10 de Outubro de 2023 Robert Bibeau
Por Khider Mesloub.
Correndo o risco de surpreender alguns leitores, de refrear as suas exaltações chauvinistas e as suas emoções de auto-celebração das proezas do Hamas, a ofensiva levada a cabo pelo movimento islamista palestiniano contra Israel não é um ataque de surpresa, mas uma operação orquestrada ou, no mínimo, camuflada pelos estrategas de Telavive, os falcões do Estado sionista racista.
Antes de mais, para afastar qualquer acusação de conspiração, esclareço que se trata de uma hipótese baseada na observação de factos recentes. Por conseguinte, não pode ser considerada uma teoria da conspiração.
Explico a minha análise. Para ser claro, trata-se de uma hipótese e não de uma demonstração de verdade à qual o leitor deve aderir. O objectivo da minha contribuição é estimular o debate.
No fundo, neste conflito armado entre o Hamas e o Estado de Israel, não há interesse proletário. Esta é uma guerra nacionalista burguesa e imperialista. Para nós, proletários revolucionários, não há campo a defender senão o do povo palestiniano. O Hamas não representa os trabalhadores palestinianos. É uma organização islâmica reaccionária, inimiga do proletariado e, razão por maioria de razão, do comunismo e do marxismo.
Como escrevem os camaradas de Matière et Révolution: "O povo
palestiniano tem um inimigo que é o Estado de Israel, mas também inimigos que
são árabes e até palestinianos. A sua revolta não é representada através de
organizações palestinianas. O Hamas acaba de travar uma guerra contra Israel,
não liderou o povo palestiniano na sua luta. Recorde-se que, no passado, o povo
palestiniano levou a cabo uma acção revolucionária, social e politicamente, em
toda a região da Palestina e arredores, enquanto o Hamas é a extrema-direita
fascista, é a contra-revolução social e política."
Como salientei nos meus dois artigos
intitulados "Os judeus sionistas de
Israel estão a cometer suicídio nacional" e "O êxodo dos judeus israelitas deve-se mais a razões económicas do que a
razões ideológicas 'democráticas'", publicados este Verão, Israel está
à beira da implosão há quase um ano. E, por conseguinte, à deslocação.
Como restabelecer a coesão nacional dos habitantes sionistas de Israel,
como reconstituir a unidade deste povo de retalhos, no meio da divisão e da
sedição, impulsionada pela deserção do exército e pela insubordinação militar,
tentada em massa pela expatriação, como conter a revolta crónica, quase insurreccional,
e travar o êxodo em massa, senão abrindo uma frente de guerra para recriar uma
nova união nacional?
Para recordar, há meses que todos os
fins-de-semana centenas de milhares de israelitas manifestam-se contra o insano
projecto de reforma judicial. Entre eles estão milhares de reservistas do
exército que ameaçam deixar de servir. Trata-se de uma rebelião perigosa para o
Estado sionista, num país colonialista onde a segurança é uma prioridade
absoluta para os colonos. Os reservistas são a espinha dorsal do exército
sionista. "Teme-se o contágio, uma
forma de insubordinação silenciosa e uma diminuição da motivação das tropas. E
estes fenómenos podem levar a um enfraquecimento da capacidade operacional de
ocupação e repressão das FDI", observou um politólogo israelita aterrorizado.
Não podemos perder de vista que, nos últimos meses, como salienta Matière et Révolution, "cada vez mais vozes se têm levantado em Israel para associar a luta pela democracia em Israel à luta contra o apartheid que Israel está a travar na Palestina, encontrando também um eco positivo entre os próprios palestinianos e dando origem a uma esperança comum para ambos os povos".
Quem pode dar a mão a este empreendimento nacional sionista de reparação
senão o movimento islâmico árabe, Hamas, com as suas aventureiras operações
militares assimétricas?
O Hamas, criado com a aprovação de Israel, sempre serviu de álibi para a entidade
sionista justificar a violência das ofensivas armadas israelitas e consolidar a
união sagrada, para cimentar o sionismo. O Hamas, através da sua política de
sectarização do conflito colonial palestiniano e das suas operações militares
suicidas assimétricas levadas a cabo indiscriminadamente contra um dos maiores
exércitos do mundo, é o melhor aliado da entidade sionista.
Historicamente, de acordo com vários relatórios dos serviços secretos, o Hamas nunca teria conseguido estabelecer-se nos territórios palestinianos sem o patrocínio israelita. Deve a sua ascensão meteórica (ou a desfiguração da causa palestiniana?) aos falcões israelitas, que encontraram no movimento islamista palestiniano o seu melhor aliado para neutralizar a OLP e a FPLP, e para torpedear a luta anti-colonialista... evacuando-a para um beco sem saída. A causa palestiniana é uma luta anti-colonialista transformada num conflito sectário entre muçulmanos e judeus pela vontade religiosa do Hamas, um movimento islamista burguês e reaccionário.
