19 de Outubro
de 2023 Robert Bibeau
por Seymour Hersh
Passou uma semana desde os horríveis ataques do Hamas a Israel, e as forças
armadas israelitas deram uma imagem clara e intransigente do que aí vem.
Na última semana, jactos israelenses
bombardearam alvos não militares na Cidade de Gaza 24 horas por dia. Prédios de
apartamentos, hospitais e mesquitas foram destruídos, sem aviso prévio ou
esforço para minimizar as vítimas civis.
No final da semana, aviões israelitas
também lançaram panfletos dizendo aos moradores da Cidade de Gaza e áreas
vizinhas ao norte que aqueles que desejassem sobreviver fariam melhor em
começar a ir para o sul - caminhando, se necessário - a uma distância de 25
milhas ou mais, até a passagem de fronteira (fechada) de Rafah que leva ao Egipto.
No momento em que escrevo este artigo, não é claro que o Egipto, com problemas
financeiros, permita um milhão de imigrantes, muitos dos quais simpatizantes do
Hamas. A curto prazo, um insider israelita disse-me que Israel estava a tentar
convencer o Qatar, que, por instigação de Benjamin Netanyahu, era um apoiante
financeiro de longa data do Hamas, a associar-se ao Egipto para financiar uma
cidade de tendas para o milhão ou mais de refugiados que esperavam para
atravessar a fronteira. "Não é um acordo concluído", disse-me o
insider israelita. Autoridades israelitas alertaram Egipto e Catar que, sem um
local de pouso, os refugiados terão que "retornar a Gaza".
Um dos possíveis locais, de acordo com o
informante, é um pedaço de terra há muito abandonado na parte norte da
Península do Sinai, perto da fronteira de Gaza, que foi o local de um colonato
israelita conhecido como Yamit quando a península foi tomada por Israel após a sua
vitória na Guerra dos Seis Dias de 1967. O colonato foi evacuado e arrasado por
Israel antes que o Sinai fosse devolvido ao Egipto em 1982. Israel espera que
o Qatar e o Egipto cuidem da crise dos refugiados.
O flagrante desrespeito de Israel pelo bem-estar do povo de Gaza, a propósito
da migração forçada de mais de um milhão de seres humanos famintos, chamou a
atenção mundial e levou a uma crescente condenação internacional, em grande
parte dirigida a Benjamin Netanyahu.
O próximo passo deve, portanto, ser dado rapidamente. Foi isso que me
disseram, em conversas que tive nos últimos dias com responsáveis em Israel e
noutros locais, incluindo responsáveis com quem tenho lidado na Europa e no
Médio Oriente desde a Guerra do Vietname, sobre o plano de Israel para eliminar
o Hamas.
O principal problema para os planeadores
de guerra israelitas é a relutância, apesar da mobilização de mais de 360.000
reservistas, em envolverem-se numa batalha de rua porta a porta com o Hamas na
Cidade de Gaza. Um veterano das FDI, que serviu numa posição sénior, disse-me
que metade do exército israelita está empenhado há mais de uma década na protecção do
número crescente de pequenos colonatos espalhados pela Cisjordânia, onde são
amargamente ressentidos pela população palestiniana. "Os planeadores israelitas
não confiam na sua infantaria", disse o informante, nem confiam na
sua disposição de ir para a guerra, mas no que poderia ser uma desastrosa falta
de experiência de combate.
Com a população civil faminta forçada a partir, o plano operacional de
Israel prevê que a força aérea destrua as estruturas restantes na Cidade de
Gaza e noutros lugares do norte. A Cidade de Gaza deixará de existir. Israel começará
então a lançar bombas de 5.000 libras fabricadas nos Estados Unidos, chamadas
de "bunker busters", ou JDAMs, em áreas arrasadas onde os combatentes
do Hamas são conhecidos por viver e fabricar os seus mísseis e outras armas no
subsolo. Uma versão actualizada da arma, conhecida como GBU-43/B, descrita pela
media como "a mãe de todas as bombas", foi lançada pelos EUA num
suposto centro de comando do EI no Afeganistão em Abril de 2017. Uma versão
inicial da arma foi vendida a Israel em 2005, alegadamente para uso contra as
alegadas instalações nucleares do Irão, e a versão melhorada, guiada por laser,
foi autorizada para venda a Israel pela administração Obama há uma década. Já
na altura, disse-me o insider israelita, Netanyahu e os seus conselheiros
entendiam que o Hamas era perigoso, como "um tigre numa jaula". "Ele comer-te-á num
minuto."
