6 de Outubro
de 2023 Ysengrimus
YSENGRIMUS — Na
música "Sweet
Little Sixteen", escrita há meio
século, Chuck Berry fala sobre os vestidos estreitos, batom brilhante e salto
stiletto usados pela adolescente de 1958 quando ela sai para dançar rock 'n'
roll tarde na noite (enquanto ela se veste de estudante na manhã seguinte. Tem
apenas dezasseis anos e... está, assim, a contorcer-se em todos os salões de
dança da América). Na década de 1970, Marjolène Morin prestou homenagem a esta
composição na sua estrondosa interpretação da Suite 16 pelo grupo de Quebec Corbeau. Recordaremos a
evocação que Marjo (nascida em 1953, tinha 5 anos quando Chuck Berry escreveu a
sua balada rock): comecei a ver revistas. Tudo o que eu podia ver era os
loucos dezasseis anos à solta. . .
Já as revistas... Com
roupas provocantes... Mulheres muito jovens... Estes são apenas exemplos de
como se poderia fazer uma história detalhada da hipersexualização de mulheres
muito jovens que facilmente remontaria a todo o século XX. Bastaria aplicar a habitual
atenção e cautela dos memorialistas: rever velhos noticiários, debruçar-se
sobre filmes e fotos de família, reexaminar
cuidadosamente as minissaias da juventude dos anos 1960 e as roupas modernistas
da juventude dos anos 1920... ou apenas discutir gentilmente com as nossas mães
e avós. Ah, mas quando o assunto é sexo, adoramos esquecer e reinventar tanto!
Gostamos de acreditar que tudo começa no nosso tempo. A sexualização está connosco
há algum tempo. Não se trata de minimizar nem de exagerar o fenómeno. Acima de
tudo, trata-se de passar o crivo entre o saudável e o insalubre.
Isto porque o problema
que parece encontrar aqui não é um problema de sexo, mas um problema
de sexing (ou seja, da relação entre os sexos). Parece que, nos doces dezasseis anos de Berry e
Marjo, a sexualização andava de mãos dadas com a libertação. Marjo: Aos doze anos, eu já
estava a começar a mexer-me, desconfiei que um dia tudo ia explodir. A libertação sexual,
para a personagem feminina da sua balada rock, anda de mãos dadas com a saída
do bandido brigão e obtuso que pensa ser seu amante e a afirmação da sua
independência como mulher (Romeu, vou ter de ir), tal como as raparigas
da canção de Berry afirmaram a sua independência enquanto jovens adultos face aos
valores parentais tradicionais... Só que... Hoje em dia, nada vai explodir...
Parece que vai implodir... Tanto que até o termo libertação sexual está bastante
errado com o ouvido contemporâneo. A sexualização hoje anda de mãos dadas com a
submissão opressora à ordem da versão contemporânea do pequeno bandido obtuso
da canção de Marjo. Opressão sexual seria a palavra do dia, ao que
parece. Isso não está certo. No sentido de que não é o sexo ou a sedução que
distorcem a equação aqui, é o que fazemos com ele no coração de uma relação
humana mais global.
Além disso, tenha
cuidado. Se as particularidades contemporâneas da sexualização encontram como
resposta adulta apenas o afastamento preconceituoso e a constricção moralista
face ao sexo e às relações íntimas dos jovens, corremos de cabeça para um muro.
A hipersexualização do nosso tempo é também hiperinformação. Os nossos filhos
sabem uma coisa ou duas sobre isso e tentar bloquear os
seus computadores é a opção perfeita para fazer as
pessoas rirem de si mesmas sem qualquer efeito tangível. Vamos pelo menos
tentar dizer as nossas linhas adultas com o pouco de panache que temos. Sexo e
intimidade estavam disponíveis na idade deles... não do computador...
Não há necessidade de
reprimir. Tem que demonstrar. Fundamentalmente, deve demonstrar-se que a
sedução não é obediência e que o novo hedonismo feminino, em todas as suas
formas e manifestações, é perfeitamente legítimo enquanto permanecer uma
afirmação de si mesmo e não uma negação de si mesmo perante o homem... e na
frente de outras mulheres, se elas servem escandalosamente o homem. A linha a
traçar está lá, não noutro sítio. É uma linha feminista, não moralista.
Programa extensivo... Mais uma razão para deixarmos o alarmismo no bengaleiro e
nos apoiarmos na nossa herança pessoal e histórica de sexualização adolescente
para vermos mais claramente, nesta actual crise do sexing, o derradeiro canto
do cisne de uma falocracia que não cessa de agonizar, chafurdando ruidosamente
nos meios de comunicação social e em todo o lado. E a nossa pior desvantagem
nesta questão face às nossas filhas não é a sua hipersexualização ou hiperinformação.
A nossa pior desvantagem é o nosso próprio hiper-esquecimento. Hiper-esquecimento de
Berry, de Marjo, de tantas mulheres (jovens) do século passado, mas acima de
tudo hiper-esquecimento da nossa própria adolescência e das nossas próprias
motivações passionais originais. Lembre-se. Simplesmente. Em vez de reprimir,
lembremo-nos... Será já uma base sólida para o diálogo na difícil, mas crucial,
manifestação feminista que de facto vai ser feita à jovem curiosa e atenta do
nosso tempo...
Reexamine cuidadosamente as roupas modernistas dos primórdios da juventude
dos anos de outrora...
Fonte: Hypersexualisation, hyper-information, hyper-oubli – les 7 du quebec
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis
Júdice
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