Após a morte do dirigente comunista Arnaldo Matos – fundador do Partido Comunista dos Trabalhadores Portugueses/MRPP – assistimos a um branquear total de tudo aquilo que propôs aos comunistas, aos operários e aos escravos assalariados em geral.
Após a realização do I Congresso Extraordinário do PCTP/MRPP, que ocorreu nos dias 18 e 19 de Setembro de 2020 - isto é, mais de um ano após o seu falecimento – assistimos a um agravamento desse branqueamento da história.
Branqueamento que foi consequência e motivo de sucessivos golpes no seio daquele que deveria ser o Partido do Proletariado Revolucionário, tendo uma clique revisionista, social-fascista, carreirista e burocrata, reaccionária, tomado de assalto a direcção do mesmo – o seu Comité central e Comité Permanente do CC, bem como o seu Órgão Central, o Luta Popular online – e tratado de assegurar que aquilo que o comunista Arnaldo Matos sempre defendera não mais seria fruto de análise, estudo, discussão e aplicação.
Veja-se o aborto que dá pelo nome de “Sindicato do Proletariado”, cozinhado por um Comité Sindical onde pontifica um notório neo-revisionista – que dá pelo nome de Castro – de braço dado com um chapado revisionista – que dá pelo nome de João Pinto (que acumula com o cargo de director do Luta Popular online).
Do programa de acção deste aborto sindical – para além do leilão de quotas e da oferta falaciosa de assistência jurídica – a primeira coisa com que se preocuparam estas “cabecinhas pensadoras” foi arredar do seu programa qualquer referência à Luta pela semana das 35 horas , 7 horas por dia, 5 dias por semana, 2 dias de descanso semanal (sábado e domingo) e 25 dias úteis de férias por ano. Ao mesmo tempo que “decretaram” que na TAP já não existia classe operária (???!!!)
Uma luta toda ela gizada pelo camarada Arnaldo Matos que explicou – até à exaustão – que este era o único programa de acção e luta que poderia suscitar a imediata adesão da classe operária e dos restantes escravos assalariados. A alternativa desta escumalha é propor uma consigna historicamente revisionista, contra-revolucionária, que não suscita unidade entre aqueles que nada mais possuem do que a sua força de trabalho, isto é a consigna da luta pela indexação dos salários em relação à inflação, isto porque tal consigna agravaria o fosso entre rendimentos para quem trabalha.
Sendo que um dos Pontos da Ordem de Trabalhos para um II Congresso Extraordinário, convocado a golpe para o dia 1 de Abril passado (nem de propósito, o dia das mentiras), o ponto 3, era para proceder à reavaliação e actualização do Plano de Acção, que tinha sido inteiramente gizado por Arnaldo Matos pouco antes da sua morte, outra coisa não poderemos esperar senão que, em definitivo, a actual direcção não se contenta apenas e para já com o branqueamento da sua memória, mas visa a completa revisão dos ensinamentos que nos legou e que a classe operária e os comunistas revolucionários saberão preservar, respeitar e aplicar.
Outro campo que tem merecido um branqueamento total, é o da Guerra na Ucrânia. É escandaloso o silêncio que a actual direcção do PCTP/MRPP vota sobre os importantes escritos e intervenções do comunista Arnaldo Matos sobre a situação na Ucrânia e aquilo que, do ponto de vista geoestratégico, já em 2014 este tão bem escalpelizava, sendo que, no essencial, as conclusões que retirava são totalmente confirmadas pela realidade actual.
“ ...a Federação Russa foi e está a ser objecto de grosseiras
provocações da parte do imperialismo americano, alemão e europeu, os quais
promoveram um golpe-de-estado na Ucrânia com vista a ocupar esse território na
fronteira com a Federação Russa, criando assim uma ameaça estratégica a que os
russos responderam firmemente, com os meios pacíficos apropriados, e ganharam...”
“... a
classe operária e os povos da Europa devem denunciar e combater sem tréguas
essas provocações do imperialismo, opor-se às sanções decretadas contra os
dirigentes russos e apoiar a população russa na Ucrânia, dois terços do total
da população ucraniana, à qual população russa se deve reconhecer, muito mais
legitimamente que aos albaneses do Kosovo, o direito à autodeterminação e à
independência...”(Arnaldo Matos, 11.05.2014)
Boa leitura!
