana das 35 horas , 7 horas por dia, 5 dias por semana, 2 dias de descanso semanal (sábado e domingo) e 25 dias úteis de férias por ano. Ao mesmo tempo que “decretaram” que na TAP já não existia classe operária (???!!!)

Uma luta toda ela gizada pelo camarada Arnaldo Matos que explicou – até à exaustão – que este era o único programa de acção e luta que poderia suscitar a imediata adesão da classe operária e dos restantes escravos assalariados. A alternativa desta escumalha é propor uma consigna historicamente revisionista, contra-revolucionária, que não suscita unidade entre aqueles que nada mais possuem do que a sua força de trabalho, isto é a consigna da luta pela indexação dos salários em relação à inflação, isto porque tal consigna agravaria o fosso entre rendimentos para quem trabalha.

Sendo que um dos Pontos da Ordem de Trabalhos para um II Congresso Extraordinário, convocado a golpe para o dia 1 de Abril passado (nem de propósito, o dia das mentiras), o ponto 3, era para proceder à reavaliação e actualização do Plano de Acção, que tinha sido inteiramente gizado por Arnaldo Matos pouco antes da sua morte, outra coisa não poderemos esperar senão que, em definitivo, a actual direcção não se contenta apenas e para já com o branqueamento da sua memória, mas visa a completa revisão dos ensinamentos que nos legou e que a classe operária e os comunistas revolucionários saberão preservar, respeitar e aplicar.

Outro campo que tem merecido um branqueamento total, é o da Guerra na Ucrânia. É escandaloso o silêncio que a actual direcção do PCTP/MRPP vota sobre os importantes escritos e intervenções do comunista Arnaldo Matos sobre a situação na Ucrânia e aquilo que, do ponto de vista geoestratégico, já em 2014 este tão bem escalpelizava, sendo que, no essencial, as conclusões que retirava são totalmente confirmadas pela realidade actual.

“ ...a Federação Russa foi e está a ser objecto de grosseiras provocações da parte do imperialismo americano, alemão e europeu, os quais promoveram um golpe-de-estado na Ucrânia com vista a ocupar esse território na fronteira com a Federação Russa, criando assim uma ameaça estratégica a que os russos responderam firmemente, com os meios pacíficos apropriados, e ganharam...”
“... a classe operária e os povos da Europa devem denunciar e combater sem tréguas essas provocações do imperialismo, opor-se às sanções decretadas contra os dirigentes russos e apoiar a população russa na Ucrânia, dois terços do total da população ucraniana, à qual população russa se deve reconhecer, muito mais legitimamente que aos albaneses do Kosovo, o direito à autodeterminação e à independência...”(Arnaldo Matos, 11.05.2014)

 É, aliás, sobre esta vertente que vos venho propor à análise e debate vários dos artigos do comunista Arnaldo Matos a que faço referência e onde poderão, seguramente, vislumbrar que a história sobre a situação na Ucrânia não começou a ser escrita a partir de 24 de Fevereiro de 2022, nem mesmo a partir de 2014. A génese da crise ucraniana decorre da luta pelo seu controlo, quer por parte do Bloco Imperialista Ocidental, quer por parte do Bloco imperialista Asiático.

Boa leitura!


1

1. Ucrânia: Independência a Leste

Publicado em 13.05.2014

Duas províncias do leste da Ucrânia – a de Donetsk e a de Lugansk – submeteram a referendo popular, no passado domingo, dia 11 de Maio, a questão da sua independência, com a correlativa separação do Estado ucraniano.

O referendo constituiu um enorme sucesso popular, com uma participação maciça de 74,87% dos eleitores inscritos na província de Donetsk e de 75% dos inscritos na de Lugansk.

Em Donetsk, 89,70% dos votantes referendaram a República Popular de Donetsk, e, em Lugansk, 96,2% proclamaram a República Popular de Lugansk.