Como escreve Matière et Révolution: "Ao alargar o fosso entre os dois
povos, sem os quais o Hamas já não existiria, o Hamas procura proteger a sua
pequena ditadura, a sua política religiosa reaccionária e o seu domínio sobre
os palestinianos de Gaza, cuja juventude já tinha mostrado, no ano passado, que
não aguentava mais. O Hamas actua assim como Kapo dos campos de refugiados
criados e mantidos por Israel".
Do mesmo modo, como explicar que o Hamas, desde a sua criação em Gaza, um território cercado pelo exército israelita e sujeito a um terrível bloqueio, tenha podido dispor de um impressionante arsenal de armas, incluindo milhares de foguetes capazes de atingir longas distâncias, mísseis anti-tanque e anti-aéreos e metralhadoras, sem sofrer a mínima retaliação? Estas armas são ainda rudimentares quando comparadas com a inigualável força de ataque de Israel. Para o ocupante colonialista israelita, o Hamas deve continuar a ser apenas uma organização incómoda menor e contingente, um espantalho para o Estado sionista. Tal como as organizações terroristas islamistas (jihadistas) utilizadas pelas potências imperialistas ocidentais com múltiplos objectivos: segurança, chauvinismo nacionalista, desvio da cólera social, desarticulação da coesão social árabe, destruição da unidade de classe...
Do mesmo modo, como acreditar que os serviços de segurança israelitas, que
vigiam praticamente todos os dirigentes, políticos e empresários, jornalistas e
intelectuais de todos os países, através dos seus múltiplos programas de
espionagem e agentes secretos introduzidos em todas as altas esferas do Estado
e da economia, não tenham detectado os preparativos do atentado do Hamas, uma
organização colocada sob estreita vigilância por todos os agentes dos serviços
secretos do mundo ocidental?
Como poderia o país mais seguro e militarizado do mundo deixar-se dominar
ao ponto de ser invadido por vários combatentes do Hamas? Na minha opinião, não
há dúvida de que os sionistas deixaram deliberadamente entrar alguns
combatentes islâmicos para levar a cabo os seus ataques e tomar alguns
israelitas como reféns, a fim de criar uma onda de choque entre a população. Um
clima de espanto e psicose. Tudo isto com vista tanto a sufocar a sediciosa
revolta social travada em Israel contra o poder sionista como a reactivar a
união sagrada colonialista e fascista.
Se, como eu postulo, esta operação armada do Hamas foi orquestrada (ou
tolerada, ou dissimulada) pelos serviços de segurança israelitas, à custa do
sacrifício de várias centenas de cidadãos judeus, para afastar o perigo de
desagregação de Israel, não seria a primeira vez na história do sionismo
criminoso.
Imediatamente após a criação da entidade sionista, para atrair judeus de
todo o mundo para Israel, ou seja, para encorajar a emigração, a Mossad
utilizou todos os meios à sua disposição. Incluindo o terrorismo. Foi através
destes métodos terroristas que a Mossad desempenhou um papel na emigração de
judeus para Israel, nomeadamente de judeus do Iraque para Israel.
Os serviços secretos estrangeiros israelitas orquestraram vários ataques em
Bagdade no início da década de 1950 para forçar os judeus iraquianos a emigrar
para Israel. Em 1950-1951, a comunidade judaica iraquiana foi alvo de vários
ataques da Mossad, dos quais resultaram várias mortes. Como resultado, 115.000
dos 135.000 judeus iraquianos emigraram para Israel. Estes judeus iraquianos,
ou melhor, os iraquianos de fé judaica, viviam no Iraque há mais de 2500 anos.
Sentiam-se iraquianos. Nunca tinham pensado em emigrar, muito menos para um
país criado artificialmente com base na religião. Também (provavelmente) nunca
tinham sido apoiantes do sionismo, uma doutrina racista de origem europeia. Os
sionistas, por meios terroristas, transformaram estes iraquianos em judeus
sionistas, através da sua emigração forçada para a terra da Palestina ocupada.
Tal como, hoje, as centenas de milhar de israelitas que se preparavam para
abandonar definitivamente o país, provavelmente para significar a sua ruptura
com o sionismo, através da guerra assimétrica providencial aberta (oferecida)
pelo Hamas, vão desistir de partir para defender "a nação fascista em
perigo".
Como é que o país mais seguro e militarizado do mundo pode ser sujeito a
uma tal intervenção armada no seu território, não por uma coligação de
exércitos árabes, mas pelo grupo Hamas, um movimento de resistência islâmico?
Para que conste, Israel construiu uma enorme vedação ao longo da fronteira
de Gaza para impedir a infiltração. Esta vedação está equipada com câmaras,
sensores de alta tecnologia e tecnologia de escuta sensível. No entanto, de
acordo com imagens publicadas na Internet, a vedação foi completamente
destruída em vários sítios e os veículos do Hamas atravessaram-na,
curiosamente, sem qualquer impedimento.
Segundo várias fontes, os habitantes israelitas das cidades situadas ao
longo da fronteira, habitualmente repletas de soldados em serviço, assinalaram
que a presença das FDI nas ruas é escassa ou nula.
