13 de Outubro
de 2023 Robert Bibeau
A entrevista original pode ser ouvida aqui.
O Coronel Douglas Macgregor é formado em
West Point e doutor em Relações Internacionais pela Universidade da Virgínia.
Em 1991, comandou e venceu a última grande batalha de tanques travada pelo
Exército dos EUA no Iraque, a Batalha de 73 Easting.
Douglas Macgregor é especialista em
"configuração de força". Os dois livros que escreveu sobre o
assunto, Breaking the Phalanx (Praeger, 1997) e Transformation under
Fire (Praeger, 2003), são uma autoridade sobre o assunto. O seu último
livro, Margin of Victory: Five Battles that Changed the Face of
Modern War, está disponível na Naval Institute Press.
Ele é agora o Presidente da Our Contry Our Choice.
L'Eclaireur – Vamos começar por falar
sobre o que aconteceu com o impeachment do presidente da Câmara dos Representantes, o republicano Kevin McCarthy, e o impacto
que isso pode ter na ajuda à Ucrânia?
Douglas Macgregor – A primeira
coisa a recordar aos vossos ouvintes em França é que tivemos aquilo a que eu
chamaria uma perfeita continuidade de governo nos últimos dez anos - talvez
mais - porque a diferença entre os Democratas e os Republicanos é tão pequena
que chega a ser irrelevante. Nos últimos dez anos, a direita capitulou
largamente perante a esquerda... é tudo uma questão de dinheiro... muito
dinheiro foi investido na compra de apoio para as políticas destrutivas que a
esquerda americana promove.
É também o resultado da falta de interesse do eleitorado americano pelo que se está a passar em Washington, particularmente no que diz respeito à defesa e à política externa.
Penso que o povo americano está a começar a descobrir esta realidade, que estes dois partidos são demasiado semelhantes e que as suas opiniões têm pouca ou nenhuma representação em Washington.
O deputado por trás da censura de McCarthy é Matt Gaetz. Ele é um espírito livre, e penso que está agora banido para sempre do Partido Republicano (risos). O que ele fez foi persuadir todos os democratas que não gostam de McCarthy a votar a favor da censura com oito deputados republicanos que estão muito, muito desiludidos com a sua presidência.
Estes oito republicanos não são lobistas. Não são uns vendidos. Recusaram o financiamento das grandes empresas e dos grupos de interesses. Pelo contrário, foram eleitos pelo trabalho dos seus círculos eleitorais e optaram por não ser financiados pelos seus eleitores.
São independentes no seio do Partido Republicano, são livres de actuar e de expressar as suas ideias. Mas aproveitaram a oportunidade para derrubar um presidente ineficaz e dependente. Aquilo a que chamamos um RINO - Republican in Name Only. É uma coisa excelente. Quando os media tradicionais gritam, deve ser uma coisa muito boa (risos), porque eles não querem mudanças. Querem uma continuidade perfeita, do tipo que nos levou a uma dívida pública de 33,4 mil milhões de dólares. A uma despesa pública insana, não só com a defesa, mas também com os cuidados de saúde (o coronel Macgregor refere-se ao Obamacare, nota do editor) e a assistência social que simplesmente não podemos pagar.
Portanto, é uma vitória pequena, mas importante. E penso que será eleito um melhor presidente da Câmara dos Representantes. Em suma, é mais um passo no caminho para uma convulsão fundamental que, creio, ocorrerá no nosso país quando o sistema financeiro e a economia entrarem em colapso. Enquanto isso, a fuga em frente continua.
L'Eclaireur – Que impacto terá na ajuda
à Ucrânia?
Douglas Macgregor – Há um sentimento
generalizado em Washington, tanto entre republicanos como entre democratas, de
que o "investimento" na Ucrânia não valeu a pena.
Bem, não valeu a pena, valeu a pena em Washington... Aqueles que investiram nas indústrias de defesa colheram centenas de milhões. Os desejos de certos grupos de interesse, que exigem continuamente intervenções militares, mudanças de regime e guerras no estrangeiro, foram satisfeitos. Toda a gente começa a ficar cansada desta situação.