1
1. Ucrânia: Independência a LestePublicado em 13.05.2014
Duas
províncias do leste da Ucrânia – a de Donetsk e a de Lugansk – submeteram a
referendo popular, no passado domingo, dia 11 de Maio, a questão da sua
independência, com a correlativa separação do Estado ucraniano.
O referendo
constituiu um enorme sucesso popular, com uma participação maciça de 74,87% dos
eleitores inscritos na província de Donetsk e de 75% dos inscritos na de
Lugansk.
Em Donetsk,
89,70% dos votantes referendaram a República Popular de Donetsk, e, em Lugansk,
96,2% proclamaram a República Popular de Lugansk.
Em conjunto,
os dois novos países têm uma população de sete milhões de habitantes,
correspondente a 15% da população da Ucrânia, e formam uma região conhecida
como Donbass, que abarca toda a riquíssima bacia carbonífera e mineira do rio
Don, numa área total de 54 000 kms2, menos de 9% da superfície do Estado de que
se emanciparam.
Mais de 75%
das pessoas que vivem no Donbass tem o russo como língua natal. No seu
conjunto, os dois novos países criavam 20% do produto interno bruto do Estado
ucraniano. É, aliás, no Donbass que se encontram as maiores empresas mineiras,
metalomecânicas, metalúrgicas e químicas da anterior Ucrânia.
Acontece que
o território do Donbass, integrante dos dois novos países, só entrou na
composição da antiga República Socialista da Ucrânia depois da proclamação do
poder soviético. Anteriormente, o Donbass – e, por conseguinte, o Donetsk e o
Lugansk - faziam parte do império russo. Na sua forma actual, a própria Ucrânia
só existe há 23 anos, como resultado da implosão da anterior União Soviética,
em 1991.
Nestes
termos, os dois países que no último domingo proclamaram a sua independência
nunca foram ucranianos: nem pela etnia, nem pela língua, nem pela religião, nem
pela história, nem pela geografia, nem pela cultura, nem pelos heróis e
heroísmo que cultivam.
Odiados pelos
ucranianos do oeste, os povos dos dois países agora independentes – 15% da
população, 9% da área e 20% do produto interno bruto de todo o Estado ucraniano
– têm, nos últimos vinte e três anos, servido apenas para que, à conta deles,
homens e mulheres do Donbass, vivam os territórios ocidentais da Ucrânia.
Foi justa e
nobre a luta dos cidadãos de Donetsk e de Lugansk pela sua independência, luta
que mereceu e concitou todo o apoio da classe operária e dos povos da Europa.
Felicitamos,
pois, o povo de Donetsk e de Lugansk pela sua grande vitória.
Mas a luta,
agora para garantir e consolidar a sua independência, não terminou ainda, e
pode até acontecer que, para além das dezenas de mortos que já custou, venha
ainda a custar muito sangue ao povo dos novos países independentes.
O
imperialismo americano, germânico e europeu - provocadores exclusivos da crise
ucraniana - não desarmará facilmente e tudo fará para aniquilar a independência
dos dois novos países e submeter os seus povos à exploração e opressão dos
lacaios de Kiev.
Os dirigentes
da República Popular de Donetsk solicitaram a Moscovo a integração da nova
república na Federação Russa. Mas os dirigentes da República Popular de
Lugansk, prometeram unicamente a realização de um novo referendo popular, para
decidir sobre uma possível reintegração.
Por seu
turno, a Federação Russa, através do seu ministro dos negócios estrangeiros,
Sérgio Lavrov, exprimiu o seu respeito pela vontade do povo das regiões de
Donetsk e de Lugansk, e o desejo de que o resultado dos referendos seja
aplicado no terreno de uma forma civilizada e sem repetição de violência...
Embora o
Roteiro de Genebra, subscrito pelos ministros dos negócios estrangeiros da
Federação Russa, dos Estados Unidos, da União Europeia e da Alemanha, esteja
morto, em consequência dos crimes bárbaros cometidos pelas forças do governo
provisório de Kiev em Odessa, onde mataram 49 cidadãos com um incêndio ateado
ao prédio que haviam ocupado, a verdade é que Lavrov não deixa de apelar a
soluções dialogadas.
