16 de Outubro de 2023 Robert Bibeau
Por Djamel LABIDI
O ódio anti-palestiniano, anti-árabe e anti-muçulmano está a ser derramado em torrentes ininterruptas sobre a população ocidental, assediada pelos meios de comunicação social e por uma série de políticos que apelam a um ataque a Gaza.
As vítimas israelitas da ofensiva do Hamas estão a ser exploradas. Todos estão envolvidos. A campanha utiliza o factor emocional. Os serviços israelitas produzem os relatos mais abomináveis que se possa imaginar, que são imediatamente difundidos e amplificados nos meios de comunicação ocidentais. Fala-se de "40 bebés decapitados", de "mulheres violadas e degoladas, de pessoas queimadas vivas nos kibutz, de execuções em massa", etc. Mas não há, ou há muito poucas, imagens dessas atrocidades. Ao que os serviços israelitas, e os meios de comunicação social que os seguem, respondem que são insuportáveis e que é por isso que não as vemos.
Começam a levantar-se dúvidas, inclusivamente no Ocidente, sobre a veracidade desta "des-informação". Isto faz lembrar as técnicas de abafamento já utilizadas, sempre como prelúdio de grandes intervenções militares: a mentira sobre os bebés kuwaitianos mortos nas suas incubadoras antes da guerra contra o Iraque, os pseudo-massacres em Benghazi antes da intervenção na Líbia e, mais recentemente, os massacres de Boutcha na Ucrânia, sobre os quais existem sérias dúvidas, mas que foram utilizados para desencadear a co-beligerância dos Estados Unidos e dos Estados da NATO.
Os meios de propaganda ocidentais falam de forma comovente das vítimas israelitas. Não há palavras suficientemente fortes para descrever a sua dor e a sua indignação. Quanto às vítimas palestinianas, elas não existem, tal como nunca existiram para o colonialismo israelo-ocidental durante 70 anos de massacres, humilhações, destruição, apartheid... mesmo na época de Sabra e Chatila, as vítimas palestinianas não existiam...
Só Israel tem vítimas inocentes, mulheres e crianças. Os palestinianos são culpados por definição, culpados de existirem.
"Zemmourização"
A narrativa ocidental sobre o Hamas faz lembrar, como se fosse ontem, a narrativa do colonialismo durante a guerra da Argélia, quando os combatentes da resistência eram demonizados. A propaganda colonial chamava-lhes "fellaghas", "degoladores" de mulheres e crianças. Esta foi sempre a narrativa do dominante, do opressor: demonizar a vítima, torná-la culpada do seu próprio sofrimento, criminalizar a sua resistência, deslegitimar a sua defesa contra a opressão. Bernard-Henry Lévy, atraído como sempre pelo sangue, entra em cena para dar os elementos de linguagem que serão repetidos em todo o lado: "trata-se de um pogrom, proclama, contra os judeus na terra de Israel". Podem imaginar uma frase mais absurda, uma incoerência maior, simplesmente por se ter ousado fazer tal comparação, tal raciocínio, um delírio maior do que este?
Mas funcionou! A frase foi um sucesso. Ela é repetida. O delírio é colectivo. Em França, à direita, com Marine Le Pen, à esquerda, dos socialistas aos ecologistas. Só Jean Luc Mélenchon e a "France Insoumise" estão a salvar a alma. Não se atrevem a juntar-se ao grupo e a sussurrar que, na origem de tudo, está a questão palestiniana, como disse Galileu: "E, no entanto, ela gira".
Em suma, a França está a tornar-se "zemmourizada", nome do representante mais extremo da corrente islamófoba e xenófoba da política francesa. Reina uma atmosfera de terror político e ideológico. Todos são chamados a tomar posição a favor de Israel e do seu exército às portas de Gaza. O ministro francês do Interior, Gérard Darmanin, apareceu com representantes do CRIF e de outras associações judaicas sionistas militantes, que pareciam rodeá-lo e controlar as suas declarações. Proclamou que "tocar num judeu é tocar na República Francesa", algo que obviamente nunca tinha dito em relação aos muçulmanos.