Em conjunto, os dois novos países têm uma população de sete milhões de habitantes, correspondente a 15% da população da Ucrânia, e formam uma região conhecida como Donbass, que abarca toda a riquíssima bacia carbonífera e mineira do rio Don, numa área total de 54 000 kms2, menos de 9% da superfície do Estado de que se emanciparam.

Mais de 75% das pessoas que vivem no Donbass tem o russo como língua natal. No seu conjunto, os dois novos países criavam 20% do produto interno bruto do Estado ucraniano. É, aliás, no Donbass que se encontram as maiores empresas mineiras, metalomecânicas, metalúrgicas e químicas da anterior Ucrânia.

Acontece que o território do Donbass, integrante dos dois novos países, só entrou na composição da antiga República Socialista da Ucrânia depois da proclamação do poder soviético. Anteriormente, o Donbass – e, por conseguinte, o Donetsk e o Lugansk - faziam parte do império russo. Na sua forma actual, a própria Ucrânia só existe há 23 anos, como resultado da implosão da anterior União Soviética, em 1991.

Nestes termos, os dois países que no último domingo proclamaram a sua independência nunca foram ucranianos: nem pela etnia, nem pela língua, nem pela religião, nem pela história, nem pela geografia, nem pela cultura, nem pelos heróis e heroísmo que cultivam.

Odiados pelos ucranianos do oeste, os povos dos dois países agora independentes – 15% da população, 9% da área e 20% do produto interno bruto de todo o Estado ucraniano – têm, nos últimos vinte e três anos, servido apenas para que, à conta deles, homens e mulheres do Donbass, vivam os territórios ocidentais da Ucrânia.

Foi justa e nobre a luta dos cidadãos de Donetsk e de Lugansk pela sua independência, luta que mereceu e concitou todo o apoio da classe operária e dos povos da Europa.

Felicitamos, pois, o povo de Donetsk e de Lugansk pela sua grande vitória.

Mas a luta, agora para garantir e consolidar a sua independência, não terminou ainda, e pode até acontecer que, para além das dezenas de mortos que já custou, venha ainda a custar muito sangue ao povo dos novos países independentes.

O imperialismo americano, germânico e europeu - provocadores exclusivos da crise ucraniana - não desarmará facilmente e tudo fará para aniquilar a independência dos dois novos países e submeter os seus povos à exploração e opressão dos lacaios de Kiev.

Os dirigentes da República Popular de Donetsk solicitaram a Moscovo a integração da nova república na Federação Russa. Mas os dirigentes da República Popular de Lugansk, prometeram unicamente a realização de um novo referendo popular, para decidir sobre uma possível reintegração.

Por seu turno, a Federação Russa, através do seu ministro dos negócios estrangeiros, Sérgio Lavrov, exprimiu o seu respeito pela vontade do povo das regiões de Donetsk e de Lugansk, e o desejo de que o resultado dos referendos seja aplicado no terreno de uma forma civilizada e sem repetição de violência...

Embora o Roteiro de Genebra, subscrito pelos ministros dos negócios estrangeiros da Federação Russa, dos Estados Unidos, da União Europeia e da Alemanha, esteja morto, em consequência dos crimes bárbaros cometidos pelas forças do governo provisório de Kiev em Odessa, onde mataram 49 cidadãos com um incêndio ateado ao prédio que haviam ocupado, a verdade é que Lavrov não deixa de apelar a soluções dialogadas.

É manifesto que Lavrov e Putin preferem à independência do povo russo da Ucrânia, seguida da reintegração na Federação Russa, a criação de uma federação ou confederação ucranianas, com as comunidades russas aí integradas.

A crise ucraniana dirige-se agora para uma nova encruzilhada: as eleições presidenciais, agendadas pelas autoridades provisórias nazis de Kiev para o próximo dia 25 de Maio.

Saudemos o aparecimento do Donetsk e do Lugansk independentes!


N. B. Logo que possível voltarei a este assunto, para examinar convosco a nova estratégia global do novo poder militar de um novo país emergente: a Federação Russa.

2.    


