19 de Outubro
de 2023 Robert Bibeau
Por Jean-Luc Baslé − 6 de Outubro de 2023
A guerra na Ucrânia está perdida. Porque se encarniçar em continuá-la à custa de vidas humanas desnecessariamente sacrificadas? Esta questão tem estado na mente de alguns observadores na cena internacional. Patrick Lawrence, jornalista freelancer e ex-correspondente em Paris do International Herald Tribune (agora New York Times International), faz uma pergunta interessante: será que Joe Biden está a ser chantageado pelo Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky? De acordo com algumas fontes, Joe Biden exigiu quando era vice-presidente durante o mandato de Barack Obama que um procurador um pouco curioso fosse afastado do caso Burisma – a primeira empresa de gás na Ucrânia – em que estava envolvido o seu filho, Hunter, que alegadamente recebeu vários milhões de dólares em pagamentos ilícitos. Se isso for verdade, o presidente ucraniano está ciente disso e poderia usar essa informação nas suas negociações com os Estados Unidos sobre a guerra.
A manobra é inteligente. Joe Biden está vulnerável. As eleições presidenciais de Novembro de 2024 estão agora no centro das suas preocupações. É candidato à sua sucessão e a sua reeleição deve ser uma formalidade. O seu adversário republicano, Donald Trump, goza do apoio das "pessoas comuns", mas não dos líderes do partido. Nenhum democrata declarou a sua candidatura, excepto Robert F. Kennedy Jr., cujas chances de chegar à Casa Branca são quase nulas. Portanto, tudo deve correr pelo melhor no melhor dos mundos para Joe Biden, excepto que a sua popularidade está a afundar-se. Apenas 41% dos americanos dão crédito à sua gestão. Essa é a segunda pior taxa de qualquer presidente, depois de Jimmy Carter (40%), muito atrás de John Kennedy (66%). Como explicar este resultado?
Segundo o New York Times, há muitas razões para
este desencanto. Em primeiro lugar, a inflação está a atingir rendimentos
modestos: o preço dos ovos aumentou 38% desde Janeiro de 2022, o do pão 25% e o
da galinha 18%. O preço da gasolina duplicou desde Abril
de 2020 – algo inconcebível num país que considera o automóvel o meio de
transporte por excelência. Há também pobreza, desigualdade de rendimentos,
insegurança, a humilhante retirada do Afeganistão e a guerra na Ucrânia que é
cada vez mais difícil de compreender1 e
pesado de suportar do ponto de vista fiscal. Por fim, há a sua idade (82 anos
em 2024) e os seus momentos de ausência que alguns não hesitam em descrever
como senilidade. Surge então a pergunta: pode ele liderar a nação mais poderosa
do mundo durante quatro anos? No final, o preço é pesado e isso reflecte-se nas
sondagens. Zelensky sabe disso. Por que é que ele não deveria tirar proveito
disso? O presidente está ainda mais vulnerável porque Kevin McCarthy, um membro
republicano da Câmara dos Representantes, abriu um processo de impeachment
contra ele em conexão com os assuntos do seu filho, Hunter.
Assim, o destino de Biden estaria ligado ao de Zelensky. O primeiro
precisaria do silêncio do segundo, e o segundo do apoio do primeiro. O que lhes
reserva o futuro? Ninguém sabe. Mas a eleição de 2024 pode trazer a sua parcela
de surpresas, que num país como os Estados Unidos não surpreenderão ninguém.
Jean-Luc Baslé
Jean-Luc Baslé é ex-diretor do Citigroup (Nova York). É autor de "Will the Euro Survive?" (2016) e "O Sistema Monetário Internacional: Desafios e Perspectivas" (1983).
Observações
1.
Esta guerra é ainda mais difícil de entender porque o secretário-geral da
NATO, Jens Stoltenberg,
cometeu um enorme erro a 7 de Setembro quando disse à Comissão dos Negócios
Estrangeiros do Parlamento Europeu que Vladimir Putin "entrou em
guerra para impedir a NATO de se expandir perto das suas
fronteiras". Lembremo-nos que, de acordo com a tese oficial, é a
Rússia que é o agressor, e não a NATO, como sugere Jens Stoltenberg. Esta
extensão da NATO é uma renegação da palavra dada por James Baker, então
secretário de Estado de George Bush pai, a Mikhail Gorbachev de que não haveria
extensão da NATO a Leste em troca do seu acordo para a reunificação da
Alemanha. Esta expansão começou com a integração da Hungria, Polónia e
República Checa na NATO em 1999. Seguiu-se a adesão de doze nações, às quais se
deve agora acrescentar a Suécia e a Finlândia. Este alargamento foi contestado
por muitas personalidades, incluindo o falecido George Kennan, autor do "Longo
Telegrama" de Fevereiro de 1946, que constituiu a base conceptual
da política de contenção dos Estados Unidos durante a Guerra Fria.
Fonte: Quel avenir pour Joe Biden ? – les 7 du quebec
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice
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