É manifesto
que Lavrov e Putin preferem à independência do povo russo da Ucrânia, seguida
da reintegração na Federação Russa, a criação de uma federação ou confederação
ucranianas, com as comunidades russas aí integradas.
A crise
ucraniana dirige-se agora para uma nova encruzilhada: as eleições
presidenciais, agendadas pelas autoridades provisórias nazis de Kiev para o
próximo dia 25 de Maio.
Saudemos o
aparecimento do Donetsk e do Lugansk independentes!
N. B. Logo que possível voltarei a este assunto, para examinar convosco a nova
estratégia global do novo poder militar de um novo país emergente: a Federação
Russa.
2.
2. As Provocações Germano-Americanas Agravam a Crise Ucraniana
Publicado em 08.04.2014
Ainda que toda a comunicação social portuguesa, porta-voz dos monopólios nacionais e estrangeiros, pretenda ocultar a realidade, a verdade é que já toda a gente sabe ou suspeita que a actual crise política na Ucrânia se deve unicamente ao facto de que o imperialismo alemão, servindo-se da União Europeia, pretendeu, mediante a imposição de um acordo de adesão, tomar conta da Ucrânia, das suas riquezas económicas e da sua posição geopolítica e geoestratégica.
Como as
autoridades legítimas da Ucrânia, eleitas por sufrágio directo e universal, se
recusaram a assinar o acordo de adesão que Bruxelas e Berlim lhes ofereciam,
logo a Comissão Europeia e a chancelerina Ângela Merkel fizeram ver às
autoridades ucranianas que o tratado de adesão, embora oferecido, não podia ser
rejeitado. Daí seguiu-se a concentração da oposição ao presidente Yanukovich na
praça central de Kiev – Maiden – e o armamento de uma força de nazis, capaz de
disparar sobre os jovens que ocuparam a praça e matar umas largas dezenas
deles, impondo a queda pela força do presidente e do governo eleitos e
aproveitando os restos do parlamento para nomear um presidente e um
primeiro-ministro interinos.
Acontece,
porém, que a Ucrânia é um país complexo, onde mais de metade da população é
russa ou tem o russo como primeira língua, além de que o único porto russo de
águas quentes está situado na península da Crimeia, sede da decisiva frota
russa do Mar Negro.
A tentativa
alemã de ocupação da Ucrânia através da adesão forçada à União Europeia
encontrou pela frente a resistência determinada do povo russo de mais de metade
da Ucrânia e conduziu directamente à declaração da independência da República
Popular Russa da Crimeia, sem necessidade de disparar um tiro ou causar uma
única morte, muito ao contrário do que sucedeu com a golpe-de-estado
reaccionário de Kiev.
Proclamada a
sua independência e integrada na Federação Russa, a Crimeia tinha contribuído para
resolver um dos problemas criados pelo golpe-de-estado neonazi de Kiev, tanto
mais que as autoridades provisórias de Kiev se contiveram num protesto muito
calmo e sereno.
Barack Obama,
o chefe de estado norte-americano a quem coube a tarefa de dirigir os ianques
na fase em que se iniciou a sua decadência mundial, veio à Europa – e sobretudo
a Bruxelas – explicar que os europeus teriam de passar a desemerdar-se sozinhos
dos problemas que inventavam, porque o Tio Sam não chegava para todas as
encomendas, agora que está forçado a preocupar-se acima de tudo com a Ásia e o
Pacífico.
Todavia,
europeus e norte-americanos, mal habituados como têm andado nos últimos setenta
anos, não deixaram de aplicar à Rússia uma série de sanções económicas e civis
que imediatamente comprovaram que tinham piores efeitos na bolsa de Londres e
no nível de vida da Europa central do que nos governantes moscovitas.
A Federação
Russa, que tem no seu actual ministro dos negócios estrangeiros, Sérgio Lavrov,
um homem à altura dos acontecimentos, lá foi explicando ao congénere
norte-americano, John Kerry, mais preparado para vender ketchup que ameaças credíveis, que, com a integração da Crimeia na Rússia, só
havia duas coisas de juízo a fazer: regresso do presidente deposto, Viktor Yanukovich,
rejeição da adesão à União Europeia, Nato fora das fronteiras da Ucrânia e uma
nova constituição da Ucrânia de índole regionalista, com regiões autónomas nas
províncias de língua russa, ou então, o fenómeno da independência da Crimeia,
como aliás começara no Kosovo, iria inevitavelmente multiplicar-se nas
províncias de língua russa.