Os atuais planeadores de guerra israelitas
estão convencidos, disse o informante, de que a versão actualizada dos JDAMs
com ogivas maiores penetraria no subsolo fundo o suficiente antes de explodir -
trinta a cinquenta metros - com a explosão e a onda sonora resultante "matando todos dentro
de um raio de meia milha".
O novo plano de saída forçada de Israel
significa que "pelo menos nem todas as pessoas seriam mortas". O conceito,
acrescenta, remonta aos primeiros anos da Guerra do Vietname na América, quando
a administração de John F. Kennedy autorizou o plano estratégico da aldeia, que
previa a transferência forçada de civis vietnamitas de áreas disputadas para
habitações construídas à pressa em áreas supostamente controladas pelos sul-vietnamitas.
As suas terras desertas foram mais tarde declaradas zonas de fogo livre, onde
qualquer pessoa que permanecesse poderia ser alvo das tropas dos EUA.
A destruição sistemática dos edifícios
restantes na Cidade de Gaza começará nos próximos dias, disse o informante
israelita. Os JDAMs, que destroem os bunkers, podem vir em seguida. Então, de acordo
com o cenário dos planeadores, a infantaria israelita será designada para
operações de limpeza: procurar e matar combatentes e trabalhadores do Hamas que
conseguiram sobreviver aos ataques do JDAM.
Questionado sobre por que ´que os planeadores
israelitas achavam que o governo egípcio concordaria, mesmo sob pressão do
governo Biden, em receber mais de um milhão de refugiados de Gaza, o insider
respondeu: "Seguramos o Egipto pelo nariz: seguramos o Egito
pelos tomates". Ele estava a referir-se às recentes acusações de Robert Menendez,
de Nova Jersey, e sua esposa por suborno federal pelos seus negócios com altos responsáveis
egípcios e a suposta passagem de informações sobre pessoas que trabalham na
Embaixada dos EUA no Cairo. Abdel Fattah al-Sisi é um general reformado que
chefiou a inteligência militar do Egipto de 2010 a 2012.
Nem todos compartilham a ideia de que
tudo ficará bem após os ataques JDAM, se eles ocorrerem. Um antigo responsável
dos serviços secretos europeus que serviu durante anos no Médio Oriente
disse-me: "Os egípcios não querem que o Hamas entre no Egipto e farão de tudo para que
tal não aconteça."
Quando informado do plano de Israel de
usar o JDAMS, ele disse que "uma cidade em ruínas é tão perigosa
quanto em qualquer momento". Falar de JDAMS é falar de pessoas que não
sabem o que fazer.
O Hamas diz: "Aqui vamos nós! Eles estão apenas à
espera". A utilização do JDAMS "é o trabalho de uma liderança que foi
desestabilizada. Foi uma operação cuidadosamente planeada e o Hamas sabia
exatamente qual seria a reação israelita. A guerra urbana é terrível".
O responsável previu que as bombas de fragmentação israelitas não
penetrariam suficientemente fundo: o Hamas, disse ele, operava em túneis
construídos a 60 metros de profundidade que seriam capazes de resistir a
ataques de JDAM.
O informador israelita reconheceu que as rochas e pedregulhos subterrâneos
limitariam a capacidade de penetração dos foguetes, mas a superfície
subterrânea da cidade de Gaza é arenosa e ofereceria pouca resistência,
especialmente se as JDAM fossem lançadas do ponto mais alto possível.
O informador disse ainda que o planeamento actual prevê que o ataque com
JDAMs, se autorizado, tenha lugar já no domingo ou na segunda-feira, dependendo
da eficácia da expulsão forçada da Cidade de Gaza e do sul, seguindo-se
imediatamente uma invasão terrestre.
fonte: Seymour Hersh via Sam
La Touch
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis
Júdice
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