segunda-feira, 17 de abril de 2023

Quando os marfinenses vêem claramente

 


 17 de Abril de 2023  Olivier Cabanel  

OLIVIER CABANEL — Em 1990, o primeiro-ministro da Costa do Marfim, Alassane Ouattara, inverteu dramaticamente o estado do seu país. Um exemplo no qual o governo francês se deveria inspirar.


Este ex-diretor do Fundo Monetário Internacional foi contratado por Houphouët Boigny para endireitar as finanças do seu país.

Alassane Ouattara, chamado de ADO pelos seus fãs, não é qualquer um.

http://www.afrique-express.com/archive/OUEST/cotedivoire/cotedivoirebio/ouattara.htm

Nascido em 1942, em Dimbokro, perto de Yamoussoukro, capital da Costa do Marfim, após brilhantes estudos, obteve um doutorado em economia.

Tornou-se director do departamento africano e conselheiro do director do FMI, depois governador do BCEAO (Banco Central da África Ocidental), antes de ser chamado pelo presidente Ouphouet Boigny para endireitar o país mergulhado numa trágica crise.

Como é que ele fez isso?

Ele seguiu uma política draconiana de austeridade orçamentária, reduzindo os salários de todos os membros do governo.

http://www.grioo.com/ar,cote_d_ivoire_la_panacee_ouattara_,15317.html

Havia uma certa ilegalidade no país, pois era comum que membros da administração ou do governo recebessem vários salários e outros benefícios.

Também iniciou auditorias para várias sociedades estatais.

Os salários dos ministros foram reduzidos em 50%. O preço do gasóleo diminuiu 100 francos CFA e o prémio de transporte para os funcionários públicos foi reavaliado para subir para 7000 francos CFA, dependendo da área.

(Para se ter uma ideia da importância destas somas: o SMIG era então de 35000 fr CFA)

Este plano de austeridade foi decidido em Março de 1990 com o acordo do Banco Mundial e do FMI prevendo, em particular, a redução dos salários do serviço público e a cobrança de uma contribuição solidária no sector privado.

Por exemplo, Ele privou-se dos belos carros dos seus colaboradores que tendiam a abusar dos privilégios que o exercício do poder lhes permitia.

Ele organizou a venda de carros de serviço para os seus principais usuários, causando uma economia nos custos de manutenção e o desaparecimento dos vales de gasolina.

A determinação de Ouattara também tornou possível recuperar os impostos em atraso, para grande desgosto dos comerciantes libaneses.

Para ler, "Costa do Marfim: da desestabilização à refundação" (Marie-France Jarret e François Régis Mahieu, editions de l'Harmattan, Janeiro de 2002).

Estamos longe dos discursos, promessas e acções do nosso actual Presidente, que propõe aos franceses apertar os cintos, mas que mantém o aumento salarial de 206% que generosamente concedeu a si próprio.

Sarkozy não está chocado ao ver o orçamento do governo aumentar de 32 milhões de euros para quase 130 milhões em 2008.

A presidência Sarkozy empregava 957 pessoas.

Sob Chirac, os gastos com viagens ao exterior ou nas províncias eram de 10 milhões de euros por ano: eles acabaram de subir para 15 milhões.

Sabia que um senador custa ao Estado 2557€ por dia, e um deputado 2384€ por dia (quando somamos todos os benefícios previstos para os salários)?

Quanto aos ministros, se tomarmos o exemplo de Rachida Dati, o seu orçamento ascendeu a 200 mil euros desde Maio de 2007, e teve de pedir uma extensão de 70.000 mil euros para "terminar o ano".

Voltemos a Alassane.

Ele acabou por consolidar as finanças públicas em poucos meses e foi excluído da eleição presidencial pela Suprema Corte marfinense. Alguns vêem isso como fruto de um acordo político entre o actual presidente e o general Robert Guéi.

Hoje, uma certa desordem reina novamente na Costa do Marfim.

O presidente no poder sabe que pode muito bem perder o seu lugar, em benefício de Ouattara, que é muito popular nas pesquisas.

http://www.espace-francophone.com/afrique/ouest/actualites-cote-d_ivoire5.html

Tentou impedi-lo de concorrer, alegando que não é marfinense, lançando uma campanha de calúnia, colocando dúvidas sobre a origem da sua fortuna e agora adia regularmente a eleição, apesar da pressão mundial.

Porque como disse um velho amigo africano:

"É mais fácil encontrar a mentira do que a verdade."

 

Fonte: Quand les Ivoiriens voient clair – les 7 du quebec

Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice




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