23 de
outubro de 2023 Olivier
Cabanel
OLIVIER CABANEL — Esta
expressão, cara a Joèl de Rosnay, define quem prefere o eu ou o nós, e ilustra
bem a tendência social do momento.
Tal como opomos o yin e o yang, podemos hoje opor os adeptos fervorosos do "tudo pelo ego" àqueles que preferem os valores da solidariedade e da partilha.
Devemos confiar na pessoa que decide tudo sozinha, convencida de que tem sempre razão, ou naqueles que preferem aquilo a que hoje se chama "inteligência plural"?
A Wikipédia, a enciclopédia do cidadão, é um exemplo perfeito desta inteligência colectiva, dando a cada um a possibilidade de informar ou de ser informado.
Esta oposição foi perfeitamente ilustrada durante a última eleição presidencial, que viu a vitória do "eu" sobre o "nós".
Lembrem-se dos discursos do Presidente: "Eu procuraria o poder de compra com os dentes".
"Defenderia os
direitos humanos onde quer que sejam ignorados e ameaçados" link (como
não o fez com Kadhafi, nem com a ditadura chinesa).
O "eu" esteve sempre presente
nos seus discursos, enquanto do outro lado, foi o "nós" que foi
privilegiado.
O "eu"
esteve sempre presente nos seus discursos, enquanto, do outro lado, era o
"nós" que era privilegiado.
A crise ambiental não tarda a ultrapassar a crise económica e tudo indica que vai prevalecer o "cada um por si" e o "que vença o melhor".
Em França, o processo Grenelle (leis ambientais – NdT) foi um fracasso lamentável, acumulando anúncios sem aplicação real ou com avanços tão miseráveis que não terão qualquer efeito notável.
Estas Grenelles sucessivas são a marca evidente de uma escolha política que privilegia as aparências, e que toma a verdade com um grão de sal e uma certa distância, tal como o recente documentário apresentado por Yan Arthus Bertrand: Home.
Este filme é a prova de que a defesa do ambiente é sempre apresentada pelo lado mais pequeno da lupa, e que os temas polémicos são cuidadosamente evitados.
Neste filme, nem uma palavra sobre a ameaça nuclear que paira sobre nós há meio século e cujas consequências para o nosso planeta são cada vez mais preocupantes.
O filme é suportado por imagens magníficas, destinadas a comover-nos e a fazer-nos querer defender o nosso planeta natal, mas essas mesmas imagens são suportadas por um discurso recheado de inverdades.
O espectador atento terá reparado que o realizador usa o futuro quando poderia ter usado o presente.
Refere-se, por exemplo, à quantidade fenomenal de metano que se encontra sob o permafrost e que pode um dia escapar, acelerando dramaticamente o aquecimento global.link
Excepto que se esquece de mencionar que este metano está actualmente a escapar em grandes quantidades, tal como observado por várias missões científicas recentes.
A subida lenta e inexorável do nível das águas começou a expulsar as pessoas das suas casas e, nos países ricos, a resposta já está a ser dada.
Por todo o mundo, existem zonas totalmente controladas, com as suas próprias vedações, guardas, câmaras de vigilância e sistemas de defesa, prontas a repelir com a maior firmeza os previsíveis assaltos dos futuros desalojados do clima.
Cada vez mais empresas oferecem este tipo de serviço e o número de câmaras de vigilância é cada vez maior. link
Esta oposição do "eu" e do "nós" encontra-se também entre os fervorosos defensores do crescimento, convencidos de que só o crescimento pode restaurar o poder de compra, e aqueles que agora são chamados de "os partidários do decrescimento ", que preferem jogar a carta da solidariedade e da partilha, recusando-se a continuar a consumir cada vez mais, à custa de pessoas famintas e escravizadas.
No entanto, é evidente que esta solução descendente é a única que pode contrariar a recessão.
As diferenças salariais, que hoje oscilam entre 1 e 400, não devem ultrapassar 1 e 7, como estava inscrito no extinto programa comum dos anos setenta.
A escolha é também entre "partilha do trabalho" ou "trabalhar mais" (incluindo aos domingos), mesmo que isso signifique gerar mais desemprego.
Assim, há sempre a oposição entre o "eu" e o "nós".
Esta escolha de sociedade é decisiva para o que nos espera nos próximos anos, e é de recear que não se faça a escolha certa.
Como dizia um velho amigo africano:
"Uma piroga nunca é demasiado grande para se virar".
Fonte: Etes vous égo-logiste? – les 7 du quebec
Este
artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice
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