Os ianques
mandaram então uns aviões para a Letónia, Estónia e Lituânia manobrar
provocatoriamente junto das fronteiras da Federação Russa.
Os russos,
que logo no primeiro dia da deposição de Yanukovich tinham enviado, à cautela,
quatro divisões (40 000 homens) para Vila Franca de Xira (maneira
prática de fazer sentir ao lisboeta o que é estar um corpo de exército às
portas da fronteira ucraniana), limitaram-se a esperar os novos acontecimentos.
E eles – os
novos acontecimentos – chegaram ontem: os russos da região de Donets, leste da
Ucrânia e fronteira sul da Rússia, declararam a sua independência, marcaram um
referendo para adesão à Federação Russa no dia 11 de Maio e pediram ao
parlamento da Federação que aceitasse a integração.
A região de
Donets, com uma população de 4,5 milhões de habitantes e uma área equivalente à
da Região Autónoma da Galiza, é o coração industrial da Ucrânia. Compreendendo
as cidades de Donets, Lugans e Karkov, a bacia do rio Donets é hoje uma zona
mais rica em carvão e em ferro do que o Sarre o é para a Alemanha.
Os russos que
ontem proclamaram a independência do Donets apoderaram-se dos edifícios
centrais do governo regional e do material de guerra do paiol da cidade de
Lugans.
A situação
atingiu uma gravidade extrema.
Mas é
evidente que a responsabilidade pela crise ucraniana tem de ser por inteiro
imputada à Alemanha e à União Europeia e às provocações de guerra dos aviões
norte- -americanos.
O governo de
traição nacional Coelho/Portas tem feito o papel que lhe cumpre de lacaio dos
governos americano e germânico.
O povo
português deve intensificar a luta pela saída de Portugal da Nato. Não devemos
esquecer que há militares portugueses em zonas de guerra ao serviço da Nato,
tanto no Kosovo como no Afeganistão.
Mas aos
operários compete exigir, de todos os partidos políticos, que de uma maneira ou
de outra se reclamem dos trabalhadores, qual é a posição política que têm
quanto à gravidade da situação ucraniana.
De um momento
para o outro, a situação ucraniana pode degenerar em guerra. Os operários
portugueses não estão dispostos a ser carne para canhão numa guerra da Nato e
do imperialismo alemão ou do imperialismo americano. Qual é a posição do PCP,
ou do PS e do BE?
Ficamos à espera que nos digam...
3
3. As Tropas Ucranianas na Crimeia
Publicado em 26.03.2014
Os jornais, a
televisão, a rádio e os jornalistas portugueses, sem nenhuma excepção,
continuam a fazer a propaganda da CIA e do imperialismo germânico nos
acontecimentos da Ucrânia e da Crimeia. Todos eles apresentam, com imagens e
fotos pré-fabricadas, uma visão completamente distorcida e errada desses
acontecimentos.
Assim, nos
quinze dias que passaram desde a votação do referendo pela independência da
Crimeia e da sua adesão à Federação Russa, jornalistas e órgãos de comunicação
social portugueses apresentaram como um acto de profunda barbárie a regulação
totalmente pacífica do problema dos quartéis, bases e tropas da Ucrânia na
península da Crimeia.
A verdade é
que dos 18 800 soldados ucranianos na Crimeia, 14 500 (cerca de 80%) aceitaram
a proposta do governo da Crimeia para integrarem as tropas do novo país
independente, e só 4 300 (cerca de 20%) dessas tropas preferiram voltar para o
domínio de Kiev.
A deserção em
massa das tropas ucranianas na Crimeia demonstra o isolamento político em que
se acham as novas autoridades de Kiev em relação às próprias forças armadas
ucranianas.
A fraqueza militar do governo golpista neonazi de Kiev augura novos e decisivos acontecimentos na própria Ucrânia.
4.