No que respeita à Ucrânia, que sempre foi um instrumento útil para aqueles que estão obcecados com a luta contra a Rússia, apostámos no cavalo errado. A Ucrânia está falida. O país é actualmente mais corrupto do que era antes da guerra. Centenas de milhares de ucranianos foram mortos e centenas de milhares ficaram feridos. As minhas fontes afirmam que cerca de 450 000 ucranianos foram mortos em combate e pelo menos o mesmo número de feridos. Quem conhece os números reais? O que sabemos é que os hospitais estão cheios.
Relatórios recentes dizem que os soldados ucranianos feridos que querem ser evacuados para um hospital - não há hospitais de campanha - têm de pagar subornos aos condutores das ambulâncias. Isto mostra-nos o nível de corrupção e incompetência que caracteriza o esforço militar ucraniano.
A sorte está lançada: a Ucrânia está perdida. Em vez de agravar a situação e arriscar uma confrontação directa com a Rússia, os Estados Unidos vão fazer como fizeram no Vietname: sair, mudar de assunto, encontrar um novo inimigo na China e esquecer a Ucrânia.
L'Eclaireur – Como vê o fracasso do
Ocidente na Ucrânia? Deixo-o escolher por onde começar...
Cel Macgregor – É uma questão
difícil que podemos discutir muito, muito longamente (risos). Não creio que
seja possível avaliar as suas consequências e efeitos profundos neste momento.
Mas permitam-me que especule.
O impacto mais significativo, que raramente é mencionado, é o facto de termos transformado permanentemente a Rússia de um país bastante neutro e esporadicamente cooperante numa potência hostil. Este não é um facto insignificante.
Lembram-se de que o argumento utilizado para justificar a provocação da Rússia através da Ucrânia foi o de a enfraquecer? Pois bem, não funcionou! Os seus recursos naturais e a sua capacidade industrial permitiram à Rússia elevar o nível de vida da sua população, mesmo que ainda haja dúvidas sobre o rublo, cujo valor depende do preço do petróleo e do gás. A Rússia tornou-se mais forte.
O exército russo, que antes da guerra era um exército defensivo e não estava de todo preparado para um tal conflito, tornou-se mais forte assim que se tornou claro que as negociações estavam fora de questão. Actualmente, conta com mais de um milhão de homens. Um exército que é agora mais poderoso, mais formidável e mais letal do que nunca.
Por isso, eu diria que, antes de mais, alienámos a Rússia. Tornámo-la hostil quando não havia razão para o ser. Ao fazê-lo, demos um tiro no pé.
Não se trata de uma questão insignificante em termos comerciais e económicos,
porque a Rússia continua a ser uma passagem essencial nas rotas da seda entre a
China e a Europa, que têm de atravessar a Ásia Central.
As Rotas da Seda que os chineses estão a tentar criar, ao contrário do que
se diz em Washington, não são uma ameaça. Trata-se de um projecto muito
inteligente. Mas nós vimo-lo como prejudicial, em vez de capitalizarmos o que
penso que poderia ser bom para todo o mundo.
Por isso, demos um tiro no pé com a Rússia. E convencemos os chineses de
que já não podem acreditar numa palavra do que dizemos.
A China vai investir muito mais nos seus sistemas de armas defensivos e
dissuasores, em especial nos mísseis. Mísseis tácticos, mísseis de longo
alcance e, claro, mísseis balísticos intercontinentais. A maior parte da sua
despesa militar é destinada a capacidades materiais, e esta deverá crescer
rapidamente.
No que diz respeito à Europa, penso que os alemães compreenderam - se não
compreenderam, compreenderão muito em breve - que são vítimas dos Estados
Unidos e dos seus aliados, e que foram vítimas do seu próprio governo.
Uma camarilha de idiotas mundialistas que, não só
destruiu a prosperidade da Alemanha, como a obrigou a uma servidão permanente à
NATO e à UE. Na minha opinião, os alemães acabarão por sair desta armadilha,
afastando-se da NATO e, eventualmente, da UE.
Toda a gente se pergunta quando é que isso vai
acontecer. Não posso dizer exactamente quando, mas penso que o impulso está aí.
A Áustria já adoptou este ponto de vista.
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis
Júdice
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