2. As Provocações Germano-Americanas Agravam a Crise Ucraniana

Publicado em 08.04.2014

Ainda que toda a comunicação social portuguesa, porta-voz dos monopólios nacionais e estrangeiros, pretenda ocultar a realidade, a verdade é que já toda a gente sabe ou suspeita que a actual crise política na Ucrânia se deve unicamente ao facto de que o imperialismo alemão, servindo-se da União Europeia, pretendeu, mediante a imposição de um acordo de adesão, tomar conta da Ucrânia, das suas riquezas económicas e da sua posição geopolítica e geoestratégica.

Como as autoridades legítimas da Ucrânia, eleitas por sufrágio directo e universal, se recusaram a assinar o acordo de adesão que Bruxelas e Berlim lhes ofereciam, logo a Comissão Europeia e a chancelerina Ângela Merkel fizeram ver às autoridades ucranianas que o tratado de adesão, embora oferecido, não podia ser rejeitado. Daí seguiu-se a concentração da oposição ao presidente Yanukovich na praça central de Kiev – Maiden – e o armamento de uma força de nazis, capaz de disparar sobre os jovens que ocuparam a praça e matar umas largas dezenas deles, impondo a queda pela força do presidente e do governo eleitos e aproveitando os restos do parlamento para nomear um presidente e um primeiro-ministro interinos.

Acontece, porém, que a Ucrânia é um país complexo, onde mais de metade da população é russa ou tem o russo como primeira língua, além de que o único porto russo de águas quentes está situado na península da Crimeia, sede da decisiva frota russa do Mar Negro.

A tentativa alemã de ocupação da Ucrânia através da adesão forçada à União Europeia encontrou pela frente a resistência determinada do povo russo de mais de metade da Ucrânia e conduziu directamente à declaração da independência da República Popular Russa da Crimeia, sem necessidade de disparar um tiro ou causar uma única morte, muito ao contrário do que sucedeu com a golpe-de-estado reaccionário de Kiev.

Proclamada a sua independência e integrada na Federação Russa, a Crimeia tinha contribuído para resolver um dos problemas criados pelo golpe-de-estado neonazi de Kiev, tanto mais que as autoridades provisórias de Kiev se contiveram num protesto muito calmo e sereno.

Barack Obama, o chefe de estado norte-americano a quem coube a tarefa de dirigir os ianques na fase em que se iniciou a sua decadência mundial, veio à Europa – e sobretudo a Bruxelas – explicar que os europeus teriam de passar a desemerdar-se sozinhos dos problemas que inventavam, porque o Tio Sam não chegava para todas as encomendas, agora que está forçado a preocupar-se acima de tudo com a Ásia e o Pacífico.

Todavia, europeus e norte-americanos, mal habituados como têm andado nos últimos setenta anos, não deixaram de aplicar à Rússia uma série de sanções económicas e civis que imediatamente comprovaram que tinham piores efeitos na bolsa de Londres e no nível de vida da Europa central do que nos governantes moscovitas.

A Federação Russa, que tem no seu actual ministro dos negócios estrangeiros, Sérgio Lavrov, um homem à altura dos acontecimentos, lá foi explicando ao congénere norte-americano, John Kerry, mais preparado para vender ketchup que ameaças credíveis, que, com a integração da Crimeia na Rússia, só havia duas coisas de juízo a fazer: regresso do presidente deposto, Viktor Yanukovich, rejeição da adesão à União Europeia, Nato fora das fronteiras da Ucrânia e uma nova constituição da Ucrânia de índole regionalista, com regiões autónomas nas províncias de língua russa, ou então, o fenómeno da independência da Crimeia, como aliás começara no Kosovo, iria inevitavelmente multiplicar-se nas províncias de língua russa.

Os ianques mandaram então uns aviões para a Letónia, Estónia e Lituânia manobrar provocatoriamente junto das fronteiras da Federação Russa.

