31 de Dezembro de 2023 Robert Bibeau
Com as "Novas Rotas da Seda", a China concedeu muitos empréstimos
aos países em desenvolvimento. Com os riscos de incumprimento de pagamentos,
corre-se o risco de uma reacção negativa... ou a eventualidade da fundação da
hegemonia da Nova Ordem Económica Mundial. A antiga hegemonia norte-americana
está preocupada.
A linha ferroviária que liga Mombaça a Nairobi, no
Quénia, faz parte da infraestrutura africana financiada graças à China.
(Andrzej Kubik/Shutterstock)
Por Richard Hiault
A China está a descobrir, à sua custa, o outro lado da moeda da dívida excessiva dos seus credores. Ao longo dos últimos vinte anos, continuou a tecer a sua teia a nível internacional, particularmente no âmbito das suas “novas rotas da seda”. Tornou-se não só o maior mutuário entre os países classificados como de baixo e médio rendimento pelo Banco Mundial, mas também um dos seus maiores credores.
Desde o lançamento desta iniciativa em 2013 e continuando até 2016, mobilizou uma média de 16,3 mil milhões de dólares em novos compromissos a cada ano. Representou 53% dos compromissos bilaterais com os países pobres. No final de 2022, a dívida externa pública destes países pobres para com a China ascendia a 180 mil milhões de dólares.
Principal credor
Trata-se de um montante longe de ser negligenciável em comparação com a
dívida destes mesmos países ao Banco Internacional para a Reconstrução e o
Desenvolvimento (223 mil milhões de dólares) e à Associação Internacional de
Desenvolvimento (AID), uma das subsidiárias do Banco Mundial especializada na
ajuda a países muito pobres (183 mil milhões de dólares, incluindo 16 mil
milhões de dólares da China).
VER TAMBÉM:
DESENCRIPTAÇÃO
– Em Pequim, Xi Jinping procura dar uma nova vida às Rotas da Seda
Dívida
de mercados emergentes: China no banco dos réus
Para além destes números oficiais, a China emprestou ao sector privado
nestes países em desenvolvimento sem uma garantia estatal.
África privilegiada
De 2012 a 2022, os compromissos da China com esses países pobres
totalizaram 254 mil milhões de dólares. Os empréstimos – principalmente em
infraestruturas e mineração – destinaram-se principalmente a países produtores
de petróleo, vizinhos da China, ao longo do Corredor da Cintura e Rota e países
ricos em minerais.
Os
países da África Subsariana registaram os maiores aumentos nos empréstimos
chineses desde 2012, tanto que, no final de 2022, representavam
44% das obrigações para com a China. Esta última detinha 43% da dívida do
Zimbabué, 24% da dívida da Zâmbia, 20% da dívida da Etiópia e 18% da dívida do
Quénia.
Um revés certo
Nos últimos anos, no entanto, os empréstimos chineses diminuíram. "Os
compromissos caíram drasticamente para 5,4 mil milhões de dólares em 2022, 80%
dos quais foram para os vizinhos da China e os da região do sul da Ásia. Os
novos compromissos de empréstimo aos países da África Subsariana ascenderam a
uns insignificantes 145 milhões de dólares", refere o Banco Mundial no seu
relatório.
VER TAMBÉM:
DEENCRIPTAÇÃO
– Sri Lanka: a derrota económica em 5 questões
As
dificuldades económicas da China, a forte contracção do seu
excedente da balança de transações correntes, o fracasso de alguns projectos no
estrangeiro e os riscos de dificuldades de endividamento nos países em
desenvolvimento não são alheios a esta situação. Hoje, enfrenta vários casos de
incumprimento de dívidas externas. Chade, Gana, Zâmbia e Etiópia são países de
alerta para Pequim, que é forçada a falar em reestruturação em vez de novos
empréstimos a países africanos ou países que estão enfraquecidos noutros
lugares, como o Sri Lanka.
VÍDEO. As Novas Rotas da Seda são um fracasso para a China?
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis
Júdice
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