11 de Dezembro de
2023 Olivier Cabanel
OLIVIER CABANEL — Quer nos forneça medicamentos, quer nos inspire com
exemplos a seguir, a natureza é um tesouro que continua a surpreender-nos.
Temos sempre algo à mão para curar, para nos curar, para nos alimentar,
para nos ajudar, só temos de abrir os olhos.
Um papiro egípcio datado
de 1500 a.C. prova que o salgueiro já era usado para curar dores de cabeça.
Isso porque a aspirina nada mais é do que ácido acetilsalicílico, que vem da
seiva do salgueiro.
Foi a flor de Bardana, com todos os seus espinhos que se agarram a todo o
lado, que deu ao engenheiro suíço Georges de Mestral (infeliz inventor da fibra
óptica) a ideia de criar o velcro, que se tornou
popular depois de os primeiros cosmonautas o terem adoptado.
Actualmente, investigadores de todo o mundo observam, dissecam e analisam plantas, insectos e animais.
Tentam, por exemplo, compreender o fenómeno de mimetismo de que o polvo é capaz, a fim de prever utilizações para o homem.
Foi a observar os movimentos das asas de libélula que conseguimos desenvolver o helicóptero.
Ricarda Schneider, bióloga da Universidade Técnica de Berlim, interessa-se
pelas abelhas. Ela observou que, à medida que envelhecem, as abelhas têm cada
vez mais dificuldade em aprender os caminhos para as flores.
Quando Ricarda as obriga a realizar actividades de cuidado dentro da colmeia, observa que as abelhas recuperam a sua juventude cerebral. Se este mecanismo puder ser demonstrado, poderá ser aplicado aos seres humanos para os rejuvenescer.
No seu excelente livro (Bionics: When Science Imitates Nature/dunod), Agnès Guillot e Jean
Arcady Meyer descrevem uma série de invenções que se devem
apenas à observação cuidadosa da natureza.
O comboio de alta velocidade japonês tem um nariz que só deve a sua forma à
imitação do bico do guarda-rios, o que lhe permitiu ganhar 10% de velocidade,
poupando 15% de energia.
Um pesquisador colombiano, Jorges
Reynolds, inspirou-se no coração de uma baleia jubarte para
criar um pacemaker que durará para sempre, tendo sido considerado uma das 100
invenções mais engenhosas e acaba de ser publicado em 2008 pelo Programa das
Nações Unidas para o Ambiente.
Continuando com a baleia, os investigadores da Universidade de Harvard inspiraram-se nos crescimentos das barbatanas da baleia para melhorar o desempenho das turbinas eólicas que, além de serem mais silenciosas, produzirão mais 20% de electricidade.
O chip pode saltar 150 vezes o seu tamanho (para um ser humano, isto equivaleria a uma altura de mais de 200 metros) graças a um polímero baseado numa proteína elástica, a resilina.
Pesquisadores australianos, incluindo Chris Elvin da Universidade de
Queensland (Universidade de Queensland/Universidade Nacional Australiana)
CSIRO, desenvolveram um produto sintético.
As aplicações serão muito variadas, desde a substituição de discos
invertebrais desgastados até ao fabrico de solas de sapatilhas, o que
melhorará, sem dúvida, o desempenho dos desportistas.
O pacífico pepino-do-mar é, por natureza, muito flexível, mas assim que o perigo o ameaça, torna-se duro como uma rocha.
Os investigadores da Case Western University, em Cleveland, descobriram que se tornará macio como uma goma na presença de água.
É fácil imaginar as aplicações que esta invenção permitirá.
O inventor israelita Alon
Bodner inspirou-se nas guelras dos peixes para desenvolver
um sistema de expulsão do oxigénio dissolvido na água do mar, o que poderia
permitir aos mergulhadores nadar sem tanques.
Quanto à coruja, o seu voo silencioso deu ideias à Airbus, que planeia utilizar a tecnologia anti-ruído da ave para conceber trens de aterragem mais silenciosos.
Serge Berthier, da Universidade de Paris VII, estudou as asas das borboletas. A sua cor não se deve a nenhum pigmento, mas apenas a micro escalas que decompõem e difundem a luz.
Foi esta descoberta que permitiu à empresa californiana Qualcomm fabricar
os ecrãs planos dos nossos televisores ou computadores.
Como podemos ver, temos tudo a ganhar em salvaguardar esta natureza que nos
rodeia, e observá-la melhor, porque como disse um velho amigo africano:
"O
que é mais forte do que o elefante é o mato."
Fonte: Cette nature qui nous inspire – les 7 du quebec
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis
Júdice
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