Os russos, que logo no primeiro dia da deposição de Yanukovich tinham enviado, à cautela, quatro divisões (40 000 homens) para Vila Franca de Xira (maneira prática de fazer sentir ao lisboeta o que é estar um corpo de exército às portas da fronteira ucraniana), limitaram-se a esperar os novos acontecimentos.

E eles – os novos acontecimentos – chegaram ontem: os russos da região de Donets, leste da Ucrânia e fronteira sul da Rússia, declararam a sua independência, marcaram um referendo para adesão à Federação Russa no dia 11 de Maio e pediram ao parlamento da Federação que aceitasse a integração.

A região de Donets, com uma população de 4,5 milhões de habitantes e uma área equivalente à da Região Autónoma da Galiza, é o coração industrial da Ucrânia. Compreendendo as cidades de Donets, Lugans e Karkov, a bacia do rio Donets é hoje uma zona mais rica em carvão e em ferro do que o Sarre o é para a Alemanha.

Os russos que ontem proclamaram a independência do Donets apoderaram-se dos edifícios centrais do governo regional e do material de guerra do paiol da cidade de Lugans.

A situação atingiu uma gravidade extrema.

Mas é evidente que a responsabilidade pela crise ucraniana tem de ser por inteiro imputada à Alemanha e à União Europeia e às provocações de guerra dos aviões norte- -americanos.

O governo de traição nacional Coelho/Portas tem feito o papel que lhe cumpre de lacaio dos governos americano e germânico.

O povo português deve intensificar a luta pela saída de Portugal da Nato. Não devemos esquecer que há militares portugueses em zonas de guerra ao serviço da Nato, tanto no Kosovo como no Afeganistão.

Mas aos operários compete exigir, de todos os partidos políticos, que de uma maneira ou de outra se reclamem dos trabalhadores, qual é a posição política que têm quanto à gravidade da situação ucraniana.

De um momento para o outro, a situação ucraniana pode degenerar em guerra. Os operários portugueses não estão dispostos a ser carne para canhão numa guerra da Nato e do imperialismo alemão ou do imperialismo americano. Qual é a posição do PCP, ou do PS e do BE?

Ficamos à espera que nos digam...

3


3. As Tropas Ucranianas na Crimeia

Publicado em 26.03.2014

Os jornais, a televisão, a rádio e os jornalistas portugueses, sem nenhuma excepção, continuam a fazer a propaganda da CIA e do imperialismo germânico nos acontecimentos da Ucrânia e da Crimeia. Todos eles apresentam, com imagens e fotos pré-fabricadas, uma visão completamente distorcida e errada desses acontecimentos.

Assim, nos quinze dias que passaram desde a votação do referendo pela independência da Crimeia e da sua adesão à Federação Russa, jornalistas e órgãos de comunicação social portugueses apresentaram como um acto de profunda barbárie a regulação totalmente pacífica do problema dos quartéis, bases e tropas da Ucrânia na península da Crimeia.

A verdade é que dos 18 800 soldados ucranianos na Crimeia, 14 500 (cerca de 80%) aceitaram a proposta do governo da Crimeia para integrarem as tropas do novo país independente, e só 4 300 (cerca de 20%) dessas tropas preferiram voltar para o domínio de Kiev.

A deserção em massa das tropas ucranianas na Crimeia demonstra o isolamento político em que se acham as novas autoridades de Kiev em relação às próprias forças armadas ucranianas.

A fraqueza militar do governo golpista neonazi de Kiev augura novos e decisivos acontecimentos na própria Ucrânia.


4.     A União Europeia, a Ucrânia e o Espaço Vital Alemão

 

Publicado em 20.03.2014

Os ideólogos do imperialismo europeu sempre apresentaram as suas teorias sobre a necessidade da unidade política e económica da Europa como uma narrativa de paz: a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço, a Comunidade Económica Europeia, a União Económica e Monetária e, por fim, a União Europeia foram sempre apresentadas aos povos da Europa e do mundo como instrumentos políticos de paz, num continente onde, desde o I Milénio antes da nossa era, não houvera um único século sem guerras.