A União
Europeia, a Ucrânia e o Espaço Vital Alemão
Publicado em 20.03.2014
Os ideólogos
do imperialismo europeu sempre apresentaram as suas teorias sobre a necessidade
da unidade política e económica da Europa como uma narrativa de paz: a
Comunidade Europeia do Carvão e do Aço, a Comunidade Económica Europeia, a
União Económica e Monetária e, por fim, a União Europeia foram sempre apresentadas
aos povos da Europa e do mundo como instrumentos políticos de paz, num
continente onde, desde o I Milénio antes da nossa era, não houvera um único
século sem guerras.
Só no século
XX, travaram-se na Europa duas guerras, que imediatamente se transformaram em
duas guerras mundiais. Os chamados pais fundadores do movimento que visava a
unidade política e económica da Europa propunham-se, com a unidade europeia,
pôr definitivamente termo às guerras na Europa e criar entre os povos europeus
uma era de paz permanente.
Nada mais
hipócrita poderia haver, pois o primeiro passo dado no apregoado sentido da
unidade e da paz foi a constituição da Comunidade Económica do Carvão e do Aço,
com a qual os vencedores da segunda guerra mundial, com a Inglaterra e a França
à cabeça, tomaram conta das reservas estratégicas germânicas do carvão e do
ferro, duas matérias-primas vitais para a recuperação económica dos vencedores
da guerra de 1939/45.
Por três
vezes e em lugares diferentes, Lenine escreveu, contra os primeiros ideólogos
imperialistas da unidade europeia em nome da paz, que os então chamados estados
unidos da Europa ou seriam impossíveis ou reaccionários.
Reaccionária
é precisamente a União Europeia de hoje, constituída sob a égide de um acordo
intercapitalista encabeçado, para vergonha do povo português, por um contrato
diplomático conhecido como o Tratado de Lisboa.
A União
Europeia não é apenas reaccionária; a União Europeia é a guerra! E, desde logo,
a guerra na própria Europa.
Com efeito,
servindo-se da União Europeia como chamariz atractivo, o imperialismo germânico
começou a organizar a Europa à imagem e semelhança da visão hitleriana do III
Reich. Aproveitando-se do colapso do imperialismo revisionista soviético, a
Alemanha começou a ocupar, sempre contando com as estruturas apelativas da
União Europeia, os países do leste da Europa, e foi ao ponto de dividir um
país, relativamente próspero como era a Checoslováquia, em dois países
distintos – a República Checa e a Eslováquia – recuperando assim, sob a forma
de República Checa, o território dos Sudetas, objecto da ocupação militar das
tropas hitlerianas no período que antecedeu a segunda guerra mundial.
Completado o
quadro da incorporação do leste europeu na União Europeia, a Alemanha e seus
lacaios, no grupo dos quais se conta a classe dominante capitalista em
Portugal, voltaram-se para os Balcãs, onde impuseram uma longa guerra para a
destruição da Jugoslávia, guerra que Hitler no seu tempo não conseguiu ganhar.
Com a ajuda
das tropas americanas, da Nato e dos governos seus lacaios na União Europeia, o
imperialismo germânico conseguiu destruir a Jugoslávia e dentro desta, destruir
a Sérvia, ajustando a chancelerina Merkel as velhas contas que Hitler não
conseguiu ajustar com a nobre nação sérvia.
Assim,
quarenta e poucos anos depois do termo da II Guerra Mundial, a guerra voltou à
Europa pela mão dos mesmos tiranos: os boches.
Na nova
guerra balcânica, alemães e americanos cometeram todavia um erro fatal:
permitiram que, na província sérvia do Kosovo, a maioria albanesa e muçulmana
local estabelecesse a independência, através de um movimento terrorista
recrutado na vizinha Albânia e armado pelos Estados Unidos da América e pela
Alemanha, ao mesmo tempo que a capital da Sérvia e as suas principais cidades
eram destruídas pelos bombardeamentos maciços de aviões da Nato e da Alemanha.
O apoio dado
ao Kosovo – hoje um país reconhecidamente inviável - voltou-se contra os
governos dos países da União Europeia que têm nações ou minorias nacionais nos
seus territórios, desde a Espanha (com a Catalunha, o País Basco e a Galiza), e
o Reino Unido (com a Escócia e a Irlanda do Norte) até à Roménia (com a
Moldávia), à Itália (com a Lombardia) e à França (com a Córsega e os
territórios ultramarinos).
