2ª feira, 09 de Outubro de 2023
Declaração do Secretariado do Partido Comunista Revolucionário de França
Na sequência do ataque dos grupos armados palestinianos ao território
israelita a partir da Faixa de Gaza, em 7 de Outubro de 2023, numerosos Estados
e os meios de comunicação social ao seu serviço não tardaram a condenar as
atrocidades cometidas pelos combatentes do Hamas. Mas esta condenação foi mais
uma vez acompanhada pela designação exclusiva de Israel como vítima de
agressores terroristas, obscurecendo quase sistematicamente o contexto vivido
pelo povo palestiniano, e em particular pelos habitantes de Gaza.
O que os defensores da sacrossanta "segurança" de Israel não
dizem é que este ataque é o resultado da política bárbara seguida pelas
autoridades israelitas durante décadas. Quem criou a própria base social para o
sucesso dos fundamentalistas islâmicos do Hamas? Foi Israel, que nunca deixou
de prosseguir a sua política de apartheid, de promover as ideias do sionismo e
da superioridade nacional do "povo judeu", de ocupar os territórios
da Palestina e de criar verdadeiras reservas para a população árabe, de efectuar
incursões punitivas, de manter um bloqueio desumano contra Gaza durante mais de
17 anos, tudo isso virando as costas ao direito internacional e às numerosas
resoluções da ONU que condenam o Estado de Israel (nada menos do que 230 desde
1948!), sem nunca terem dado origem à mais pequena sanção.
Recentemente, o exército israelita e os colonos têm atacado diariamente os
habitantes da Cisjordânia, causando a morte de 237 pessoas (uma por dia),
incluindo 50 menores, entre a população palestiniana, desde o início do ano. Em
Gaza, desde 13 de Setembro, manifestações pacíficas junto à fronteira oriental da
Faixa de Gaza causaram a morte de pelo menos 6 pessoas e 50 feridos, entre os
quais dois jornalistas palestinianos.
Ao combater a Organização de Libertação da Palestina (OLP), que defendia a
ideia de um Estado binacional laico e contava com o apoio da URSS, os serviços
secretos israelitas alimentaram o Hamas islamista, que se tornou uma dor de
cabeça para Israel. Tudo isto é atribuído às maquinações do Irão e de outros
vizinhos que apoiam fundamentalistas e fanáticos, mas isso é apenas uma parte
do problema, não a sua essência.
Nada disto justifica o assassínio de civis ou as atrocidades cometidas. Mas
mostra que os trabalhadores palestinianos e israelitas são vítimas de crimes
sistémicos e repetidos, pelos quais as autoridades israelitas foram e continuam
a ser as principais responsáveis. Os atentados do Hamas serão agora utilizados
como pretexto para uma nova repressão sangrenta contra os palestinianos por
parte do Estado sionista dirigido por nacionalistas de extrema-direita que nada
têm a invejar aos vários terroristas em termos de fundamentalismo. O Estado de
Israel pratica, ele próprio, uma política de terror, e leva a cabo actualmente
actos de agressão contra a Palestina, bem como contra o Líbano e a Síria, sem
que a "comunidade internacional" aplique qualquer sanção.
O conflito israelo-palestiniano parece hoje irremediável, pois está
intimamente ligado à exacerbação das contradições inter-imperialistas. Por
conseguinte, a luta do povo palestiniano é uma luta anti-imperialista e de
classe, e a solidariedade com a Palestina está intimamente ligada à luta de
classes em todo o mundo.
O que podemos fazer hoje é ligar a questão da Palestina às lutas dos trabalhadores em todos os países através da solidariedade internacionalista, exigindo que o Governo francês cesse o seu apoio incondicional ao Estado colonial de Israel e reconheça o direito do povo palestiniano à segurança e à paz na sua terra e no seu Estado da Palestina, com Al Quds como capital.
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