Só no século XX, travaram-se na Europa duas guerras, que imediatamente se transformaram em duas guerras mundiais. Os chamados pais fundadores do movimento que visava a unidade política e económica da Europa propunham-se, com a unidade europeia, pôr definitivamente termo às guerras na Europa e criar entre os povos europeus uma era de paz permanente.

Nada mais hipócrita poderia haver, pois o primeiro passo dado no apregoado sentido da unidade e da paz foi a constituição da Comunidade Económica do Carvão e do Aço, com a qual os vencedores da segunda guerra mundial, com a Inglaterra e a França à cabeça, tomaram conta das reservas estratégicas germânicas do carvão e do ferro, duas matérias-primas vitais para a recuperação económica dos vencedores da guerra de 1939/45.

Por três vezes e em lugares diferentes, Lenine escreveu, contra os primeiros ideólogos imperialistas da unidade europeia em nome da paz, que os então chamados estados unidos da Europa ou seriam impossíveis ou reaccionários.

Reaccionária é precisamente a União Europeia de hoje, constituída sob a égide de um acordo intercapitalista encabeçado, para vergonha do povo português, por um contrato diplomático conhecido como o Tratado de Lisboa.

A União Europeia não é apenas reaccionária; a União Europeia é a guerra! E, desde logo, a guerra na própria Europa.

Com efeito, servindo-se da União Europeia como chamariz atractivo, o imperialismo germânico começou a organizar a Europa à imagem e semelhança da visão hitleriana do III Reich. Aproveitando-se do colapso do imperialismo revisionista soviético, a Alemanha começou a ocupar, sempre contando com as estruturas apelativas da União Europeia, os países do leste da Europa, e foi ao ponto de dividir um país, relativamente próspero como era a Checoslováquia, em dois países distintos – a República Checa e a Eslováquia – recuperando assim, sob a forma de República Checa, o território dos Sudetas, objecto da ocupação militar das tropas hitlerianas no período que antecedeu a segunda guerra mundial.

Completado o quadro da incorporação do leste europeu na União Europeia, a Alemanha e seus lacaios, no grupo dos quais se conta a classe dominante capitalista em Portugal, voltaram-se para os Balcãs, onde impuseram uma longa guerra para a destruição da Jugoslávia, guerra que Hitler no seu tempo não conseguiu ganhar.

Com a ajuda das tropas americanas, da Nato e dos governos seus lacaios na União Europeia, o imperialismo germânico conseguiu destruir a Jugoslávia e dentro desta, destruir a Sérvia, ajustando a chancelerina Merkel as velhas contas que Hitler não conseguiu ajustar com a nobre nação sérvia.

Assim, quarenta e poucos anos depois do termo da II Guerra Mundial, a guerra voltou à Europa pela mão dos mesmos tiranos: os boches.

Na nova guerra balcânica, alemães e americanos cometeram todavia um erro fatal: permitiram que, na província sérvia do Kosovo, a maioria albanesa e muçulmana local estabelecesse a independência, através de um movimento terrorista recrutado na vizinha Albânia e armado pelos Estados Unidos da América e pela Alemanha, ao mesmo tempo que a capital da Sérvia e as suas principais cidades eram destruídas pelos bombardeamentos maciços de aviões da Nato e da Alemanha.

O apoio dado ao Kosovo – hoje um país reconhecidamente inviável - voltou-se contra os governos dos países da União Europeia que têm nações ou minorias nacionais nos seus territórios, desde a Espanha (com a Catalunha, o País Basco e a Galiza), e o Reino Unido (com a Escócia e a Irlanda do Norte) até à Roménia (com a Moldávia), à Itália (com a Lombardia) e à França (com a Córsega e os territórios ultramarinos).

Mas o imperialismo germânico, arrastando a União Europeia como bandeira, não se ficou pela nova guerra dos Balcãs; foi também, levando sempre consigo o pendão da União Europeia, à guerra na Líbia e na Síria, deixando aí dois caroços dos quais ainda hoje não vê como sair.