Mas o
imperialismo germânico, arrastando a União Europeia como bandeira, não se ficou
pela nova guerra dos Balcãs; foi também, levando sempre consigo o pendão da
União Europeia, à guerra na Líbia e na Síria, deixando aí dois caroços dos
quais ainda hoje não vê como sair.
É verdade que
a chancelerina Merkel, muito embora já seja a terceira vendedora mundial de
armamento, ainda não dispõe de um Rommel e de um Afrika Korps para tentar dominar o norte de África, mas, tal como o seu émulo Hitler,
já anda em guerra na Síria e na Líbia, ali por causa do controlo do
Mediterrâneo oriental e do Oriente Médio, e aqui por causa do petróleo.
Será que um
dia mais tarde, a chancelerina ou os seus descendentes irão à Noruega tomar-lhe
o seu petróleo do Mar do Norte, já que a Noruega se recusou a entrar na União
Europeia e, muito menos, a entrar na zona euro?!...
Em todo o
caso, é por causa do petróleo e do gás natural (além das monumentais reservas
de trigo) que a Alemanha, sempre servindo-se do espantalho da União Europeia,
iniciou a ocupação da Ucrânia, visando porém mais longe: visando o Azerbeijão e
os países agora independentes da orla do Mar Cáspio, onde também Hitler tentou
chegar para abastecer-se de petróleo e de gás.
É, ainda e
uma vez mais, a aplicação prática da teoria do espaço vital alemão, já definido no Mein Kampf. A passo e passo, caladinha e quase distraída, Merkel experimenta chegar
com o lábaro da União Europeia aonde Hitler não teve força para chegar com os
seus Panzer.
O processo da
chancelerina Merkel é sempre o mesmo: procura aprisionar os novos países,
oferecendo-lhes a entrada na União Europeia e apoios financeiros que se diriam
ilimitados; se, nos países alvo, uma parte da população se opõe ao fascínio do
canto de sereia germânico, a Alemanha fornece armas e organiza a guerra civil
com vista a afastar do poder as forças locais que se opõem à entrada na União
Europeia (ou seja, que se opõem à ocupação germânica do seu território).
Na Ucrânia, a
milícia nazi organizada e armada pelo governo germânico foi ao ponto matar
alguns dos ocupantes da praça Maiden, em Kiev, atribuindo depois ao governo
legítimo ucraniano a autoria dessas mortes.
A União
Europeia é, de facto, a guerra e a bandeira da guerra.
Só que, desta
vez, encontrou na Ucrânia um osso muito duro de roer – o mesmo osso que,
afinal, sob a direcção de Estaline, tinha derrotado já Hitler e agora derrotou
a chancelerina Merkel, a União Europeia e a Nato – o povo russo!
Claro está
que a Federação russa não iria nunca permitir que a Alemanha ocupasse a
Crimeia, onde se localiza o único porto de águas quentes (ou seja, único porto
russo em que as águas nunca gelam ao longo de todo o ano) à disposição da sua
marinha de guerra e da sua frota de comércio.
Por agora,
nem a Alemanha, nem a Nato, nem o imperialismo americano tem condições para
inverter esta derrota.
E a luta
obviamente continuará pelo lado das populações russas, que, tal como sucedeu
com os sérvios na Bósnia-Herzegovina, não deixarão de exigir a sua autonomia e
independência políticas em determinadas outras regiões da Ucrânia.
Todavia, há,
disto tudo e desde já, duas lições a tirar: a primeira, a de que a União
Europeia não é uma estrutura europeia de paz, mas, sim de guerra, da qual os
povos europeus, amantes da paz, devem impor a sua própria retirada; a segunda,
a de que a correlação de forças estratégicas ao nível mundial já se alterou nos
últimos vinte cinco anos, depois do colapso do social-imperialismo revisionista
soviético.
As derrotas
estratégicas do imperialismo americano no Iraque e no Afeganistão, acompanhadas
da derrota da tentativa de ocupação da Ucrânia, mostram que o imperialismo
americano, sendo ainda uma potência militar dominante, já não é, no quadro mundial, uma
potência militar determinante.
Todavia, a
União Europeia é a guerra; o imperialismo germânico é a guerra; o imperialismo
ianque é a guerra. Mas são também e cada vez mais tigres de papel. A vitória
final será sempre dos proletários e dos povos do mundo. E esse será também o
caso da actual luta na Ucrânia.
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