Como é que esta organização sectária, o Hamas, pode lançar uma ofensiva sem
precedentes contra Israel, disparando milhares de rockets e colocando homens
armados em várias cidades por terra, mar e ar, matando centenas de pessoas e
capturando residentes israelitas, durante horas a fio, apoderar-se de uma base
militar, desfilar livremente em veículos militares israelitas, incluindo um
tanque, sem encontrar a mínima resistência militar por parte das forças armadas
israelitas, que estão sobreequipadas?
Interrogado pelos jornalistas sobre o "ataque surpresa" do Hamas,
o porta-voz do exército israelita recusou-se a comentar como é que o Hamas
tinha conseguido surpreender o exército e infiltrar-se em Israel. O seu
silêncio é uma eloquente confissão de cumplicidade!
Em todo o caso, se há um protagonista que se regozija com este ataque
surpresa, ou melhor, surpreendente, é o Primeiro-Ministro Netanyahu. Ele poderá
desviar para os palestinianos de Gaza a cólera, ou mesmo a sedição, do povo
israelita contra o seu governo despótico. Transformar a sedição de centenas de
milhares de israelitas contra o sistema numa guerra contra o inimigo habitual,
os palestinianos. Uma guerra a longo prazo. Uma guerra de extermínio que está
agora a ameaçar o povo de Gaza.
"Cidadãos de
Israel, estamos em guerra. Não se trata de uma operação, nem de uma ronda [de
combates], mas de uma guerra! Esta manhã, o Hamas lançou um ataque surpresa
mortal contra o Estado de Israel e os seus cidadãos", declarou Netanyahu.
"Ao mesmo tempo, estou a levar a cabo uma vasta mobilização de reservistas
para retaliar a uma escala e com uma intensidade que o inimigo nunca conheceu
antes. O inimigo pagará um preço sem precedentes", acrescentou Netanyahu.
"Exorto a população para que siga à letra as directivas do
exército", insiste. Na sua mira, manifestantes contra a reforma judicial,
possivelmente tentados pela deserção, resistência à guerra. "Nos dias que
correm, não há oposição nem coligação em Israel", martelou Netanyahu.
O seu apelo à unidade nacional e à mobilização armada para travar a guerra
contra os palestinianos parece ter sido atendido.
Imediatamente, como era de esperar de sionistas inveterados, os organizadores dos protestos contra a revisão do sistema judicial anunciaram o cancelamento das manifestações semanais.
"Estamos unidos aos residentes de Israel e damos todo o nosso apoio às
FDI e às forças de segurança", afirmam os organizadores da manifestação em
comunicado.
A classe dirigente israelita, a mais maquiavélica do mundo, foi bem sucedida na sua operação de diversão. Unidade nacional.
Como indiquei no meu artigo acima mencionado, publicado este Verão, desde a formação do governo fascista israelita que o objectivo do Estado sionista tem sido resolver a "questão palestiniana" de uma vez por todas, a fim de realizar o grande sonho de criar um Estado puramente judeu desde o rio Jordão até ao mar. E como? Politicamente, abandonando explicitamente qualquer solução de "dois Estados". Militarmente, através da deportação em massa, incluindo o massacre em massa, da população palestiniana. Quem pode levar a cabo este projecto de expansão territorial e de expulsão em massa dos palestinianos, senão os partidos neo-fascistas e ultra-religiosos, com o seu racismo descarado e a sua violência assassina desinibida, que estão actualmente no poder.
E começou a limpeza étnica. O Estado terrorista sionista acaba de impor um
estado de "cerco total" a Gaza.
"Estamos a impor um cerco total a Gaza", afirmou Gallant num vídeo divulgado pelo seu gabinete. "Não há electricidade, não há água, não há gás, está tudo fechado", acrescentou na mensagem em hebraico.
"Estamos a lutar contra animais e estamos a agir em
conformidade", acrescentou Gallant. É assim que o governo fascista de
Israel encara a população palestiniana de Gaza, agora condenada a morrer de fome
e de sede. Trata-se de um verdadeiro genocídio.
A título de recordação, cerca de 2,3 milhões de palestinianos vivem na
Faixa de Gaza, um território densamente povoado e assolado pela pobreza, que se
encontra sob um bloqueio israelita desde 2007.
Em todo o caso, através deste atentado sangrento, estúpido e suicida,
perpetrado pelo Hamas em território israelita ocupado, a entidade sionista
poderá agora reivindicar a sua legitimidade para defender a sua pré-quadra e
reclamar o apoio incondicional da "opinião internacional"... da
chamada "comunidade internacional" do capital, para erradicar
definitivamente os palestinianos de Gaza, para levar a cabo uma nova ronda de
limpeza étnica através da sua política criminosa de "cerco total de Gaza",
uma versão genocida do bloqueio que já atinge o enclave desde 2007. Esta é a
"solução final" que o sionismo e os seus patrocinadores globais têm
reservada para o povo de Gaza e para os kapos islamistas que tão bem o
serviram.
Khider MESLOUB
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis
Júdice
Vai de encontro a esta teoria as imagens da implosão de alguns edifícios com cargas a explodir na base dos mesmos.
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