É verdade que a chancelerina Merkel, muito embora já seja a terceira vendedora mundial de armamento, ainda não dispõe de um Rommel e de um Afrika Korps para tentar dominar o norte de África, mas, tal como o seu émulo Hitler, já anda em guerra na Síria e na Líbia, ali por causa do controlo do Mediterrâneo oriental e do Oriente Médio, e aqui por causa do petróleo.

Será que um dia mais tarde, a chancelerina ou os seus descendentes irão à Noruega tomar-lhe o seu petróleo do Mar do Norte, já que a Noruega se recusou a entrar na União Europeia e, muito menos, a entrar na zona euro?!...

Em todo o caso, é por causa do petróleo e do gás natural (além das monumentais reservas de trigo) que a Alemanha, sempre servindo-se do espantalho da União Europeia, iniciou a ocupação da Ucrânia, visando porém mais longe: visando o Azerbeijão e os países agora independentes da orla do Mar Cáspio, onde também Hitler tentou chegar para abastecer-se de petróleo e de gás.

É, ainda e uma vez mais, a aplicação prática da teoria do espaço vital alemão, já definido no Mein Kampf. A passo e passo, caladinha e quase distraída, Merkel experimenta chegar com o lábaro da União Europeia aonde Hitler não teve força para chegar com os seus Panzer.

O processo da chancelerina Merkel é sempre o mesmo: procura aprisionar os novos países, oferecendo-lhes a entrada na União Europeia e apoios financeiros que se diriam ilimitados; se, nos países alvo, uma parte da população se opõe ao fascínio do canto de sereia germânico, a Alemanha fornece armas e organiza a guerra civil com vista a afastar do poder as forças locais que se opõem à entrada na União Europeia (ou seja, que se opõem à ocupação germânica do seu território).

Na Ucrânia, a milícia nazi organizada e armada pelo governo germânico foi ao ponto matar alguns dos ocupantes da praça Maiden, em Kiev, atribuindo depois ao governo legítimo ucraniano a autoria dessas mortes.

A União Europeia é, de facto, a guerra e a bandeira da guerra.

Só que, desta vez, encontrou na Ucrânia um osso muito duro de roer – o mesmo osso que, afinal, sob a direcção de Estaline, tinha derrotado já Hitler e agora derrotou a chancelerina Merkel, a União Europeia e a Nato – o povo russo!

Claro está que a Federação russa não iria nunca permitir que a Alemanha ocupasse a Crimeia, onde se localiza o único porto de águas quentes (ou seja, único porto russo em que as águas nunca gelam ao longo de todo o ano) à disposição da sua marinha de guerra e da sua frota de comércio.

Por agora, nem a Alemanha, nem a Nato, nem o imperialismo americano tem condições para inverter esta derrota.

E a luta obviamente continuará pelo lado das populações russas, que, tal como sucedeu com os sérvios na Bósnia-Herzegovina, não deixarão de exigir a sua autonomia e independência políticas em determinadas outras regiões da Ucrânia.

Todavia, há, disto tudo e desde já, duas lições a tirar: a primeira, a de que a União Europeia não é uma estrutura europeia de paz, mas, sim de guerra, da qual os povos europeus, amantes da paz, devem impor a sua própria retirada; a segunda, a de que a correlação de forças estratégicas ao nível mundial já se alterou nos últimos vinte cinco anos, depois do colapso do social-imperialismo revisionista soviético.

As derrotas estratégicas do imperialismo americano no Iraque e no Afeganistão, acompanhadas da derrota da tentativa de ocupação da Ucrânia, mostram que o imperialismo americano, sendo ainda uma potência militar dominante, já não é, no quadro mundial, uma potência militar determinante.

Todavia, a União Europeia é a guerra; o imperialismo germânico é a guerra; o imperialismo ianque é a guerra. Mas são também e cada vez mais tigres de papel. A vitória final será sempre dos proletários e dos povos do mundo. E esse será também o caso da actual luta na Ucrânia.

Sem comentários:

Enviar um comentário