Visitou uma escola judaica com o Ministro da Educação, Gabriel Attal. Attal ordenou uma aula em todas as escolas francesas sobre a questão judaica. O laicismo não passa de uma parra de figueira. As manifestações pró-palestinianas são proibidas e as manifestações pró-israelitas são protegidas. O anti-sionismo é declarado anti-semitismo e as associações suspeitas de anti-sionismo são dissolvidas. O próprio Presidente da República Francesa, bem como vários ministros, proclamaram sem reservas o seu "apoio incondicional" a Israel.
Instalou-se um clima de caça às bruxas e de questionamento insidioso do direito à liberdade de expressão e de pensamento. A crise aguda em torno de Gaza está a ter um efeito retroactivo. A quase totalidade do sistema político-mediático francês aproveita para ajustar contas com o movimento humanista e internacionalista francês sobre questões como a emigração e a vida nos bairros das populações imigrantes.
Estranhamente, as reacções parecem muito mais intensas e apaixonadas do que as do Ocidente ao conflito na Ucrânia. Porquê? Talvez porque Israel vai ao cerne dos mecanismos de dominação ocidental. Em todo o caso, podemos ver como o apoio a Israel por parte da classe política francesa e, de uma forma mais geral, por parte do Ocidente, está a arrastar a democracia ocidental, ou o que resta dela.
Uma estranha satisfação
No relato ocidentalista das "atrocidades do Hamas", podemos mesmo
detetar uma espécie de alegria perversa, uma estranha satisfação: "vejam o
que estão a fazer estes assassinos do Hamas", com o subtexto "o que
são os palestinianos". A história
destina-se, obviamente, a preparar, a legitimar antecipadamente, o holocausto,
o massacre que o exército israelita tenciona levar a cabo em Gaza e,
provavelmente, noutros locais da Palestina, sob o aplauso dos campeões dos
valores e da civilização ocidentais.
Mas porquê esta estranha satisfação? Talvez desta vez o Ocidente tenha
alguma esperança de se ter vingado, de ter uma batalha - "uma
guerra", como dizem os israelitas - para ganhar em Gaza.
Gaza está ali, indefesa, sem mísseis, sem defesa anti-aérea perante a cobardia de uma força aérea que bombardeia sem risco, a partir do céu, numa batalha sem glória. Mas teremos de bater o pé. E aí a situação será diferente.
Será que o Ocidente israelita pensa ter encontrado o momento certo para
desencadear e satisfazer todos os seus instintos assassinos sobre a população
de Gaza, uma vítima aparentemente oferecida como sacrifício a todas as suas
angústias actuais?
Uma onda de histeria de
guerra está a varrer o Ocidente. Israel e o "Ocidente colectivo"
gritam que o Hamas deve ser erradicado. Mas todos compreendem que o que querem
erradicar, o que gostariam de erradicar, é, na realidade, o povo palestiniano,
e acabar finalmente com ele... com este mau exemplo de Resistência. Israel
apela agora à solução
final, tal como o nazismo fez com os judeus. Fechámos o círculo. O nazismo, gerado pelo Ocidente, está a
regressar ao Ocidente. O sionismo está a redescobrir os tons do nazismo. No
dia 9 de Outubro, o Ministro da Defesa israelita, Yohav Gallant, com o rosto distorcido pelo ódio, chamou aos
palestinianos "animais
humanos". De uma só vez, revelou, resumiu e disse tudo sobre o estado de
espírito da cultura do sionismo e dos seus aliados ocidentais. Em 10 de Outubro,
o Presidente Joe Biden utilizou um tom bélico para apelar a um ataque contra
o povo martirizado de Gaza.
URL do artigo 38979
https://www.legrandsoir.info/gaza-la-solution-finale.html
Fonte: Gaza : la solution finale du grand capital mondial ? – les 7 du quebec
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis
Júdice
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